Esta etnografia é uma composição etnográfica que versa sobre uma transformação corporal ocorrida com pacientes em internação para tratamento de tuberculose em um hospital do Sistema Único de Saúde (SUS): o Hospital Estadual Nestor Goulart Reis. Esse hospital é um centro de referência no tratamento exclusivamente hospitalar da tuberculose, localizado na cidade de Américo Brasiliense, no interior do estado de São Paulo, onde realizei pesquisa de campo com os diversos profissionais de saúde – enfermeiros, técnicos de enfermagem, assistentes sociais, técnicos de laboratório, nutricionistas, fisioterapeutas, psicólogo, médicos, terapeutas ocupacionais –, e pacientes internados compulsória ou voluntariamente. As internações de longa duração são mobilizadas para os pacientes que abandonam ou recusam o tratamento ambulatorial (a forma padrão de tratamento dessa doença desde os anos 1980) por aquilo que aparece nos documentos e para a instituição como motivo social, o qual é definido a partir da situação de rua, consumo de drogas, especialmente crack e pobreza, enquanto vetores sobrepostos ou não. Nesse contexto, procuro deslindar como o tratamento da tuberculose produz uma transformação corporal radical, de um corpo em fim de linha, debilitado, considerado inapto para o convívio público, para um corpo pretentido estabilizado na cura. Para tanto, tomo duas classificações que permeiam as várias dimensões que perpassam o tratamento: as classificações biomédicas dos pacientes em positivos ou negativos. Positivo é estar no estado contagioso e negativo não contagioso. É partir delas que os aspectos biológicos e o sociais da doença são manuseados clinicamente, espacialmente e temporalmente. Com isso, procuro contribuir aos debates sobre cuidado, situações-limite e internações compulsória no campo da saúde.