O Manejo Participativo de Pirarucus (Arapaima spp.) constitui uma estratégia de conservação da espécie e de geração de renda para famílias de pescadores. Em um sistema de manejo interagem pirarucus, pescadores, cientistas e técnicos extensionistas, num ambiente de várzea amazônica. Agentes do Estado, comerciantes e chefs de cozinha tomam parte nas ações em outros níveis. Diferentes perspectivas tomam parte na atividade, o que faz do manejo uma interface que congrega diversos sistemas de conhecimento, com pressupostos particulares sobre como lidar com os peixes. O manejo participativo criou protocolos próprios de ação voltados para o controle da extração de peixes e proteção de lagos e promoveu uma série de transformações nos procedimentos de pesca. Esta tese consiste numa etnografia dos processos técnicos do Manejo Participativo de Pirarucu, realizado na Reserva de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá, estado do Amazonas, Brasil. O objetivo do estudo é compreender como esse projeto de desenvolvimento sustentável funciona, tendo em vista os modos pelos quais ribeirinhos integram o programa de conservação. A pesquisa percorreu a cadeia de operações do manejo de pirarucu, desde as atividades de proteção de lagos até o preparo do pescado em restaurantes de gastronomia das principais capitais brasileiras. Descrevo os processos que produzem o “pirarucu de manejo”, um pescado que tem características físicas específicas e que incorpora valores associados à sustentabilidade, quando circula pelo mercado. Também aponto para as transformações na lida com os pirarucus suscitadas pelo novo modelo de pesca. Os métodos de pesquisa utilizados foram a observação participativa junto a pescadores e técnicos extensionistas, acompanhando diversas atividades relacionadas ao manejo. Foram realizadas entrevistas com pescadores, com foco em suas histórias de vida, práticas de pesca e histórico da organização para o manejo. Coordenadores de instituições foram entrevistados a respeito de projetos e ações voltadas para a comercialização do pescado. Os resultados mostram que o sistema de manejo estabelece continuidades com o sistema de pesca ribeirinha e do fábrico do pirarucu, atualizadas segundo parâmetros da legislação vigente e de preferências do mercado. O sistema de Manejo Participativo de Pirarucus é o modelo atual de uma história de longa duração da relação entre pescadores e pirarucus. As práticas de proteção de lagos produzem paisagens de abundância, que são evidenciadas pelo monitoramento da população de peixes. O modo de ação coletiva caracteriza essa prática de conservação e inspira coalizões institucionais ao redor da produção de base comunitária. As concordâncias práticas entre pescadores e agentes da conservação fundamentam a estrutura do sistema de manejo, que existe em função do cruzamento de diferentes saberes.
"Pirarucu de manejo": conservação, mercado e transformações técnicas na pesca ribeirinha
Data da defesa:
quinta-feira, 10 Novembro, 2022 - 14:00
Membros da Banca:
Prof. Dr. Mauro William Barbosa de Almeida - UNICAMP (Presidente)
Prof. Dr. Carlos Emanuel Manzolillo Sautchuk - Universidade de Brasilia (titular)
Profa. Dra. Nelissa Peralta Bezerra - Universidade Federal do Para (titular)
Profa. Dra. Joana Cabral de Oliveira - UNICAMP (titular)
Prof. Dr. Mario Blaser - Memorial University of Newfoundland (titular)
Profa. Dra. Deborah de Magalhães Lima - Universidade Federal de Minas Gerais (suplente)
Profa. Dra. Nashieli Cecilia Rangel Loera - UNICAMP (suplente)
Prof. Dr. Guilherme Moura Fagundes - USP (suplente)
Programa:
Nome do Aluno:
José Cândido Lopes Ferreira
Sala da defesa:
LabMet2 - IFCH/UNICAMP - https://meet.google.com/rod-eaji-djk