A PRODUÇÃO DO LUGAR EM INHASSUNE (SUL DE MOÇAMBIQUE): MEMÓRIA, TRABALHO COMPULSÓRIO E POLÍTICAS DO TEMPO.

A presente dissertação versa sobre a história de Inhassune, uma povoação no distrito de Panda em Inhambane, sul de Moçambique, através de interpretações de memórias, narrativas e experiências sociais conhecidas no contexto de uma pesquisa de campo de perfil etnográfico. Inhassune recebeu, durante o socialismo moçambicano, tecnologias de poder que são simbólicas de um projeto político e econômico de modernização e construção da nação, que implicou na reorganização socioespacial das populações rurais e em experiências de trabalho compulsório: um campo de reeducação entre os anos de 1974-1979 e local de destino de pessoas detidas pela Operação Produção em 1983. Em Inhassune a memória do socialismo perpassa pela significação local destas instituições que fizeram parte da construção e funcionamento de uma empresa agrícola estatal. Busca-se compreender como as ideologias e os empreendimentos estatais entraram em conflito, negociaram, incorporaram-se e adaptaram-se às dinâmicas locais. Mas também como a produção do passado realizado, nacional e localmente, no contexto pós-socialista atual, informa sobre as relações locais das pessoas em Moçambique com o Estado pós-colonial. A pesquisa concentra-se em três eixos: como a presença do Estado nas instituições compulsórias interviu e negociou em uma configuração local de poder, por vezes transformando-a e outras se adaptando a ela; as experiências que as pessoas tiveram com o campo e com a Operação Produção acessado através de memórias de moradores, funcionários e remanescentes; e como o passado em Inhassune se relaciona com o presente da povoação que, atualmente, apresenta dificuldade para obter uma produção agrícola expressiva e vivencia uma crescente e precária economia de extração de pedras. Através da interpretação de memórias, histórias de vida e de família, buscou-se mapear a existência de conflitos entre vivências e dinâmicas locais com uma história oficial.