Os Índios na História do Brasil (home)

Bibliografia Comentada

Descrição: Descrição: Descrição: Descrição: Descrição: Descrição: Descrição: Descrição: Descrição: C:\JohnMM\IHB-Site\BibCom1.jpgEsta listagem elenca uma seleção de obras publicadas desde 1990 que abordam a temática dos índios na história do Brasil ou, numa chave um pouco diferente, da história dos índios no Brasil. A distinção é mais do que um arranjo das palavras: demarca abordagens distintas, a primeira privilegiada pelos historiadores, a segunda pelos antropólogos. Os comentários são menos críticos que informativos, buscando chamar a atenção para os conteúdos que trazem novos aportes para a discussão da história indígena e história do indigenismo no Brasil. A bibliografia está dividida em oito partes. A primeira, História dos Índios, Índios na História, arrola etnografias e monografias de história que tratam especificamente de povos indígenas, porém também estão incluídas algumas obras mais gerais que oferecem informações e abordagens relevantes. A segunda parte elenca Coletâneas e Números Especiais de Revistas que contêm um conjunto de artigos escritos por autores diversos, referentes à história indígena. A terceira inclui uma Seleção de Obras Reeditadas neste período, incluindo autores dos séculos XVI a XX. A quarta apresenta Instrumentos de Pesquisa e Fontes de Informação, abrangendo guias de fontes, repertórios de arquivos e de legislação, bibliografias, dicionários e enciclopédias. A quinta enfoca a Edição de Fontes, incluindo coleções de documentos, transcrições de textos manuscritos e transcrições de relatos orais sobre a história dos índios. A sexta inclui documentos e estudos ligados à Pesquisa Etnográfica, o que abrange diários de campo, documentos sobre expedições e estudos sobre a pesquisa científica entre os índios. A sétima parte traz uma listagem de Catálogos de Exposições e Coleções, que apresentam materiais iconográficos e textos originais. Finalmente, a última parte é dedicada a Narrativas e Autores Indígenas, com ênfase em textos voltados para a história.

 

Esta bibliografia constitui um projeto em curso e será aumentada e corrigida periodicamente. Compilada por John M. Monteiro (atualizada julho de 2012; últimos acréscimos em roxo). Mande informações, correções e comentários para o editor da listagem. Última versão (pesquisável) em PDF: clicar aqui.

 

1. História dos Índios, Índios na História (voltar ao início)

Agnolin, Adone. O Apetite da Antropologia. O Sabor Antropofágico do Saber Antropológico: alteridade e identidade no caso tupinambá. São Paulo: Associação Editorial Humanitas, 2005, 403p. Este livro surgiu da tese de doutorado do autor, apresentando uma densa exegese da documentação europeia sobre a antropofagia nas Américas, em especial entre os Tupinambá do litoral da América Portuguesa. Além de dialogar com a bibliografia etnológica e historiográfica, o autor discute a antropofagia não apenas como objeto em si mas sobretudo como uma chave para compreender diferentes discursos antropológicos em referência a um “outro” esvaziado de uma historicidade própria.

Agnolin, Adone. Jesuítas e Selvagens: a negociação da fé no encontro catequético-ritual americano-tupi (séc. XVI-XVII). São Paulo: Humanitas, 2007, 560p. Partindo de uma leitura crítica dos catecismos jesuíticos, obras compostas nos séculos XVI e XVII para auxiliar na evangelização dos índios, este livro oferece ricas perspectivas sobre “situações dialógicas” que configuraram o encontro entre culturas neste período. De especial interesse para a história dos índios é a Parte III, que enfoca “Doutrina e Sacramentos” e mostra o caráter “mão dupla” do sistema de comunicação e do processo de conversão.

Alden, Dauril. The Making of an Enterprise: the Society of Jesus in Portugal, its empire, and beyond, 1540-1750. Stanford: Stanford University Press, 1996, 707p. Resultado de quase três décadas de pesquisa, o livro oferece um amplo panorama das atividades jesuíticas na esfera do padroado lusitano, da fundação da ordem à sua expulsão das dependências portuguesas. Os aspectos mais importantes do livro residem na abordagem das atividades produtivas e comerciais dos jesuítas, bem como na perspectiva interoceânica do empreendimento inaciano. No que diz respeito à temática indígena no Brasil, o autor incorpora e expande seus estudos anteriores sobre a questão da liberdade dos índios, sobre as aldeias missionárias e sobre o trabalho indígena.

Alencastro, Luiz Felipe de. O Trato dos Viventes: formação do Brasil no Atlântico Sul. São Paulo: Companhia das Letras, 2000, 525p. Arrojada interpretação da formação do Brasil no século XVII a partir da sua inserção num sistema comercial e num circuito cultural demarcados no espaço do Atlântico Sul. No que diz respeito à temática indígena, o livro apresenta uma discussão densa e inovadora sobre a relação entre a escravidão indígena e a escravidão africana no Brasil e em Angola. Destacam-se a parte sobre epidemias enquanto fator de peso na opção pelo trabalho africano, bem como a reinscrição das guerras indígenas do século XVII no contexto mais amplo da história colonial seiscentista.

Almeida, Maria Regina Celestino de. Os Índios na História do Brasil. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2010 (Coleção FGV de Bolso, 15), 167p. Partindo do pressuposto de que a historiografia brasileira, tal qual construída a partir do século XIX, “apagou a história e as identidades de inúmeros povos indígenas”, este livro busca recolocar os povos indígenas na história colonial e pós-colonial do país. Ao deslocar os índios “dos bastidores ao palco”, a autora oferece uma síntese habilíssima da recente historiografia voltada para a temática indígena e chama a atenção para o desafio que enfrenta gerações futuras, pois “há ainda muitas histórias de índios para se escrever e contar”.

Almeida, Maria Regina Celestino de. Metamorfoses Indígenas: identidade e cultura nas aldeias coloniais do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Arquivo Nacional, 2003, 301p. Obra vencedora do Prêmio Arquivo Nacional de Pesquisa em 2001, este livro apresenta uma ampla pesquisa documental, a partir da qual a autora tece uma abordagem inovadora da história dos índios no Rio de Janeiro colonial. O enfoque recai no papel das lideranças nativas, na inserção dos índios aldeados no sistema de trabalho colonial, nas disputas em torno das terras e na busca de uma identidade indígena num contexto de mudanças profundas.

Almeida, Rita Heloisa de. O Diretório Pombalino. Brasília: Editora da UnB, 1998¸ 370p. Estudo bastante detalhado da legislação pombalina e suas implicações para os povos indígenas da Amazônia na segunda metade do século XVIII. É importante a discussão sobre o conceito de civilização que serviu de base para a política indigenista neste período, bem como a contextualização desta política no plano mais amplo do império português. Reproduz, em facsímile, o Diretório dos Índios de 1757.

Alves, Maurício Martins. Caminhos da Pobreza: a manutenção da diferença em Taubaté (1680-1729). Taubaté: Prefeitura Municipal, 1998, 181p. Pesquisa detalhada a partir do rico acervo documental (inventários, testamentos, notas de tabelião) existente em Taubaté, referente ao final do século XVII e início do século XVIII, quando vigorava a exploração intensiva da mão-de-obra indígena na região.

Amantino, Marcia. O Mundo das Feras: os moradores do sertão oeste de Minas Gerais – século XVIII. São Paulo: Annablume, 2008, 262p. Trata-se da tese de doutoramento da autora, que aborda os sertões de Minas colonial, com enfoque interessante sobre as populações indígenas e quilombolas. A pesquisa é bastante original e explora uma documentação manuscrita em acervos mineiros e cariocas. Inclui uma discussão muito interessante das relações entre comunidades indígenas e quilombolas, sugerindo de forma instigante que “as estruturas quilombolas se assemelhavam às organizações espaciais de aldeias indígenas”.

Amorim, Maria Adelina. Os Franciscanos no Maranhão e Grão-Pará: missão e cultura na primeira metade de seiscentos. Lisboa: Centro de Estudos de História Religiosa/ Universidade Católica Portuguesa, 2005 (Estudos de História Religiosa 2), 373p. A partir de uma ampla pesquisa documental em diversos arquivos portugueses, o livro analisa a contribuição dos franciscanos para o estabelecimento da presença portuguesa na Amazônia na primeira metade do século XVII. Inclui muitas informações sobre missões e relações com os índios. A autora destaca o papel do assim-chamado “Hércules da Capucha”, frei Cristóvão de Lisboa, que intercedeu a favor da liberdade dos índios diante dos abusos cometidos por colonos particulares e pelas autoridades portuguesas no Maranhão. O livro inclui ilustrações pouco conhecidas e um extenso anexo documental com vários documentos sobre as missões e sobre a defesa da liberdade, alguns inéditos, outros publicados anteriormente nos Anais da Biblioteca Nacional.

Anderson, Robin L. Colonization as Exploitation in the Amazon Rain Forest, 1758-1911. Gainesville: University Presses of Florida, 1999, 208p. Ao percorrer a história do baixo Amazonas da introdução do Diretório ao ocaso do boom da borracha, a autora sustenta que a colonização representou basicamente a exploração desenfreada dos recursos humanos e naturais da região. O objetivo é mostrar que o processo contemporâneo de devastação da Amazônia possui raízes profundas.

Andrade, Ugo Maia. Memória e Diferença: os Tumbalalá e as redes de trocas no submédio São Francisco. São Paulo: Humanitas, 2008, 391p. A partir de uma pesquisa etnográfica e documental, o autor ambienta a discussão da etnogênese tumbalalá em redes de relações interétnicas e interindígenas, redes essas que se constituem e se transformam no tempo e na memória. O livro inclui um capítulo muito bom sobre o processo de ocupação colonial do sertão do São Francisco e as implicações deste processo para a configuração de identidades indígenas. Mostra que a emergência étnica é longe de ser uma invenção recente e oportunista, antes está articulada a mudanças no quadro de relações historicamente profundas.

Andrade, Maristela de Paula. Terra de Índio: Identidade Étnica e Conflito em Terras de Uso Comum. São Luís: Ed. UFMA, 1999, 296p. A partir de uma pesquisa de campo no Município de Viana, no Maranhão, a autora apresenta um estudo denso da relação entre uma comunidade rural e as terras de uso comum. De particular interesse para a temática da história indígena são as partes que trazem uma pesquisa documental e cartográfica com referências importantes aos Gamela. Também são significativos os depoimentos de moradores sobre diferentes aspectos do passado. Finalmente, enfoca o processo recente de conflitos fundiários e suas implicações para a elaboração da etnopolítica.

Andrello, Geraldo. Cidade do Índio: transformações e cotidiano em Iauaretê. São Paulo: Editora Unesp; Instituto Socioambiental; NuTI, 2006, 447p. Estudo tão instigante quanto inovador, Cidade do Índio apresenta uma história e uma etnografia de uma “cidade indígena” no noroeste da Amazônia. De complexa feição pluriétnica (Tukano, Arapasso, Desana, Tariano, Pira-Tapuia e outros), Iauaretê propõe um desafio teórico para a tradição etnográfica focada geralmente num povo e numa aldeia. Como parte deste desafio, o autor realiza uma leitura diferenciada de fontes históricas, analisadas à luz dos materiais etnográficos coletados em campo (na cidade). Mas o autor também considera o “tom histórico” das narrativas indígenas, que pautam suas avaliações de situações atuais à luz de uma referência ao modo de vida dos antigos. Mais do que isso, segundo o autor, “os sentidos atribuídos pelos índios às transformações contemporâneas relacionam-se nitidamente a uma longa história de contato com a chamada sociedade nacional” (p. 18). De especial interesse para a história indígena é o capítulo 2, que realiza uma admirável síntese de vários séculos de história.

Apolinário, Juciene Ricarte. Os Akroá e Outros Povos Indígenas nas Fronteiras do Sertão: políticas indígena e indigenista no norte da Capitania de Goiás, atual Estado do Tocantins, século XVIII. Goiânia: Editora Kelps, 2006, 276p. Fruto de uma tese de doutorado defendida na UFPE, o livro abarca a atribulada história dos povos indígenas que, no século XVIII, enfrentaram o avanço da presença colonial na região do rio Tocantíns. A autora traz inúmeros aportes documentais que permitem elucidar o protagonismo de homens e mulheres Akroá, Karajá e Xakriabá (entre outros) nos embates violentos, na negociação de acordos de paz e na constituição de um espaço colonial para os índios. É de grande interesse a utilização de textos e depoimentos de obscuros estadistas, de sertanistas semi-analfabetos e de outros personagens que ilustram o encontro nem sempre feliz entre a política indigenista de Lisboa e as práticas locais do sertão. O livro inclui mapas ilustrados, com destaque para um manuscrito da Biblioteca Pública de Évora que mostra representações pictóricas de índios e aldeias.

Araújo, Melvina. Do Corpo à Alma: missionários da Consolata e índios Macuxi em Roraima. São Paulo: Humanitas, 2003, 248p. Apresentado originalmente como tese de doutorado em Antropologia, o livro enfoca a configuração cultural resultante das relações entre missionários do Instituto Consolata para Missões Estrangeiras e seus interlocutores Macuxi, de meados do século XX ao início do XXI. Pensado na linha que toma a “mediação cultural” como foco de análise, a pesquisa é especialmente reveladora ao tratar da interface entre as concepções etiológicas dos índios e as práticas missionárias no tratamento de doenças, levando a uma interessante discussão do movimento das concepções de pessoa, corpo e alma neste contexto transcultural.

Ataídes, Jézus Marco de. Sob o Signo da Violência: colonizadores e Kayapó do Sul no Brasil Central. Goiânia: Ed. UCG, 1998 (Coleção Teses Universitárias 4), 187p. Baseado numa extensa pesquisa sobretudo em arquivos goianos, este estudo mapeia literalmente séculos de encontros e confrontos entre os Kayapó do Sul e diferentes atores envolvidos, incluindo paulistas, Bororo e autoridades coloniais e imperiais, entre outros. O trabalho abrange as capitanias e províncias de Goiás, Minas Gerais e São Paulo.

Bandeira, Júlio. Canibais no Paraíso: a França Antártica e o imaginário europeu quinhentista. Rio de Janeiro: Mar de Idéias, 2006, 200p. O autor reúne uma quantidade expressiva de materiais textuais e iconográficos que refletem a dimensão atlântica das relações entre franceses e índios durante o século XVI. O livro é voltado para um público não especializado, porém a edição é muito bem feita e as imagens são evocativas e provocadoras, sobretudo à medida que permitem comparações entre as representações dos ameríndios com as de outros povos. No final do livro há uma tradução do texto para o francês.

Baptista, Jean. O Temporal: sociedades e espaços missionais. São Miguel das Missões: Museu das Missões, 2010 (Dossiê Missões, I), 228p. Marcando os 400 anos da formação das reduções, o Dossiê Missões traz três volumes que buscam fornecer subsídios conceituais e documentais para o Museu das Missões, em São Miguel RS. Este primeiro volume, baseado nos Manuscritos da Coleção de Angelis e na bibliografia especializada sobre os Guarani, aborda aspectos organizacionais e administrativos com destaque para a experiência dos índios “reduzidos”. É especialmente interessante o enfoque sobre os espaços ocupados por crianças, mulheres e homens indígenas nas missões.

Baptista, Jean. O Eterno: crenças e práticas missionais. São Miguel das Missões: Museu das Missões, 2010 (Dossiê Missões, II), 260p. Este segundo dossiê sobre as missões se apoia sobretudo na tese de doutorado do autor, buscando elucidar questões relativas à economia simbólica dos Guarani em situações de crise, com um enfoque especial sobre a fome, as epidemias e a guerra. O autor mobiliza uma quantidade expressiva de documentos inéditos, provenientes da Coleção de Angelis.

Baptista, Jean, e Santos, Maria Cristina dos. As Ruínas: a crise entre o temporal e o eterno. São Miguel das Missões: Museu das Missões, 2010 (Dossiê Missões, III), 249p. O terceiro dossiê inclui uma parte da tese de doutorado de Maria Cristina dos Santos sobre as missões no período posterior à expulsão dos jesuítas na segunda metade do século XVIII. Baseado numa ampla pesquisa documental, esta parte demonstra os percalços da administração espanhola e dos índios na tentativa de reorganizar as comunidades, cada vez mais arruinadas. A segunda parte do livro, escrito por Jean Baptista, adentra o século XIX e acompanha o destino das ruínas de igrejas, das populações dispersas e dos objetos sagrados que ficaram das reduções.

Barbosa, Bartira Ferraz. Paranambuco: poder e herança indígena. Nordeste séculos XVI-XVII. Recife: Editora Universitária, 2007, 220p. Baseado numa tese de doutorado em História defendida na USP, o livro busca, nas palavras da autora, “reordenar questões” atinentes à ocupação portuguesa do espaço pernambucano nos séculos XVI e XVII. Lançando mão de dados arqueológicos, fontes históricas escritas e percepções cartográficas, a autora mostra que a conquista dos espaços ameríndios constituiu um processo profundamente imbricado numa complexa trama de guerra, aliança, mestiçagem e exploração do trabalho. O livro traz informações detalhadas sobre a localização de espaços indígenas pré-coloniais e coloniais. Em anexo, a autora inclui belas reproduções de mapas coloniais e dados complementares sobre a ocupação portuguesa do território.

Barcelos, Artur H. F. Espaço e Arquitetura nas Missões Jesuíticas: o caso de São João Batista. Porto Alegre: Editora da PUCRS, 2000 (Coleção Arqueologia 7), 408p. Originalmente uma dissertação de mestrado, este livro descreve e analisa a organização espacial da redução São João Batista. Informado pelos aportes da arqueologia espacial, o estudo aproveita sobretudo fontes textuais, cartográficas, topográficas e iconográficas dos jesuítas nas missões espanholas da Província do Paraguai.

Barros, Clara Emília Monteiro de. Aldeamento de São Fidelis: o sentido do espaço na iconografia. Rio de Janeiro: IPHAN, 1995 (Série Ensaios 3), 143p. O núcleo do trabalho está na análise iconográfica de uma gravura de 1782 mostrando a aldeia de São Fidélis, no Vale do Paraíba fluminense. Pouco elaborado e carente de apoio documental, o texto busca analisar a organização dos espaços político e simbólico deste aldeamento capuchinho.

Barros, Edir Pina de. Os Filhos do Sol. História e cosmologia na organização social de um povo Karib: os Kurâ-Bakairi. São Paulo: Edusp, 2003, 385p. Fruto de uma longa convivência da autora entre os Bakairi no Mato Grosso, esta etnografia versa mais sobre a cosmologia e a organização social do que sobre a história. Ainda assim, o primeiro capítulo apresenta informações muito ricas retiradas de fontes históricas diversificadas, dos relatos coloniais, à documentação do Império, aos relatos da expedição de Karl von den Steinen (1884), aos relatórios do SPI.

Becker, Ítala Irene Basile. O Índio Kaingang no Rio Grande do Sul. 2ª ed. São Leopoldo: Editora Unisinos, 1995, 324p. Reedição de estudo publicado em 1975, superado em muitos aspectos pela nova bibliografia Kaingang dos últimos tempos. Ainda assim, há uma compilação de informações relevantes, com relativamente pouco destaque para a dimensão histórica.

Becker, Ítala Irene Basile, com a colaboração de Luís Fernando da Silva Laroque. O Índio Kaingang do Paraná: Subsídios para uma Etno-História. São Leopoldo: Editora Unisinos, 1999, 344p. O texto busca oferecer um amplo painel da presença Kaingang no território paranaense, baseada numa bibliografia variada e alguns documentos impressos.

Bezerra, Marcos Otávio. Panambi: um Caso de Criação de uma Terra Indígena Kayowá, Niterói: Editora da UFF, 1994, 149p. A partir de documentos do Serviço de Proteção aos Índios, o trabalho avalia o processo de constituição de uma área indígena no atual Mato Grosso do Sul.

Bigio, Elias dos Santos. Cândido Rondon: a integração nacional. Rio de Janeiro: Contraponto/Petrobrás, 2000 (Série Identidade Brasileira), 72p. Breve estudo sobre a vida e obra do principal articulador do SPILTN, bem fundamentado numa pesquisa documental e bibliográfica. O trabalho enfoca sobretudo os projetos junto aos índios do Mato Grosso durante as primeiras décadas do século XX. O autor inclui uma breve descrição da documentação do Museu do Índio e reproduz algumas fotos interessantes daquele acervo.

Bigio, Elias dos Santos. Linhas Telegráficas e Integração de Povos Indígenas: as estratégias políticas de Rondon (1889-1930). Brasília: FUNAI/CGDOC, 2003, 357p. Baseado numa ampla pesquisa documental, este livro aborda as atividades e as políticas de Rondon a partir da perspectiva da história regional de Mato Grosso. Reproduz uma parte da documentação em citações extensas e traz algumas das fotos publicadas anteriormente no livro de Rondon, Índios do Brasil (Rio de Janeiro: CNPI, 1946).

Bittencourt, Libertad Borges. A Formação de um Campo Político na América Latina: as organizações indígenas no Brasil. Goiânia: Editora UFG, 2007, 227p. O núcleo deste livro está no capítulo 3, que discorre sobre as organizações indígenas no Brasil, destacando o período posterior à Constituição de 1988, pois, segundo a autora, 90% das organizações foram criadas depois dessa data. Faz uma breve incursão pelo período anterior (anos 70 e 80) e enfoca de maneira relevante o papel de mediadores não indígenas na articulação do movimento. Utiliza um amplo leque de fontes e depoimentos ligados às associações.

Brienen, Rebecca Parker. Visions of Savage Paradise: Albert Eckhout, Court Painter in Colonial Dutch Brazil. Amsterdã: Amsterdam University Press, 2006, 288p. A partir de uma perspectiva de história da arte, este livro proporciona o primeiro estudo de fôlego sobre a vida e obra do artista que acompanhou Maurício de Nassau e que nos legou um dos mais penetrantes registros visuais do século XVII, notável pelo seu olhar etnográfico. Após reconstituir a biografia do artista, a autora apresenta uma densa análise dos desenhos de história natural e dos quadros monumentais que retratam indígenas, africanos e mestiços, com destaque para um estudo detalhado sobre os retratos dos Brasilianen (brasilianos ou Tupi) e dos Tapuia. Além de chamar a atenção para aspectos temáticos e estilísticos pouco notados em estudos anteriores, a autora também investe numa análise do contexto mais amplo no qual estas obras se inseriram, contexto esse envolvendo a circulação de imagens e objetos numa ampla rede de trocas e de acumulação de saberes coloniais. Ver também a obra desta autora na seção Catálogos de Exposições e Coleções.

Britto, Rossana G. A Saga de Pero do Campo Tourinho: o primeiro processo da Inquisição no Brasil. Petrópolis: Editora Vozes, 2000, 247p. Este livro retoma o célebre caso do capitão-donatário de Porto Seguro, estudado por Capistrano de Abreu e outros. Ao esmiuçar os depoimentos constantes do processo inquisitorial contra Tourinho, a autora evoca o mundo de relações políticas, sociais e culturais entre os povoadores portugueses e os índios nos turbulentos anos iniciais da colônia. Vem transcrito, no anexo, o processo da Inquisição, inclusive a parte inédita que foi omitida na História da Colonização Portuguesa do Brasil, de Carlos Malheiros Dias (1924).

Calavia Sáez, Oscar. O Nome e o Tempo dos Yaminawa: etnologia e história dos Yaminawa do rio Acre. São Paulo: Editora Unesp; Instituto Socioambiental; NuTI, 2006, 479p. Estruturado em três partes, este livro oferece uma abordagem inovadora da história indígena, com foco num grupo de língua pano que veio a ser chamado de Yaminawa. A primeira parte apresenta uma etnografia do grupo, cuja “função essencial é definir o sujeito da história descrito nos capítulos seguintes, sua estrutura interna e as fronteiras do grupo”. O autor descreve a segunda parte como “uma tentativa de crônica”, lançando mão de fontes históricas, etnografias antigas (com destaque para Capistrano de Abreu e Constant Tastevin), etnografias recentes, relatos orais e cantos indígenas. Esta parte enfoca de maneira instigante a história dos índios como um campo em disputa, inclusive tecendo uma crítica à reiteração de uma história de perdas, que se contrasta com uma abordagem que entende a história como parte de um processo constante de produção da cultura e da identidade. Esta parte encerra com uma análise fascinante dos mitos que tematizam o Inca, servindo de ponte para a terceira e última seção, que apresenta uma rica análise da mitologia dos Yaminawa, oferecendo ainda a transcrição de 70 relatos míticos em anexo. 

Capiberibe, Artionka. Batismo de Fogo: os Palikur e o cristianismo. São Paulo: Annablume; Fapesp; NuTI, 2007, 276p. Versão revista de uma dissertação defendida na Unicamp, o livro enfoca o processo de evangelização dos Palikur, com ênfase especial e inovadora sobre a atuação de missionários pentecostais. Fruto de uma cuidadosa pesquisa etnográfica e documental, o livro não só contribui para a crescente bibliografia etnológica sobre a região do Oiapoque como também dialoga com os estudos sobre missões religiosas em comunidades indígenas. De especial interesse para a história indígena é a análise do diário de um casal de missionários ligados ao Summer Institute of Linguistics, abrangendo as décadas de 1960-70.

Carneiro, Palmyos Paixão. Os Índios de São Januário do Ubá (1690-1990). Ubá: Gráfica da Escola de Veterinária da UFMG, 1990, 104p. Baseado numa ampla bibliografia, o livro estuda a presença dos índios na Zona da Mata mineira dos primeiros contatos por paulistas aos dias de hoje.

Carneiro da Cunha, Manuela. Cultura com Aspas e Outros Ensaios. São Paulo: Cosac Naify, 2009, 440p. Este livro reúne, de forma oportuna num único volume, 19 estudos e ensaios publicados entre 1973 e 2009, muitos dos quais são referências obrigatórias para qualquer aproximação à história indígena e do indigenismo no país. Agrupados em quatros seções (Olhares Indígenas; Olhares Indigenistas e Escravistas; Etnicidade, Indianidade e Política; Conhecimentos, Cultura e “Cultura”), os ensaios incluem, entre outros, o estudo seminal sobre o movimento messiânico canela de 1963; o artigo sobre vingança e temporalidade entre os Tupinambá (com E. Viveiros de Castro); o manifesto “Por uma História Indígena e do Indigenismo”; um texto sobre imagens de índios, contrastando as visões francesa e portuguesa; a instigante incursão na “guerra das relíquias” em que se explora os trajetos da memória no cruzamento entre o Velho e o Novo Mundo. Escritos com estilo refinado e inteligência afiada, os textos representam vários momentos em que a autora se debruçou sobre fontes históricas para abrir novos caminhos para a antropologia no Brasil.

Carvalho, João Renôr Ferreira de. Resistência Indígena no Piauí Colonial: 1718-1774, Imperatriz: Ética, 2005, 130p. Apoiado numa farta documentação do Arquivo Histórico Ultramarino, Arquivo Público do Estado do Pará e Arquivo Público do Estado do Maranhão, este estudo traz uma contribuição original e valiosa para a história colonial do Piauí. Dentre outros documentos analisados pelo autor, destacam-se o “Diário da Viagem de Regresso para o Reino” (1728), do governador João Maia da Gama, e o livro de “Assentos, Despachos e Sentenças da Junta das Missões”, ambos com importantes detalhes sobre os conflitos entre colonizadores e índios Timbira, Gueguê, Acroá-mirim e Acroá-guaçu ao longo do século XVIII. Inclui, em anexo, oito documentos inéditos da época estudada.

Castelnau-L’Estoile, Charlotte. Operários de uma Vinha Estéril: os Jesuítas e a conversão dos índios no Brasil (1580-1620). Traduzido por Ilka Stern Cohen. Bauru: Edusc, 2006, 628p. Publicado originalmente em francês em 2000, trata-se de um excelente estudo do projeto e da prática de evangelização dos índios num período de reformulações na Europa e na América. A autora não pretende avaliar o impacto dessas práticas sobre os índios mas sim introduzir um olhar historico-antropológico sobre os próprios jesuítas, buscando compreender suas categorias analíticas, bem como suas experiências pessoais e religiosas. Meticulosamente pesquisado em arquivos e bibliotecas nos dois lados do Atlântico, o livro oferece ricas análises sobre a administração de aldeias, a confecção de instrumentos linguísticos, a circulação de missionários, as estratégias e ações individuais e a tarefa de escrever a experiência missionária em diferentes registros.

Castro, José Liberal de. Igreja Matriz de Viçosa do Ceará: arquitetura e pintura de forro. Fortaleza: Edições IPHAN/UFC, 2001 (Cadernos de Arquitetura Cearense 1), 166p. Interessantíssimo estudo da igreja de N. S. de Assunção, em Viçosa na Serra de Ibiapaba, local de uma missão jesuítica e posteriormente uma vila de índios. Bem documentado e fartamente ilustrado, o livro traz uma análise detalhada dos painéis da capela-mor, oferecendo não apenas um rico estudo de história da arte e arquitetura, como também um vislumbre do imaginário cristão que acompanhava o processo de conversão dos índios.

Catharino, José Martins. Trabalho Índio em Terras da Vera ou Santa Cruz e do Brasil: tentativa de resgate ergonlógico [sic]. Rio de Janeiro: Salamandra, 1995, 628p. Trata-se de um livro difícil de abordar, uma vez que é constituído basicamente por fichamentos de leituras das mais diversas. Escrito por um jurista especializado em direito do trabalho, o texto reúne um vasto repertório de informações, servindo, pela sua organização sistemática, sobretudo como um guia para localizar diferentes assuntos referentes às atividades produtivas e à cultura material dos índios, nas principais fontes descritivas do período colonial.

