iníciovida de Agostiniimagensfontescréditos
Olhar com atenção os registros de Agostini sobre a folia nas últimas décadas do século XIX e no início do século XX pode dar margem a uma interessante reflexão sobre esta própria festa, geralmente interpretada como um momento de suspensão de todas as tensões em nome de uma comunhão transitória: uma válvula de escape através da qual a "verdadeira" expressão popular e nacional poderia vir à tona. A etnografia de Agostini, longe de registrar esta pretendida univocidade, evidencia a diferença, a multiplicidade de gestos e intenções, a constante disputa por espaço e por autonomia entre diferentes atores da folia.
Trata-se de um "olhar estrangeiro", incapaz de traduzir a identidade coletiva de que a folia seria expressão? Pelo contrário, os carnavais retratados por Agostini traziam a marca da diversidade e carregavam uma tensa afirmação de diferenças. Grandes Sociedades carnavalescas percorriam a rua do Ouvidor fazendo a crítica da escravidão e do Império, mas exercendo uma aberta pedagogia destinada a controlar e conformar os trabalhadores pobres e os negros. Ranchos e cordões carnavalescos, vindos dos bairros mais distantes ou daqueles considerados mais "perigosos" pelos setores dominantes começavam a invadir este espaço, em uma clara afirmação. Ao lado deste carnaval coletivo, mascarados avulsos ainda percorriam as ruas nas velhas brincadeiras do entrudo: diziam pilhérias, atiravam água uns nos outros, acompanhavam Zé pereiras espontâneos e barulhentos pelas ruas com suas brincadeiras tradicionais. Negros vestidos de índios e nobres africanos, os chamados cucumbis, percorriam as ruas cantando em línguas africanas, configurando uma verdadeira Babel de brincadeiras, práticas e significados.
Esta verdadeira guerra pelos domínios de Momo torna-se extremamente aguda nos anos 1880, e em grande medida entra pelo século 20. Para os historiadores, o enigma torna-se então saber porque, em suas primeiras décadas, os intelectuais começaram a ver no carnaval a homogeneidade da nação 1. Este, no entanto, não é um propósito deste site, de âmbito bem mais modesto e menos "acadêmico": trata-se aqui basicamente de desenvolver, como vimos, uma forma de expor estes materiais, de modo a permitir ao proprio usuário o processo de ver, perguntar, concluir e problematizar este rico universo imagético.
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