Manejos vitais: a materialidade da respiração e as zonas cinzentas de vida e morte

Esta etnografia examina como a respiração é manejada em um hospital. Mais especificamente, trata-se de um estudo sobre os modos pelos quais a biomedicina produz esse fenômeno corporal difuso, volátil e vital como um objeto de intervenção por meio de práticas, técnicas, tecnologias, procedimentos e relações. A pesquisa valeu-se do extenso trabalho de campo realizado em um grande Hospital Escola do Sistema Único de Saúde (SUS), localizado no interior do Estado de São Paulo. Essa investigação empírica foi realizada junto a profissionais de fisioterapia em uma ala de emergência clínica, mas também a partir de uma série de deslocamentos por diferentes especialidades médicas — pneumologia, clínica, infectologia, radiologia e fisioterapia. Baseando-se nesses materiais empíricos, este estudo explora as intersecções entre saúde e ciência, elaborando a centralidade da respiração nas formas contemporâneas de gestão da vida e da morte. A etnografia demonstra que as fronteiras de vida e morte são instituídas no cotidiano por meio dos manejos da respiração, que enredam corpos, aparatos tecnocientíficos e cuidado. Propõe-se uma abordagem localizada e crítica das práticas, das técnicas, dos procedimentos, das tecnologias e dos protocolos que configuram tais manejos, buscando tornar visível como a respiração desafia o que é tradicionalmente é entendido como material e, especialmente, que os diferentes corpos que respiram importam para compreender as múltiplas linhas de força perpassam e constituem as condições para respirar, mas também a produção do viver e do morrer em contexto hospitalar.