Cavalcante, Thiago Leandro Vieira. Tomé, o Apóstolo da América: índios e jesuítas em uma história de apropriações e ressignificações. Dourados: Editora UFGD, 2009, 198p. Fruto de uma dissertação de mestrado, o livro enfoca dois momentos de elaboração de narrativas sobre a presença antiga do apóstolo S. Tomé na América do Sul. Primeiro, mostra a busca de uma convergência entre as cosmologias tupi-guarani e cristã no século XVI e, num segundo momento, sustenta que os jesuítas se apropriaram, no século XVII, do mito, no intuito de se firmarem enquanto sucessores do apóstolo. OBS: Este texto está disponível para download no site da Editora.

Chambouleyron, Rafael. Povoamento, Ocupação e Agricultura na Amazônia Colonial (1640-1706). Belém: Editora Açaí, 2010, 207p. O livro apresenta uma densa pesquisa sobretudo em documentos do Arquivo Histórico Ultramarino no intuito de fazer uma revisão do processo de colonização na Amazônia, entre a Restauração de 1640 e o fim do reinado de Pedro II. O autor conscientemente deixa de lado “o lugar social de índios e africanos” e o processo de mestiçagem, porém proporciona uma nova leitura do processo colonial, no qual o trabalho indígena aparece de maneira importante, apesar de discreta.

Chamorro, Graciela. Kurusu Ñe’ëngatu: palabras que la historia no podría olvidar. Assunção: Centro de Estudios Antropológicos de la Universidad Católica e São Leopoldo: COMIN, 1995 (Biblioteca Paraguaya de Antropología 25), 251p. Trata-se, segundo a autora, de uma etnohistória dos Guarani que busca identificar o impacto da catequese jesuítica sobre as palavras sagradas e, ao mesmo tempo, aferir "a resistência que o grupo foi capaz de efetuar no campo linguístico". A pesquisa, realizada entre os Kaiowá de Panambizinho-MS, coteja cantos e narrativas ligadas às festas do milho novo (avatikyry) e das crianças (kunumi pepy) com textos catequéticos do período das missões. No final, a autora apresenta uma boa discussão do problema da historicidade guarani.

Chamorro, Graciela. A Espiritualidade Guarani: uma teologia ameríndia da palavra. São Leopoldo: Sinodal, 1998 (Série Teses e Dissertações 10), 234p. Fruto de uma longa vivência entre os Guarani em Mato Grosso do Sul e no Rio Grande do Sul, de uma densa pesquisa em documentos históricos do período colonial e de uma leitura criteriosa da etnologia referente à religiosidade Guarani, este livro se define, nas palavras da autora, "duplamente como uma teologia índia feita por uma teóloga cristã e como tradução de uma experiência religiosa indígena". Ao enfocar a maneira pela qual os índios cristãos têm permanecido "fiéis aos grandes valores de seu sistema cultural", a autora permite repensar a longa relação entre os Guarani e o cristianismo.

Chamorro, Graciela. Terra Madura Yvy Araguyje: fundamento da palavra guarani. Dourados: Editora UFGD, 2008, 368p. Dedicado aos acadêmicos e acadêmicas guarani e kaiowá da Universidade Federal da Grande Dourados, o livro apresenta um amplo painel interpretativo da religião e religiosidade guarani. Afirma que os grupos guarani “não podem ser tomados como exemplo de um ‘cristianismo ameríndio’, mas sim contados entre as populações aborígines que mantêm uma relação marginal, embora cordial, com o cristianismo”. Para tanto, a autora conta com uma densa pesquisa documental, uma interlocução com narradores guarani e com sua própria experiência com a espiritualidade guarani ao longo dos anos.

Coelho, Elizabeth Maria Bezerra. Territórios em Conflito: a dinâmica da disputa pela terra entre índios e brancos no Maranhão. São Paulo: Hucitec, 2002, 349p. A autora enfoca os conflitos entre grupos indígenas no Maranhão (sobretudo Tenetehara e Guajajara) e trabalhadores rurais, porém também oferece uma pesquisa histórica sobre a missão capuchinha e a rebelião de Alto Alegre em 1901.

Coelho, Elizabeth Maria Bezerra. A Política Indigenista no Maranhão Provincial. São Luís: SIOGE, 1990, 344p. A autora apresenta uma análise da trajetória da política provincial através da legislação e da documentação do Império.

Cohen, Thomas. The Fire of Tongues: António Vieira and the missionary church in Brazil and Portugal. Stanford: Stanford University Press, 1998, 274p. Neste estudo do pensamento teológico e social do jesuíta Vieira, o autor inclui uma boa discussão das controvérsias em torno da exploração da mão-de-obra indígena no Maranhão e no Pará em meados do século XVII.

Coimbra Jr., Carlos; Flowers, Nancy; Salzano, Francisco, e Santos, Ricardo Ventura dos. The Xavante in Transition: Health, Ecology, and Bioanthropology in Central Brazil. Ann Arbor: University of Michigan Press, 2002, 344p. Projeto de colaboração interdisciplinar, o livro busca produzir uma percepção diacrônica da relação entre os Xavante de Etéñitépa e a sociedade brasileira. O enfoque recai sobre aspectos biológicos, demográficos, epidemiológicos e ecológicos, porém os autores trazem informações históricas importantes, algumas remontando ao século XVIII, com a reprodução de mapas e plantas de aldeias.

Colaço, Thaís Luzia. “Incapacidade” Indígena: tutela religiosa e violação do direito guarani nas missões jesuíticas. 4ª Reimpressão. Curitiba: Juruá, 2009, 223p. Publicado originalmente em 2000, o livro resulta de uma tese de doutorado que busca entender as origens das noções de “incapacidade” e “tutela” enquanto instrumentos de coação e desrespeito aos direitos indígenas, embora apresentados como instrumentos de proteção desses mesmos direitos. A pesquisa se atém sobretudo à bibliografia secundária e aborda as missões jesuíticas da Província do Paraguai.

Costa, Anna Maria Ribeiro F. Moreira da. Wanintesu: um construtor do mundo Nambiquara. Recife: Editora Universitária UFPE, 2010 (Coleção Teses e Dissertações), 612p. Fruto de uma longa convivência e pesquisa em áreas indígenas, o livro aborda a história recente dos grupos Nambiquara que vivem na Chapada dos Parecis no Mato Grosso. Focado na figura do wanintesu (pajé), o estudo busca “perceber o conjunto de representações que os índios tecem sobre seu próprio passado”. Além das fontes orais, a autora também lança mão de um amplo repertório de mapas, documentos e de informações históricas e etnográficas de vários estudiosos, de Rondon e Roquette-Pinto a David Price, passando por Lévi-Strauss, Kalervo Oberg e Desidério Aytai. Inclui um glossário de termos nambiquara e um caderno de imagens com desenhos feitos por índios.

Costa, Maria de Fátima. História de um País Inexistente: o Pantanal entre os séculos XVI e XVIII. São Paulo: Estação Liberdade/Kosmos, 1999, 277p. Esta minuciosa pesquisa em fontes das mais variadas produz uma história fascinante que transita entre o imaginário fantástico e a dura realidade da conquista de povos indígenas do Pantanal, das primeiras expedições espanholas no século XVI à demarcação de 1777. Inclui a belíssima reprodução de mapas, alguns pouco conhecidos.

Couto, Jorge. A Construção do Brasil. Ameríndios, portugueses e africanos, do início do povoamento a finais de Quinhentos. Lisboa: Cosmos, 1998, 408p. Escrito originalmente para uma coleção espanhola, este livro foi atualizado e oferece uma ampla abordagem da experiência portuguesa no Brasil durante o século XVI. No que diz respeito à história dos índios, é útil para visualizar o contexto mais amplo da presença indígena nesse período.

Cymbalista, Renato. Sangue, Ossos e Terras: os mortos e a ocupação do território luso-brasileiro, séculos XVI e XVII. São Paulo: Alameda, 2011, 364p. Originalmente uma tese de doutorado, este livro aborda a formação inicial da América portuguesa a partir de um enfoque singular, buscando mostrar a importância “das complexas relações entre o espaço dos vivos, dos mortos e a realidade territoiral na época da expansão colonial”. A investigação percorre uma documentação familiar (registros de missionários), enriquecida por imagens sacras, hagiografias e gravuras impressas mostrando cenas de martírio. Ao evocar martírios, relíquias, crenças e práticas, o autor inevitavelmente confronta “diálogos e traduções entre a cultura católica e ameríndia”. Se os primeiros capítulos tratam de maneira instigante este horizonte de convergências no espaço colonial, o último – dedicado exclusivamente aos índios – parece redundante e algo fora do lugar.

Daher, Andrea. O Brasil Francês: as singularidades da França Equinocial, 1612-1615. Trad. A. Stückenbruck. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2007, 358p. Publicado originalmente em francês com o título Les singularités de la France Equinoxiale em 2002, o livro aborda as relações entre franceses e índios tupinambás nos dois lados do Atlântico. Dividido entre “o mundo par delà” e o “o mundo par deçà”, o estudo apresenta uma refinada análise dos textos escritos por missionários capuchinhos, textos estes que permitem não apenas entender o sentido da missão no Maranhão como também documentar “o espetáculo da conversão dos Tupinambá na França”, um episódio singular reconstruído com maestria pela autora. O livro inclui ilustrações da época e um bom prefácio de Roger Chartier.

Di Creddo, Maria do Carmo Sampaio. Terras e Índios: a propriedade da terra no Vale do Paranapanema. São Paulo: Editora Arte & Ciência, 2003, 184p. Baseado numa extensíssima pesquisa documental em cartórios do interior e no arquivo estadual, este livro enfoca a política expansionista do governo provincial de São Paulo na segunda metade do século XIX. Ao detalhar a organização de bandeiras, as tentativas de aldeamento e os conflitos entre fazendeiros e índios – Coroados (Kaingang), Cayuás (Kayowá-Guarani) e Xavantes (Oti) – a autora documenta a convergência entre interesses particulares e do Estado na ocupação fundiária do Vale, redundando na destruição dos povos indígenas.

Diacon, Todd. Stringing Together a Nation: Cândido Mariano da Silva Rondon and the construction of a modern Brazil, 1906-1930. Durham: Duke University Press, 2004, 228p. Baseado numa ampla pesquisa em arquivos, jornais e publicações oficiais, o livro estuda a trajetória de Rondon, do projeto de telégrafos à Revolução de 30. Ao relacionar as atividades de Rondon a um projeto de nacionalidade, o autor busca mostrar o caráter incompleto do processo, ressaltando a ineficácia e as contradições do projeto de integração dos sertões à nação. No capítulo sobre a política indigenista, critica com certa veemência a vertente "revisionista" de estudiosos que "denigram" a imagem de herói nacional e defensor romântico dos índios, imagem essa produzida por uma vertente "hagiográfica" ligada aos militares. O livro inclui uma seleção muito interessante de fotografias do acervo do Museu do Índio.

Domingues, Ângela. Quando os Índios eram Vassalos. Colonização e relações de poder no Norte do Brasil na segunda metade do século XVIII. Lisboa: CNCDP, 2000, 388p. Baseado numa rica pesquisa em arquivos portugueses e brasileiros, o livro acompanha a implantação da política pombalina nas comunidades indígenas da Amazônia, produzindo um retrato de complexas relações entre índios e as autoridades portuguesas. O texto demonstra a multiplicidade de respostas à nova situação por parte das autoridades locais, de outros agentes coloniais e, sobretudo, das próprias lideranças indígenas.

Duffy, Eve M., e Metcalf, Alida. The Return of Hans Staden: a go-between in the Atlantic world. Baltimore: Johns Hopkins University Press, 2012, 192p. Preparado para um público universitário norte-americano dentro dos moldes de uma “História Atlântica”, o livro reconstitui e reinterpreta o famoso relato de Hans Staden, cuja experiência como cativo entre os Tupinambá no século XVI se tornou um dos focos de debates sobre a antropofagia e sobre a veracidade das narrativas de viagem. A avaliação final das autoras é um tanto ambígua porém elas introduzem uma discussão interessante sobre o jogo entre verdade e mentira no interior do próprio relato, jogo esse indispensável para a sobrevivência nas condições precárias e arriscadas dos encontros interculturais no início da época moderna.

Dutra, Carlos Alberto dos Santos. Ofaié: morte e vida de um povo. Campo Grande: Instituto Histórico e Geográfico de Mato Grosso do Sul, 1996, 339p. Produto de um levantamento etno-histórico feito pelo autor em meados dos anos 80 para o CIMI com o intuito de iniciar o processo de identificação de uma área indígena Ofaié Xavante, o livro costura textos do autor, depoimentos de lideranças indígenas, entrevistas e documentos históricos referentes aos Ofaié, grupo hoje radicado no município de Brasilândia MS. Apesar do caráter descontínuo do livro, o volume traz uma grande quantidade de informações históricas sobre os Ofaíé, oferecendo um amplo painel da luta desse povo contra as agressões de sertanistas e fazendeiros, contra a doença e a miséria, contra o descaso das autoridades republicanas. A Parte V reproduz uma série importante de documentos produzidos durante a gestão do SPI.

Early, John D. e Peters, John F. The Xilixana Yanomami of the Amazon: history, social structure, and population dynamics. Gainesville: University Press of Florida, 2000, 352p. Estudo detalhado das dinâmicas populacionais em oito aldeias Yanomami, traçando um perfil da fertilidade, mortalidade e das migrações. O livro busca documentar a história demográfica destas comunidades desde 1930, abrangendo um período de quase trinta anos anterior ao contato efetivo com forças sociais, políticas e econômicas externas. A pesquisa traz aportes para o debate em torno da relação entre demografia e etnologia, com reflexões sobre o impacto das doenças contagiosas introduzidas pelo contato e sobre a mudança das dinâmicas populacionais após esse evento.

Eisenberg, José. As Missões Jesuíticas e o Pensamento Político Moderno: encontros culturais, aventuras teóricas. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2000, 264p. Ao explorar o movimento de ideias entre a América e a Europa do século XVI, o autor introduz uma nova leitura das implicações políticas da obra missionária dos jesuítas no Brasil em seu período formativo. A releitura dos escritos de Nóbrega permite reavaliar as bases morais e éticas sobre as quais se formulou a política indigenista colonial. O livro reproduz textos-chave de Nóbrega, incluindo o Diálogo sobre a Conversão do Gentio e o chamado Plano Civilizador.

Espindola, Haruf Salmen. Sertão do Rio Doce. Bauru: Edusc, 2005, 492p. O livro aborda a guerra de conquista na região do Rio Doce no século XIX, enfocando particularmente as motivações econômicas que estimularam o projeto de ocupação territorial. Bem documentado, o trabalho é menos sobre os índios propriamente ditos e mais sobre o impacto das políticas governamentais.

Farage, Nádia. As Muralhas dos Sertões: os povos indígenas no rio Branco e a colonização. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1991, 197p. Exemplo emblemático da nova história indígena, este livro identifica a postura de atores indígenas frente à expansão colonial na região do rio Branco, unindo uma sensibilidade etnográfica a uma cuidadosa pesquisa documental. Demonstra que os índios não apenas foram usados pelas potências europeias que disputavam esta região de fronteira, como também usaram esta situação para consolidar uma certa autonomia.

Faulhaber, Priscila. O Lago dos Espelhos: etnografia do saber sobre a fronteira em Tefé/Amazonas. Belém: Museu Paraense Emílio Goeldi, 1998, 215p. Estudo de antropologia histórica enfocando os movimentos étnicos na região de fronteira no rio Solimões. De especial interesse são as partes sobre a configuração das fronteiras no século XIX e início do século XX e sua relação com os povos indígenas locais. Há também um instigante estudo sobre a constituição dos estudos etnológicos no início do século XX, mostrando a relação entre as atividades missionárias e científicas de uma das principais fontes sobre a região, o padre C. Tastevin.

Fausto, Carlos. Inimigos Fiéis: história, guerra e xamanismo na Amazônia. São Paulo: Edusp, 2001, 587p. A primeira vista, trata-se de uma etnografia nos moldes clássicos sobre os Parakanã, povo tupi-guarani que vive entre os rios Xingu e Tocantins. No entanto, como as boas monografias clássicas, o alcance do livro vai muito além da descrição do objeto em si e traz aportes para a abordagem antropológica dos processos históricos vivenciados por sociedades indígenas. Ao se defrontar com o desafio de explicar porque dois ramos dos Parakanã – de origem comum porém cindidos no final do século XIX em decorrência de uma "briga por mulheres" – apresentavam, na época do contato (década de 1970), formas sociais "significativamente distintas", o autor procura "mostrar como as transformações foram produto da intersecção de determinações internas e externas, interesecção que se deu em situações históricas particulares, conformando e sendo conformada pela ação dos agentes". Transitando entre estrutura e processo, esta etnografia apresenta uma sofisticada apreciação das "formas na história" e da "história das formas", manejando com destreza documentos históricos, narrativas indígenas, observações pessoais e uma extensa bibliografia etnológica.

Fausto, Carlos. Os Índios antes do Brasil. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2000, 94p. Este pequeno livro tem o grande mérito de sintetizar em poucas páginas os difíceis debates em torno das origens e desenvolvimento cultural dos povos nativos no amplo período anterior à chegada dos europeus. Mostra de forma hábil o diálogo entre a arqueologia e o registro histórico, levantando sérias questões a respeito das características demográficas, políticas e étnicas dessas populações.

Felix, Cláudio Eduardo. Uma Escola para Formar Guerreiros. Irecê: Print Fox, 2007, 110p. Originalmente uma dissertação defendida na UFPE, este livro descreve e analisa o surgimento e expansão da Comissão de Professores Indígenas de Pernambuco (COPIPE). Além da história recente desta organização, o livro também faz uma breve incursão pela história da educação indígena no país.

Fernandes, João Azevedo. De Cunhã a Mameluca: a mulher tupinambá e o nascimento do Brasil. João Pessoa: Editora UFPB, 2003, 303p. Ao transitar entre a etnologia e a história, o autor produz uma monografia marcada sobretudo pela originalidade na abordagem crítica dos inícios da mestiçagem no Brasil. O livro desloca o foco para as mulheres tupinambás enquanto protagonistas de uma história de relações que devem, segundo o autor, ser analisadas a partir de um "paradigma interétnico". Para tanto, realiza uma ampla reavaliação crítica dos estudos históricos e etnológicos à luz de uma releitura de relatos e fontes coloniais dos mais variados. A riqueza deste trabalho só é empobrecida pela baixa qualidade editorial do livro.

Fernandes, João Azevedo. Selvagens Bebedeiras: álcool, embriaguez e contatos culturais no Brasil colonial (séculos XVI-XVII). São Paulo: Alameda, 2011, 238p. Versão revista de uma tese de doutorado que aborda o processo de encontro intercultural a partir de um objeto sempre presente porém pouco estudado. O autor faz uma leitura minuciosa de documentos e narrativas coloniais para revelar “o papel crucial das festas e cerimônias etílicas nas sociedades indígenas”, com especial atenção às “cauinagens canibais” dos Tupinambá. Chega à conclusão de que, se os índios conseguiram impedir a introdução do vinho português enquanto “mercadoria civilizatória”, sofreram uma derrota com a repressão do cauim e das cauinagens, o que criou um “vazio etílico” que seria preenchido de maneira trágica por bebidas destiladas, como a cachaça, com efeitos danosos sobre os índios e para os planos dos evangelizadores. Mas o autor deixa para uma outra ocasião uma análise sobre as maneiras pelas quais os índios, com larga experiência com bebidas e embriaguez, se relacionaram com aquilo que de forma simplificada é pensado como uma “arma da colonização”. 

Freire, Carlos Augusto da Rocha. O SPI na Amazônia: política indigenista e conflitos regionais, 1910-1932. Rio de Janeiro: Museu do Índio-Funai, 2007 (Série Publicação Avulsa do Museu do Índio, 2), 116p. Pequena publicação de grande riqueza, este livro aborda uma série de questões ligadas à atuação da Inspetoria Regional responsável por Amazonas e Acre durante as primeiras décadas do SPI. O autor enfoca de maneira particular as atividades e os escritos de Bento de Lemos, cuja carreira permite colocar em discussão aspectos demográficos, territoriais, políticos e administrativos da gestão indigenista. O material documental inédito e as fotografias dos postos são, simplesmente, fantásticos.

Freire, José Ribamar Bessa. Rio Babel: a História das Línguas na Amazônia. Rio de Janeiro: Atlântica Editora/Editora da UERJ, 2004, 272p. De forma pioneira e abrangente, o autor apresenta uma "história social das línguas na Amazônia num período de trezentos anos", percorrendo um rico manancial de fontes escritas. O livro aborda a transformação do quadro etnolinguístico, mostrando o processo de formação da língua geral e a introdução da língua portuguesa no contexto da diversidade linguística ameríndia. O autor salienta não apenas o papel do sistema de exploração da mão-de-obra na interação de línguas diversas, como também demonstra a importância das "políticas de línguas" dos missionários e do Estado nesta história. Por fim, o livro acompanha a trajetória da língua geral no século XIX, revelando um delicado quadro marcado tanto pela persistência localizada quanto pelo declínio geral face ao avanço do português.

Freire, José Ribamar Bessa e Malheiros, Márcia Fernanda. Aldeamentos Indígenas no Rio de Janeiro. 2ª ed. Rio de Janeiro: Editora da UERJ, 2009, 100p. Pensado inicialmente como um aporte didático, o livro ultrapassa essa limitação ao trazer um material original de pesquisa em arquivos realizada pela equipe do Programa de Estudos dos Povos Indígenas, da UERJ. O texto é curto porém contundente, buscando levantar questões e problemas quanto à presença indígena no Rio de Janeiro, entre os séculos XVI e XIX.

French, Jan Hoffman. Legalizing Identities: Becoming Black or Indian in Brazil’s Northeast. Chapel Hill: University of North Carolina Press, 2009, 247p. A partir de uma pesquisa de campo realizada em 1998-2000, a autora analisa a construção de identidades indígenas e quilombolas em Sergipe. A autora introduz uma perspectiva da antropologia do direito e chega a conclusão de que o êxito das políticas identitárias nestes dois casos não passa pela prova de uma “autenticidade” de origem e sim pela articulação de múltiplos agentes em torno de uma relação com a legislação e com o conceito de justiça social.

Funari, Pedro Paulo e Piñón, Ana. A Temática Indígena na Escola: subsídios para os professores. São Paulo: Editora Contexto, 2011, 127p. Destinado a “professores das escolas não indígenas”, trata-se de um livro paradidático que se mostra mais eficaz no manejo de conceitos e informações provenientes da arqueologia americanista do que dos debates atuais a respeito da história dos índios nas Américas. O livro traz uma discussão útil sobre a imagem dos índios ao longo da história, porém os índios surgem enquanto atores sociais e políticos apenas na conclusão, quando se faz uma referência rápida ao contexto da abertura política. 

Gallois, Dominique. Mairi Revisitada. A Reintegração da Fortaleza de Macapá na Tradição Oral dos Waiãpi. São Paulo: Núcleo de História Indígena e do Indigenismo, 1993 (Série Estudos), 91p. Estudo bastante criativo que apresenta diferentes versões indígenas sobre as origens da humanidade e as origens da presença dos brancos na vida social dos índios Waiãpi do Amapá. A autora comenta longos depoimentos de diferentes narradores nativos, com destaque para o chefe Waiwai, apresentando uma rica discussão dos diferentes gêneros de narrativa sobre o passado.

Gambini, Roberto. O Espelho Índio: a formação da alma brasileira. 2a ed., São Paulo: Axis Mundi/Terceiro Nome, 2000, 191p. Publicado originalmente em 1988 com outro subtítulo, este estudo apresenta uma abordagem instigante do encontro entre missionários e índios no século XVI, lançando mão de instrumentos junguianos de análise. A nova edição é enriquecida por um projeto editorial arrojado, amplamente ilustrado.

Ganson, Barbara. The Guarani Under Spanish Rule in the Río de la Plata. Austin: University of Texas Press, 2003, 290p. Apesar da abrangência do título, o livro trata menos das missões espanholas e mais sobre o período após a expulsão dos jesuítas dos territórios espanhóis em 1767. A autora introduz uma pesquisa bastante original e densa, destacando-se a documentação evocativa das vozes e das ações dos Guarani, não se atendo apenas às lideranças. O trabalho trava um diálogo entre a etnologia e a história, situando-se numa rica tradição de estudos sobre as áreas de fronteiras coloniais. Embora o enfoque seja sobre a América Espanhola, o livro acrescenta informações e perspectivas sobre episódios envolvendo colonos e índios da América Portuguesa, incluindo as expedições paulistas, a chamada Guerra Guaranítica e a incorporação dos Sete Povos ao lado português da fronteira.

Garcia, Elisa Frühauf. As Diversas Formas de Ser Índio: políticas indígenas e políticas indigenistas no extremo sul da América portuguesa. Rio de Janeiro: Arquivo Nacional, 2009, 352p. Segundo lugar no Prêmio Arquivo Nacional de Pesquisa, este livro é fruto de uma extensa pesquisa de doutorado que enfoca a presença e participação dos índios na configuração da sociedade colonial na fronteira meridional da América portuguesa. Aborda de maneira inovadora as políticas de alianças iniciadas pelos índios, desde o contexto da demarcação territorial em torno do Tratado de Madri às vésperas da Independência.

Garfield, Seth. Indigenous Struggle at the Heart of Brazil: state policy, frontier expansion, and the Xavante Indians, 1937-1988. Durham: Duke University Press, 2001, 316p. Pesquisa de fôlego, este livro mostra a articulação entre as ideias sobre a nação, a política indigenista e as estratégias indígenas durante o período crítico de expansão econômica (e política, com a mudança da capital federal) para o Brasil central. São vários destaques dignos de nota: traz muitas informações e perspectivas novas sobre o período do Estado Novo (1937-1945); confronta, de maneira instigante, o pessimismo sentimental dos etnógrafos com as posturas assumidas por atores indígenas; documenta os embates em torno da demarcação de terras dos Xavante; demonstra o jogo complexo entre a formação da imagem dos Xavante enquanto símbolos primordiais da nacionalidade e a política da diferença adotada pelos mesmos Xavante em prol de seus direitos territoriais.

Gaspar, Madu. A Arte Rupestre no Brasil. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2003 (Série Descobrindo o Brasil), 83p. Trata-se de um pequeno resumo do estado atual do conhecimento referente aos grafismos rupestres presentes em várias regiões do país. A autora fornece informações sobre pesquisas recentes em seus esforços de contextualizar as imagens e de propor um quadro analítico para interpretar o domínio do simbólico expresso nos grafismos.

Giraldin, Odair. Cayapó e Panará: luta e sobrevivência de um povo Jê no Brasil Central. Campinas: Editora Unicamp, 1997, 198p. Ao transitar entre a documentação histórica e as etnografias modernas, o autor apresenta um sólido estudo da trajetória dos Kayapó meridionais, objetos de uma brutal política de repressão a partir do século XVIII. A pesquisa documental revela fontes e perspectivas antes desconhecidas, além de aprofundar as evidências que apontam para a relação entre os Kayapó meridionais, considerados "extintos", e os Panará do rio Peixoto de Azevedo.

Giucci, Guillermo. Sem Fé, Lei ou Rei: Brasil 1500-1532. Rio de Janeiro: Rocco, 1993, 239p. Enfocando o primeiro período de atividades coloniais no litoral brasileiro, o autor apresenta uma sugestiva discussão sobre o papel de náufragos e degredados naquilo que chama de "colonização acidental". Enfoca de maneira interessante as fontes do período, que dizem várias coisas sobre as primeiras relações entre europeus e índios.

Goldschmidt, Eliane M. Rea. Casamentos Mistos: liberdade e escravidão em São Paulo colonial. São Paulo: Annablume, 2004, 176p. Fruto de uma paciente pesquisa em documentos eclesiásticos abrangendo o período de 1728 a 1822, o livro traz informações sobre os casamentos entre africanos e índios em São Paulo, dando visibilidade a um assunto pouco abordado na historiografia.

Golin, Tau. A Guerra Guaranítica: como os exércitos de Portugal e Espanha destruíram os Sete Povos dos jesuítas e índios guaranis no Rio Grande do Sul. Passo Fundo: EDUPF, 1998 [3ª ed., 2004], 623p. A parte principal desta publicação é a edição anotada do “Diário da Expedição e Demarcação da América Meridional e das Campanhas das Missões do Rio Uruguai”, escrito pelo engenheiro militar português José Custódio de Sá e Faria. Apesar de escrito alguns anos depois dos eventos, Custódio foi participante e testemunha de vários episódios da rebelião indígena que investiu contra as comissões castelhana e portuguesa que visavam cumprir os artigos do Tratado de Madri. O texto é prefaciado por um estudo sobre Sá e Faria e as anotações que acompanham a transcrição trazem abundantes informações complementares, baseadas numa extensa pesquisa documental e bibliográfica. O Diário traz detalhes sobre aspectos cerimoniais, políticos,  militares e culturais das relações entre os rebeldes e as autoridades coloniais. O autor inclui, ainda, uma quantidade expressiva de imagens cartográficas e iconográficas do período.

Gomes, José Eudes. As Milícias d’El Rey: tropas militares e poder no Ceará setecentista. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2010, 359p. Dissertação de mestrado vencedora do Prêmio Pronex/UFF Culturas Políticas, este livro aborda um tema de grande importância para a história dos índios, porém parcamente estudado: a estrutura e atuação de diferentes espécies de tropas militares nos processos de conquista, colonização e controle territorial na América portuguesa. Além de percorrer uma bibliografia ampla, o autor realizou uma pesquisa extensíssima em documentos impressos e manuscritos, enfocando de modo particular o Ceará. Enfoca de maneira original a participação e recompensa de tropas ameríndias, incluindo a identificação de doações de sesmarias a índios neste contexto. Inclui um bom número de mapas, tabelas, gráficos e ilustrações de interesse para a temática da história indígena. 

