Indústria da Proteção: sobre as interfaces entre seguros, segurança e seguridade

No Brasil,há décadas, muito se discute sobre dois “problemas” centrais do nosso conflito social: a chamada “violência urbana” e a questão da desigualdade. Nas Ciências Sociais, estes temas tradicionalmente constituem campos de debate distintos, circunscritos pelos estudos da segurança pública e da segurança social (ou seguridade), respectivamente. Esta tese se situa na fronteira destes campos, na medida em que tem como objeto os seguros privados e mercados de proteção associados que comercializam produtos voltados para estes dois tipos de segurança. Onde alguns vêem “problema”, outros encontram “oportunidade” de negócios.O seguro, em suas formas social e privada, revela essa tensão entre alívio da pobreza e acumulação privada, direito e mercadoria, política e mercado. Tendo em vista este contexto e em diálogo com o ainda emergente campo da Antropologia das Finanças e das Etnografias do Capitalismo, esta tese se baseia nos dados empíricos produzidos através de pesquisa etnográfica (2017-2020) com agentes da indústria de seguros nacional, mas também em entrevistas realizadas com policiais-empresários, dentre outros atores emergentes, que disputam as fatias dos mercados das elites financeiras instituídas. Esses mercados não são irrelevantes nem em números, nem em poder de influenciar decisōes. Ao contrário, estão no centro dos processos contemporâneos de financeirização da segurança e da seguridade. Essas duas dimensões são analisadas nesta tese a partir do que o “mundo do seguro” tem a nos dizer.