Esta tese é fruto de sete anos de intenso convívio com a comunidade Honmon Butsuryu-shu (HBS), um segmento do Budismo japonês considerado o primeiro desta tradição a se fazer presente no Brasil. Por meio de pesquisas de campo realizadas em templos locais, mas também no Japão, Índia e Nepal, tive a oportunidade de acompanhar o cotidiano dos monges e dos adeptos e apreender, de forma ímpar, como se estabelecem as diversas cerimônias, os contextos simbólicos e as relações de poder entre os sacerdotes, fiéis e leigos. Para realizar esta jornada, dois aspectos mostraram-se essenciais: o primeiro refere-se à presença de um importante interlocutor, o Correia Odoshi (mestre), um sacerdote da HBS com elevado grau hierárquico, profundo conhecedor da religião no Brasil e o responsável por autorizar as minhas inserções em campo, ao legitimar a minha posição como “fotógrafo-antropólogo” perante a comunidade. Já o segundo fator, estreitamente imbricado e anunciado pelo primeiro, é o fato do ato fotográfico ter permeado todas as minhas interações com a HBS. Dessa forma, quase como um segundo “objeto” de pesquisa, a fotografia tornou-se a pedra basilar das minhas relações com o grupo budista, que passou, gradativamente, a me considerar um “fotógrafo oficial” das práticas religiosas nos Oterás (templos). Neste sentido, a proposta é a de compreender como se estabelecem as práticas rituais e relacionais da HBS, que têm como ponto nevrálgico uma imagem, escritura e oração sagrada, denominada Namumyouhourenguekyou. A partir destas reflexões, proponho que o ato fotográfico seja analisado como um ritual contemporâneo, que envolve diversos personagens e que revela as importantes relações existentes dentro da comunidade. No que diz respeito às imagens elaboradas (que possuem, portanto, uma materialidade), é essencial mencionar que elas constituem o elo na confecção da própria tese, ao permear todo o trabalho e constituir o meu “método de pesquisa”, estabelecido por meio do conceito de (des)montagem. Sobre este método, é necessário enfatizar que ele se deu em pelo menos três níveis: o primeiro refere-se à confecção de “experimentos visuais”, com arranjos formados unicamente por imagens. O segundo se deu na intersecção entre o texto e as fotografias, expressos em capítulos “verbo-visuais”, nas quais as fotos aparecem intercaladas com a escrita, sem o intuito de que elas cumpram uma função meramente ilustrativa. E, o terceiro, consiste na própria confecção da tese física/impressa, uma “coisa” que intercala e relaciona a montagem dos outros dois níveis mencionados.
Dupla imagem, duplo ritual: A Fotografia e o Sutra Lótus Primordial
Data da defesa:
sexta-feira, 4 Maio, 2018 - 17:00
Membros da Banca:
Maria Suely Kofes - orientadora
Sylvia Caiuby Novaes - membro externo
Andréa Claudia Miguel Marques Barbosa - membro externo
Carlos Rodrigues Brandão - membro interno
Christiano Key Tambascia - membro interno
Iara Cecilia Pimentel Rolim - suplente interno
Barbara Andrea Silva Copque - suplente externo
Mariana da Costa Aguiar Petroni - suplente externo
Programa:
Nome do Aluno:
Alexsânder Nakaôka Elias
Sala da defesa:
Sala de Defesa de Teses
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