Gomes, Mércio Pereira. O Índio na História: o povo Tenetehara em busca da liberdade. Petrópolis: Editora Vozes, 2002, 631p. O autor alia uma extensa pesquisa documental a sua longa experiência como etnógrafo e indigenista para produzir um detalhadíssimo relato das relações entre os Tenetehara do Maranhão e os brancos, desde o contato inicial com os franceses no início do século XVII aos dias de hoje. Conforme alerta o próprio autor, o livro está escrito em vários registros distintos, passando pela teoria antropológica ("ontosistêmica"), pela história do contato, pela "economia igualitarista", pela demografia e pela filosofia. A parte sobre a história é organizada pela sequência das principais instituições da política indigenista, com uma concentração maior no período do SPI. No mais, destacam-se a abordagem da rebelião de Alto Alegre (1901) e o capítulo sobre a demografia histórica. Presente de maneira indireta ao longo do livro, a voz dos índios aparece de maneira explícita num capítulo curto com a transcrição de alguns depoimentos.

Gonçalves, Regina Célia. Guerras e Açúcares: política e economia na Capitania da Parayba – 1585-1630. Bauru: Edusc, 2007, 330p. Baseado numa extensa pesquisa documental em arquivos portugueses e brasileiros, o livro enfoca a consolidação da sociedade e economia colonial na Paraíba, durante o período entre a “guerra da conquista contra os Potiguara” e o início da presença holandesa. Nascida “às custas de sangue”, a Capitania da Paraíba foi palco de uma intensa disputa entre populações indígenas e adventícias. Sobretudo nos capítulos 1 e 2, a autora destrincha estas relações com uma análise detalhada da guerra, das alianças, do comércio entre índios e franceses, do “negócio do cativeiro de índios” e da política dos conquistadores em “limpar o terreno”, marcada tanto pelos esforços de aldeamento de aliados quanto no massacre de inimigos. O livro também mostra, de maneira bastante persuasiva, a importância da conquista e das narrativas de conquista para o surgimento de uma elite regional, cuja participação nas guerras redundou em recompensas na distribuição de terras a serem exploradas na produção açucareira.

Grünberg, Georg. Os Kaiabi do Brasil Central: história e etnografia. São Paulo: Instituto Socioambiental, 2004, 299p. A publicação deste livro revela algo da história recente dos índios do Xingu e, ao mesmo tempo, a busca por parte das lideranças atuais por subsídios para uma história indígena do povo Kaiabi. Fruto de uma pesquisa de campo realizada em 1965-66, o texto foi apresentado como tese em etnologia e publicado em alemão na revista Archiv für Völkerkunde em Viena em 1970. O autor situa, no capítulo II, as fontes históricas sobre os Kaiabi, do século XVIII ao XX; no capítulo III, coteja as informações de meados dos anos de 1950 com as observações do período da pesquisa para aferir mudanças demográficas e territoriais. Esta edição inclui um posfácio escrito por Klinton Senra, Geraldo Mosimann da Silva e Simone Ferreira de Athayde trazendo dados atuais sobre os Kaiabi, o que permite mais um cotejo histórico com as observações e dados desta rica tese escrita há algumas décadas.

Grünewald, Rodrigo de Azeredo. Os Índios do Descobrimento: tradição e turismo. Rio de Janeiro: Contra Capa, 2001, 224p. Fruto de uma densa pesquisa etnográfica realizada às vésperas das "comemorações" do quinto centenário, este estudo problematiza a postura dos Pataxó do sul da Bahia ao assumirem o papel de "índios do descobrimento" no sítio histórico dos primeiros contatos de 1500. Lançando mão de uma antropologia histórica em diálogo com os "estudos pós-coloniais", o autor demonstra o quanto a história dos índios se complica à medida que os índios apresentem versões próprias dessa história no contexto da negociação de identidades. Outra contribuição importante deste estudo reside no enfoque sobre o turismo étnico, outra arena na qual se mobiliza discussões em torno das tradições que, neste caso, segundo o autor, estão vinculadas tanto a manifestações culturais essencializadas (danças, artesanato, língua) quanto a uma narrativa histórica que remete ao descobrimento do Brasil.

Harris, Mark. Rebellion on the Amazon: the Cabanagem, race, and popular culture in the north of Brazil, 1798-1840. Cambridge: Cambridge University Press, 2010, 331p. Baseado numa extensa pesquisa documental e um domínio ágil da bibliografia vigente, este livro aborda a Cabanagem enquanto “rebelião camponesa”, comparável com outros movimentos nas Américas. Para tanto, o autor faz uma interessante revisão dos desdobramentos econômicos, políticos e culturais do Diretório abolido em 1798. De especial interesse para a história dos índios é o capítulo “Formas de Resistência nos Anos Finais do Período Colonial”, mostrando as bases mais profundas dos processos de conflito, mobilização e rebeldia que marcariam as décadas após a independência.

Heckenberger, Michael J. The Ecology of Power: Culture, Place, and Personhood in the Southern Amazon, A.D. 1000-2000. Londres: Routledge, 2005, 404p. A partir de um enfoque historico-ecológico, o autor apresenta uma empolgante análise de um milênio de história alto-xinguana, tecendo um rico diálogo interdisciplinar. Ao questionar modelos e ao reivindicar novos estudos arqueológicos e etnohistóricos para fornecer respostas mais claras, esta importante contribuição adensa a discussão em torno da chefia (e dos cacicados) na Amazônia anterior ao contato com a expansão europeia e, em certo sentido, no período coêvo a esta mesma expansão.

Hemming, John. Ouro Vermelho: A Conquista dos Índios Brasileiros. Trad. Carlos Eugênio Marcondes de Moura. São Paulo: Edusp, 2007 (Série Clássicos, 27), 811p. Excelente tradução deste livro pioneiro, publicado originalmente em inglês em 1978. Apesar da ausência de um diálogo mais consistente com a historiografia colonial ou com a etnologia sul-americana, Hemming apresenta uma pesquisa bastante abrangente nas fontes impressas e uma narrativa empolgante, bem ao estilo de sua obra anterior sobre a conquista dos Incas. A importância do livro reside na abrangência da cobertura, porém falta a esta edição uma apresentação (como há nos outros volumes da série Clássicos), esclarecendo o contexto em que a obra foi produzida e o seu significado para os estudos indígenas. A tradução preserva a edição de 1978 quase integralmente, acrescido de algumas citações bibliográficas mais recentes (até o início dos anos 90). Se não há um esforço de atualização da obra à luz da revolução nos estudos sobre a história dos índios nos últimos anos, surge estranhamente uma alteração no anexo demográfico, em certo sentido amenizando a visão catastrófica e pessimista da edição original (na qual declarava que a população indígena daquela época seria menos de 100.000, obviamente reproduzindo as projeções de Darcy Ribeiro). Aparece uma cifra de 700.000 para a população atual (referência ao censo de 2000).

Hemming, John. Fronteira Amazônica: A Derrota dos Índios Brasileiros. Trad. Antônio de Pádua Danesi. São Paulo: Edusp, 2009 (Série Clássicos), 712p. No segundo volume da trilogia sobre a história dos índios no Brasil, Hemming recorta o tema em torno de dois momentos capitais na história da política indigenista: a introdução do Diretório dos Índios e o estabelecimento do SPI. A exemplo de Ouro Vermelho, trata-se antes de mais nada de uma apropriação sistemática das fontes impressas, porém, ao contrário do primeiro volume, também incorpora uma parte da emergente (na época) bibliografia sobre a história indígena. A tradução, sem qualquer esforço de contextualização, chega mais de vinte anos depois da sua edição inicial em inglês. Segundo Camila Dias, em sua crítica no Jornal de Resenhas (nov. 2010), isso pode conferir “uma falsa impressão sobre o estado atual da história indígena” e, ademais, deixa a visão pessimista do autor a respeito da “derrota” dos povos indígenas em dissonância com o atual momento de avanços legais e êxitos políticos do movimento indígena, que apenas começava a ganhar força na época em que o livro foi lançado.

Hemming, John. Die If You Must: Brazilian Indians in the twentieth century. Londres: MacMillan, 2003, 855p. Terceiro livro da trilogia que começou com Red Gold (1978) e passou por Amazon Frontier (1987), oferecendo uma cobertura ampla da história dos índios no Brasil desde 1500. A exemplo dos volumes anteriores, o autor se vale de anos de pesquisa e apresenta uma impressionante quantidade de informações. Como sugere o título ("Morrer se preciso for"), este livro não apenas começa com a saga rondoniana como também se inspira nesta vertente do indigenismo, dando um amplo destaque para as ações de sertanistas como os irmãos Villas-Bôas e para as situações de primeiro contato com "índios isolados". Diferentemente dos livros anteriores, este mostra um aproveitamento maior da etnologia contemporânea e vê os índios mais como protagonistas do que vítimas da história.

Hemming, John. Tree of Rivers: the story of the Amazon. Londres: Thames and Hudson, 2008, 368p. Tomando a história do rio como fio da narrativa, Hemming revisita os episódios e as tragédias relatadas em sua trilogia sobre os índios. De Iquitos à Ilha do Marajó, da pré-história aos projetos desenvolvimentistas, Hemming aborda a história do rio Amazonas com paixão e nostalgia, unindo décadas de estudo a uma vasta experiência como viajante. Se algumas partes evocam a sensação de déjà vu (ou, melhor, déjà lu), o livro não deixa de ser uma leitura informativa e interessante.

Holler, Marcos. Os Jesuítas e a Música no Brasil Colonial. Campinas: Editora da Unicamp, 2010, 254p. Fruto de uma pesquisa exaustiva na documentação jesuítica, este livro traz aportes significativos para se pensar o uso e impacto da música sacra em comunidades indígenas no período colonial. A riqueza da documentação não é plenamente correspondida na abordagem analítica, embora o autor levante questões importantes e polêmicas no que diz respeito à aceitação pelos índios das formas musicais adventícias e ao contraste com a experiência jesuítica na América espanhola.

Hue, Sheila Moura (com a colaboração de Ângelo Augusto dos Santos e Ronaldo Menegaz). Delícias do Descobrimento: a gastronomia brasileira no século XVI. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2008, 207p. A partir de uma leitura pormenorizada de textos escritos nos séculos XVI e XVII, a autora e seus colaboradores identificam e comentam as iguarias consumidas por índios e adventícios nos primórdios do período colonial. Apresentado na forma de um catálogo de plantas (frutos, legumes e cereais), animais (mamíferos, aves, peixes, invertebrados aquáticos, répteis, anfíbios e insetos) e “outras comidas e bebidas”, o livro é interessante para a temática da história indígena à medida que demonstra o encontro de saberes e práticas alimentares, encontro que abrange não apenas a familiarização do exótico por parte dos europeus, como também a incorporação de elementos novos por parte dos índios. O livro traz algumas receitas, do Livro de Cozinha da Infanta d. Maria e da Arte de Cozinha (1765), de Domingos Rodrigues.

José Neto, Joaquim. Jovens Tapuios do Carretão: processos educativos de reconstrução da identidade indígena. Goiânia: Editora da UCG, 2005, 188p. Descendentes de índios Xavante, Carajá, Javaé e Kayapó (do sul), que foram assentados no aldeamento de Pedro III no noroeste de Goiás no século XVIII, os “Tapuios do Carretão” passaram a reivindicar o reconhecimento da indianidade e direitos territoriais no final dos anos de 1970, resultando na homologação da Terra Indígena Carretão em 1990. Este livro enfoca mais particularmente a questão da educação escolar, porém traz vários depoimentos nos quais os Tapuios entrevistados comentam de maneira muito instigante as suas relações com o passado. 

Kantor, Iris. Esquecidos e Renascidos: historiografia acadêmica luso-americana (1724-1759). São Paulo: Editora Hucitec, Salvador: Centro de Estudos Baianos/UFBA, 2004, 286p. Trabalho pioneiro sobre a "historiografia brasílica" dos acadêmicos baianos coloniais, este livro traz informações surpreendentes sobre a relação entre os índios e a história em meados do século XVIII.

Kellogg, Susan. Weaving the Past: A History of Latin America’s Indigenous Women from the Prehispanic Period to the Present. Oxford: Oxford University Press, 2005, 338p. Apesar do título abrangente e da proposta inovadora, o livro trabalha de maneira mais adequada a história das mulheres indígenas da Mesoamérica e dos Andes, sobretudo em função de um suporte bibliográfico mais amplo. O Brasil aparece apenas num capítulo sobre as “culturas tropicais” no período recente, aproveitando uma bibliografia antropológica bastante restrita, fazendo referência aos Munduruku, Bororo, Yanomami, Kaingang e Kayapó. Sequer cita a obra pioneira de Mary Karasch sobre Damiana da Cunha.

Kodama, Kaori, Os Índios no Império do Brasil: a etnografia no IHGB entre as décadas de 1840 e 1860. Rio de Janeiro: Editora da Fiocruz; São Paulo: Edusp, 2009, 333p. Originalmente uma tese de doutorado, este livro explora o lugar dos índios na “operação historiográfica” empreendida por membros do Instituto Histórico e Geográfico do Brasil em suas primeiras décadas de intensa atividade. A partir de uma leitura cuidadosa dos estudos, ensaios e debates impressos nas páginas da Revista Trimensal do Instituto, a autora demonstra a tensão entre o lugar dos índios na elaboração de uma narrativa sobre a história do Brasil e o “não-lugar” reservado aos índios no futuro da nação que se consolidava.

Kok, Glória, Os Vivos e os Mortos na América Portuguesa: da antropofagia à água do batismo. Campinas: Editora da Unicamp, 2001, 183p. Centrado nas relações entre missionários e índios (sobretudo Tupinambá e Guarani), este estudo faz uma leitura bastante original da "disputa pelo espaço simbólico". Ao eleger a questão da morte, a autora tece um argumento interessante a respeito das transformações decorrentes do processo de conversão religiosa.

Kok, Glória. O Sertão Itinerante: expedições da Capitania de São Paulo no Século XVIII. São Paulo: Hucitec, 2004, 279p. Pesquisa de fôlego sobre as expedições de sertanistas no século XVIII, este livro em certo sentido atualiza e amplia as discussões introduzidos por Sérgio Buarque de Holanda em Monções e Caminhos e Fronteiras. A temática da história dos índios aparece com força no capítulo 4, evocando os processos de contato e resistência que afetaram os Kayapó do Sul, Guaikuru, Paiaguá e Kaingang. O capítulo inclui um estudo perspicaz da série de quarenta aquarelas retratando o contato entre portugueses e índios no sertão do Tibagi em 1771, com uma reprodução da série. Também é de grande interesse a reprodução de mapas do sertão, vários dos quais detalham a presença de grupos indígenas, abrangendo São Paulo (incluindo o sul, atuais estados de Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul), Minas Gerais, Goiás e Mato Grosso.

Ladeira, Maria Inês. O Caminhar sob a Luz: Território Mbya à Beira do Oceano. São Paulo: Ed. Unesp/Fapesp, 2007, 199p. Fruto de pesquisas e vivências realizadas entre 1979 e 1991, este livro foi apresentado como dissertação de mestrado em 1992. Grande parte do livro enfoca “os mitos e o modo de ser mbya”, porém inclui uma abordagem original sobre a história dos Mbya em território brasileiro, com destaque para a questão das migrações religiosas. Bartomeu  Melià chama a atenção no prefácio para a ideia de que os episódios relatados nesse “registro etnográfico da década de 1980” hoje “se tornam etno-história”. Mas a atualidade do livro reside sobretudo no diálogo que a autora constrói com os índios, captado de maneira interessante por Davi da Silva Karaí Rataendy na orelha do livro: “Palavras que estão aqui pertenceram a muitas pessoas, muitos entre nós, que deixaram a sua sabedoria”. O texto é enriquecido por fotografias e desenhos feitos por índios.

Langer, Protásio Paulo. Os Guarani-Missioneiros e o Colonialismo Luso no Brasil Meridional: projetos civilizatórios e faces da identidade étnica, 1750-1798. Porto Alegre: Martins Livreiro, 2005, 252p. Originalmente uma tese de doutorado, o livro analisa as consequências do Tratado de Madri para a população Guarani das missões, em particular os pueblos que ficaram do lado português da fronteira demarcada.

Langfur, Hal. The Forbidden Lands: Colonial Identity, Frontier Violence, and the Persistence of Brazil’s Eastern Indians, 1750-1830. Stanford: Stanford University Press, 2006, 408p. Fruto de uma extensa pesquisa que garimpou arquivos e bibliotecas portugueses, brasileiros e norte-americanos, este livro constitui um denso estudo da história de “uma fronteira esquecida”, das “terras proibidas” situadas na faixa oriental de Minas Gerais. Ensejada pelo declínio da produção aurífera, esta “expansão para o leste” envolveu uma complexa trama de “relações sociais, culturais e raciais”, na qual os confrontos entre interesses coloniais (privados e públicos) e os “índios do leste” (isto é, Botocudos) proporcionam o fio principal da narrativa. Além de introduzir informações de uma enorme quantidade de documentos inéditos, o livro traz uma discussão instigante e inovadora das dimensões geográfica e historiográfica da noção de “fronteira”.

Lasmar, Denise Portugal. O Acervo Imagético da Comissão Rondon no Museu do Índio 1890-1938. Rio de Janeiro: Museu do Índio-Funai, 2008 (Série Publicação Avulsa do Museu do Índio, 3), 264p. Originalmente uma dissertação de mestrado, este livro traz uma riqueza extraordinária de informações e imagens produzidas pelos fotógrafos e cineastas ligados à Comissão Rondon. São representados vários grupos indígenas, em sua maioria de Rondônia, Mato Grosso e Amazonas. O extenso anexo serve de repertório das fotografias e filmes no acervo, trazendo ainda o interessantíssimo relatório do tenente Luiz Thomaz Reis sobre as expedições fotográficas e cinematográficas empreendidas em 1916-17 entre os Bororo, incluindo o detalhamento das despesas com as expedições e da receita provenientes da exibição do filme.

Leonardi, Victor. Entre Árvores e Esquecimentos: história social nos sertões do Brasil. Brasília: Paralelo 15/Editora UnB, 1996, 431p. Este livro reúne 21 ensaios do historiador, num tom que oscila entre o informal e o erudito, porém que é sempre provocativo. O autor aborda vários temas ligados à história dos índios, chamando a atenção para a omissão desta temática na historiografia brasileira, às vezes evocando uma comparação com outros países do continente. São particularmente pertinentes suas observações sobre o trabalho indígena e sobre a evangelização. Ao sublinhar os processos de violência, exclusão e exploração, Leonardi se propõe a decifrar o enigma do Brasil, nas palavras dele, buscando "entender como é que uma nação com uma origem tão dura pode ter traços tão meigos e carinhosos em suas formas diárias de viver..." (p. 185)

Leonel, Mauro. Etnodicéia Uruéu-au-au. São Paulo: Edusp/Iamá, 1995, 224p. Escrito em tom de denúncia, o livro conta a envolvente história deste povo de língua tupi-guarani e mostra que a história recente dos povos indígenas de Rondônia só pode ser compreendida à luz do papel do Estado brasileiro e suas políticas para o desenvolvimento econômico da região. O autor percorre uma vasta quantidade de depoimentos e documentos, com destaque para os arquivos do SPI e da Funai, relatando uma dramática sequência de agressões ensejadas pelas frentes de expansão extrativista.

Lestringant, Frank. A Oficina do Cosmógrafo ou A Imagem do Mundo no Renascimento. Trad. Edmir Missio. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2009, 319p. Publicado originalmente na França em 1991, este estudo centra o olhar na obra de André Thevet, mostrando o caráter inovador da empreitada cosmográfica. Uma parte importante desse caráter reside na apreciação dos povos ameríndios, porém o autor também confere uma importância ao diálogo que se tece com autores da antiguidade, sugerindo que, na cosmografia, a experiência toma precedência sobre a autoridade. Outro diálogo relevante é com o Levante, outro espaço importante para a caracterização dos modelos de alteridade e da questão da unidade humana. 

Lestringant, Frank. O Canibal: grandeza e decadência. Trad. Mary del Priore. Brasília: Ed. UnB, 1997, 293p. Traçando um amplo painel do Renascimento ao Romantismo, o autor sustenta que a degradação da imagem do outro foi acompanhado por uma crescente incompreensão da antropofagia. Grande especialista nos textos quinhentistas franceses a respeito do Brasil, Lestringant dedica alguns capítulos aos Tupinambá e à sua fortuna política e filosófica no pensamento europeu. 

Lima, Antonio Carlos de Souza. Um Grande Cerco de Paz: poder tutelar, indianidade e formação do Estado no Brasil. Petrópolis: Vozes, 1995, 335p. Fruto de uma minuciosa pesquisa e de uma reflexão original sobre o indigenismo, este livro apresenta um estudo denso da trajetória histórica do Serviço de Proteção aos Índios, das suas origens em 1910 à tumultuada extinção em 1967. É particularmente relevante a forma cuidadosa com a qual o autor trata os conceitos que nortearam – e norteiam, em alguma medida – a política indigenista do Estado brasileiro.

Lima, Valéria. J.-B. Debret, Historiador e Pintor: A Viagem Pitoresca e Histórica ao Brasil (1816-1839). Campinas: Editora da Unicamp, 2007, 325p. Baseado na tese de doutorado da autora, o livro propõe uma análise diferente do texto e das imagens publicados no livro de Debret, com enfoque especial sobre a história, o que inclui uma abordagem das representações de populações ameríndias e africanas.

Lopes, Fátima Martins. Índios, Colonos e Missionários na Colonização da Capitania do Rio Grande do Norte. Mossoró: Fundação Vingt-un Rosado/IHGRN, 2003 (Coleção Mossoroense 1379), 301p. Trata-se de uma excelente dissertação de mestrado, vencedora do Prêmio Janduí/Potiguaçu em 1997, publicada sem grandes revisões. Baseado numa pesquisa abrangente em arquivos portugueses e potiguares, este é um dos primeiros resultados mais expressivos de uma pesquisa ligada ao Projeto Resgate. O estudo abrange o longo período de meados do século XVI a meados do XVIII, introduzindo uma enorme quantidade de informações inéditas sobre a atuação dos índios diante dos projetos de colonização, conquista e aldeamento. Em anexo, a autora transcreve 27 documentos na íntegra. 

Luz, Guilherme Amaral. Carne Humana: canibalismo e retórica jesuítica na América Portuguesa (1549-1587). Uberlândia: Ed. da Universidade Federal de Uberlândia, 2007, 284p. Organizado na forma de quatro ensaios, este livro busca entender “os papéis do canibalismo como tópica do discurso sobre a América portuguesa”. Não é a pretensão do autor estudar os índios em si, porém realiza uma ampla releitura de fontes quinhentistas com o objetivo de “recriar, mediante as preocupações historiográficas do presente, os debates implicados na invenção retórico-histórica [do canibal]”. Esta invenção, sustenta o autor, precisa ser rearticulada “a uma visão teológico-política”, característica do pensamento jesuítico do século XVI.

Maestri Filho, Mário. Senhores do Litoral: conquista portuguesa e agonia tupinambá no litoral brasileiro. 2a ed., Porto Alegre: Editora da UFRGS, 1995, 164p. Num tom trágico, conta a história da destruição dos povos Tupi da costa diante dos processos de doenças epidêmicas, escravização e confinamento em aldeias missionárias.

Martins, Maria Cristina Bohn. Sobre Festas e Celebrações: as Reduções do Paraguai (séculos XVI e XVIII). Passo Fundo: UPF Editora, 2006, 256p. Baseado na tese de doutorado da autora, este livro busca entender como os índios guarani vivenciaram a missão a partir de um enfoque singular, o da festa e das celebrações. Unindo uma leitura criativa das cartas e relatos jesuíticos a uma leitura cuidadosa da historiografia e etnografia referentes aos Guarani, a autora busca demonstrar que o encontro entre tradições distintas de festa produziu algo historicamente novo: “Em contato, as duas experiências [europeia e guarani] moldaram uma nova situação, na qual os motivos católicos (do Corpo de Cristo, da Morte e Ressurreição, dos Santos, da Virgem etc.) estiveram transpassados por práticas que abrigavam elementos muito expressivamente guaranis” (p. 232).

Martins, Pedro. Anjos de Cara Suja: etnografia da comunidade cafusa. Petrópolis: Ed. Vozes, 1995, 309p. Neste estudo etnográfico dos "Cafuzos" que vivem na área indígena dos Xokleng em Ibirama, SC, o autor recupera as origens históricas da comunidade, utilizando-se de depoimentos orais e documentos históricos. É interessante a análise da busca de referências mestiças (afro-indígenas) na constituição de uma identidade étnica. Ao mesmo tempo, o livro examina a participação dos cafusos no Contestado (1912-1916), sua fuga depois da guerra e o processo de deslocamento da Serra do Mirador para o Posto Indígena Ibirama em meados da década de 1940. Também interessa a análise das relações entre índios e mestiços neste espaço.

Mattos, Izabel Missagia de. Civilização e Revolta: os Botocudos e a catequese na Província de Minas. Bauru: EDUSC/ANPOCS, 2004, 491p. Vencedor do Concurso EDUSC-ANPOCS em 2003, este estudo inovador acompanha a trajetória dos Botocudos dos vales do Doce e Mucuri, enfocando particularmente a fundação, consolidação e desagregação do aldeamento capuchinho de Itambacuri (1873-1911). Fruto de uma ampla pesquisa documental, o estudo é enriquecido pelo olhar etnográfico da autora, que faz uma leitura instigante das cartas e relatos dos padres, documentos esses que não apenas informam sobre o projeto de "catequese e civilização" como também permitem entrever um "modelo indígena de historicidade" que conduzia as ações dos Botocudos diante das transformações profundas em curso. A revolta de 1893 em Itambacuri condensa, segundo a autora, "significados das transformações históricas" e das políticas de "misturas" nesse momento crucial na formação da nacionalidade.

Medeiros, Maria do Céu e Sá, Ariane Norma de Menezes. O Trabalho na Paraíba: das origens à transição para o trabalho livre. João Pessoa: Editora da UFPB, 1999 (Série História Temática da Paraíba, 1), 126p. O livro inclui dois textos independentes, o primeiro de grande interesse para a temática indígena, pois acompanha o trabalho dos índios na Paraíba do século XVI a 1850. Apesar do caráter didático da série, o estudo de Maria do Céu Medeiros apresenta uma pesquisa original em fontes manuscritas.

Mello, Marcia Eliane Alves de Souza e. Fé e Império: as Juntas das Missões nas conquistas portuguesas. Manaus: Editora da Universidade Federal do Amazonas, 2009, 384p. A partir de uma ampla pesquisa documental em arquivos portugueses e brasileiros, o livro traça de maneira detalhada o funcionamento e a atuação das Juntas das Missões no Reino e nas partes ultramarinas, com especial atenção para a Junta no Estado do Maranhão e Grão Pará, no período entre 1681 e 1757. Uma das chaves da política indigenista colonial, apesar de pouco estudada, a Junta das Missões produziu uma documentação importante sobre a atuação de missionários, sobre descimentos e tropas de resgate, sobre o trabalho indígena e sobre guerras contra grupos que se opuseram aos portugueses.

Menezes, Maria Lúcia Pires. Parque Indígena do Xingu: a construção de um território estatal. Campinas: Editora da Unicamp, 2000, 404p. Estudo que detalha as origens do Parque Indígena desde a Expedição Roncador-Xingu até a implantação do parque. Mostra de forma interessante a articulação do processo nos níveis nacional, regional e local. Bem documentado, o estudo traz um anexo com documentos ilustrativos do processo estudado.

Menget, Patrick. Em Nome dos Outros: classificação das relações sociais entre os Txicáo do Alto Xingu. Lisboa: Assírio & Alvim, 2001, 334p. Escrita originalmente em 1977, esta etnografia sobre o povo Ikpeng (conhecido também como Txicão), além de refletir as questões teóricas que movimentavam a etnologia sul-americana nesse período, também traz elementos de interesse para a história indígena. O autor trabalha com informações do século XIX a respeito do Alto Xingu (inclusive o diário inédito do geógrafo alemão Hermann Meyer) e também apresenta versões Ikpeng para a história das relações com outros grupos e com os brancos. O forte é a etnografia, escrita com estilo e inteligência, proporcionando uma leitura muito agradável.

Metcalf, Alida C. Go-Betweens and the Colonization of Brazil, 1500-1600. Austin: University of Texas Press, 2005, 368p. Baseado numa extensa pesquisa documental, este livro aborda o primeiro século de contatos entre índios e europeus no litoral brasileiro, enfocando em particular os mediadores que transitavam entre culturas, incluindo viajantes, missionários, sertanistas mestiços, bem como lideranças e mulheres indígenas. O livro mostra, de maneira instigante, que as trocas interculturais envolviam a circulação de objetos, plantas, animais e doenças, bem como representações, cosmologias e práticas sociais. Também oferece uma nova leitura sobre a mestiçagem (biológica e cultural), com um enfoque interessante sobre a Santidade de Jaguaripe.

Monteiro, Denise Mattos. Introdução à História do Rio Grande do Norte. Natal: EDUFRN, 2000, 244p. Embora elaborado como um livro didático visando o público do ensino médio, este trabalho se destaca pela atenção dispensada à história dos índios enquanto aspecto fundamental da formação do Rio Grande do Norte.

