Cachoeira & a inversão do mundo

Cachoeira é uma cidade do Recôncavo Baiano cheia de histórias. Durante o período colonial, chegou a ser o segundo principal porto do Brasil. É uma terra de movimento. Nela, escutamos a todo tempo que tudo tem um fundamento por trás. Esse fundamento não se explica, se sente: o candomblé e suas presenças informam o cotidiano das pessoas. Orixás, inquices, caboclos são presenças donas das pedras do rio. Das esquinas da cidade. Das praças, matas, encruzilhadas. Só não vê quem não quer. Tendo por base pesquisa de campo entre os anos de 2015 e 2017 na cidade de Cachoeira, busco aqui trabalhar com uma perspectiva atenta ao conhecimento diário, de modo que pequenas narrativas e histórias do comum ressoem e possam compor um estado de análise. Assim, evito nesta tese explicar o conhecimento do candomblé a partir de noções próprias da teoria antropológica. O que proponho é uma inversão do olhar etnográfico, em três movimentos. Primeiro, parto do discurso oficial da cidade presente nas sessões solenes e momentos cívicos, bem como na fala de algumas pessoas, para chegar à Recuada, o lugar da resistência de um conhecimento sobre a cidade que permeia o discurso oficial, e que envolve uma atenção aos perigos espirituais, às presenças e ao dono da terra. Num segundo movimento, em vez de partir da literatura antropológica e seus debates em torno do candomblé na Bahia para falar sobre Cachoeira, procuro fazer uma crítica inspirada por Cachoeira sobre tal literatura. Para tanto, mostro como a figura do caboclo, imprevisível e em constante movimento, aparece para bagunçar os esquemas e modelos antropológicos. Por fim, num terceiro movimento, deixo que o mundo vivido de Cachoeira contamine o texto. Um mundo que é vivido por meio de uma espiritualidade corpórea e de um ritmo de fala. Através das suas narrativas, a intenção, portanto, não é olhar a espiritualidade do ponto de vista racional-analítico, mas deixar que ela componha a própria narrativa da tese. É inverter, portanto, uma forma de pensar através de classificações e explicações para uma forma de viver um mundo feito por pessoas e outros povos, das ruas, das matas, das águas, dos caminhos, da terra. Um mundo que é plural como a entidade caboclo. Ao escutar, sentir e olhar para caboclos e entidades, outras possibilidades se abrem para compor narrativas etnográficas.

Data da defesa: 
quinta-feira, 4 Outubro, 2018 - 17:00
Membros da Banca: 
Maria Suely Kofes - orientadora
Lucilene Reginaldo - membro interno
Carolina Cantarino Rodrigues - membro interno
Cristiane Santos Souza - membro externo
Angela Lucia Silva Figueiredo - membro externo
Mariana da Costa Aguiar Petroni - suplente externo
Nashieli Cecilia Rangel Loera - suplente interno
Magda dos Santos Ribeiro - suplente externo
Nome do Aluno: 
Maíra Cavalcanti Vale
Sala da defesa: 
Sala de Defesa de Teses

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