NAS DOBRAS DO RECONHECIMENTO. Uma etnografia sobre dinâmicas de reconhecimento da arte e dos artistas haitianos na contemporaneidade

Pensar sobre a arte haitiana – uma gama vasta e diversa de expressões, mas que, não sem controvérsias, adquire notoriedade sobretudo através de designações como naïf, popular ou “arte vodu” – implica adentrar em um terreno de múltiplas vozes e práticas, em uma dobra na qual estão permanentemente tensionados contornos identitários e olhares externos. Nesta dissertação, em que me direciono em especial à cena contemporânea, investigo como arte, artistas e mediadores artísticos haitianos trilham seus rumos e são impactados por diferentes formas de reconhecimento e valorização, buscando, com frequência, se desembaraçar de estereótipos historicamente forjados, em processos de construção complexos, e ainda em pleno movimento. Aproximo-me desse universo de modo etnográfico, em estreito diálogo com catálogos de arte haitiana, e recorrendo a três caminhos: conversas com galeristas haitianas, que revelam os lugares das mulheres nesse cenário, enquanto mediadoras e artistas; a observação dos efeitos, em Porto Príncipe, de uma exposição internacional de arte haitiana, ocorrida em Paris; e o acompanhamento da trajetória de um artista. Os dois primeiros permitem visualizar, em uma escala mais ampla, estratégias institucionais, discursivas e editoriais, enquanto o último privilegia uma dimensão mais minuciosa e individual. De modo complementar e contrastivo, essas vias de entrada iluminam zonas e ângulos diferentes do mundo das artes do Haiti atual em suas tensões, formas de colaboração e buscas por reconhecimento e valorização.