Monteiro, John. Negros da Terra: índios e bandeirantes nas origens de São Paulo. São Paulo: Companhia das Letras, 1994, 300p. Estudo da presença indígena em São Paulo entre 1550 e 1730, documentando de forma inovadora o papel de populações nativas na articulação de uma sociedade colonial. Apresenta uma ampla revisão da história das expedições de apresamento, das relações entre paulistas e jesuítas na disputa em torno dos índios, da escravidão e do trabalho indígena, da resistência e, por fim, do legado deste período.

Moreau, Felipe Eduardo. Os Índios nas Cartas de Nóbrega e Anchieta. São Paulo: Annablume, 2003, 355p. Através de uma minuciosa releitura dos documentos escritos pelos primeiros jesuítas no Brasil, o autor busca analisar as representações do índio nestes escritos. Com efeito, o livro enfoca de maneira especial os próprios jesuítas e os índios que eles em certo sentido inventaram.

Mota, Lúcio Tadeu. As Guerras dos Índios Kaingang: a história épica dos índios Kaingang no Paraná, 1769-1924. Maringá: Editora da UEM, 1994, 275p. Baseada numa ampla pesquisa documental, o livro narra os conflitos armados entre os Kaingang do oeste paranaense e diferentes agentes de ocupação territorial, desde a primeira expedição para Guarapuava até a "pacificação" no início do século XX. Preenche de forma admirável uma lacuna na historiografia regional, centrada nos mitos do "vazio demográfico" e da epopeia imigrante.

Mota, Lúcio Tadeu. As Colônias Indígenas no Paraná Provincial. Curitiba: Aos Quatro Ventos, 2000, 200p. Neste livro, o historiador documenta o estabelecimento de várias colônias indígenas no interior da Província do Paraná, mostrando a importância destes entrepostos na política indigenista do Império. Ao mesmo tempo, procura elucidar a experiência de populações Kaiowá, Guarani, Xetá, Xokleng e Kaingang que ocuparam as colônias. Baseado em documentos administrativos, relatos de sertanistas e correspondência de missionários capuchinhos, o livro apresenta uma pesquisa e uma reflexão bastante originais.

Moura, Marlene Castro Ossami de. Os Tapuios do Carretão: etnogênese de um grupo indígena do Estado de Goiás. Goiânia: Editora da UCG, 2008, 368p. Fruto de uma ampla pesquisa documental, historiográfica e etnográfica, este livro busca entender a etnogênese do grupo indígena denominado Tapuio, residente na Área Indígena Carretão. Ao buscar as raízes coloniais de um processo de etnificação envolvendo a fusão de quatro grupos distintos (Xavante, Xerente, Kaiapó e Javaé), a autora trabalha de maneira interessante o jogo político entre os processos históricos de “invisibilização” e “visibilização”. Dentre outros temas, é de especial interesse o trabalho realizado a partir de registros paroquiais do século XIX, mostrando diferentes inflexões nos casamentos interétnicos. Em anexo encontram-se exemplos destes documentos, além de mapas, plantas e fotografias.

Müller, Nelci. Guarani e Jesuíta: romance e história. Campinas: Ed. Curt Nimuendajú, 2012, 178p. Originalmente uma dissertação de mestrado, o livro analiza cerca de 20 autores de ficção que tematizaram as relações entre índios e missionários no tempo das reduções (1609-1767). A autora explora três formas de tratamento da temática histórica na ficção regional: a paráfrase, o mito e a paródia.

Namem, Alexandro Machado. Botocudo: uma história de contacto. Florianópolis: Editora da UFSC/Ed. FURB, 1994, 111p. Publicação de uma dissertação de mestrado sobre a Área Indígena de Ibirama SC, visando sobretudo a "reconstituição histórica do processo histórico pós-1954". Para tanto, buscou juntar elementos "nas diversas tradições de história oral nativas", embora pouco elaborados no texto. Oferece, finalmente, algumas reflexões sobre o sentido e as implicações teóricas da noção de "contato".

Novaes, Sylvia Caiuby. Jogo de Espelhos: imagens da representação de si através de outros. São Paulo: Edusp, 1993, 263p. O núcleo de análise deste livro reside nas questões da identidade e da noção da pessoa a partir de uma abordagem antropológica. Ao delimitar estas questões no caso específico da sociedade Bororo, a autora introduz um material muito rico sobre a história das missões salesianas e sobre a história da etnologia. É de particular interesse a reprodução e análise de fotografias tiradas nas aldeias, não apenas aquelas feitas pelos missionários na primeira metade do século XX, como também as da autora, nas décadas de 1970 e 80.

Oliveira Jr., Gerson Augusto de. Torém: brincadeira dos índios velhos. São Paulo: Annablume, 1998, 126p. Ao analisar a importância da dança do torém como instrumento de afirmação étnica entre os Tremembé de Almofala (Ceará), o autor inclui um levantamento dos registros feitos por observadores no passado e por folcloristas. Lançando mão de depoimentos dos índios e de relatórios antropológicos, também documenta o processo de luta pelo reconhecimento oficial ao longo dos anos de 1980.

Oliveira, Jorge Eremites de. Arqueologia das Sociedades Indígenas no Pantanal. Campo Grande: Editora Oeste, 2004, 116p. Embora enfoque a arqueologia do Pantanal, o autor inclui um capítulo que avalia as fontes históricas referentes aos grupos indígenas da região no período colonial, cotejando informações dos séculos XVI a XVIII com dados arqueológicos.

Oliveira, Jorge Eremites de. Guató, Argonautas do Pantanal. Porto Alegre: Editora da PUCRS, 1996 (Coleção Arqueologia, 2), 179p. Voltado para o estudo dos assentamentos, subsistência e cultura material dos Guató, o livro utiliza e problematiza um amplo repertório de fontes históricas e etnográficas, sobretudo do século XIX.

Oliveira Filho, João Pacheco de. Ensaios de Antropologia Histórica. Rio de Janeiro: Editora da UFRJ, 1999, 269p. Importante coletânea de artigos do autor, este livro enfoca vários temas relacionados ao indigenismo e à antropologia indígena, colocando em primeiro plano a problemática relação entre antropologia e história. De especial interesse: o ensaio sobre a criação da primeira reserva indígena no alto Solimões, no qual o autor confronta a interpretação fundamentada na documentação histórica com a interpretação baseada em narrativas indígenas; o estudo sobre a relação entre os Ticuna e o etnólogo/indigenista C. Nimuendaju, buscando elucidar como o lugar dos brancos é pensado pelos índios em suas versões sobre o passado; o artigo sobre os "Índios Misturados", expondo de maneira controvertida a relação entre história e antropologia nos atuais estudos sobre índios no Brasil; e o ensaio sobre os índios nos censos demográficos e suas implicações.

Oliveira, Maria Lêda. A Historia do Brazil de Frei Vicente do Salvador: história e política no império português do século XVII. Rio de Janeiro: Versal e São Paulo: Odebrecht, 2008, 241p. Publicado junto à edição crítica da obra de Frei Vicente do Salvador (veja abaixo, em Seleção de Obras Reeditadas), este livro é fruto de uma tese de doutorado defendida na Universidade Nova de Lisboa. Vencedor do Prêmio Clarival do Prado Valladares, o livro ganha uma edição esmerada, com o texto entremeado de ilustrações da época, algumas inéditas. O texto serve de introdução e guia para a leitura da História, com o mérito de pensar a obra em sua dimensão historiográfica ao invés de considerá-la simplesmente uma fonte de informação sobre o período colonial. Há relativamente pouca discussão acerca dos índios, embora a temática indígena figure como um elemento central nesta pioneira História do Brasil.

Oliveira, Marilda Oliveira de. Interculturalidade e Identidade: história e arte guarani. Santa Maria: Editora UFSM, 2004, 261p. Fruto de uma tese de doutorado, este livro aborda o barroco missioneiro a partir da soma entre a contribuição cultural guarani e a contribuição cultural jesuítica. Este processo de fusão de culturas e estilos é estudado de maneira mais detalhada na redução de São Miguel, unindo uma pesquisa documental à apreciação dos vestígios materiais que sobrevivem até hoje. As principais fontes documentais e iconográficas utilizadas vêm de um levantamento sistemático do material impresso, acrescentando-se pontualmente documentos de arquivos. A apreciação das numerosas ilustrações infelizmente é prejudicada pela baixa qualidade das reproduções.

Paiva, Adriano Toledo. Os Indígenas e os Processos de Conquista dos Sertões de Minas Gerais (1767-1813). Belo Horizonte: Argumentum, 2010, 206p. Originalmente uma dissertação de mestrado em história na UFMG, este livro apresenta uma contribuição muito original e relevante para a história dos índios no Brasil. Ao enfocar a freguesia de São Manoel dos Sertões do Rio da Pomba e Peixe, o autor demonstra a complexa trama envolvendo atores dos mais variados e fascinantes, do vigário mulato Manoel de Jesus Maria, ao padre indígena Pedro da Motta, ao capitão dos Coroados Leandro Francisco Pires Farinho, entre outros. O autor lança mão de uma pesquisa muito extensa em manuscritos do período, com destaque para o arquivo eclesiástico local de Rio Pomba, onde identificou e classificou mais de 1000 registros de batismo de índios.

Pereira, Levi Marques. Os Terena de Buriti: formas organizacionais, territorialização e representação da identidade étnica. Dourados: Editora UFGD, 2009, 170p. Produto decorrente de uma perícia judicial na Terra Indígena Buriti, no Mato Gross do Sul, este livro busca situar os Terenas (e os estudos sobre os Terena) num contexto histórico e etnográfico, buscando identificar uma “civilidade terena”, na qual a “negociação” desempenha um papel de relevo.

Perrone-Moisés, Leyla, Vinte Luas: viagem de Paulmier de Gonneville ao Brasil, 1503-1505. São Paulo: Companhia das Letras, 1992, 186p. Baseado no relato de viagem do início do século XVI e numa pesquisa realizada na França, o livro reconstrói a fascinante história de Essomeriq, um índio Carijó (Guarani) que foi levado para a Europa pelos comerciantes franceses. Leitura surpreendente e agradável.

Petrone, Pasquale, Aldeamentos Paulistas, São Paulo: Edusp, 1995, 398p. Edição de um trabalho de geografia apresentado como tese de livre docência em meados da década de 1960. Fruto de uma expressiva pesquisa histórica, o livro documenta o lugar das populações indígenas na organização do espaço colonial em São Paulo, com destaque para o século XVIII.

Pi Hugarte, Renzo. Los Indios del Uruguay. Montevideu: Ediciones de la Banda Oriental, 2007, 242p. Publicado originalmente na Espanha em 1993, o livro apresenta uma síntese da presença histórica de povos indígenas no território que compõe o atual Uruguai, buscando contribuir subsídios para debates contemporâneos sobre a presença indígena nesse “país sem índios”. Extravasando as fronteiras para alcançar Rio Grande do Sul, por um lado, e algumas províncias argentinas contíguas, por outro, o autor enfoca de maneira especial os Charruas e os Guarani, colocando em questão o peso relativo de cada povo para a composição da população e cultura do Uruguai moderno. As notas biobibliográficas no fim do livro, bem como a bibliografia geral, são bastante úteis para conhecer fontes e pesquisas.

Pires, Maria Idalina da Cruz. "A Guerra dos Bárbaros": resistência indígena e conflitos no Nordeste colonial. 2a ed. Recife: Editora da UFPE, 2002, 154p. Publicado originalmente em 1990, este livro constitui um dos primeiros esforços em compreender o conjunto de conflitos que marcaram a história do sertão nordestino no final do século XVII a partir de uma perspectiva da história dos índios. Fruto de uma extensa pesquisa em documentos inéditos em arquivos portugueses, o estudo coloca em primeiro plano a resistência dos índios frente à expansão colonial, porém também demonstra que o conflito envolvia uma complexa interação de interesses coloniais, muitas vezes em dissonância.

Pissolato, Elizabeth. A Duração da Pessoa: mobilidade, parentesco e xamanismo mbya (guarani). São Paulo: Editora Unesp/Instituto Ambiental/NuTI, 2007, 445p. Trata-se de uma excelente etnografia que enfoca os Guarani no estado do Rio de Janeiro, buscando, por um lado, problematizar um tema clássico na bibliografia etnológica e etnohistórica guarani (a mobilidade) e, por outro, ao esmiuçar o parentesco e o xamanismo, contribuir com enfoques pouco elaborados na densa bibliografia guarani, à luz de debates na atual etnologia americanista. Um aspecto relevante do estudo é a incorporação do problema das relações com os “jurua” (brancos) explicitamente na análise. “Se por um lado o mundo mbya está longe de se resumir à relação com jurua, por outro não se pode pensar a vida atual nas aldeias sem o que vem do mundo dos brancos” (p. 64).  

Pompa, Cristina. Religião Como Tradução: missionários, Tupi e Tapuia no Brasil colonial. Bauru: EDUSC, 2003 (Coleção Ciências Sociais), 443p. Prêmio de melhor tese de doutorado no Concurso CNPq-ANPOCS de 2002, este livro oferece leituras instigantes de um vasto repertório documental. Dividido entre o século XVI e o XVII, entre o litoral e o sertão, entre os Tupi e os Kariri, entre a Antropologia e a História, o trabalho explora as múltiplas dimensões da tradução, não apenas no plano linguístico como também (e sobretudo) no espaço do encontro entre horizontes cosmológicos distintos. Na primeira parte, ao refazer a trajetória do "profetismo tupi-guarani", a autora mostra a necessidade de reler as fontes à luz de uma crítica às leituras de outros estudiosos; na segunda, ao evocar a riqueza das missões do sertão nordestino, demonstra as possibilidades (e limites) do rico acervo de escritos missionários, que muito podem informar sobre a disputa entre índios e missionários em torno do poder simbólico.

Porro, Antonio. O Povo das Águas: ensaios de etno-história amazônica. Petrópolis: Vozes, 1996, 203p. Reúne vários artigos do autor publicados em revistas e coletâneas, com especial enfoque sobre os povos do alto e médio Amazonas nos séculos XVI e XVII. Trabalha de maneira inovadora com problemas de demografia, organização política, atividades comerciais e messianismo. Há também uma discussão importante das fontes para a história indígena na Amazônia.

Portocarrera, José Afonso Botura. Tecnologia Indígena em Mato Grosso: habitação. Cuiabá: Entrelinhas, 2010, 230p. O livro apresenta um estudo de etnoarquitetura, enfocando o desenho das habitações de dez povos indígenas no Mato Grosso. Embora o foco principal recaia nas técnicas contemporâneas de construção das casas indígenas, o autor percorre de maneira interessante as observações e desenhos de viajantes e etnógrafos do passado, com destaque para Adrien Taunay, Hercule Florence, Wilhelm von den Steinen, Max Schmidt e Claude Lévi-Strauss, entre outros. O livro inclui um grande número de ilustrações.

Possamai, Paulo. A Vida Quotidiana na Colónia do Sacramento (1715-1735): um bastião português em terras do futuro Uruguai. Lisboa: Ed. Livros do Brasil, 2006, 456p. Versão revista da tese de doutorado do autor, este livro traz alguns elementos inéditos sobre o lugar dos índios Charrua, Minuano e Guarani no projeto expansionista português para o Prata. É de grande interesse também a curta exposição sobre a mão-de-obra indígena, oriunda sobretudo dos aldeamentos paulistas e fluminenses, nas obras da fortificação portuguesa na Colônia.

Prezia, Benedito A. Os Indígenas do Planalto Paulista nas Crônicas Quinhentistas e Seiscentistas. São Paulo: Humanitas, 2000, 266p. Num duplo exercício de crítica documental e de estudo toponímico, o autor busca identificar as populações indígenas em termos sociolinguisticos, objeto de longas polêmicas na história de São Paulo.

Prous, André. O Brasil antes dos Brasileiros: a pré-história do nosso país. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2006 (série Nova Biblioteca de Ciências Sociais), 141p. Este livro oferece uma excelente introdução às principais questões referentes ao povoamento e ocupação do território (hoje) brasileiro e à história da arqueologia no país. O autor traduz a sua experiência e erudição para um texto claro, conciso e, sobretudo, útil para pautar algumas das questões de fundo para a compreensão da história dos povos ameríndios.

Puntoni, Pedro. A Guerra dos Bárbaros: povos indígenas e a colonização do sertão nordeste do Brasil, 1650-1720. São Paulo: Hucitec/Edusp, 2002, 323p. Fruto de uma extensa pesquisa documental, este livro proporciona uma contribuição importante para a história dos conflitos envolvendo grupos indígenas no Brasil colonial, enfocando particularmente as guerras no Recôncavo Baiano (décadas de 1650 e 1670), no Rio São Francisco (década de 1670) e a chamada "Guerra do Açu" (1687 ao início do século XVIII). Um dos aspectos mais interessantes do livro é a caracterização das tropas paulistas envolvidas nestes conflitos, as quais contavam necessariamente com soldados índios recrutados nas aldeias da coroa ou através de alianças com grupos indígenas. O autor enfatiza os aspectos da violência e do despovoamento como elementos centrais ao processo de expansão colonial na região, porém também introduz indícios das iniciativas de atores indígenas. No apêndice, apresenta uma lista detalhada de 61 missões e aldeamentos criados no século XVII e início do XVIII, e transcreve os tratados de paz firmados entre as autoridades coloniais e os índios Janduí (1692, emendado 1695) e Ariú Pequenos (1697).

Quarleri, Lia. Rebelión y guerra en las fronteras del Plata: Guaraníes, jesuitas e imperios coloniales. Buenos Aires: Fundo de Cultura Económica, 2009, 384p. Fruto de uma ampla pesquisa documental em arquivos europeus e sul-americanos, este livro enfoca de maneira particular a chamada “Guerra Guaranítica” de 1754 a 1756, com especial atenção ao protagonismo guarani, à luz das relações históricas estabelecidas na região ao longo de mais de duzentos anos de colonização europeia.

Queiroz, Jonas Marçal de, e Coelho, Mauro Cezar. Amazônia: modernização e conflito (séculos XVIII e XIX). Belém e Macapá: UFPA/UNIFAP, 2001, 200p. Este livro reúne textos dos dois autores. São de interesse para a história dos índios os primeiros dois capítulos, de Mauro Cezar Coelho, sobre os relatos referentes ao Cabo Norte e o trabalho indígena sob o regime do Diretório.

Quevedo, Júlio. Guerreiros e Jesuítas na Utopia do Prata. Bauru: Edusc, 2000, 249p. Baseado numa pesquisa sólida e bem escrito, o livro apresenta uma interpretação da experiência missionária nas terras limítrofes entre as colônias espanhola e portuguesa, enfocando particularmente o papel dos Guarani "enquanto agente do próprio processo histórico". O ponto alto é o estudo do episódio da "guerra guaranítica" em meados do século XVIII, mostrando como a experiência colonial e cristã forneceu elementos para a articulação da resistência dos índios das missões, ao enfrentar um inimigo insólito – as tropas luso-espanholas.

Raminelli, Ronald. Imagens da Colonização. São Paulo: Edusp, 1996, 186p. O autor faz um estudo iconológico das representações pictóricas dos índios no decorrer dos séculos XVI e XVII, mostrando a tematização de certas características do discurso europeu sobre os nativos da América. Ao confrontar estas representações com relatos escritos e com a cartografia, o autor aponta para o "descompasso entre os textos e as imagens", observação essa ilustrada de forma bastante criativa no que diz respeito à antropofagia. Um outro aspecto importante do livro reside na abordagem das "mulheres canibais", o que permite ilustrar tanto o impacto do Novo Mundo sobre o pensamento europeu, quanto o impacto desse pensamento sobre as políticas coloniais.

Ramos, Alcida Rita. Indigenism: ethnic politics in Brazil. Madison: University of Wisconsin Press, 1998, 326p. A autora reúne importantes ensaios e estudos sobre o indigenismo no Brasil, a maioria dos quais publicados em português em diferentes revistas e coletâneas. Escritos num estilo polemizante, os textos esmiuçam as diferentes facetas do indigenismo, recorrendo aos precursores históricos em vários pontos. O aspecto mais interessante deste livro reside no confronto entre as representações do índio construídas em consonância com as diferentes ideias sobre a nação brasileira e as estratégias de autorepresentação mobilizadas por atores indígenas em defesa de seus direitos e interesses.

Ratts, Alex. Traços Étnicos: espacialidades e culturas negras e indígenas. Fortaleza: Museu do Ceará, 2009 (Coleção Outras Histórias – 56), 123p. Este pequeno livro reúne artigos escritos pelo autor entre 1992 e 2006, produzidos para jornais e revistas de organizações indígenas e quilombolas. Geógrafo e militante em apoio aos movimentos étnicos, o autor enfoca de maneira particular os movimentos etnopolíticos no Ceará, num esforço de aproximar a produção acadêmica ao saberes produzidos no interior dos movimentos sociais.

Rocha, Jan. Haximu. São Paulo: Editora Casa Amarela, 2007. Trata-se de um relato do episódio ocorrido em 1993, quando um grupo de garimpeiros massacraram 12 índios Yanomami na aldeia Haximu, em Roraima. Reconhecido pelo Estado como ato de genocídio, o massacre de Haximu ensejou um debate amplo sobre os direitos humanos e o problema da exploração do garimpo na Amazônia. A autora, jornalista, era correspondente da BBC na época e publicou esta reportagem pelo Latin American Bureau em Londres em 1999 com o título Murder in the Rainforest: the Yanomami, the gold miners and the Amazon.

Rocha, Leandro Mendes. A Política Indigenista no Brasil: 1930-1967. Goiânia: Editora UFG, 2003, 267p. Ex-funcionário da FUNAI, onde trabalhou com a documentação textual e iconográfica do SPI pertencente ao Departamento de Documentação (DEDOC/FUNAI), o autor apresentou uma versão original deste livro como tese de doutorado na Universidade de Paris III. Organizado tematicamente para dar conta de diferentes dimensões da política indigenista ao longo do período abordado, o livro busca entender essa política dentro do contexto mais abrangente de “modernização autoritária”, embora mantendo em mente a variação regional da aplicação de políticas federais. Para tanto, dedica os últimos capítulos a casos específicos, tais como os Tikuna, Tiriyó, Tuxá e Fulniô. Inclui fotos e mapas, tirados sobretudo dos relatórios impressos do SPI. 

Romeiro, Adriana. Paulistas e Emboabas no Coração das Minas: idéias, práticas e imaginário político no século XVIII. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2008. Bem escrito e fartamente documentado, este livro apresenta uma arrojada revisão de um conjunto de eventos que foram posteriormente chamados de “Guerra dos Emboabas”. Embora o foco central não seja os índios propriamente, a autora inclui informações e perspectivas novas sobre as relações entre paulistas e índios, bem como a forma da “guerra brasílica”, como dimensões cruciais para a compreensão da história deste período.

Saeger, James Schofield. The Chaco Mission Frontier: the Guaycuruan experience. Tucson: University of Arizona Press, 2000, 266p. Estudo detalhado das missões estabelecidas em meados do século XVIII na região do Chaco, na América espanhola, enfocando as populações Guaikuru. O livro interessa não apenas pelo povo estudado, bastante presente na história da fronteira oeste da América portuguesa, mas sobretudo pela abordagem de temas pouco elaborados na bibliografia: a questão de gênero nas missões, o papel das mercadorias como indício de mudanças substantivas na organização social e a transformação do papel das lideranças indígenas.

Sampaio-Silva, Orlando. Tuxá: índios do Nordeste. São Paulo: Annablume, 1997, 215p. Essencialmente uma etnografia deste grupo indígena, o livro contém uma parte muito interessante sobre a história do grupo, traçando suas origens aos tempos das missões quando foram aldeados em Rodelas.

Santilli, Paulo. Pemongon Patá: território macuxi, rotas de conflito. São Paulo: Editora da Unesp, 2001, 225p. O autor une a pesquisa acadêmica ao trabalho pericial para abordar o conflito fundiário em terras Macuxi em Roraima, com ênfase especial no período entre as décadas de 1970 e 1990. O livro esmiúça diferentes formas de construção do território, culminando com a “construção política” da área Raposa-Serra do Sol, fruto de novas articulações face ao conflito com fazendeiros. Inclui um Ensaio Fotográfico, com imagens atuais e históricas dos Macuxi, bem como vários anexos que reproduzem processos ligados à demarcação, com várias referências históricas.

Santilli, Paulo. As Fronteiras da República: história e política entre os Macuxi no vale do rio Branco. São Paulo: NHII-USP, 1994 (Série Estudos), 119p. Baseado em documentação do SPI e da Ordem dos Beneditinos, este livro analisa o impacto da formação de grandes aldeias entre os Macuxi na primeira metade do século XX, sob a orientação das ações indigenistas do Estado e dos missionários. O autor acompanha a formação e atuação de lideranças políticas indígenas nesta região na qual sempre pairava a questão das fronteiras da nação.

Santos, Francisco Jorge dos. Além da Conquista: guerras e rebeliões indígenas na Amazônia pombalina. 2a ed. Manaus: Editora da Universidade do Amazonas, 2002, 216p. Este livro registra a deplorável história de violência que marcou as relações entre portugueses e diversos povos indígenas na Amazônia durante o século XVIII. É especialmente interessante a abordagem da guerra contra os Mundurucus, apresentando muita documentação inédita.

Santos, Márcio. Bandeirantes Paulistas no Sertão do São Francisco: povoamento e expansão pecuária de 1688 a 1734. São Paulo: Edusp, 2009, 192p. Ao enfocar a região do médio superior São Francisco e do Verde Grande nos séculos XVII e XVIII, este livro traz enfoques inovadores sobre as atividades de sertanistas de São Paulo e suas relações com os índios. O capítulo 2, “Conquistadores e Índios: Empresa Militar”, sublinha a “situação de violência interétnica de fronteira” ao caracterizar estas relações, embora também apresente informações importantes sobre o trabalho indígena e a administração dos índios após a consolidação do controle dos paulistas. Fruto de uma excelente dissertação de mestrado, o livro lança mão de um leque variado de fontes impressas e manuscritas, acrescentando um material cartográfico fascinante, objeto de uma perspicaz análise.

Saragoça, Lucinda. Da "Feliz Lusitânia" aos Confins da Amazônia (1615-1662). Lisboa: Edições Cosmos, 2000, 509p. Baseado numa ampla pesquisa documental em arquivos portugueses, este livro documenta a conquista e ocupação portuguesa da Amazônia a partir da construção do forte do Presépio em Belém. Embora interessada sobretudo nos aspectos de história administrativa, a autora aborda a sublevação dos Tupinambás que tanto marcou as origens da história colonial naquela região. O livro inclui um extensíssimo anexo documental, com a transcrição de vários documentos, alguns com informações sobre os povos indígenas.

Schwartz, Stuart B. Da América Portuguesa ao Brasil. Trad. Nuno Mota. Lisboa: Difel, 2003, 324p. O livro reúne vários artigos, antes inéditos em português, incluindo o clássico estudo do trabalho indígena na grande lavoura e o texto sobre a formação de uma identidade colonial no Brasil, comentando de maneira interessante o lugar do passado indígena no discurso dos genealogistas e memorialistas na segunda metade do século XVIII. Também vale a pena ler o ensaio bibliográfico que compõe o último capítulo do livro, pois coloca muito bem o contexto historiográfico no qual se pode situar os estudos sobre os índios na América Portuguesa.

Silva, Amaro Hélio Leite da. Serra dos Perigosos: Guerrilha e Índio no Sertão de Alagoas. Maceió: Editora UFAL, 2007 (Série Índios do Nordeste: Temas e Problemas 7). Com base em depoimentos indígenas, este livro discute o episódio insólito da aliança entre os índios Geripankó do alto sertão alagoano e a Ação Popular, organização guerrilheira que tinha como objetivo derrubar a ditadura através da luta armada. O tema levanta questões interessantes sobre o lugar dos índios em relação aos movimentos de resistência cujos protagonistas eram não-índios.

Silva, Isabelle Braz Peixoto da. Vilas de Índios no Ceará Grande: Dinâmicas Locais sob o Diretório Pombalino. Campinas: Pontes Editores, 2005, 208p. Publicação da tese de doutorado da autora, este estudo enfoca de maneira original as vilas pombalinas no Ceará, mostrando a dimensão regional da implementação do Diretório. A autora dá voz aos agentes locais através da citação extensa de documentos inéditos.

Sousa, Neimar Machado de. A Redução de Nuestra Señora de Fe no Itatim: Entre a Cruz e a Espada (1631-1659). Campo Grande: Editora UCDB, 2004, 127p. Publicação da dissertação de mestrado do autor, o livro enfoca uma das missões jesuíticas na Província do Itatim. Ao sublinhar a ação das lideranças e xamãs Guarani, o autor aborda a resistência indígena nesta área de fronteira da América Espanhola, área que envolveu também a presença de sertanistas oriundos da América Portuguesa.

Souza Filho, Carlos Frederico Marés de. Renascer dos Povos Indígenas para o Direito. Curitiba: Juruá Editora, 2004, 211p. A partir de um enfoque jurídico, o autor mostra a contradição histórica entre políticas de proteção e de assimilação. O livro sublinha a importância do período introduzido pela Constituição de 1988, abrindo espaço para a expressão e reconhecimento dos direitos coletivos.

Sposito, Fernanda. Nem Cidadãos, Nem Brasileiros: indígenas na formação do Estado nacional brasileiro e conflitos na Província de São Paulo (1822-1845). São Paulo: Alameda, 2012 (Série Teses), 292p. Originalmente uma dissertação de mestrado, este livro apresenta uma excelente pesquisa em documentos variados, sobretudo do Arquivo do Estado de São Paulo. A autora discute, em primeiro lugar, as inflexões regionais da política indigenista imperial no período entre a Independência e o Regulamento Acerca das Missões (1845), mostrando a relação entre a política indigenista e a construção do estado. A segunda parte do livro enfoca os conflitos envolvendo índios no interior da Província, onde a formulação “catequese e civilização” parecia mais tomar a forma de “conquista”.

