COSTURAS ENTRE FEMINISMOS E TECNOLOGIAS: UMA ETNOGRAFIA DA COLETIVA HACKER FEMINISTA MARIALAB

Os ideais de horizontalidade, democratização do acesso, descentralização e autonomia, associados à Internet nas últimas décadas, se mostram cada vez mais distantes da realidade. O que tem se delineado em anos recentes são amplos processos de vigilância, controle e concentração de poder na mão de Estados e empresas. A este cenário, somam-se ainda desigualdades profundas. Atualmente, ambientes ligados às tecnologias digitais, como espaços privilegiados de pesquisa e produção de conhecimento científico e tecnológico e o mercado de tecnologia da informação (TI), são apontados por estudos como áreas marcadas pela exclusão de mulheres e pouca diversidade. Considerando este contexto, este trabalho investiga as categorias êmicas tecnologia feminista e segurança integral, operadas pela MariaLab, coletiva hacker feminista da cidade de São Paulo que atua na intersecção entre política, gênero e tecnologia. O objetivo é colaborar para a compreensão das propostas, sentidos e formulações que emergem das relações entre mulheres e tecnologias mobilizadas pelas redes pelas quais a MariaLab circula, a partir de um olhar minucioso para as categorias observadas, para as tecnologias criadas, resgatadas e ressignificadas, e para as reflexões decorrentes destes processos. Para tanto, esta investigação se valeu de método etnográfico em meios online e offline, de entrevistas semi estruturadas com integrantes da MariaLab, de pesquisa documental realizada com material produzido nestas redes e de revisão bibliográfica de estudos que se dediquem a questões de gênero e tecnologia, movimentos feministas protagonizados por jovens no contexto contemporâneo, críticas e abordagens feministas das tecnologias, antropologia da ciência e tecnologia, movimentos sociais e política na era da Internet.