Convidada especial: Profa. Edizângela Alves Barros (Chipaia - Atingida por Belo Monte)
Grupos de mulheres em diferentes regiões do Brasil estão criando “testemunhos” do cotidiano através de linhas, agulhas, tesouras e tecidos. Seus bordados adotam a linguagem das arpilleras criadas no Chile. Ao se reunirem para bordar, as mulheres refletem sobre perdas e deslocamento forçado; sobre as novas condições de vida; fortalecem a coesão enquanto grupo; e alimentam a consciência de constituição de gênero, raça e etnia. Esses processos acrescentam aos bordados, enquanto objetivação de seu modo de expressão, o sentido de denúncia feminina. Em face dessa realidade, a pesquisa versa sobre as criações, usos e sentidos do bordado arpillera, tal como praticado por mulheres impactadas por barragens no Brasil. As apropriações e ressignificações dessa forma de expressão, disseminada pelo MAB – Movimento dos Atingidos por Barragens –, revelam experiências de perda, ao mesmo tempo em que permitem a (re)elaboração e expressão do “ponto de vista” de cada uma das mulheres e suas famílias, empoderando-as no contexto das relações de gênero, em particular no enfrentamento de problemas emergentes nas conjunturas locais. Para tanto, a pesquisa focaliza processos socioculturais e políticos relativos à criação de arpilleras no conjunto da vida cotidiana de mulheres em Altamira, estado do Pará, localizada na região do médio/baixo Xingu, assim como a circulação desses bordados para além das especificidades onde são criados. O estudo antropológico foi desenvolvido com mulheres expulsas do Xingu e deslocadas compulsoriamente para Reassentamentos Urbanos Coletivos – bairros construídos na periferia da cidade pela empresa concessionária da Usina Hidrelétrica de Belo Monte, Norte Energia. A criação do bordado arpillera compõe o pensar-saber-fazer antropologias e pesquisas, de maneira que as peças foram acionadas como uma metodologia de realização do estudo e como constituidoras dos processos de criação da tese.