Stepan, Nancy Leys. Picturing Tropical Nature. Ithaca: Cornell University Press, 2001, 283p. Neste estudo sobre as representações científicas e artísticas da natureza tropical durante os séculos XIX e XX, a autora apresenta uma discussão bem documentada das questões de raça e mestiçagem no Brasil. O texto inclui algumas fotografias interessantes de índios, arquivadas na Fundação Oswaldo Cruz.

Tacca, Fernando de. A Imagética da Comissão Rondon. Campinas: Papirus Editora, 2001 (Coleção Campo Imagético), 135p. Trata-se de um estudo original sobre as imagens fotossensíveis (estáticas e em movimento) realizadas pela Comissão Rondon durante as primeiras décadas do século XX. O autor analisa quatro tipos ou estágios de integração dos índios sobretudo através de filmes, do “selvagem”, ao “pacificado”, ao “integrado”, ao “civilizado”, enfocando respectivamente os Bororo, os índios do alto Xingu, os Karajá e os índios das missões salesianas no alto Rio Negro. O último capítulo aborda as imagens dos índios da fronteira norte do Brasil com as Guianas.

Tassinari, Antonella Maria Imperatriz. No Bom da Festa: o processo de construção cultural das famílias Karipuna do Amapá. São Paulo: EDUSP, 2003, 413p. Essencialmente uma etnografia dos Karipuna, este livro inclui uma problematização da história indígena, em dois sentidos: primeiro, na utilização de "dados históricos" sobre a região do Uaçá para mostrar como a dinâmica das relações interétnicas forneceu as condições para a configuração de identidades étnicas e para a manutenção de uma relativa autonomia dos povos indígenas; segundo, na utilização de histórias de vida e testemunhos indígenas para compreender como os Karipuna construíram concepções acerca da categoria de "misturados", a qual caracteriza a sua singularidade. O livro é muito bem ilustrado, não apenas com fotografias etnográficas contemporâneas mas também com algumas imagens antigas, inclusive do livro de viagem de Jean Mocquet (1617), com uma ilustração de mulheres Karipuna.

Teao, Kalna Mareto, e Loureiro, Klítia. História dos Índios do Espírito Santo. Vitória: Ed. do Autor, 2009, 150p. Preparado para suprir a carência absoluta de materiais didáticos sobre os povos indígenas no Espírito Santo, o livro também atende à chamada instaurada pela Lei 11.645, tornando obrigatória a inclusão da história e cultura indígena no currículo escolar no ensino fundamental e médio. O livro inclui informações sobre a história porém o foco principal recai em questões atuais, referentes a identidades, demarcação de terras e mobilização política. Inclui fotografias, desenhos e indicações de leituras.

Torrão Filho, Amílcar. Paradigma do Caos ou Cidade da Conversão?: São Paulo na Administração do Morgado de Mateus (1765-1775). São Paulo: Annablume, 2007, 292p. Originalmente dissertação de mestrado, o livro enfoca questões urbanas durante o período pombalino, com uma incursão relevante na temática indígena, tanto no sentido da herança da presença jesuítica pós-expulsão, quanto nas políticas do Morgado de Mateus referente aos aldeamentos nos arredores da cidade. Conclui com um comentário interessante sobre a “invisibilidade” dos índios nas áreas urbanas coloniais, codificada na imagem do caráter “despovoado” das vilas e cidades porém ao mesmo tempo sinal da exclusão social.

Treece, David. Exilados, Aliados, Rebeldes: o movimento indianista, a política indigenista e o estado-nação imperial. São Paulo: Edusp/Nankin, 2008, 352p. Estudo inovador e de fôlego que situa o indianismo no contexto político e ideológico do seu tempo ao invés de considerá-lo uma mera abstração romântica, descolada dos problemas contemporâneos. O autor destaca o paradoxo entre o investimento de escritores, artistas e intelectuais numa “mitologia integracionista” e a história de “um processo destrutivo de prorporções genocidas”, paradoxo esse que chega a novas alturas no meio do século XIX, com a disjunção entre o indianismo (com inflexões diferentes, como aponta o autor) e a política indigenista imperial. Publicado originalmente em inglês em 2000, a edição brasileira traz alguns pequenos problemas de tradução.

Torres, Milton. O Maranhão e o Piauí no Espaço Colonial: a Memória de Joaquim José Sabino de Rezende Faria e Silva. São Luís: Instituto Geia, 2005 (Coleção Geia de Temas Maranhenses 9), 264p. Diplomata, poeta e historiador, o autor desenvolveu este estudo originalmente como tese de doutorado na USP, centrado num documento inédito encontrado na Biblioteca da Ajuda em Lisboa. A “Memória Politico-Econômica”, escrita no início do século XIX pelo secretário da Capitania do Maranhão, inclui um interessante capítulo sobre os índios, analisado pelo autor e transcrito como anexo. O autor também evoca outros “escritos de interesse regional”, incluindo inéditos dos séculos XVII e XVIII, que abordam a natureza dos índios e questões de política indigenista, com ênfase nas questões do trabalho e de aldeamento. 

Ugarte, Auxiliomar Silva. Sertões de Bárbaros: o mundo natural e as sociedades indígenas da Amazônia na visão dos cronistas ibéricos (séculos XVI-XVII). Manaus: Valer, 2009, 601p. Originalmente tese de doutorado defendido na USP, o livro traz uma leitura minuciosa dos escritores coloniais, sobretudo espanhóis, que produziram textos sobre a Amazônia nos séculos XVI e XVII, tematizando a natureza edénica e a humanidade bárbara. Retoma questões de fundo sobre o imaginário textual referente à América do Sul, situando a Amazônia entre o paraíso e inferno.

Vainfas, Ronaldo. A Heresia dos Índios: catolicismo e rebeldia no Brasil colonial. São Paulo: Companhia das Letras, 1995, 275p. Centrado num volumoso processo da Inquisição de Lisboa, este estudo documenta e interpreta a chamada Santidade de Jaguaripe, movimento profético que surgiu no sertão da Bahia no final do século XVI. A partir da perspectiva da história cultural, o autor mostra as matrizes tupis e cristãs deste estranho movimento, sublinhando o choque entre sistemas simbólicos radicalmente distintos.

Vainfas, Ronaldo. Traição: um jesuíta a serviço do Brasil holandês processado pela Inquisição. São Paulo: Companhia das Letras, 2008, 384p. Trata-se de uma biografia do jesuíta Manoel de Morais. Nascido em São Paulo, descendente de índios pelo lado paterno, este personagem fascinante seguiu uma trajetória singular, permitindo ao biógrafo explorar a inconstância das lealdades e a volatilidade das identidades no Atlântico seiscentista. No que diz respeito aos índios, o autor destaca dois aspectos importantes. Primeiro, Manoel de Morais teve um papel significativo no comando de um contingente indígena, não apenas enquanto missionário como sobretudo na rearticulação das alianças com a conquista holandesa de Pernambuco. Segundo, serviu de assessor para a Companhia das Índias ao informar sobre as populações nativas e sobre a língua geral. Deslocado para a Holanda já em 1635, redigiu uma “História do Brasil” (hoje perdida porém conhecida através de outros autores) e um dicionário de nomes e verbos na língua brasiliense, o qual foi incluído na Historia Naturalis Brasiliae de Piso e Marcgrave.

Vasconcelos, Cláudio Alves de. A Questão Indígena na Província do Mato Grosso: conflito, trama e continuidade. Campo Grande: Editora UFMS, 1999, 160p. Baseado sobretudo nos relatórios dos Diretores Gerais dos Índios e dos Presidentes da Província, este estudo mapeia várias questões subjacentes à política indigenista do Império. Em anexo, traz uma transcrição do "Parecer" de Ricardo Franco de Almeida Serra sobre os Guaikuru e Guaná (1803) e um ofício do Presidente da Província de MT sobre a criação da Diretoria Geral dos Índios (1846), com informações sobre os povos indígenas da Província.

Veiga, Juracilda. Aspectos Fundamentais da Cultura Kaingang. Campinas: Editora Curt Nimuendajú, 2006, 256p. +CD. Apresentado inicialmente na forma de dissertação de mestrado na Unicamp, este livro oferece um amplo estudo que, segundo o prefácio de Vanessa Lea, efetivamente coloca os Kaingang “no mapa etnográfico dos povos Jê”. O enfoque de fato é etnográfico porém o livro também traz informações históricas dos séculos XIX e XX, sobretudo em referência às aldeias do Xapecó. O CD inclui tabelas genealógicas de famílias Kaingang de Xapecó.

Vidal, Laurent. Mazagão: a cidade que atravessou o Atlântico. Trad. M. Marcionilo. São Paulo: Martins, 2008, 294p. A partir de uma pesquisa minuciosa em arquivos portugueses e brasileiros, o autor narra a fascinante trajetória dos 2.000 habitantes que foram forçados a abandonar a fortaleza de Mazagão, no litoral marroquino, em 1769, retomando a vida pouco depois no outro lado do Atlântico, na Nova Mazagão, situada na boca do Rio Amazonas. O capítulo 4 introduz um material muito interessante sobre os “construtores de Nova Mazagão”, em sua maioria artesãos e trabalhadores braçais oriundos das vilas indígenas do Pará. 

Viegas, Susana de Matos. Terra Calada: os Tupinambá na mata atlântica do sul da Bahia. Rio de Janeiro: 7Letras, 2007, 339p. Ao entrelaçar a etnografia e a história, trata-se de um excelente estudo dos Tupinambá de Olivença. Baseado em vários anos de experiência etnográfica e de pesquisa em materiais históricos, o livro tece um diálogo muito rico com perspectivas atuais da etnologia americanista, da história indígena e dos estudos sobre territorialidade. Focado no cotidiano e na experiência vivida de homens, mulheres e crianças Tupinambá, o livro faz incursões instigantes nos domínios da memória e da história. O Capítulo VIII, sobre a terra, reporta a diferentes contextos históricos – do século XVIII ao período crítico de 1940-60 – e traz uma interpretação bastante interessante da chamada “revolta de Marcelino”, entretecendo informações documentais e depoimentos atuais. O ponto alto do argumento está na ideia das “compatibilidades equívocas”, o que permite compreender discursos sobre a cessão de terras para os brancos.

Vilaça, Aparecida. Quem Somos Nós: os Wari’ encontram os brancos. Rio de Janeiro: Editora UFRJ, 2006, 608p. Versão modificada de uma tese de doutorado defendida no Museu Nacional, este livro tem como “eixo etnográfico” os primeiros e os sucessivos encontros entre os Wari’ e os brancos em Rondônia. Fruto de uma profunda pesquisa etnográfica complementada por uma pesquisa documental, o livro enfoca a história a partir de uma análise fina das percepções nativas que, longe de estáticas ou defensivas, reposicionam questões relativas à identidade, alteridade e mudança, à medida que os “brancos” passam a ocupar um lugar permanente no cotidiano ameríndio. Ao se defrontar com a maneira pela qual os Wari’ minimizam ou mesmo tratam como positivos os sofrimentos e perdas causados pelos massacres e epidemias, a autora coloca uma questão muito importante para a história dos índios, qual seja a dissonância entre percepções sobre os sentidos da transformação que decorre das relações entre um grupo indígena e a sociedade ocidental. O livro é amplamente ilustrado com fotografias e desenhos; de especial interesse para a história são as fotos do arquivo diocesano de Guajará-Mirim, tiradas no início da década de 1960.

Viveiros de Castro, Eduardo. A Inconstância da Alma Selvagem e outros ensaios de antropologia. São Paulo: Cosac & Naify, 2002, 551p. Este livro reúne, numa edição muito bem cuidada, nove estudos e uma entrevista do etnólogo. O texto de maior interesse para a discussão em torno da história dos índios é "O Mármore e a Murta", uma releitura da documentação quinhentista informada por um saber etnológico apurado. Outros ensaios também abordam aspectos críticos dos rumos atuais da etnologia sul-americana, os quais abrangem problemas de arqueologia e história indígena.

Warren, Jonathan W. Racial Revolutions: antiracism and Indian resurgence in Brazil. Durham: Duke University Press, 2001, 364p. Baseado sobretudo em entrevistas aplicadas entre informantes indígenas e não-indígenas, este livro busca problematizar o processo de "reemergência étnica" entre populações de "índios póstradicionais" da "região leste", o que corresponde sobretudo a Minas Gerais, Espírito Santo e Sul da Bahia. A questão da história está presente em várias dimensões, sobretudo na discussão da construção de imagens e de critérios para a indianidade, passando pelo discurso sobre as raízes mestiças da nação e, de forma mais agressiva e polêmica, pelo "pensamento selvagem" dos antropólogos. Escrito no melhor (e pior) estilo pósmoderno, o livro traz um material para a discussão em torno dos "índios misturados", mesmo que o leitor não compartilhe a racialização da questão, tal como apresentada pelo autor.

Wilde, Guillermo. Religión y poder en las misiones de Guaraníes. Buenos Aires: SB, 2009, 509p. Importante contribuição à extensa bibliografia sobre os Guarani das missões durante e depois da presença jesuítica, este livro busca entender a formação de uma “comunidade política heterogênea” em suas dimensões histórica e simbólica, além de enfocar as lideranças indígenas em sua interlocução com outros setores da sociedade colonial. Baseada numa exaustiva pesquisa documental e bibliográfica, a obra transita com habilidade nas fronteiras entre a América espanhola e portuguesa, bem como entre a antropologia e a história.

Wittmann, Luisa Tombini. O Vapor e o Botoque: imigrantes alemães e índios Xokleng no Vale do Itajaí/SC (1850-1926). Florianópolis: Letras Contemporâneas, 2007, 268p. Originalmente uma dissertação de mestrado, este livro narra, com maestria, as trajetórias de várias vidas tocadas pela envolvente história do contato entre os Xokleng e os imigrantes europeus que ocuparam o Vale do Itajaí a partir de meados do século XIX. De especial interesse para a história indígena, o Capítulo 3 introduz um quadro de “singulares relações interétnicas” ao acompanhar a vida de pessoas que foram adotadas ou raptadas, incorporando-se no mundo do outro. O último capítulo traz uma leitura inovadora das relações entre o encarregado do SPI Eduardo Hoerhann e os índios que integravam o Posto Indígena Duque de Caxias.

Woortmann, Klaas. O Selvagem e o Novo Mundo: Ameríndios, Humanismo e Escatologia. Brasília: Editora UnB, 2004, 300p. Conforme esclarece o autor na introdução, o livro é menos sobre os índios em si e mais “sobre os europeus que os construíram reflexivamente como selvagens para darem conta de si mesmos como civilizados”. Ao refletir sobre o pensamento europeu do século XVI através do topos ameríndio, o autor discute de maneira relevante não apenas a questão das “representações” como também a ideia da história que dava suporte às hipóteses sobre as origens e natureza do selvagem.

Wright, Robin. Cosmos, Self, and History in Baniwa Religion: for those unborn. Austin: University of Texas Press, 1998, 314p. Trata-se de uma etnografia da religião Baniwa, trazendo uma importante contribuição para a discussão em torno da relação entre mito e história. Wright explora o lugar da cosmogonia e da escatologia na articulação dos eventos e dos processos que marcaram a história dos Baniwa, com destaque para os movimentos proféticos. O autor lança mão de uma documentação interessante, porém as principais fontes históricas são os depoimentos e narrativas dos índios.

Wright, Robin. História Indígena e do Indigenismo no Alto Rio Negro. Campinas: Mercado das Letras e São Paulo: Instituto Socioambiental, 2005, 319p. Importante coletânea que reúne sete estudos, alguns publicados anteriormente, versando sobre diferentes dimensões da história dos índios do noroeste amazônico, com destaque para os Baniwa. Para além do mérito de reunir num só volume uma produção dispersa por revistas e coletâneas, o autor apresenta versões atualizadas e as contextualiza face aos debates atuais na etnologia sul-americana. Wright junta a análise documental – incluindo um material muito rico sobre a escravidão dos índios no século XVIII – com mais de vinte anos de pesquisa etnográfica, valorizando em primeiro plano as versões e interpretações indígenas sobre um passado marcado não apenas por grandes transformações, como também pela persistência de modos de vida e de pensar, a contrapelo das mudanças.

Zeron, Carlos Alberto de Moura Ribeiro. Ligne de Foi: la Compagnie de Jésus et l’esclavage dans le processus de formation de la société coloniale en Amérique portugaise (XVIe-XVIIe siècles). Paris: Honoré Champion, 2009, 573p. Exaustiva análise dos debates em torno da escravidão indígena e africana na América portuguesa, com ênfase nos escritos jesuíticos nos dois lados do Atlântico. Aborda as dimensões teológicas, jurídicas e historiográficas da questão, mostrando que, a exemplo da América espanhola, o debate teve uma importância central para a consolidação da presença portuguesa no Novo Mundo. 

Zeron, Carlos Alberto de Moura Ribeiro. Linha de Fé : a Companhia de Jesus e a escravidão no processo de formação da sociedade colonial (Brasil, séculos XVI e XVII). São Paulo: Edusp, 2011, 616p. Edição brasileira do item anterior.

2. Coletâneas e Números Especiais de Revistas (voltar ao início)

Adams, Cristina; Murrieta, Rui; e Neves, Walter, orgs. Sociedades Caboclas Amazônicas: modernidade e invisibilidade. São Paulo: Annablume, 2006, 362p. Fruto de um evento interdisciplinar realizado na USP em 2002, esta coletânea enfoca, numa chave crítica e multidisciplinar, o “campesinato histórico” da Amazônia. Vários textos problematizam de maneira instigante a relação entre a categoria “caboclo” e as sociedades indígenas. Para a temática da história indígena, são de especial interesse as discussões teóricas de Stephen Nugent e Henyo Barreto, bem como os estudos que evocam mais explicitamente processos históricos, de William Balée (enfocando a ecologia histórica em referência ao Ka’apor), Décio Guzmán (sobre a mestiçagem no Rio Negro durante os séculos XVIII e XIX) e Mark Harris (sobre o “modo de ser no tempo” dos ribeirinhos mestiços).

Albert, Bruce, e Ramos, Alcida Rita, orgs. Pacificando o Branco: cosmologias do contato no norte-amazônico. São Paulo: Editora da UNESP, 2002, 531p. Importante coletânea, este livro reúne 17 estudos de etnólogos com pesquisa de campo no norte da Amazônia, introduzindo leituras muito ricas da relação entre cosmologia e história nas versões indígenas sobre a origem dos brancos e o evento do contato. Os autores trabalham não apenas com narrativas orais mas também com desenhos e com música. Os textos abordam questões ligadas a bens materiais, doenças, relações políticas, mito, ritual, retórica e vários outros assuntos. Em seu conjunto, o livro proporciona "uma referência obrigatória", nas palavras de Manuela Carneiro da Cunha na Apresentação.

Almeida, Luiz Sávio de; Galindo, Marcos; e Silva, Edson, orgs. Índios do Nordeste: temas e problemas. Maceió: Edufal, 1999. Esta coletânea inclui os textos apresentados no I Encontro de Etnohistória Indígena, realizado em Penedo, AL, em 1996. Os textos enfocam sobretudo a experiência histórica dos povos indígenas do nordeste, com uma certa ênfase no episódio da "guerra dos bárbaros" e no fenômeno de reemergência étnica.

Almeida, Luiz Sávio de; Galindo, Marcos; e Elias, Juliana Lopes, orgs. Índios do Nordeste: temas e problemas 2. Maceió: Edufal, 2000, 448p. O livro abre com um texto que trata da relação entre etnia e nação a partir de um enfoque marxista, adotando o exemplo australiano. Segue um conjunto de artigos que enfocam o período holandês, trazendo inclusive novas pesquisas de fontes holandesas. Um outro conjunto inclui textos sobre a história e a arqueologia dos povos do nordeste, com um bloco de estudos e depoimentos referentes ao grupo Kariri-Xocó. A coletânea fecha com um interessante levantamento de narrativas dos Tremembé do Ceará, feito por Betty Mindlin.

Almeida, Luiz Sávio de, e Galindo, Marcos, orgs. Índios do Nordeste: temas e problemas 3. Maceió: Edufal, 2002, 271p. Após uma breve incursão pela história andina, com cinco textos de José Carlos Mariátegui e um estudo de Jaime de Almeida, a coletânea traz diversos estudos sobre a história e arqueologia dos índios do Nordeste, além de um trabalho sobre a política indigenista castelhana durante a "União Ibérica". Destacam-se o texto de Marcus Carvalho sobre os índios nas revoluções pernambucanas do século XIX e o interessante estudo de Joceny Pinheiro sobre história, memória e identidade entre os Pitaguary do Ceará.

Almeida, Luiz Sávio de, e Silva, Christiano Barros Marinho da, orgs. Índios do Nordeste: temas e problemas 4. Maceió: Edufal, 2004, 203p. Neste quarto número da série, há dois estudos de especial interesse para a temática da história indígena: de Ugo Maia Andrade sobre o processo de etnogênese Tumbalalá, no médio São Francisco; e de José Glebson Vieira, sobre os Potyguara da Baía da Traição.

Almeida, Luiz Sávio de; Silva, Christiano Barros Marinho da; Silva, Amaro Hélio Leite da; Vieira, Jorge Luiz Gonzaga; e Silva, Maria Ester Ferreira da, orgs. Resistência, Memória, Etnografia (Índios do Nordeste: temas e problemas 8). Maceió: Edufal, 2007, 230p. Este número inclui alguns ensaios de especial interesse para a história indígena: Dirceu Lindoso apresenta um retrospecto das abordagens etnográficas referentes aos Tapuia no nordeste; Maria Hilda B. Paraíso aborda o tráfico de kurukas (crianças indígenas) no Espírito Santo, Bahia e Minas Gerais na época da Independência; e Luiz Mott, que analisa um processo da Inquisição de meados do século XVIII, referente às atividades de um índio, Miguel Pestana, da aldeia de Reritiba, ES, acusado de feitiçaria.

Almeida, Luiz Sávio de, e Silva, Amaro Hélio Leite da, orgs. Índios de Alagoas: cotidiano, terra e poder. Maceió: EDUFAL, 2009 (Série Índios do Nordeste: Temas e Problemas, 11), 124p. Este volume reúne sete estudos apresentados na Reunião Regional da SBPC em 2008, incluindo Amaro Leite da Silva sobre a resistência dos Geripankó, Jorge Luiz Gonzaga Vieira sobre a história dos Kalankó, Aldemir Barros sobre os Xucuru-Kariri sob o SPI e Ivan Soares Farias sobre memórias dos Xucuru-Kariri.

Amazônia em Cadernos, n. 6, Manaus, jan.-dez. 2000, 343p. Reunidos sob o título Diálogos Interdisciplinares, todos os artigos que compõem este número especial do periódico publicado pelo Museu Amazônico abordam aspectos da história dos índios na Amazônia. Dentre os temas estudados, destacam se os textos sobre a língua geral (José R. Bessa Freire), sobre as viagens de naturalistas (Mauro Cezar Coelho, Hideraldo Costa), sobre resistência (F. J. dos Santos, J. B. Botelho e Vânia Tadros), sobre missionários (Auxiliomar Ugarte) e sobre as identidades sociais (Patrícia Sampaio).

The Americas, Washington D.C., 61:3, jan. 2005, número especial Rethinking Bandeirismo Studies in Colonial Brazil. Este número, organizado pelo historiador A.J.R. Russell-Wood, reúne quatro artigos sobre a relação entre o sertanismo e as populações indígenas na América Portuguesa: Alida Metcalf sobre os mamelucos e as entradas baianas no século XVI; Barbara Sommer sobre o movimento de escravos índios na Amazônia; Hal Langfur sobre os conflitos armados nos sertões do leste de Minas no século XVIII; e Mary Karasch sobre o papel dos índios na "conquista" de Goiás no final do século XVIII.

Athias, Renato, org. Povos Indígenas de Pernambuco: identidade, diversidade e conflito. Recife: Ed. Universitária da UFPE, 2007 (Publicações Especiais do Programa de Pós-Graduação em Antropologia), 242p. O livro reúne pesquisas etnográficas realizadas junto ao Núcleo de Estudos e Pesquisas sobre a Etnicidade, enfocando os povos indígenas de Pernambuco, com estudos específicos sobre os Pankararu, Pipipãs, Fulni-ô, Xukuru, Pankará e Atikum. Os temas são variados, abrangendo as organizações e lideranças indígenas, saúde, ritual, eleições, gênero e mestiçagem. As referências bibliográficas no fim do livro demonstram a vitalidade dos estudos nesta região.

Azevedo, Francisca L. Nogueira de, e Monteiro, John Manuel, orgs. Confronto de Culturas: conquista, resistência, transformação. São Paulo e Rio de Janeiro: Edusp/Expressão e Cultura, 1997 (América 500 Anos, 7), 422p. Esta coletânea de textos apresentados no mega-congresso América 92: Raízes e Trajetórias traz 24 estudos sobre temas relacionados aos índios no Brasil e na América Espanhola. No que se refere ao Brasil, destacam-se os trabalhos de Jorge Couto, Mário Maestri Filho, João Francisco Marques, Paulo Castagna, Renato Pereira Brandão, Marcus Carvalho, Antonio Carlos de Souza Lima e Maria Helena P. T. Machado.

Baruzzi, Roberto G., e Junqueira, Carmen, orgs. Parque Indígena do Xingu: Saúde, Cultura e História. São Paulo: Terra Virgem, 2005, 295p. Entre depoimentos e estudos, este livro reúne 14 textos sobre o Parque do Xingu, enfocando particularmente a atuação dos médicos da Escola Paulista de Medicina e as questões da saúde e da cura nas comunidades indígenas. Os capítulos são ilustrados por fotografias interessantes, oriundas da coleção de Orlando Villas-Boas.

Bonilla, Heraclio, org. Os Conquistados: 1492 e a população indígena das Américas. Trad. Magda Lopes. São Paulo: Hucitec, 2006 (Estudos Históricos 52), 426p. Resultado de um simpósio realizado em 1992 no Equador, esta coletânea inclui vários estudos sobre a história dos índios nas Américas, inclusive de autores pouco traduzidos para o português, como Steve Stern, Enrique Florescano, Heraclio Bonilla, Roberto Choque, Manuel Burga, Henrique Urbano e R. Tom Zuidema, entre outros, abordando temas ligados ao impacto e aos sentidos da conquista. A América Portuguesa aparece apenas marginalmente, através de um extrato d’O Escravismo Colonial, de Jacob Gorender.

Cabral, Ana Suelly Arruda Câmara, e Rodrigues, Aryon Dall’Igna, orgs. Línguas e Culturas Tupi. Campinas: Editora Curt Nimuendajú e Brasília: Laboratório de Línguas Indígenas da UnB, 2007, 468p. A coletânea reúne 30 estudos apresentados no I Encontro Internacional sobre Línguas e Culturas dos Povos Tupi, realizado em 2004 em Brasília, divididos nas categorias Antropologia, Linguística Antropológica e Linguística. Apesar do enfoque majoritariamente linguístico, alguns estudos incluem abordagens históricas e, ademais, há uma consciência a respeito do lugar dos estudos tupi na história da antropologia e da linguística. 

Camargo, Vera Regina Toledo; Ferreira, Maria Beatriz Rocha; Von Simson, Olga R., orgs. Jogo, Celebração, Memória e Identidade: reconstrução da trajetória de criação, implementação e difusão dos Jogos Indígenas no Brasil (1996-2009). Campinas: Editora Curt Nimuendajú, 2011, 176p. Fruto de um projeto realizado na Unicamp, o livro reúne 16 textos de pesquisadores e alunos sobre variados aspectos dos Jogos Indígenas, realizados em dez edições entre 1996 e 2009. A primeira parte avalia o evento numa perspectiva histórica. Inclui curtas entrevistas com os idealizadores dos jogos Carlos Justino Terena e Marcos Terena e com a Secretária Nacional de Esporte e Lazer Rejane Penna Rodrigues.

Carneiro da Cunha, Manuela, org. História dos Índios no Brasil. São Paulo: Companhia das Letras/Fapesp, 1992, 608p. Ponto de partida indispensável para o estudo da história indígena, esta coletânea pioneira reúne 25 artigos originais sobre diferentes aspectos da história dos índios, da pré-história à atualidade. O aspecto mais inovador do livro é o esforço em problematizar o papel de atores indígenas nos processos históricos, porém também traz aportes significativos para a etnologia sul-americana e para a história da política indigenista e do indigenismo. A segunda edição de 1998 incorpora algumas revisões, sobretudo na bibliografia.

Carvalho, Maria Rosário de; Reesink, Edwin; e Cavignac, Julie, orgs. Negros no Mundo dos Índios: imagens, reflexos, alteridades. Natal: Editora da UFRN, 2011, 449p. Esta coletânea parte do desafio de estabelecer um diálogo produtivo sobre as relações entre africanos e afro-descendentes, por um lado, e povos indígenas, por outro, levando em consideração que “negros e índios têm siddo tratados, pela literatura científica, separadamente, não obstante eles tenham ... compartilhado experiências, quase invariavelmente sob a hegemonia política branca”.  Para tanto, reúne 13 ensaios e estudos de antropólogos e historiadores que buscam aprofundar temas tão sugestivos quanto ricos. Destacam-se, entre outros problemas, as questões da classificação étnico-racial, das identidades, da mestiçagem ou mistura em vários planos (histórico, religioso, identitário) e do lugar de índios e negros nas representações da nação. A maioria dos textos abordam o Nordeste, enriquecidos por uma seção de dois estudos sobre a Colômbia.

