Esta tese investiga práticas e sentidos do mundo do rodeio no Brasil. Tomando como ponto de partida a expressão arte do rodeio, considerada aqui como uma categoria nativa deste universo social, busca-se descrever e analisar processos, relações, representações e significados relacionados a esse mundo social do rodeio. A partir de pesquisa em arquivos e documentos históricos e de um levantamento etnográfico na Festa do Peão Boiadeiro de Barretos, fruto do trabalho de campo realizado com organizadores desta festa, profissionais do rodeio e seus participantes e frequentadores (com maior imersão em campo nas edições de 2018 e 2019), este trabalho procurou compreender como, a partir desse mundo do rodeio, se afirmam determinados valores configurados a partir e em torno do agronegócio. Criada em 1956, a Festa do Peão de Barretos se originou no seio da elite pecuarista do interior paulista. Os efeitos da modernização do campo e as transformações sociais, políticas, culturais e econômicas na sociedade brasileira nesse período, bem como as ideologias desenvolvimentistas, regionalistas e nacionalistas da época, se tornaram o pano de fundo sob o qual os criadores da Festa do Peão, o clube Os Independentes, se apropriaram de uma noção de “cultura” para legitimar a idealização da homenagem a que consideram um “herói” da sociedade agrária, o peão boiadeiro. Ao longo dos anos, a Festa do Peão se tornou um dos maiores megaeventos do mundo country, alcançando sucesso internacional e impulsionando a proliferação de festas de rodeio no Brasil. O rodeio, a atração central destas festas, onde homens e touros precisam provar o valor de suas habilidades para serem valorizados, se transformou em um segmento esportivo profissional, regulamentado e especializado, sendo reconhecido em 2016 como manifestação do patrimônio imaterial, cultural e artístico brasileiro. Esses e outros aspectos também são tratados nesta tese como fenômenos relacionados ao contexto social e político brasileiro dos últimos anos, levando em conta a relação entre o mundo do rodeio e a construção de um projeto político e social de legitimação do agronegócio, em torno do qual se entrelaça à construção de uma identidade nacional, às dinâmicas do mercado de bens simbólicos e às atuais disputas por reconhecimento de direitos culturais.