Esta dissertação tem como objeto o Eu Escolhi Esperar, um movimento evangélico em defesa da abstinência sexual pré-conjugal, bem como as narrativas e trajetórias de seus seguidores. Promovendo como ideais a pureza sexual e a saúde emocional, o movimento se constitui como uma pedagogia afetiva que produz novos sentidos para a prática da abstinência antes do casamento, distanciando-a de um noção proibitiva de pecado. Busco compreender as formas de governo da sexualidade de jovens solteiros engendradas pelo movimento, que mobiliza a abstinência pré-conjugal como uma escolha baseada em uma lógica de inteligência emocional. Assim, o movimento coloca em ação tecnologias de subjetivação que visam produzir sujeito marcados por gênero, aptos a fazerem escolhas inteligentes na autogestão de suas vidas. Reflito ainda sobre como tais discursos são profundamente perpassados por códigos e demarcações de gênero, produzindo feminilidades e masculinidades, entremeadas a concepções de amor e modelos de relacionamento amoroso. O aprendizado de novas formas de condução da vida afetivo-sexual é visto como uma questão de importância social, uma vez que a atual geração de jovens estaria imersa na busca imediatista pelo prazer, em relações fragmentadas e utilitárias, não conseguindo, portanto, estabelecer vínculos duradouros que, através da construção do verdadeiro amor - saudável e desinteressado - resultem no casamento e na família heterossexual, monogâmica e indissolúvel. Nesse sentido, a espera é mobilizada como uma decisão na contramão do mundo em prol da verdadeira liberdade. Diferentemente da liberdade sexual propalada pelo mundo, esta permitiria ao sujeito discernir sobre suas decisões sem a interferência de uma sociedade hiperssexualizada, na qual a abstinência seria um estigma, de suas carências emocionais ou dos apelos sexuais do corpo. Tal retórica sobre a liberdade tensiona os imaginários correntes em torno da abstinência com motivação religiosa, abrindo espaço para problematizarmos a forma como os sujeitos orientam suas condutas a partir das normas, em um constante agenciamento destas, ressignificando a abstinência através de suas trajetórias de vida e de seus trânsitos religiosos.