Chambouleyron, Rafael, e Alonso, José Luís Ruiz-Peinado, orgs. T(r)ópicos de História: gente, espaço e tempo na Amazônia (séculos XVII a XXI). Belém: Editora Açaí, 2010, 283p. A coletânea reúne 15 trabalhos apresentados no 52º Congresso Internacional de Americanistas, abordando aspectos bastante diversos da história da Amazônia. Diferentes aspectos da história indígena e do indigenismo aparecem nos textos de José Alves de Souza Jr. (sobre o trabalho indígena), Fernando Torres Londoño (sobre missões jesuítas entre os Jebero e Cocama), Márcia Eliane Alves de Souza e Mello (sobre a Junta das Missões), Patrícia Melo Sampaio (sobre identidades de índios e brancos) e Odair Giraldin (sobre os povos indígenas no Tocantins).

Clio. Revista de Pesquisa Histórica, Recife, no. 25.2, 2007, 354p. Este número, organizado por Marcus J. M. de Carvalho e Edson Silva, traz um excelente dossiê “História dos Povos Indígenas”, com 13 artigos baseados em pesquisas originais, focados em sua maioria em temas nordestinos. Maria Hilda Paraíso e Pablo Iglesias Magalhães abordam a atuação dos soldados indígenas das aldeias jesuíticas durante a invasão holandesa de Salvador em 1624; Edson Silva estuda as memórias dos Xukuru, Fulni-ô e Wassú referentes à participação dos antepassados na Guerra do Paraguai; Patrícia Pinheiro de Melo escreve sobre a construção da resistência indígena em Pernambuco colonial; Ricardo Pinto de Medeiros analisa as relações entre povos indígenas e o avanço colonial no sertão da Paraíba nos séculos XVII e XVIII; Deborah Freitas estuda a construção do sujeito em narrativas orais Xukuru, Arara e Makuxi; Antonio Jorge Siqueira reflete sobre índios, propriedade fundiária e poder no Brasil colonial; Rômulo Xavier examina a relação entre índios e holandeses na fase inicial da conquista de Pernambuco; Juliana Elias acompanha a trajetória de D. Antônio Filipe Camarão e seus descendentes; Jaci Vieira estuda o papel das populações indígenas na construção de um projeto português para o Rio Branco; Geyza Alves da Silva apresenta uma análise da relação entre Tabajaras e Potiguaras no espaço colonial; Anna Elizabeth Lago aborda a resistência indígena face ao Diretório dos Índios em Pernambuco; Marcus Carvalho acompanha o convívio entre índios, negros e grupos de classificação incerta nos sertões de Pernambuco entre os séculos XVII e XIX; e Juciene Ricarte Apolinário avalia a aplicação da política indigenista face à resistência dos índios no norte da Capitania de Goiás.

Coelho, Mauro Cezar; Gomes, Flávio dos Santos; Queiroz, Jonas Marçal; Marin, Rosa Acevedo; Prado, Geraldo, orgs. Meandros da História: trabalho e poder no Pará e Maranhão, séculos XVIII e XIX. Belém: UNAMAZ, 2005, 385p. A coletânea inclui 19 artigos, muitos deles baseados em pesquisas originais em arquivos regionais. Sobre a temática indígena, destacam-se os estudos de Maria Regina Celestino de Almeida sobre o lugar dos índios na ocupação territorial da Capitania do Rio Negro; de Mauro Cezar Coelho, que realiza um balanço e sugere perspectivas para o estudo do Diretório dos Índios; de Patrícia de Melo Sampaio, que reavalia as implicações da Carta Régia de 1798, extinguindo o Diretório; de Eliane Cristina Lopes Soares sobre a constituição de uma economia camponesa na Ilha do Marajó, a partir da destruição das populações indígenas; e, finalmente, de Manoel de Jesus Barros Martins sobre a atuação do militar e escritor Francisco de Paula Ribeiro diante dos índios na exploração dos Sertões dos Pastos Bons no início do século XIX.

Costigan, Lúcia Helena, org. Diálogos da Conversão: Missionários, Índios, Negros e Judeus no Contexto Ibero-Americano do Período Barroco. Campinas: Editora da Unicamp, 2005, 207p. Esta coletânea reúne sete textos de historiadores, antropólogos e estudiosos da literatura, oferecendo análises de diferentes perspectivas sobre textos missionários. Sobre a temática indígena, destacam-se os textos de João Adolfo Hansen sobre a escrita, enfocando de maneira interessante o poema anchietano “Tupána Kuápa”; de Ronaldo Vainfas sobre a “demonização” das práticas religiosas Tupi; de Alcir Pécora sobre o lugar dos índios nos sermões de Vieira; e de Andréa Daher sobre as obras impressas referentes às iniciativas francesas na América do Sul, enfocando particularmente Léry e Abbeville.

Dias, Marcelo Henrique e Carrara, Ângelo Alves, orgs. Um Lugar na História: a Capitania e Comarca de Ilhéus antes do cacau. Ilhéus: Editus – Editora da UESC, 2007, 322p. Esta coletânea inclui cinco pesquisas originais sobre Ilhéus no período colonial e uma referente ao Império. Os estudos de Carrara (sobre as estruturas agrárias) e Dias (sobre a economia e administração da capitania) abordam questões historiográficas referentes ao papel da resistência indígena e da mão-de-obra nativa na articulação da economia colonial na região. Um segundo artigo de Marcelo Dias traz uma contribuição original ao debate, enfocando as atividades produtivas dos índios residentes nos aldeamentos jesuíticos, em especial o de N. S. da Escada (Olivença). De especial interesse é a análise que o autor oferece de um relatório manuscrito, elaborado pelo ouvidor Luís Freire de Veras em 1768. O texto também reproduz uma ilustração da Vila de Santarém, a qual acompanha o relato do Cap. Domingos Alves Muniz Barreto a respeito dos “índios sublevados nas vilas e aldeias da Comarca de Ilhéus e norte da Cap. da Bahia”.

Documentos. Revista do Arquivo Público do Ceará, Fortaleza, 3, 2006, número especial Índios e Negros. No se refere aos índios, a revista inclui artigos originais sobre casamentos interétnicos e intraétnicos em Acaraú durante o século XVIII (Cíntia Vasconcelos) e sobre chefes indígenas e a circulação da escrita em Ibiapaba no século XVII (Lígio Maia), além de uma resenha por este mesmo autor.

Espaço Ameríndio, Porto Alegre, 5:2, 2011, edição especial Fontes e Problemas Coloniais: temas da cultura sul-ameríndia no contexto colonial. Organizado por Carlos Paz e Guilherme Galhegos Felippe, este número especial da revista online traz quatro artigos com pesquisas originais, uma entrevista com a historiadora Graciela Chamorro e duas resenhas de livros recentes. Os artigos são de Eliane Fleck, sobre rituais de cura, luto e sepultamento nas reduções jesuítico-guaranis, entre o tradicional e o colonial; Glória Kok sobre a presença dos índios nas capelas coloniais de São Paulo; Luisa Wittmann sobre música e contato nas aldeias missionárias no Brasil; e Guilherme Galhegos Felippe sobre as implicações da aquisição de objetos e técnicas de origem européia pelos índios (sobretudo nas reduções) nos planos social e cosmológico.

Estudos de História, Franca, 10:2, 2003, dossiê especial Escravidão Indígena. O dossiê traz cinco artigos inéditos sobre este tema: Flávio Gomes sobre a relação entre índios e mocambeiros na área de fronteira entre Brasil e Suriname; Eliane Fleck sobre a sensibilidade indígena nas narrativas coloniais; Izabel Missagia de Mattos sobre a administração dos Botocudos em Minas Gerais no século XIX; Silvana Alves de Godoy sobre as relações entre portugueses, paulistas e índios na rota das monções; e Mauro Leonardo Costa de Oliveira sobre a condição dos índios na Amazônia colonial.

Fausto, Carlos e Heckenberger, Michael, orgs. Time and Memory in Indigenous Amazonia: Anthropological Perspectives. Gainesville: University Press of Florida, 2007, 322p. Trata-se de uma excelente coletânea que reúne nove trabalhos de ponta em história indígena. Conforme elucida os organizadores em sua introdução ao volume, os estudos abordam os temas do tempo e da mudança, buscando problematizar a tensão entre as teorias sociais dos estudiosos e as acepções ameríndias dos componentes-chave destas teorias. Além das divergentes formas de entender a alteridade, os organizadores chamam a atenção para as divergências em torno das noções de ação e “agência”, uma vez que a “teoria social” ameríndia pode incluir, no leque de agentes capazes de contribuir com ações transformadoras, agentes extra-humanos ou mesmo não-humanos. Versões anteriores de alguns dos trabalhos, como o de Carlos Fausto sobre canibalismo e cristianismo entre os Guarani, de Peter Gow sobre a identidade Cocama e de Aparecida Vilaça sobre o corpo War’i foram publicados em revistas brasileiras.

Forline, Louis; Murrieta, Rui; e Vieira, Ima, orgs. Amazônia Além dos 500 Anos. Belém: Museu Paraense Emílio Goeldi, 2006, 566p. O livro reúne estudos que foram apresentados no simpósio internacional e interdisciplinar “Amazônia 500 Anos”, realizado em Belém no ano de 2000. De especial interesse para a história indígena são os textos de Michael Heckenberger sobre a necessidade de entender os processos históricos xinguanos de maneira mais complexa; de Eduardo Neves sobre línguas, tradições orais e arqueologia como chaves para a compreensão da história indígena do Rio Negro; de Rafael Chambouleyron sobre as tensões e conflitos entre principais indígenas, jesuítas e autoridades no Maranhão e Pará durante o século XVII; e de Márcio Meira, que apresenta um estudo panorâmico e instigante das relações entre índios e brancos no Rio Negro.

Franchetto, Bruna e Heckenberger, Michael, orgs. Os Povos do Alto Xingu: história e cultura. Rio de Janeiro: Editora UFRJ, 2000, 492p. Este livro reúne os resultados de uma ampla gama de pesquisas arqueológicas, históricas, etnológicas e linguísticas enfocando a região do Alto Xingu. Se os índios do Xingu povoam o imaginário popular sobre as sociedades primitivas isoladas e suspensas no tempo, a coletânea mostra uma outra face ao sublinhar a formação histórica de um sistema interétnico e a importância dos processos de contato na estruturação das sociedades e culturas ao longo dos últimos dez séculos. Um aspecto muito marcante dos novos estudos é o diálogo que se estabelece com as narrativas, mitos, memória e rituais xinguanos, onde se inscreve a história a partir de perspectivas indígenas.

Freire, Carlos Augusto da Rocha, org. Memória do SPI: textos, imagens e documentos sobre o Serviço de Proteção aos Índios (1910-1967). Rio de Janeiro: Museu do Índio-Funai, 2011, 492p. Dividido em três partes, este livro registra uma afirmação contundente do “estado da arte” em termos de estudos sobre o SPI. Na primeira parte, o organizador C. A. da Rocha Freire brinda o leitor e pesquisador com uma viagem pela iconografia, com destaque para o rico acervo fotográfico que aos poucos começa a ser disseminado e analisado por especialistas. A segunda parte traz 25 textos dos principais estudiosos que se debruçaram sobre o acervo documental e iconogáfico do órgão indigenista, abordando temas bastante variados, incluindo vários estudos sobre a experiência de diferentes povos indígenas em todas as regiões do país porém também tratando de aspectos transversais, tais como o poder tutelar, a saúde, os projetos vinculados à Seção de Estudos e o papel de Rondon e Darcy Ribeiro. A última parte inclui um guia sumário do acervo, uma explicação de como acessar o material pelo site do Museu do Índio e uma bibliografia extensa de livros, artigos, teses e publicações avulsas referentes ao SPI.

Freire, José Ribamar Bessa, e Rosa, Maria Carlota, orgs. Línguas Gerais: política lingüística e catequese na América do Sul no período colonial. Rio de Janeiro: Ed. UERJ, 2003, 209p. Apresentados originalmente no I Colóquio sobre Línguas Gerais, os 11 artigos deste volume proporcionam uma excelente introdução à temática, abrangendo estudos de linguística e de história. Um dos focos principais dos trabalhos reside na política e na produção dos jesuítas na sistematização e disseminação do Tupi; outro foco é a Língua Geral Amazônica. Há, ainda, dois textos muito bons sobre as línguas gerais na América espanhola.

Gadelha, Regina A. F., org. Missões Guarani: impacto na sociedade contemporânea. São Paulo: EDUC, 1999. Resultado de um simpósio realizado em 1998, esta coletânea reúne vários textos sobre as missões jesuíticas da região platina, que incluía uma parte significativa do futuro território brasileiro. Os textos enfocam a história das missões a partir de abordagens históricas, etnológicas, arqueológicas e artísticas.

Galindo, Marcos, org. Viver e Morrer no Brasil Holandês. Recife: Fundação Joaquim Nabuco/Editora Massangana, 2005, 248p. Este livro reúne quatro estudos e dois documentos traduzidos referente aos holandeses no Brasil durante o século XVII. No que diz respeito à temática indígena, destaca-se o texto de Frans Schalkwijk sobre “a Igreja evangélica indígena”, uma ampliação de um estudo divulgado anteriormente por este autor sobre a missão protestante entre os índios, em particular os “brasilianos” ou Tupi.

Hispanic American Historical Review, Durham, 80:4, 2000, número especial Colonial Brazil: foundations, crises, and legacies. Neste número em homenagem aos 500 anos, a primeira seção (Foundations) inclui quatro trabalhos sobre a temática indígena: John Monteiro sobre as "castas de gentio", Neil Whitehead sobre Hans Staden e a política cultural do canibalismo, Tom Conley sobre os escritos de Thevet e Janaína Amado sobre Caramuru o mito de origem da nação.

Kern, Arno Álvares, org. Arqueologia Histórica Missioneira. Porto Alegre: Ed. PUC-RS, 1998 (Coleção Arqueologia 6), 206p. São sete estudos referentes a pesquisas arqueológicas realizadas nas antigas reduções jesuíticas situadas no atual estado do RS. Embora bastante preliminares, os estudos apontam para as ricas possibilidades oferecidas pela arqueologia histórica no estudo das populações indígenas no Brasil.

Kern, Arno Álvares; Santos, Maria Cristina; Golin, Tau, orgs. Povos Indígenas. Passo Fundo: Méritos, 2009 (História Geral do Rio Grande do Sul, vol. 5), 559p. Parte de uma história geral do Rio Grande do Sul sob a direção geral de Nelson Boeira e Tau Golin, a coletânea reúne 20 capítulos de historiadores, antropólogos e arqueólogos sobre um leque aberto de temas e problemas. Partindo da ideia de que “o Rio Grande do Sul não seria o que é social e culturalmente sem a sua parte indígena”, os autores abordam a presença e experiência dos Kaingang, Guarani, Charrua e Minuano em textos que combinam pesquisas originais e esforços de síntese. De especial interesse para a história indígena são os textos de Luís Fernando da Silva Laroque sobre a territorialidade kaingang; Rogério Gonçalves da Rosa sobre a lenda e mito do cacique Nonohay; Klaus Hilbert sobre Charruas e Minuanos entre a história e a “grife”; Jean Baptista sobre identidades étnicas nas missões; Eduardo Neumann sobre razão gráfica e cultura escrita nas reduções; Maria Cristina dos Santos sobre versões indígenas da história; José Otávio Catafesto de Souza e o mburuvixá José Cirilo Pires Morinico sobre relatos mbyá-guarani referentes às ruínas das missões; Vanderlise Machado Brandão sobre a escola guarani; e Lígia Simonian sobre a política de Brizola e a expropriação de terras indígenas no estado. O volume inclui mapas, ilustrações e uma bibliografia atualizada.

Machado, Maria Fátima Roberto, org. Mato Grosso Português: ensaios de antropologia histórica. Cuiabá: Ed. da UFMT, 2001 (Série Ensaios Antropológicos, 6), 267p. A coletânea reúne seis estudos sobre a Capitania de Mato Grosso a partir de um enfoque interdisciplinar. Destacam-se a introdução da organizadora sobre a antropologia histórica, o texto de Gilberto Brizolla Santos sobre os Guaikuru e o estudo de Marina Azem sobre as doenças e epidemias segundo os textos de Alexandre Rodrigues Ferreira.

Montero, Paula, org. Deus na Aldeia: missionários, índios e mediação cultural. São Paulo: Editora Globo, 2006, 583p. Fruto de um projeto coletivo, este livro reúne 11 textos originais que oferecem uma leitura antropológica dos diversos aspectos do “encontro” entre missionários e índios. Vários capítulos lançam mão de documentos históricos e todos levam em consideração a dimensão histórica dos processo e eventos sob análise. Destacam-se o capítulo inicial da organizadora sobre o problema da “mediação cultural” nas abordagens antropológicas e historiográficas das relações entre missionários e “nativos”; o texto de Nicola Gasbarro trata da prática missionária ocidental à luz da história das religiões; Cristina Pompa discute a relação entre história e antropologia a partir da análise de narrativas missionárias e outros documentos históricos; Adone Agnolin avalia, através dos instrumentos de tradução dos jesuítas, a “gramática cultural, religiosa e linguística” do encontro nos espaços da doutrina e do ritual; Marta Amoroso estuda os escritos capuchinhos referentes à missão entre os Munduruku de Bacabal, no Tapajós, durante o Império; Marcos Rufino retraça o debate em torno da noção de “inculturação” na Igreja Católica e sobretudo no CIMI; Ronaldo de Almeida analisa o processo de “tradução cultural da religião evangélica”, apoiado em diferentes casos etnográficos; Artionka Capiberibe explora, ao longo de séculos, as “conversões” entre os Palikur, percorrendo o catolicismo missionário, o catolicismo “reinterpretado” e, por fim, o impacto das missões evangélicas; Aramis Luís Silva confronta dois projetos de “valorização cultural” entre os Bororo, um da iniciativa dos Salesianos, outro em parceria com uma ONG indígena; José Maurício Arruti amplia a noção de “conversão” através de seu estudo sobre o ritual do Toré no Nordeste, enfocando primeiro a atuação da Igreja Católica na década de 1970 e em seguida os passos que compõem o processo da “etnogênese”; no texto final, Melvina Araújo parte de uma descrição etnográfica da “performance ritual do Natal” numa maloca Macuxi para a análise da construção de um “código compartilhado” entre missionários e índios no que diz respeito ao que seria “tradicionalmente indígena”. 

Mota, Lúcio Tadeu; Noelli, Francisco; e Tommasino, Kimiye, orgs. Uri e Wãxi: estudos interdisciplinares dos Kaingang. Londrina: Editora UEL, 2000. Coletânea de textos abordando os Kaingang do Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul a partir de enfoques bastante diversos, desde a arqueologia à educação indígena. No plano histórico, destacam-se os textos de Noelli, Mota e Tommasino, sendo também de grande interesse o estudo inovador de Janir Simiema sobre as habitações kaingang.

Mota, Lúcio Tadeu; Noelli, Francisco Silva; e Tommasino, Kimiye, orgs. Novas Contribuições aos Estudos Interdisciplinares dos Kaingang. Londrina: Editora UEL, 2004, 410p. Dando continuidade ao item anterior, esta coletânea reúne dez estudos originais sobre diferentes aspectos de arqueologia, história, etnologia e política referente aos Kaingang. Vários dos estudos divulgam os resultados de teses e dissertações acadêmicas recém defendidas.

Moura, Marlene Castro Ossami de, coord. Índios de Goiás: uma perspectiva histórico-cultural. Goiânia: Ed. UCG/Ed. Vieira/Ed. Kelps, 2006, 377p. Obra coletiva multidisciplinar, o livro traz contribuições arqueológicas, históricas e etnográficas sobre os povos indígenas no território do atual Estado de Goiás. Um capítulo, assinado por Jézus Ataídes, aborda a história dos Kayapó do Sul a partir do contato. Outro enfoca três grupos atuais, incluindo informações sobre a história: os Avá-Canoeiro, por Dulce Madalena Rios Pedroso; os Karajá de Aruanã, por Manuel Ferreira Lima Filho; e os Tapuios do Carretão, pela coordenadora do livro. O último capítulo, de Maria Eugênia Brandão Alvarenga Nunes e Mariza de Oliveira Barbosa, apresenta materiais do Acervo de Imagens do Instituto Goiano de Pré-História e Antropologia (IGPA), incluindo fotos de sítios arqueológicos e das populações indígenas descritas no capítulo anterior.

Neves, Erivaldo Fagundo, org. Sertões da Bahia: formação social, desenvolvimento econômico, evolução política e diversidade cultural. Salvador: Editora Arcádia, 2011, 720p. Obra preparada para uso de alunos de História da Bahia, este polpudo volume traz 19 estudos baseados sobretudo em pesquisas em arquivos, com destaque para alguns repositórios locais. A temática indígena espalha-se discretamente pelo livro porém emerge de forma mais concentrada no alentado estudo de Maria Hilda Baqueiro Paraíso sobre a presença e atuação de povos indígenas diante da abertura de caminhos nos sertões do leste, entre Bahia e Minas Gerais. Também de interesse especial é o texto de Isnara Pereira Ivo, sobre “trânsitos culturais” nos sertões mineiros e baianos nos séculos XVIII e XIX, mostrando as relações entre sertanistas e índios.

Novaes, Adauto, org. A Outra Margem do Ocidente. São Paulo: Companhia das Letras, 1999. O livro reúne 28 ensaios de vários especialistas renomados, abordando a temática indígena a partir de múltiplas perspectivas. Os textos foram apresentados originalmente num ciclo de conferências patrocinado pela Funarte. Vários aspectos da história indígena no Brasil e na América em geral estão representados nesta coletânea, cujo conjunto aponta para algumas das tendências mais marcantes dos debates atuais.

Oceanos, Lisboa, n. 24, out.-dez. 1995, número especial O Teatro da Natureza: Maximiliano no Brasil. São seis artigos, fartamente ilustrados, que devassam a viagem do príncipe de Wied-Neuwied ao Brasil. De especial interesse são os textos de Ernest Pijning sobre o contexto científico que informou a viagem e de João Rocha Pinto sobre a imagem dos índios nos quadros do idealismo alemão. As notas bibliográficas compiladas por Rosemarie Erika Horch também são de grande utilidade.

Oceanos, Lisboa, n. 39, jul.-set. 1999, número especial O Achamento do Brasil. Ao reunir 12 artigos (e uma resenha) de especialistas, a revista coloca em discussão diversos aspectos do achamento – ou, para a maioria dos autores, descobrimento – do Brasil. A maioria dos textos trata da navegação, porém há uma discussão da imagem do Novo Mundo, da carta de Pero Vaz e das representações do descobrimento em livros didáticos no Brasil e em Portugal. O elemento mais rico desta revista reside nas belas ilustrações de mapas, gravuras e outras representações visuais do século XVI.

Oliveira, Carla Mary S.; Menezes, Mozart Vergetti de, e Gonçalves, Regina Célia, orgs. Ensaios sobre a América Portuguesa. João Pessoa: Editora Universitária UFPB, 2009, 206p. Esta coletânea enfoca de modo particular alguns aspectos da história das Capitanias do Norte, com vários estudos sobre os índios, trazendo aportes documentais inéditos ou, pelo menos, estudados à luz de novas perspectivas. Maria Emília Monteiro Porto estuda as representações jesuíticas em áreas fronteiriças no Rio Grande do Norte; Regina Célia Gonçalves e colaboradores analisam os documentos escritos por lideranças indígenas durante o domínio holandês; Fátima Martins Lopes enfoca os capitães mores de ordenança nas vilas de índios no Rio Grande do Norte; Ricardo Pinto de Medeiros apresenta uma síntese da história dos índios na Paraíba colonial, são de especial interesse para a temática da história indígena dois artigos com pesquisas originais em fontes inéditas: de Regina Célia Gonçalves sobre “guerra e açúcar” na Paraíba, abordando o processo de conquista e as alianças com grupos indígenas como aspectos cruciais da formação de uma elite política na região; e de Ricardo Pinto de Medeiros sobre o impacto da política pombalina sobre as “vilas e lugares de índios” nas capitanias de Pernambuco, Paraíba, Rio Grande e Ceará, incluindo informações interessantes sobre a atuação de lideranças indígenas. 

Oliveira, Carla Mary S., e Medeiros, Ricardo Pinto de, orgs. Novos Olhares sobre as Capitanias do Norte do Estado do Brasil. João Pessoa: Editora Universitária UFPB, 2007, 185p. Nesta coletânea, são de especial interesse para a temática da história indígena dois artigos com pesquisas originais em fontes inéditas: de Regina Célia Gonçalves sobre “guerra e açúcar” na Paraíba, abordando o processo de conquista e as alianças com grupos indígenas como aspectos cruciais da formação de uma elite política na região; e de Ricardo Pinto de Medeiros sobre o impacto da política pombalina sobre as “vilas e lugares de índios” nas capitanias de Pernambuco, Paraíba, Rio Grande e Ceará, incluindo informações interessantes sobre a atuação de lideranças indígenas. 

Oliveira, João Pacheco de, org. A Presença Indígena no Nordeste: processos de territorialização, modos de reconhecimento e regimes de memória. Rio de Janeiro: Contra Capa, 2011, 732p. xxx

Oliveira, João Pacheco de, org. A Viagem da Volta: etnicidade, política e reelaboração cultural. 2a ed. Rio de Janeiro: Contra Capa/LACED, 2004 (Série Territórios Sociais, 2), 363p. Publicada originalmente em 1999, esta coletânea reúne oito estudos sobre o fenômeno de ressurgimento de identidades indígenas no Nordeste. Todos os textos problematizam, de uma maneira ou outra, a relação entre a história e os processos de afirmação étnica: o ensaio do organizador sobre a etnologia dos "índios misturados"; o estudo de Sidnei Peres sobre as terras indígenas sob o regime do SPI; Henyo Barreto Filho sobre os Tremembé; Rodrigo Grünewald sobre história, cultura e tradição na Serra do Umã; Sheila Brasileiro sobre terra e faccionalismo entre os Kiriri; Silvia Martins sobre as aldeias Xucuru-Kariri; José Maurício A. Arruti sobre a "árvore Pankararu"; e Carlos Guilherme do Valle sobre os Tremembé.

Pagliaro, Heloísa; Azevedo, Marta Maria; e Santos, Ricardo Ventura dos, orgs. Demografia dos Povos Indígenas no Brasil. Rio de Janeiro: Editora FIOCRUZ e ABEP, 2005, 192p. (Coleção Saúde dos Povos Indígenas). Explorando sobretudo a relação entre demografia e antropologia, este livro reúne sete estudos originais e uma entrevista com o antropólogo John Early, especialista em demografia Yanomami. Apesar de enfocar questões contemporâneas, vários estudos apresentam informações históricas, com destaque para os Xavante, Kamaiurá, Kaiabi, Sateré-Mawé e vários povos do Alto Rio Negro.

Palitot, Estévão Martins, org. Na Mata do Sabiá: contribuições sobre a presença indígena no Ceará. Fortaleza: Secult/ Museu do Ceará/ IMOPEC, 2009, 461p. Esta excelente coletânea reúne 14 estudos de especialistas, oferecendo uma visão panorâmica dos índios no Ceará no passado e no presente. A primeira parte aborda temas históricos, com destaque para as pesquisas de Lígio Maia sobre o lugar dos índios na expansão pecuária, através das datas de sesmarias; João Paulo Costa sobre as tropas indígenas na Revolução de 1817; Carlos Guilherme do Valle sobre argumentos referentes ao desaparecimento étnico; Alexandre Oliveira Gomes sobre a trajetória dos índios “Algodões” de Porangaba. A coletânea se completa com textos sobre territórios, rituais, políticas culturais e o movimento indígena, incluindo entrevistas e depoimentos de lideranças.

Resende, Maria Efigênia Lage de, e Villalta, Luiz Carlos, orgs. As Minas Setecentistas, vol. 1. Belo Horizonte: Companhia do Tempo/Ed. Autêntica, 2007 (História de Minas Gerais), 589p. Trata-se de uma excelente e exaustiva introdução à história de Minas Gerais, reunindo estudiosos que contribuíram não apenas com sínteses da bibliografia conhecida como também introduziram pesquisas originais a partir da documentação inédita. Este volume inclui dois estudos densos sobre a presença indígena na região: de Renato Pinto Venâncio, que apresenta uma abordagem de “Minas antes de Minas”, enfocando questões de demografia e das guerras nas capitanias ao entorno daquilo que viria a ser a Minas Gerais, chegando à conclusão de que “as primeiras fronteiras mineiras não nasceram de uma decisão administrativa, mas, sim, da maior ou menor capacidade de o mundo indígena resistir ao avanço colonizador”; e de Maria Leônia Chaves de Resende, que confere uma nova e vibrante visibilidade aos índios que a historiografia mineira apagou com as entradas e bandeiras. Os índios também figuram do estudo de Liana Maria Reis sobre a criminalidade escrava, na posição ambígua entre recrutas das forças de repressão e aliados dos quilombolas que foram o objeto deste mesmo aparato repressivo.

Restall, Matthew, org. Beyond Black and Red: African-Native Relations in Colonial Latin America. Albuquerque: University of New Mexico Press, 2005, 303p. (Coleção Dialogos). Coletânea oportuna, o livro traz nove estudos originais sobre as relações entre africanos e ameríndios na América colonial, enfocando sobretudo diferentes partes da América Espanhola. Há um texto sobre estas relações no Caribe e um estudo exploratório referente à América Portuguesa, escrito por Stuart Schwartz e Hal Langfur.

