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Ainda que nada tenha sido planejado de antemão, este primeiro romance da historiadora Celia Azevedo começou com uma fotografia - um retrato para ser mais específico. Mas seria possível dizer também que teve como ponto de partida traços físicos: um tom de pele, um tipo de cabelo, uma marca da nascença. Isso porque não foi a imagem do retratado que despertou a motivação para o texto ficcional, mas a ausência dela. É que desde o início do século XX, a foto foi escamoteada, escondida no fundo de gavetas poeirentas. O motivo? Os tais traços físicos que nos últimos cem anos vem despontando aqui e li em pessoas de uma mesma família - os traços físicos de um homem negro que seguidas gerações tentaram apagar...
Junto da descoberta do retrato de Arsenio veio também o de Angelina, sua esposa - essa sim responsável pelos traços que a família não tinha vontade de esconder: olhos verdes, pele clara... Em travessia de Arsenio e Angelina, o enredo mescla trechos de diário, cartas, narradores em terceira e primeira pessoa que se alternam conforme a pessoalidade do que é narrado, e , como não poderia deixar de ser, muita informação histórica à ficção. Lê-lo é frequentar a sociedade e o pensamento do Brasil em fins do século XIX: o abolicionismo, as teorias racistas; o republicanismo, a monarquia; os maçons, a igreja; o sexismo, uma incipiente emancipação feminina. Mas é também conhecer a história pequena, cotidiana, brasileira... Travessias de Arsenio e Angelina é a história privada da origem de um sem numero de famílias brasileiras.
- André de oliveira, "o fio do tempo"
Série: Consignados Docentes IFCH Ano: 2019