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Este livro promove uma releitura dos cronistas da época e do século do descobrimento da América, mostrando como o restante do mundo ocidental e portanto  a Europa reagiu ao evento, entre fascinada e perplexa. Para conseguir essa façanha, o autor relegou o processo institucional da conquista, que tem sido o objeto de estudo preferido dos historiadores, para tentar fazer os mortos falarem e falerem sobre suas crenças e deuses. O conquistador, por sua vez, não fica atrás na administração de suas perpelexidades, o seu olhar, os seus sentidos são desafiados pelo fantástico que os envolve, com a colaboração decisiva da corte celestial. E aí então se vê envolvido pelos diálogos e polêmicas, arquitetados uns, reproduzidos e analisados outros, como por exemplo entre Alberto Salas e Menéndez Pidal para julgar Las Casas ou entre Las Casas e Sepúlveda. E aí então é que se inventa a América... Essa invenção da América, para nós latino-americanos, marca-nos por um pecado original que nos passaram e do qual nos convenceram e nos convencemos: o de nos complexarmos pela maldade, feiura, negrice que explicam e marcam as nossa origens... A rendenção que nos cabe buscar, para exorcizarmos esse pecado, vai do afastamento desta auto-suposta vocação para ser escravo, desta falta de seriedade, desta malandragem do jeitinho, desta incoerencia nata, com que nos apresentamos ao mundo. A tese de simulação - continuamos a simular até hoje! - mostra uma herença com a qual nos produzimos e nos apresentamos, permitindo-nos chegar até aqui, isto é, sobreviver, reproduzir-se e projetar-se. Simulamos. Simular seria também uma forma de vencer. José Roberto do Amaral Lapa.