Revista USP, no. 34, jun.-ago 1997, dossiê Surgimento do Homem na América. A partir de perspectivas pluridisciplinares, os oito artigos reunidos nesta revista redimensionam as hipóteses sobre a primeira ocupação humana do continente americano.

Revista USP, no. 44, dez. 1999-fev. 2000, 2 fascículos, número especial Antes de Cabral: Arqueologia Brasileira. Marcando os 500 anos, o dossiê sobre a arqueologia no Brasil fornece um amplo panorama do processo formativo e do estado atual do campo no que diz respeito ao estudo das populações pré-coloniais. Em termos da interface com a história indígena, os artigos de Eduardo Góes Neves, Jorge Ermites de Oliveira e Francisco Silva Noelli são de maior interesse.

Rocha, Leandro Mendes, e Baines, Stephen, orgs. Fronteiras e Espaços Interculturais: transnacionalidade, etnicidade e identidade em regiões de fronteira. Goiânia: Ed. UCG, 2008, 117p. Nesta coletânea de seis textos de seminário tematizando fronteiras internacionais multi-étnicas, destaca-se o estudo de Giovani José da Silva sobre a história e etnicidade dos Kinikinau de Mato Grosso do Sul.

Roosevelt, Anna C., org. Amazonian Indians from Prehistory to the Present: Anthropological Perspectives. Tucson: University of Arizona Press, 1994, 421p. Fruto de uma conferência internacional Wenner-Gren, esta coletânea reúne 17 estudos, em sua maioria inéditos, oferecendo um amplo panorama dos estudos amazônicos, com uma certa ênfase em questões de adaptação. A parte sobre as “primeiras transformações” realça de maneira mais concentrada a documentação histórica.

Sampaio, Patrícia de Melo, e Erthal, Regina de Carvalho, orgs. Rastros da Memória: Histórias e Trajetórias das Populações Indígenas na Amazônia. Manaus: Editora da Universidade Federal do Amazonas, 2006, 481p. Fruto de um projeto integrado multidisciplinar, este livro reúne nove estudos originais, baseados em pesquisas documentais e num diálogo entre a história e a antropologia. O livro agrega, ainda, dois anexos documentais de grande utilidade, o primeiro oferecendo um repertório da legislação indigenista das províncias do Pará e Amazonas durante o Império, e o segundo reproduzindo uma seleção de ofícios manuscritos abordando as populações indígenas do Amazonas entre 1852 e 1865. Entre os estudos, destacam-se pela originalidade do material pesquisado os textos de Márcia de Souza e Mello sobre as ações de liberdade movidas por índios no Pará colonial; de Simei de Souza Torres sobre a negociação das fronteiras na esteira do Tratado de Santo Ildefonso; de Irma Rizzini sobre as crianças indígenas na Casa de Educandos Artífices em Manaus durante o II Reinado; de Patrícia Sampaio e Natália Albuquerque do Nascimento sobre os aportes demográficos das fontes eclesiásticas em Manaus imperial; e de Regina Erthal sobre a trajetória recente dos museus indígenas, com destaque para o Museu Magüta dos Ticuna.

Schröder, Peter, org. Os Fulni-ô: cultura, identidade e território no Nordeste indígena, Recife: Ed. Universitária, 2012 (Série Antropologia e Etnicidade 1), 262p. A coletânea conta com oito autores de diversas áreas, incluindo um sociólogo Fulni-ô (Wilke Torres de Melo), para dimensionar o povo Fulni-ô a partir de certos aspectos históricos, econômicos e culturais. O organizador contribui não apenas com um sólido levantamento e discussão da história (inacabada) do território dos índios, como também apresenta uma utilíssima bibliografia crítica dos estudos sobre este povo. Outros textos de interesse para a história dos índios incluem o capítulo de Eliana Gomes Quirino sobre a memória (com destaque para o lugar do padre Alfredo Damaso nos relatos indígenas) e o capítulo de Sérgio Neves Dantas sobre a música sagrada como elemento articulador de memória e identidade. Em anexo estão transcritos seis documentos históricos referentes à demarcação de terras indígenas.  

Santos Granero, Fernando, org. Globalización y cambio en la Amazonía indígena, vol. 1. Quito: Ed. Abya-Yala, 1996  (coleção Biblioteca Abya-Yala 37), 472p. Esta coletânea reúne 11 estudos de fôlego sobre os processos de mudança em sociedades ameríndias. Especificamente no que diz respeito ao Brasil, há três estudos, um de Alcida Ramos sobre as vozes do contato, um de Cecilia McCallum sobre língua e parentesco e um de Terence Turner sobre o uso do vídeo entre os Kayapó. No entanto, o livro inclui vários outros textos muito relevantes, sobretudo de Jean Jackson sobre a noção de cultura entre os Tukano; de Beverly Bennett sobre a saúde Machiguenga; Anne-Christine Taylor sobre as missões entre os Achuar; e Peter Gow sobre grafismo e xamanismo entre os Piro.

Schwartz, Stuart B., e Salomon, Frank, orgs. The Cambridge History of the Native Peoples of the Americas. Volume III. South America. 2 vols. Cambridge: Cambridge University Press, 1999, 1054, 976p. Ambicioso projeto de história indígena, cobrindo o continente sul-americano e o Caribe, dos paleoíndios aos índios cidadãos às vésperas do século XXI. A ênfase maior recai no período pós-conquista e reflete as tendências inovadoras em pesquisa etnohistórica das últimas três décadas do século XX. Vários dos ensaios gerais buscam superar a clássica divisão entre terras altas e terras baixas. No que diz respeito à história indígena no Brasil, são de especial interesse os ensaios de Frank Salomon sobre “fontes nativas”; Sabine MacCormick sobre fontes “etnográficas” dos séculos XVI e XVII; Anna Roosevelt sobre a origem de “culturas complexas”; John Monteiro sobre o litoral brasileiro no século XVI; Juan Carlos Garavaglia sobre a invasão europeia da região platina nos séculos XVI e XVII; Anne-Christine Taylor sobre a margem ocidental da Amazônia do XVI ao XIX; James Schofield Saeger sobre o Chaco e Paraguai de 1573 a 1882, incluindo a história das reduções; Robin Wright (e colaboradores) sobre o Brasil entre os séculos XVII e XIX; Neil Whitehead sobre o nordeste da América do Sul, incluindo a região norte amazônica, entre 1500 e 1900; Stuart Schwartz e Frank Salomon sobre etnogênese e mestiçagem no período colonial; Jonathan Hill sobre os povos indígenas face à independência, com enfoque na Amazônia; e David Maybury-Lewis sobre os povos nas terras baixas durante o século XX. Também vale a pena ler as boas sínteses de história andina, não elencadas aqui.

Silva, Aracy Lopes da, e Grupioni, Luís Donisete Benzi, orgs. A Temática Indígena na Escola: novos subsídios para professores de primeiro e segundo graus. Brasília: MEC/MARI/UNESCO, 1995. Importante coletânea que busca introduzir o leitor não especializado à temática indígena. Os ensaios abrangem várias questões, tais como os direitos indígenas, a luta pela terra, o problema da identidade étnica, a história dos povos, o conceito da cultura, entre muitas outras.

Silva, Aracy Lopes da, e Ferreira, Mariana Kawall, orgs. Antropologia, História e Educação: A Questão Indígena e a Escola. São Paulo: Ed. Global/MARI, 2001, 398 p. Organizada em quatro partes, esta coletânea oferece um panorama da educação escolar indígena no Brasil. A Parte II traz artigos diretamente voltados para a história, incluindo textos de Marta Amoroso sobre a educação nos aldeamentos capuchinhos; de Antonella Tassinari referente à trajetória da escola indígena na história do Uaçá; e, por fim, de Lux Vidal discutindo a relação entre cosmologia e história através de uma análise dos grafismos indígenas no Oiapoque.

Silva, Giovani José da, org. Kadiwéu: senhoras da arte, senhores da guerra. Curitiba: Editora CRV, 2011, 211p. Dividida em três partes (História; Antropologia; Educação, Linguagens e Artes), esta coletânea reúne estudos de especialistas para compor um quadro amplo, informativo e analítico, que dá conta dos avanços recentes em pesquisas sobre os Kadiwéu. No que diz respeito à história, Ana Lucia Herberts oferece um “panorama” dos Mbayá-Guaikuru abrangendo os séculos XVI a XIX; Giovani José da Silva enfoca um século (1899-1984) de conflitos pela posse da terra na Reserva Indígena Kadiwéu, percorrendo documentos históricos e relatos etnográficos realizados em diferentes períodos; Jaime Siqueira Jr. coloca o problema do território a partir das relações espacial e temporal que marcam a organização social dos Kadiwéu; Léia Teixeira Lacerda aborda a educação escolar, com algumas observações sobre a história; Filomena Sandalo lança mão de trabalhos etnográficos do passado para dialogar com os dados de campo sobre dialetos prosódicos e sua relação com a estratificação social Kadiwéu; Vânia Perrotti Pires Graziato também remete às etnografias do passado para situar a questão da arte no universo feminino da cerâmica.

Silva, Joana A. Fernandes, org. Estudos sobre os Chiquitanos no Brasil e na Bolívia: história, língua, cultura e territorialidade. Goiânia: Editora da UCG, 2008, 317p. Excelente coletânea (a despeito de pequenos deslizes editoriais), oferecendo um olhar pluridisciplinar sobre um povo indígena que apresenta desafios consideráveis pela sua mobilidade entre fronteiras transnacionais, linguísticas e territoriais. Com referência à história indígena, são de especial interesse os textos de Leny Caselli Anzai sobre a relação entre as missões chiquitanas e a Capitania de Mato Grosso, de José Eduardo F. M. da Costa sobre a formação do território chiquitano, Roberto Tomichá Charupá sobre o processo de formação sociocultural do povo chiquitano no contexto de intensos conflitos e aproximações multiétnicas no Oriente boliviano (séculos XVI-XVIII) e uma revisão bibliográfica de Giovani José da Silva.

Silva, Maria Beatriz Nizza da, org. Brasil: colonização e escravidão. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2000, 417p. Resultado de um colóquio realizado em Lisboa, esta coletânea inclui uma primeira parte sobre a história dos índios, com textos originais de Francisco Ribeiro da Silva sobre a legislação do século XVII, de Muriel Nazzari sobre a escravidão e liberdade indígena em São Paulo colonial e de Ângela Domingues sobre a noção de Guerra Justa na Amazônia.

Smiljanic, Maria Inês; Pimenta, José e Baines, Stephen Grant, orgs. Faces da Indianidade. Curitiba: Nexo Design, 2009, 290p. Cobrindo um amplo leque temático, o livro reúne estudos produzidos por professores e alunos dos programas de pós-graduação em Antropologia Social da Universidade de Brasília e da Universidade Federal do Paraná. A primeira parte traz “Histórias do Contato” com textos sobre o povo Apiaká (Giovanna Tempesta), sobre o contato interétnico no rio Apaporís (Luís Cayón) e sobre índios e seringueiros no Alto Juruá (Paulo Roberto Homem de Góes). A segunda parte discute “Agencialidades”, com enfoque especial sobre projetos indígenas; a terceira enfoca “Políticas”; a quarta “Imagens”; o livro encerra com uma parte dedicada a pesquisas em andamento por alunos de graduação.

Temáticas. Revistas dos Pós-Graduandos em Ciências Sociais, ano 16, no. 31/32, Campinas, 2008, 329p. O dossiê “Estudos Indígenas”, organizado por Olendina Cavalcante e Levi Marques Pereira, traz artigos dos seguintes autores: Felipe Vander Velden, sobre o sal e a transformação dos corpos entre os Karitiana; João Veridiano sobre o célebre casamento entre Jakuí Kalapalo e o sertanista Ayres Câmara Cunha; Fabiane Vinente sobre comida e identidade entre as mulheres indígenas nas áreas urbanas do alto rio Negro; Ilana Goldstein sobre gênero e identidade numa mostra de arte Inuit em São Paulo; Raquel Pereira Rocha sobre os Apinajé o cenário multiétnico atual; Levi Marques Pereira sobre a socialidade na família Kaiowa; Aparecida Schmidt-Madsen a luta de grupos Waimiri-Atroari e Kayapó contra o "desenvolvimento forçado" na década de 80; Lucybeth Arruda sobre brindes e atração num Posto Indígena do SPI no MT no início do século XX; Olendina Cavalcante sobre a memória Sapará e a etnopolítica no rio Uraricoera, RR. O dossiê inclui duas resenhas de livros recentes sobre povos indígenas no alto rio Negro.

Tempo, vol. 12, no. 23, Niterói, jul.-dez. 2007, 224p. A consagrada revista do Departamento de História da UFF inclui neste número o dossiê “Os Índios na História: abordagens interdisciplinares”. Organizado por Maria Regina Celestino de Almeida, autora da apresentação, o dossiê contêm cinco artigos: de Maria Leônia Chaves de Resende e Hal Langfur sobre a resistência dos índios em Minas Gerais no século XVIII; de Elisa Frühauf Garcia sobre o projeto pombalino em sua dimensão meridional, enfocando a introdução da língua portuguesa entre os índios de Rio Grande; de Patrícia Melo Sampaio sobre as estratégias políticas de lideranças indígenas face às mudanças na legislação na Amazônia no fim do século XVIII; de Guillaume Boccara sobre os processos de territorialização e reestruturação entre os Mapuche no Chile durante o período colonial; e de João Pacheco de Oliveira, que propõe uma “historização radical” ao abordar o destino de objetos etnográficos deslocados de um contexto para outro bem diferente, o do museu. Este número da revista traz, ainda, a resenha do livro de Cristina Pompa (por Ronald Raminelli) e uma pequena entrevista com Serge Gruzinski sobre a história dos indios na América.

Tenório, Maria Cristina, org. Pré-História da Terra Brasilis. Rio de Janeiro: Editora UFRJ, 1999. Destinado a um público geral, este livro traz 28 textos dos principais estudiosos da arqueologia brasileira, abordando as principais questões que marcam este campo: a relação entre arqueologia, pré-história e história; a origem do povoamento das Américas; as evidências em torno do "paleoíndio"; os vestígios dos primeiros caçadores-coletores, com destaque para as pinturas rupestres; os achados e as controvérsias em torno dos sambaquis; a pesquisa arqueológica em sítios de horticultores; o problema da preservação do patrimônio arqueológico no Brasil.

Territórios e Fronteiras, vol. 3, no. 2, Cuiabá, jul.-dez. 2002. Revista editada pelo Programa de Pós-Graduação em História da UFMT, este número é dedicado integralmente aos estudos indígenas, com destaque para aspectos da história de povos mato-grossenses.

Vainfas, Ronaldo; Santos, Georgina Silva dos; e Neves, Guilherme Pereira das, orgs. Retratos do Império: trajetórias individuais no mundo português nos séculos XVI e XIX. Niterói: Editora da UFF, 2006, 438p. Coletânea de 24 estudos biográficos, a maioria sobre temas relacionados à América Portuguesa. De interesse para a história indígena, destacam-se o texto de Maria Regina Celestino de Almeida sobre lideranças indígenas a partir do exemplo de Araribóia; o estudo de Iris Kantor sobre os escritores beneditinos Domingos Loreto Couto e Gaspar da Madre de Deus, que abordaram de maneira original o lugar dos índios na história da América; e o trabalho de Ronaldo Vainfas sobre o jesuíta renegado Manuel de Morais, cuja trajetória inclui a presença indígena em vários registros.  

Vangelista, Chiara, org. Fronteras, Etnías, Culturas: América Latina, siglos XVI-XX. Quito: Abya-Yala, 1996, 258p. Esta coletânea reúne os trabalhos apresentados num simpósio do Congresso de Americanistas de 1994 sobre fronteiras e grupos indígenas na América do Sul. Sobre o Brasil, há textos de Regina Gadelha, Denise Maldi, Chiara Vangelista, Ettore Finazzi-Agrò, John Monteiro e Loiva Félix.

Viveiros de Castro, Eduardo, e Carneiro da Cunha, Manuela, orgs. Amazônia: Etnologia e História Indígena. São Paulo: Núcleo de História Indígena e do Indigenismo, 1993. Importante coletânea traz 15 estudos sobre história, organização social, cosmologia e natureza, enfocando várias sociedades indígenas na Amazônia. Na parte sobre "História e Historicidade", destacam-se os trabalhos de Terence Turner sobre a relação entre história e cosmologia entre os Kayapó, de Bruna Franchetto sobre os discursos cerimoniais dos Kuikuro e de Rafael Menezes Bastos sobre a relação entre música e história entre os Kamayurá. Os textos ilustram de forma representativa algumas das tendências atuais da antropologia histórica.

Whitehead, Neil L., org., Histories and Historicities in Amazonia. Lincoln: University of Nebraska Press, 2003, 236p. Nesta coletânea de estudos originais enfocando sobretudo o norte da Amazônia, os autores apresentam uma rica discussão da história e das historicidades indígenas, lançando mão de uma documentação variada e de narrativas orais. Segundo o organizador, um dos objetivos dos ensaios é de mostrar como diferentes aspectos ligados à cultura e à natureza podem contribuir para a formação de uma consciência histórica. Além da introdução de Whitehead, são de especial interesse os estudos de Nádia Farage sobre uma rebelião entre os Wapishana da Guiana e seus desdobramentos no Brasil; de Silvia Vidal sobre a “cartografia ameríndia” no Noroeste da Amazônia, mostrando como a memória e a história podem ser inscritas na paisagem física; de Loretta Cormier sobre a historicidade Guajá (Maranhão), buscando mostrar como os Guajá recriam e transformam eventos do passado mediante rituais e sonhos; e um estudo sobre o papel da aguardente na colonização do Orenoco, de Franz Scaramelli e Kay Tarble.

Wilde, Guillermo, org. Saberes de la Conversión: jesuítas, indígenas e imperios coloniales em las fronteras de la Cristandad. Buenos Aires: Editorial SB, 2011, 592p. Excelente coletânea de textos preparados originalmente para as XII Jornadas Internacionais sobre as Missões Jesuíticas, o livro reúne 24 estudos originais sobre as relações entre jesuítas e diferentes povos do mundo, com destaque para as populações ameríndias na América do Sul. Os estudos abrangem uma grande variedade de temas, incluindo a escrita, línguas gerais, saberes científicos, relíquias, música e relações políticas. Uma última seção traz trabalhos sobre os jesuítas em outros contextos, abarcando o mundo muçulmano, China, Japão e Índia.

Wright, Robin, org. Transformando os Deuses: os múltiplos sentidos da conversão entre os povos indígenas no Brasil. Campinas: Editora da Unicamp, 1999, 547p. Coletânea de ensaios enfocando a presença de missões religiosas em comunidades indígenas, sobretudo a partir da perspectiva dos conversos. Vários artigos abordam o assunto dentro de um contexto histórico, com ênfase na experiência recente. São 12 estudos de casos de conversão entre povos indígenas, incluindo um texto sobre a obra anchietana durante o século XVI. O livro inclui um extenso (e utilíssimo) levantamento das organizações religiosas atuando em áreas indígenas.

Wright, Robin, org. Transformando os Deuses, Volume II: igrejas evangélicas, pentecostais e neopentecostais entre os povos indígenas no Brasil. Campinas: Editora da Unicamp, 2004, 407p. Dando continuidade ao item anterior, esta coletânea abrange 10 estudos originais, além de um ensaio geral do organizador, sobre a presença e o impacto das igrejas protestantes entre diferentes sociedades indígenas no Brasil. Além de documentar o fenômeno da proliferação destas igrejas, através de documentos das igrejas além de narrativas e depoimentos indígenas, vários capítulos também trazem aportes para algumas discussões que informam o debate em torno da história indígena. É interessante a exploração de diários e de outros registros feitos por missionários.

3. Seleção de Obras Reeditadas (voltar ao início)

Abbeville, Claude d’, OFMCap. História da Missão dos Padres Capuchinhos na Ilha do Maranhão e suas Circunvizinhanças. 2a ed. Trad. César Augusto Marques. São Paulo: Editora Siciliano, 2002 (Série Maranhão Sempre), 436p. Publicado em Paris em 1614, a História do capuchinho Abbeville tem duas traduções em português, a primeira de César Marques (1874) e a segunda, mais divulgada, de Sérgio Milliet (1945), cada qual, segundo o prefácio de Sebastião Moreira Duarte, "bem longe de ser perfeita". O relato é sumamente valioso não apenas pela descrição minuciosa dos Tupinambá do Maranhão, como também pelas narrativas indígenas embutidas no texto. Cabe ainda refletir sobre este texto enquanto relato histórico e não propriamente etnográfico.

Acuña, Cristóbal de, S.J. Novo Descobrimento do Grande Rio das Amazonas. Trad. Helena Ferreira. Rio de Janeiro: Agir, 1994, 180p. Nova tradução da crônica da expedição comandada por Pedro Teixeira entre 1637 e 1639, escrita por um dos jesuítas que acompanharam a viagem de regresso, de Quito à boca do Amazonas. Encomendado pela coroa espanhola, o relato apresenta detalhes sobre as populações indígenas abordadas na viagem e sobre as atividades de apresamento conduzidas pelos portugueses de Belém e São Luís. A boa introdução assinada pela historiadora Maria Yedda Leite Linhares fornece o contexto para a leitura deste notável relato.

Anchieta, José de, S.J. Poemas: lírica portuguesa e tupi. Org. Eduardo Navarro. 2a ed. São Paulo: Martins Fontes, 2004 (Coleção Poetas do Brasil), 226p. Esta obra traz uma amostra da poesia anchietana, incluindo textos em tupi.

Anônimo. História da Conquista da Paraíba. Brasília: Senado Federal, 2006 (Edições do Senado Federal 73), 120p. Reedição do documento “Sumário das Armadas”, escrito por um jesuíta na Paraíba na década de 1580, narrando a conquista da Paraíba por iniciativa de particulares. Aborda a ação dos Potiguar e chega à conclusão de que “o verdadeiro sangue e substância de se povoar e se sustentar o Brasil é com o mesmo gentio da terra, ganhado por amizade...” A edição reproduz o texto e as notas (de pouca utilidade) da publicação original na Revista do IHGB.

Azevedo, João Lucio de. História de Antônio Vieira. [4ª ed.]. 2 vols. São Paulo: Alameda, 2008, 471, 492p. Publicada originalmente em 1918, a reedição desta importante biografia de Vieira reproduz o texto da segunda edição revista de 1931. Dividida em capítulos cronológicos e temáticos, a biografia faz frequentes referências ao envolvimento de Vieira com os índios e com a política indigenista. É de especial interesse para a história dos índios o alentado capítulo “O Missionário, 1651-1661”, dando conta das viagens pelos rios da Amazônia e das disputas com os colonos em torno do cativeiro dos índios. O livro inclui apêndices documentais com vários documentos referentes aos índios.

Azevedo, João Lucio de. Os Jesuítas e o Grão-Pará, suas missões e a colonização: bosquejo historico com varios documentos ineditos. Edição Facsimilar. Belém: SECULT, 1999 (Série Lendo o Pará, 20), 366p. Edição facsimilar do estudo do historiador português, publicado originalmente em Lisboa pela Livraria Editora Tavares, Cardoso & Irmão, em 1901. Embora superada em certos aspectos pela obra de Serafim Leite, o livro de Azevedo narra, de forma detalhada, a história das atividades dos jesuítas junto aos índios na Amazônia durante os séculos XVII e XVIII. A edição carece de um material de apoio para situar o contexto da obra, que serviu de referência para vários autores posteriores.

Bettendorff, João Felipe, S.J. Crônica dos Padres da Companhia de Jesus no Estado do Maranhão. Ed. facsimilar. Belém: Fundação Cultural do Pará/SECULT, 1990 (Série Lendo o Pará, 5), 697p. Escrita no apagar do século XVII, a crônica do padre Bettendorff constitui uma das obras mais ricas para a história do primeiro século da Amazônia portuguesa, com muitas informações sobre a conquista, as expedições de apresamento, as missões e as respostas dos índios às atividades europeias. Esta edição reproduz um facsímile da versão impressa pela primeira vez na Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro em 1910, "com suas lacunas e incorreções", conforme esclarece Vicente Sales na nota prévia. Apesar de carecer de notas esclarecedoras e de um cuidado maior com a edição, a Crônica deste jesuíta luxemburguês proporciona uma obra de consulta obrigatória para os estudiosos da Amazônia colonial.

Borba, Telêmaco. Atualidade Indígena no Paraná. Organização Raphael Guilherme Gonçalves de Carvalho. Curitiba: Instituto Memória, 2009, 196p. Publicado pela primeira vez em 1908, o livro reúne textos do início da década de 1880, época em que o autor desempenhava funções junto aos aldeamentos na Província do Paraná. Os textos incluem sua “Breve Notícia sobre os Índios Caingangs”, com notícias sobre mitos kaingang e um vocabulário em português-coroado (Kaingang), a partir das informações reunidas no aldeamento de São Pedro de Alcântara, no qual foi diretor em décadas anteriores. Também publicou pequenos vocabulários português-cayugua (Guarani) e português-chavante (Oti)

Brandão, Ambrósio Fernandes. Diálogos das Grandezas do Brasil. 3a ed. Organização e notas de José Antônio Gonsalves de Mello. Recife: Editora Massangana, 1996, 240p. Baseada no manuscrito arquivado em Leiden, trata-se da edição feita pelo historiador pernambucano Gonsalves de Mello, há muito esgotada. O texto, do início do século XVII, é composto de diálogos entre Brandônio, um português experiente em assuntos da terra, e Alviano, recém-chegado ao Novo Mundo. No último diálogo, Brandônio explica várias questões relacionadas aos índios, proporcionando um resumo do estado do conhecimento da época.

Cardim, S.J., Fernão. Tratados da Terra e da Gente do Brasil. Transcrição, edição e notas de Ana Maria de Azevedo. Lisboa: Comissão Nacional para a Comemoração dos Descobrimentos Portugueses, 1997, 337p. Trata-se de uma nova edição dos textos deste jesuíta sobre os índios, transcritos dos originais arquivados em Évora, com um estudo preliminar e notas muito esclarecedoras, colocando o texto em diálogo com a atual historiografia e etnologia. São três tratados: "Do Clima e Terra do Brasil", que é uma espécie compêndio de saberes indígenas; "Do Princípio e Origem dos Índios do Brasil", que inclui uma descrição detalhada das práticas culturais dos Tupi e um esboço da diversidade étnica; e a "Narrativa Epistolar de uma Viagem e Missão Jesuítica", o que apresenta um relato esmiuçado da viagem do visitador jesuíta Cristóvão de Gouveia pelas missões do Brasil entre 1583 e 1590, com descrições preciosas dos índios que viviam nessas aldeias.

Cardim, S.J., Fernão. Tratados da Terra e da Gente do Brasil. Organização de Ana Maria de Azevedo. São Paulo: Hedra, 2009, 220p. Edição de bolso do item anterior.

Carvajal, Frei Gaspar de. Relatório do Novo Descobrimento do Famoso Rio Grande Descoberto pelo Capitão Francisco de Orellana. Edição bilíngue organizada por Guillermo Giucci. Trad. A. Durão e M. S. Cicaroni. Rio de Janeiro: Scritta Editorial, 1992 (Coleção Orellana, 6), 113p. Crônica da expedição comandada por Orellana que percorreu a Amazônia do Rio Napo até o Atlântico em 1541-42, o relato do dominicano Carvajal recebe uma edição bilíngue com notas esclarecedoras do historiador Guillermo Giucci. A tradução nem sempre é ágil, porém a obra é importante pelos indícios que traz a respeito das populações que viviam às margens do Amazonas, pelos episódios de confronto entre espanhóis e índios e pelas informações sobre os povos que não foram vistos, inclusive o das amazonas.

Daniel, João, S.J. Tesouro Descoberto no Máximo Rio Amazonas. 2 vols. Rio de Janeiro: Contraponto, 2004, 597, 622p. Reunida integralmente pela primeira vez nos Anais da Biblioteca Nacional em 1976, a obra do padre Daniel é, simplesmente, fabulosa. Fundamentado em sua longa vivência na Amazônia (1741-1757) e escrito durante sua igualmente longa experiência de cárcere em Portugal após a expulsão dos jesuítas da América Portuguesa, o Tesouro Descoberto constitui um vasto compêndio de informações sobre a geografia, a flora, a fauna, os índios, a agricultura, as missões e a navegação fluvial, entre outros assuntos. Embora tenha sido aproveitada, citada e comentada em inúmeros estudos, a obra do padre Daniel ainda está a espera de um estudo definitivo, sobretudo no que diz respeito à história dos índios. A transcrição é cuidadosa mas a edição carece de um índice identificando nomes, lugares e assuntos.

Debret, Jean-Baptiste. Les Indiens du Brésil: illustrations & commentaires de Jean-Baptiste Debret. Seleção e introdução de Jean-Paul Duviols. Paris: Éditions Chandeigne, 2005, 151p. Por incrível que pareça, segundo o autor da introdução, a obra Voyage historique et pittoresque au Brésil (Paris, 1834) até hoje não viu uma segunda edição em francês. Este livro, editado com esmero, repete a fórmula do volume Rio de Janeiro, la ville métisse, neste caso extraindo da Voyage as litogravuras de Debret referentes aos índios, acompanhadas pelos comentários originais do autor-artista. O livro traz um pequeno anexo com um mapa, uma bibliografia de referência e uma lista das ilustrações.

