A recalcitrância dos macacos: um estudo de antropologia da ciência com primatólogas da Universidade de São Paulo

Os capítulos apresentados nesta dissertação procuram levar adiante as implicações de uma asserção elaborada por Donna Haraway em que se propõe que a feitura dos saberes científicos pode ser compreendida como uma conversa carregada de poder. A tentativa é de pensar esta proposição em diálogo com a experiência de observação e escuta de primatólogas do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo que pesquisam macacos-prego. Este estudo foi realizado no contexto de restrições sanitárias decorrentes da pandemia da Covid-19, tendo sido possível fazer um acompanhamento das atividades de pesquisa das cientistas apenas porque elas também estiveram submetidas às limitações similares, migrando seus trabalhos para exclusivamente em meios digitais. A partir das narrativas da trajetória de pesquisa da docente do grupo de primatólogas acompanhadas, o campo de ações que compõem o processo de produção de um conhecimento científico pôde ser alargado, dando atenção, em especial, aos modos como os próprios macacos-prego impõem seus termos diante das demandas de investigação das primatólogas. Além disso, a observação das práticas de pesquisa de uma das estudantes deste grupo permitiu discutir acerca das habilidades das quais macacos e primatólogas se valem para “fazer o outro fazer”, de manejar mutuamente a atenção e os olhares, de negociar o distanciamento, e de “tocar” o outro – mesmo sem um contato físico –, sendo essas capacidades uma forma de poder que não é apenas humano, mas que é emergente de um encontro particular proporcionado pela possibilidade de se fazer uma ciência primatológica.