Nação e pós-socialismo: Uma etnografia das transformações recentes na Voivodina
Enviado por secr_pos_antropo em qui, 09/08/2018 - 10:00Esta tese tem como objeto a reconfiguração do espaço político, econômico e nacional na antiga Iugoslávia após a queda do sistema socialista e o fim violento da própria federação. Trata-se de um estudo etnográfico realizado em Maradik, uma localidade da Voivodina (província ao norte da Sérvia, na ex-Iugoslávia) onde convivem sérvios, húngaros e croatas, sendo que estes dois últimos grupos são ao mesmo tempo cidadãos sérvios, mas que nacionalmente se definem como membros de nações diferentes da estatal. Adotando a perspectiva sugerida por Rogers Brubaker, que considera a nação não como uma entidade real ou “imaginada” como tal, mas como algo que acontece ou é praticado no evento, na vida cotidiana ou nas narrativas sobre história, ou seja, num campo de relações no qual interagem os grupos presentes na vila, também serão abordados os mecanismos presentes nos sistemas classificatórios locais, que operam com a oposição entre os distintos grupos étnicos e linguísticos e que fazem referência à ideia de “autoctonia” ou “nativismo”. Na segunda parte da tese serão analisados outros processos relativos ao fim do sistema socialista, cuja importância é constantemente relembrada pelos habitantes de Maradik. A Voivodina, uma das províncias mais prósperas, era, junto com a Eslovênia, a “despensa” da Iugoslávia socialista cujas cooperativas estatais e locais forneciam trigo, milho, frutas e carne para as outras repúblicas, e para exportação. As questões a serem exploradas neste ponto dizem respeito as crises econômicas dos anos 80 e a reconfiguração da economia local, com o fim das cooperativas socialistas autogestionadas eàs percepções sobre a própria “transição”, do socialismo para o capitalismo de mercado, e de um estado supra-nacional para um estado-nação.