Denis, Ferdinand. Uma Festa Brasileira Celebrada em Rouen em 1550: teogonia dos antigos povos do Brasil, um fragmento do século XVI. Tradução do francês Júnia Guimarães Botelho. Tradução do tupi Eduardo de Almeida Navarro. São Bernardo do Campo: Bazar das Palavras-Usina das Ideias, 2007, 233p.  Edição bilíngue com o original em francês e a tradução em português do livro editado em Paris em 1850, reproduz três documentos originalmente publicados por Denis: a breve Suntuosa Entrada, impresso anônimo de 1551 descrevendo a celebração em Rouen, que incluiu a representação de uma batalha entre os Tupinambá e os Tabajara; um fragmento antes inédito da Cosmografia de André Thevet sobre a teogonia tupi; e uma seleção de poemas em tupi, do jesuíta Cristóvão Valente, com nova tradução de Eduardo Navarro. Os apêndices incluem o termo de batismo de Catarina Paraguaçu, uma breve nota biográfica sobre Ferdinand Denis e uma bibliografia das obras escritas por Denis sobre o Brasil.

Edwards, W. H. Voyage up the River Amazon Including a Residence at Para in 1846. Santa Barbara: The Narrative Press, 2004, 214p. (Série Historical Adventure and Exploration 94). Reedição da narrativa de viagem publicada pela primeira vez em 1847, o livro do norte-americano Edwards é um misto de relato de naturalista e texto promovendo a imigração estrangeira para a Amazônia. Estranhamente inédito em português, o relato inclui observações pontuais porém relevantes para a história dos índios, a despeito da pouca importância que o autor dá às populações abordadas e apesar de alguns equívocos decorrentes dos conhecimentos limitados que o autor mostra possuir. A edição não traz informações sobre o autor e a obra, além de cometer um erro grosseiro ao situar a viagem no fim da Guerra Civil americana, a qual terminou quase vinte anos mais tarde.

Évreux, Yves d’. História das Coisas Mais Memoráveis Ocorridas no Maranhão nos Anos de 1613 e 1614. Tradução de Marcella Mortara. Rio de Janeiro: Fundação Darcy Ribeiro, 2009 (Coleção Franceses no Brasil, séculos XVI e XVII, vol. 4), 468p. Como nos demais livros desta série, há poucas informações editoriais para ajudar a situar esta edição. Trata-se de uma tradução nova, bastante superior à tradução que costuma ser utilizada (de César Augusto Marques), baseada na edição crítica realizada por Ferdinand Denis em 1864, portanto a introdução e as notas (de Denis) refletem saberes superados desde há muito. Um breve ensaio de Mércio Gomes comenta o contexto da obra, que merece a atenção dos estudiosos pelas importantes observações sobre os povos indígenas da região do Maranhão, sobre as relações destes com os europeus e, por fim, sobre a missão em si. 

Evreux, Yves d’, OFMCap. Viagem ao Norte do Brasil Feita nos Anos de 1613 a 1614. 3a ed. Trad. César Augusto Marques. São Paulo: Editora Siciliano, 2002 (Série Maranhão Sempre), 436p. Reedição da tradução publicada em 1874, acrescida de algumas notas de Sebastião Moreira Duarte, basicamente corrigindo deslizes na tradução de Marques. Apesar do título atribuído no século XIX, não se trata de um relato de viagem e sim de dois tratados sobre o Maranhão, o primeiro descrevendo os costumes dos Tupinambás e o segundo descrevendo a missão. Talvez o aspecto mais interessante destes textos resida na reprodução de relatos e discursos indígenas, apresentados na forma de diálogos ("conferências", na tradução). Também é importante a reprodução de um fragmento da Doutrina Cristã, cotejando a "língua dos Tupinambás" com o francês numa tradução interlinear.

Fernandes, Florestan. A Investigação Etnológica no Brasil e outros ensaios. 2ª edição revista. Apresentação de Edgar de Assis Carvalho. São Paulo: Global, 2009, 320p. Publicado originalmente em 1975, este livro reúne cinco ensaios etnológicos escritos por Fernandes entre 1946 e 1964, incluindo estudos sobre a reação tupi à conquista, a educação entre os Tupinambá, a trajetória de Tiago Marques Abiporeu, as tendências teóricas da pesquisa etnológica e o valor etnográfico das fontes coloniais. Inclui o famoso quadro sinóptico das observações registradas pelos “cronistas”.

Ferreira, Alexandre Rodrigues. Viagem Filosófica ao Rio Negro. Organizado por Francisco Jorge dos Santos, Auxiliomar Ugarte e Mateus Coimbra de Oliveira. 2a ed. Manaus: Editora da Universidade Federal do Amazonas, 2007, 665p. Reúne e reorganiza os diários escritos por Alexandre Rodrigues Ferreira em sua viagem pela Capitania do Rio Negro durante a década de 1780, originalmente publicados no Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro e reeditados, no século XX, pelo Museu Goeldi. Esta edição atualiza a ortografia e normatiza o uso de etnônimos, porém não se trata de uma edição crítica pela ausência de uma introdução ou de notas explicativas à luz de conhecimentos recentes a respeito dos temas e problemas levantados pelo texto de Ferreira. Inclui uma documentação complementar e índices remissivos.

Franco, Afonso Arinos de Melo. O Índio Brasileiro e a Revolução Francesa: as origens brasileiras da teoria da bondade natural. 3a ed. Rio de Janeiro: Topbooks, 2000, 318p. Ensaio publicado originalmente em 1937, este livro trata de forma pioneira e erudita a elaboração da imagem do índio no pensamento europeu entre os séculos XVI e XVIII. A reedição é oportuna, pois permite estabelecer um diálogo com a bibliografia mais recente sobre o tema, à qual esta obra antiga não fica devendo. Para além da tese central sobre a "teoria da bondade natural" e a sua ligação com a Revolução Francesa, o livro aborda alguns autores pouco conhecidos no Brasil e apresenta uma discussão fascinante sobre o impacto dos índios que viajaram para a Europa durante este período.

Franklin, Adalberto, e Carvalho, João Renôr F. de, orgs. Francisco de Paula Ribeiro, Desbravador dos Sertões de Pastos Bons: A Base Geográfica e Humana do Sul do Maranhão. Imperatriz: Ética, 2005, 286p. Reedição, sem correções, dos textos publicados originalmente na Revista do IHGB, com o acréscimo de alguns documentos inéditos sobre as atividades de Paula Ribeiro nos sertões do rio Tocantins entre 1798 e 1820, bem como um índice onomástico remissivo bastante útil. Os principais documentos, o “Roteiro da Viagem”, a “Descrição do Território de Pastos Bons” e a “Memória sobre as Nações Gentias” são apresentados pelos organizadores com textos introdutórios que ajudam a contextualizar estes documentos importantes para a história dos povos indígenas do Maranhão, Tocantins e Goiás.

Gândavo, Pero Magalhães. Tratado da Terra do Brasil (5a ed.) e História da Província de Santa Cruz (12a ed.) Edição conjunta organizada e prefaciada por Leonardo Dantas Silva. Recife: Massangana, 1995, 128p. Reedição da primeira obra impressa em português sobre o Brasil (História), de 1576, junto com um texto que permaneceu inédito até o século XIX. Fonte importante para avaliar os conhecimentos vigentes na segunda metade do século XVI a respeito das populações indígenas. O prefácio inclui informações úteis sobre o autor e as edições anteriores da obra.

Gândavo, Pero de Magalhães. A Primeira História do Brasil: História da província de Santa Cruz a que vulgarmente chamamos Brasil. Organização, introdução e notas de Sheila Moura Hue e Ronaldo Menegaz. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2004, 207p. Com base no texto impresso de 1576, esta edição “moderniza” o texto do gramático luso-flamengo, mexendo não apenas na ortografia e pontuação, como também na construção sintática, com o intuito de facilitar a leitura. Algumas das anotações são esclarecedoras, sobretudo no que diz respeito a informações botânicas e zoológicas, porém a parte que refere aos índios aproveita pouco dos grandes avanços na bibliografia dos últimos anos para elucidar as questões suscitadas pela leitura. A descrição do “gentio” (capítulos 10-12), com ênfase especial sobre o ritual antropofágico, proporciona uma leitura importante para o conhecimento da história dos índios na segunda metade do século XVI.

Gandavo, Pero de Magalhães. História da província de Santa Cruz. Introdução e notas de Clara Santos e Ricardo Valle. São Paulo: Hedra, 2008, 156p. Edição de bolso que reproduz, com atualização ortográfica, o texto publicado em 1576. Os organizadores apresentam um ensaio introdutório a partir de um enfoque da teoria literária e as notas são mais úteis quando falam de questões de forma, estilo e retórica. O índice temático ajuda a localizar trechos que abordam os índios.

Gondim, Joaquim. A Pacificação dos Parintintins: Koró de iuirapá. Ed. facsimilar. Manaus: Edições Governo do Estado, 2001, 67p. Edição facsimilar do livro escrito pelo integrante da equipe do SPI do Amazonas, é uma narrativa muito interessante sobre a expedição chefiada pelo "auxiliar" Curt Nimuendaju entre 1922 e 1924, aliás baseada em grande parte no relatório do sertanista. Em anexo há um vocabulário, desenhos feitos pelos índios, uma partitura e uma sequência de fotografias.

Knivet, Anthony. As Incríveis Aventuras e Estranhos Infortúnios de Anthony Knivet. Organização, introdução e notas de Sheila Moura Hue. Tradução de Vivien K. Lessa de Sá. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2007, 255p. Publicado pela primeira vez em 1625 por Samuel Purchas, o relato de Knivet traz informações importantes sobre os índios de Rio de Janeiro e São Vicente nos anos finais do século XVI. Esta nova tradução é baseada na primeira edição em inglês e a introdução é esclarecedora no que diz respeito à trajetória deste inglês que conviveu com diferentes grupos indígenas. As notas são úteis até certo ponto, até porque não levaram em conta perspectivas etnológicas recentes sobre os Tupinambá e outros grupos abordados pelo autor. A edição inclui ilustrações que acompanharam a edição holandesa de Knivet por Pieter van der Aa, do início do século XVIII.

Leite, Serafim, S.J. História da Companhia de Jesus no Brasil. 2a ed. 4 vols. São Paulo: Loyola, 2004, 2088p. Reedição dos 10 volumes publicados em Lisboa e Rio de Janeiro entre 1938 e 1950, trata-se de um rico manancial de informações e fontes para a história dos índios na América Portuguesa. Se a abordagem do autor pode parecer um tanto ultrapassada e tendenciosa, é inegável a sua grande contribuição ao transcrever inúmeros documentos (cartas, relatos detalhados, informes estatísticos, entre outros tipos) e ao elencar, um a um, os "escritores" jesuítas e seus escritos, fornecendo um precioso manual para pesquisas no Arquivo dos Jesuítas, na Biblioteca Pública de Évora e em várias outras instituições. Um CD-Rom com mapas e ilustrações acompanha os volumes impressos.

Léry, Jean de. Histoire d’un Voyage en Terre de Brésil. Estabelecimento do texto, introdução e notas de Frank Lestringant. Paris: Librairie Générale Française, 1994 (Série Bibliothèque Classique), 670p. Edição de bolso ("Livre de Poche") baseado na segunda edição publicada em Genebra em 1580, esta é a versão definitiva do livro clássico de Léry, cuidadosamente anotada por Frank Lestringant. Esta versão inclui um prefácio de Claude Lévi-Strauss, apresentado em forma de entrevista, no qual o antropólogo sugere a leitura de Léry não como etnologia e sim como uma "grande obra literária". O organizador acrescenta, ainda, uma cronologia detalhada e uma bibliografia bastante útil. É importante notar que o cotejo desta edição com a principal versão traduzida para o português (por Sérgio Milliet) revela erros e lacunas significativas.

Léry, Jean de. História de uma Viagem Feita à Terra do Brasil, também chamada América. Tradução de Maria Ignez Duque Estrada. Rio de Janeiro: Fundação Darcy Ribeiro, 2009 (Coleção Franceses no Brasil, séculos XVI e XVII, vol. 3), 294p. Além de ajustar alguns problemas que aparecem na tradução anterior de Sérgio Milliet, esta nova edição do importante relato francês é enriquecida pelo ensaio introdutório e notas linguísticas de Aryon Rodrigues. A introdução de Carlos Moreira Neto comenta rapidamente a atualidade da obra de Léry, chamando a atenção para as observações do francês que são de particular interesse para a etnologia.

Manizer, H. H. Os Kaingang de São Paulo. Trad. Juracilda Veiga. Campinas: Ed. Curt Nimuendajú, 2006 (Série Etnografia e História), 64p. Publicado postumamente nos anais do Congresso de Americanistas em 1930, o estudo de Manizer sistematiza as observações realizadas durante uma estada de dois meses num posto indígena no interior de São Paulo, em 1914-1915. 

Marcoy, Paul. Viagem pelo Rio Amazonas. Tradução, introdução e notas de Antonio Porro. Manaus: Ed. Universidade do Amazonas/Edições Governo do Estado, 2001, 313p. Trata-se da parte final do relato de viagem inédito em português, Voyage à travers l’Amérique du Sud, publicado originalmente em fascículos na revista Le Tour du Monde entre 1862 e 1867, saindo como livro em dois volumes em 1869. Neste trecho da viagem, que começa na fronteira entre Peru e Brasil por volta de abril de 1847 e que termina quatro meses e 3.300 quilômetros depois, o autor descreve vários aspectos da história e dos costumes dos índios. Diferentemente de outros viajantes dessa época, Marcoy (cujo nome verdadeiro era Laurent Saint-Cricq) não manifestava pretensões científicas, porém as suas observações a respeito da história e da condição atual dos índios e mestiços da Amazônia mostram uma sensibilidade rara. O organizador do volume reproduz as anotações feitas em edições anteriores (francesa e inglesa) e acrescenta informações bastante pertinentes. Também constam as ilustrações originais, incluindo imagens de vilas, ruínas e tipos humanos.

Melatti, Julio Cezar. Índios do Brasil. 9ª edição. São Paulo: Edusp, 2007, 304p. Síntese clássica publicada pela primeira vez em 1970, a nona edição de Índios do Brasil traz revisões, atualizações e acréscimos, proporcionando uma visão de conjunto sobre aspectos arqueológicos, históricos, etnográficos e políticos da presença indígena no Brasil. A obra permanece uma das melhores introduções à temática indígena para não-especialistas.

Montaigne, Michel de. Dos Canibais. Tradução e apresentação de Luiz Antonio Alves Eva. Organização de Plínio Junqueira Smith. São Paulo: Alameda Casa Editorial, 2009 (Série A Descoberta do Pensamento), 80p. Nova tradução do célebre ensaio do filósofo francês, escrito em 1578-79. Entre os saberes da antiguidade e as observações sobre a América reveladas no próprio século XVI, Montaigne realiza uma reflexão sobre a humanidade no Velho e Novo Mundo.

Otoni, Teófilo. Notícia sobre os Selvagens do Mucuri. Org. Regina Horta Duarte. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2002, 184p. O livro reedita dois textos do político mineiro Teófilo Benedito Otoni, o primeiro escrito na forma de uma carta sobre os Botocudos, endereçada a Joaquim Manuel de Macedo (publicado na Revista do Instituto Histórico Brasileiro em 1859), e o segundo na forma de uma Memória Justificativa sobre a colonização do Mucuri (publicado no Rio de Janeiro no mesmo ano). A Notícia é um documento muito rico que denuncia as atrocidades que marcaram as relações entre índios, brancos e mestiços no Vale do Mucuri em meados do século XIX. A introdução da organizadora do volume fornece um bom guia para a leitura dos textos.

Reis, Arthur Cézar Ferreira. Lobo d’Almada: um Estadista Colonial. 3a ed. revista. Manaus: Academia Amazonense de Letras, 2006 (Série Clássicos da Academia), 302p. Publicado originalmente em 1939, o livro traz um estudo biográfico do coronel Manoel da Gama Lobo d’Almada, governador da Capitania do Rio Negro e responsável pela demarcação de limites no final do século XVIII. Grande parte do livro é composta da transcrição de 154 cartas e ofícios escritos entre 1770 e 1800. Embora não seja o principal destaque da introdução, a presença indígena é constante nas correspondências, abrangendo as expedições relacionadas à demarcação dos limites, a participação nos corpos militares e a resistência dos Munduruku, entre outros temas.

Roosevelt, Theodore. Through the Brazilian Wilderness. Edição Facsimilar. Mechanicsburg: Stackpole Books, 1994 (Série Classics of American Sport), 410p. Trata-se da reprodução do livro editado pela primeira vez em 1914, relatando a expedição do ex-presidente norte-americano em companhia de Rondon. Escrita em tom de aventura, a narrativa inclui observações sobre os índios, em especial os Nambiquara, e sobre o caráter mestiço do povo brasileiro. Ao comentar a relação amistosa entre os Nambiquara e Rondon, Roosevelt observa, com simplicidade, que o célebre indigenista "nunca matou um sequer". A narrativa é acompanhada de fotografias muito interessantes, além de uma apresentação escrita pelo bisneto Tweed Roosevelt, que em 1992 retraçou o percurso do ex-presidente. Tweed sublinha não apenas o talento deste prodigioso escritor (que teria escrito mais de 150 mil cartas durante a vida), como também esclarece alguns detalhes a respeito da relação nada tranquila entre o velho Roosevelt e Rondon.

Ruiz de Montoya, Antonio, S.J. Conquista Espiritual feita pelos religiosos da Companhia de Jesus nas Províncias do Paraguai, Paraná, Uruguai e Tape. Trad. Arnaldo Bruxel e Arthur Rabuske. 2ª ed. Porto Alegre: Martins Livreiro, 1996, 296p. Publicada originalmente em 1639 com o intuito de persuadir a coroa espanhola a tomar medidas contra os sertanistas da América Portuguesa que atacavam as reduções, a Conquista Espiritual é um dos livros mais notáveis sobre os povos Guarani. Esta edição coloca o texto numa linguagem acessível, porém carece de notas explicativas, índices e glossário, o que esclareceria a leitura deste texto extraordinário.

Sousa, Gabriel Soares de. Tratado Descritivo do Brasil em 1587. Organização Fernanda Trindade Luciani. São Paulo: Hedra, 2010, 418p. Edição de bolso desta que seria a maior das fontes sobre povos indígenas escritas no século XVI. A organizadora cotejou a primeira “edição castigada” feita por Varnhagen em 1851 com a edição de 1879 (publicada um ano após a morte de Varnhagen) e com uma versão manuscrita pertencente ao acervo da Biblioteca Guita e José Mindlin. Traz uma nova introdução, que faz uma leitura dos textos de Soares de Sousa à luz de uma bibliografia atual. Além de conservar as notas e comentários de Varnhagen no fim do texto, a organizadora agrega notas informativas que ajudam no esclarecimento da terminologia empregada pelo autor e que apontam para diferenças entre o texto estabelecido por Varnhagen e o manuscrito da Biblioteca Mindlin. 

Staden, Hans. Primeiros Registros Escritos e Ilustrados sobre o Brasil e seus Habitantes, São Paulo: Editora Terceiro Nome, 1999, 120p. Com a tradução de Angel Bojadsen, esta nova edição da História Verídica reproduz o texto integral e as ilustrações originais da edição de Marburg de 1557. Inclui um texto introdutório assinado por Fernando Novais.

Staden, Hans. Hans Staden’s True History: an account of cannibal captivity in Brazil. Organizado e traduzido por Neil Whitehead e Michael Harbsmeier. Durham: Duke University Press, 2008, civ, 208p. Trata-se de uma nova tradução e edição crítica em inglês do livro de Staden, acompanhado por um denso estudo introdutório do antropólogo Neil Whitehead. A introdução chama a atenção para a necessidade de rever o relato de Staden dentro do emergente contexto colonial no qual foi produzido. Mas também enfoca de maneira pertinente a importância do texto de Staden para os debates etnológicos e literários que atravessaram o século XX, com especial ênfase no problema da antropofagia. Ao dialogar com uma vasta bibliografia sobre relatos de viagem e observação etnográfica, Whitehead revaloriza o estatuto de Staden enquanto observador, cuja experiência de náufrago e cativo colocaram-no numa posição privilegiada para conhecer os índios.

Staden, Hans. Warhaftige Historia: zwei Reisen nach Brasilien (1548-1555)/História de duas viagens ao Brasil. Edição crítica de Franz Obermeier. Tradução ao português Guiomar Carvalho Franco. Kiel: Westensee Verlag, 2007 (Fontes Americanae 1), lxvi, 410p. Esta edição do célebre livro quinhentista oferece vários elementos críticos para o estudo das populações indígenas que fazem parte da obra de Staden. Apesar de apresentada como uma edição bilíngue, há notáveis diferenças entre os aportes críticos em alemão e a tradução para o português. A versão em alemão inclui uma alentada introdução do historiador Franz Obermeier, fornecendo um contexto histórico e crítico para a leitura da obra. Segue-se um facsímile da edição original de Marburg, de 1557, extensamente anotada por Obermeier, com informações esclarecedoras sobre lugares, nomes, espécies vegetais e animais, grupos e personagens indígenas, entre outros assuntos, lançando mão de uma bibliografia bastante ampla e atual. Também inclui vários índices de grupos indígenas, nomes pessoais, lugares, fauna, flora e palavras em tupi que aparecem ao longo do livro. Na sequência, o texto da edição de Marburg é transcrito integralmente numa versão em alemão atual, por Joachim Tiemann. Na última parte desta edição aparecem um resumo em português da introdução de Obermeier e uma transcrição da tradução realizada em 1942 por Guiomar Carvalho Franco (com alguns ajustes feitos por Augusto Rodrigues). As anotações em português também são abreviadas em relação à versão em alemão, que é mais extensa e completa. O livro é disponibilizado no Brasil através do Instituto Martius-Staden.

Taunay, Alfredo d’Escragnolle. Ierecê a Guaná, seguido de Os Índios do Distrito de Miranda e Vocabulário da Língua Guaná ou Chané. Organização de Sérgio Medeiros. São Paulo: Iluminuras, 2000 (Coleção Vera Cruz), 172p. Este pequeno livro inclui um conto indianista do Visconde de Taunay e dois textos extraídos de sua obra Scenas de Viagem, o primeiro descrevendo as populações indígenas da região em torno de Miranda, MT, e o segundo apresentando um vocabulário português-chané, língua aruaque falada pelos Terena, Kinikinau, Layana e Guaná, segundo a divisão que fez dos "chanés". A edição é complementada por textos críticos de Antonio Candido, Haroldo de Campos, Lúcia Sá e do organizador.

Thevet, André. A Cosmografia Universal de André Thevet, Cosmógrafo do Rei. Tradução e notas de Raul de Sá Barbosa. Rio de Janeiro: Fundação Darcy Ribeiro, 2009 (Coleção Franceses no Brasil, séculos XVI e XVII, vol. 2), 190p. Infelizmente, não se trata da Cosmografia inteira e apenas dos 16 capítulos sobre a França Antártica, traduzidos para o português pela primeira vez. Publicada em 1575, a Cosmografia repete muitas das afirmações e informações publicadas anteriormente n’As Singularidades da França Antártica porém também oferece perspectivas diferentes sobre questões de religião, parentesco, alimentação e relações com os europeus. A introdução geral esclarece pouco sobre a obra e as notas são mais completas para alguns dos capítulos.

Thevet, André. Le Brésil d’André Thevet: Les singularités de la France Antarctique (1557). Estabelecimento de texto, introdução e notas de Frank Lestringant. Paris: Editions Chandeigne, 1997, 446p. Exemplo primoroso de como se deve editar uma fonte histórica, esta versão definitiva do livro do célebre cosmógrafo proporciona, segundo o organizador, "uma janela para o Novo Mundo". Trata-se, no entanto, de uma "falsa janela" pois, conforme lembra Lestringant em sua excelente introdução, Les Singularités precisa ser lido na articulação entre aquilo que se mostrava novo e o conhecimento da Antiguidade Clássica que embasava os relatos de viagem renascentistas. O organizador também chama a atenção para o aspecto inovador da iconografia impressa na obra, constituída por 41 xilogravuras de Bernard de Poisduluc, consagrando (segundo Lestringant) "a figura apolínia do Selvagem", num explícito diálogo entre o novo e o clássico. Além das notas esclarecedoras no fim do texto, esta edição traz um suplemento bibliográfico e um índice onomástico.

Vicente do Salvador, Frei. Historia do Brazil. Edição e introdução de Maria Lêda Oliveira. Rio de Janeiro: Versal e São Paulo: Odebrecht, 2008, 345p. +CD-Rom. Com o texto estabelecido a partir do Códice 49 (Manuscritos do Brasil – Arquivo Nacional da Torre do Tombo, Lisboa), esta nova edição da importante obra de Frei Vicente do Salvador permite vislumbrar algo próximo do texto original, repleto de referências e narrativas a respeito de povos indígenas. A organizadora da edição, cujo livro acompanha esta edição (veja acima, na seção História dos Índios, Índios na História), detalha na introdução a história dos manuscritos e edições anteriores, incluindo quadros esclarecedores que cotejam trechos da Historia do Brazil com outras obras do período colonial, como o Santuário Mariano e Desagravos do Brasil. A transcrição diplomática do Códice 49 tem poucas notas, sobretudo explicações sobre variantes textuais. A edição inclui um bom glossário, bem como índices onomástica e toponímica. Infelizmente, por incúria editorial, as páginas do texto principal não são numeradas, o que dificulta o aproveitamento dos índices. Por fim, o livro traz um CD-Rom com cópias digitalizadas do Códice 49, Códice 24 (“Adições e emendas”), trechos referentes ao Brasil no Santuário Mariano e os “Prolegômenos” de Capistrano de Abreu da edição de 1918, com notas importantes sobre o texto.

Vieira, Antônio, S.J. Cartas do Brasil. Organização e introdução de João Adolfo Hansen. São Paulo: Hedra, 2003, 675p. Edição brasileira de uma seleção das cartas constantes da compilação em três volumes feita por João Lúcio de Azevedo entre 1925 e 1928 (republicados em Lisboa em 1997). Acrescenta-se uma excelente introdução de João Adolfo Hansen junto com algumas notas esclarecedoras que complementam as de Azevedo. As cartas abrangem o período de 1626 a 1697 e estão divididas em três partes, por destinatários: cartas a outros jesuítas, cartas à Corte e cartas a particulares. Várias cartas tratam dos índios (há, inclusive, uma carta que responde à missiva do Principal Guaquaíba), porém é necessário percorrer o volume com paciência, por falta de um índice detalhado.

Vieira, Antônio, S.J. Escritos Instrumentais sobre os Índios. Org. J. C. Sebe Bom Meihy. São Paulo: Educ/Loyola, 1992, 216p. Destacam-se, neste livro, os textos que Vieira escreveu opinando sobre o cativeiro dos índios no Estado do Maranhão e em São Paulo. O texto principal, no entanto, é a "Relação da Missão da Serra de Ibiapaba", uma preciosa narrativa sobre as atividades missionárias entre vários grupos indígenas do início do século XVII à chegada do próprio padre Vieira na década de 1650.

Vieira, Antônio. A Missão de Ibiapaba. Org. António de Araújo. Coimbra: Almedina, 2006, 223p. Edição bem apresentada do importante relato de Vieira (veja-se a anotação anterior), com um bom prefácio do ensaísta e crítico português Eduardo Lourenço.

Vieira, Antônio, S.J. Sermões. Org. Alcir Pécora. 2 vols. São Paulo: Hedra, 2001, 663, 605p. Cuidadosamente editada e copiosamente anotada, esta edição traz uma seleção de 50 sermões de Vieira, abrangendo o período de 1644 a 1694, estabelecendo o texto de acordo com as primeiras edições, impressas no século XVII. São de particular interesse para a história dos índios os sermões pregados em São Luís e Belém no calor das disputas entre jesuítas e colonos em torno da liberdade dos índios.

4. Instrumentos de Pesquisa e Fontes de Informação (voltar ao início)

Arquivo Público do Estado do Maranhão. Repertório de Documentos para a História Indígena do Maranhão. São Luís: Secretaria de Estado da Cultura-Arquivo Público, 1997, 361p. Valioso instrumento de pesquisa, este repertório inclui vários elementos importantes para a história indígena, incluindo a documentação da Junta de Missões (1738-1777) e a correspondência dos governantes dos anos finais do período colonial ao fim do Império.

Arquivo Público do Paraná. Catálogo Seletivo de Documentos Referentes aos Indígenas do Paraná Provincial, 1853-1870. Curitiba: Imprensa Oficial, 2007, 585p. Realizado sob a coordenação de Tatiana Dantas Marchette e com anotações das historiadoras Claudia Inês Parellada e Maria Fernanda Maranhão, o catálogo fornece detalhes sobre a documentação provincial em 1547 verbetes sucintos e eficientes. A documentação descrita coloca em tela a dimensão regional da política indigenista do Império, com importantes informações sobre populações Kaingang, Kayowá e Guarani, sobre aldeamentos capuchinhos, sobre embates violentos, entre muitos outros temas. Inclui índices onomástico e topográfico para facilitar a localização de documentos. 

Arruda, José Jobson de Andrade, org. Documentos Manuscritos Avulsos da Capitania de São Paulo. 2 vols. Bauru: EDUSC e São Paulo: Imprensa Oficial, 2000-2002, 340p., 804p. Arrolamentos ligados ao Projeto Resgate, foram projetados três volumes, dos quais dois estão concluídos: o Catálogo 1, abrangendo o período de 1644 a 1830, descreve o conteúdo de 30 caixas (quase 1.400 documentos) que não foram inventariados anteriormente; e o Catálogo 2, abrangendo 1618 a 1823, reproduz de maneira sintética os verbetes publicados por Alfredo Mendes Gouveia na ocasião do IV Centenário de São Paulo, em 15 volumes. O Catálogo 2 traz mais de 5.000 descrições sumárias, a serem completadas futuramente com o volume 3. São muitas as referências aos índios, uma parte das quais que pode ser identificada pelo índice temático de cada volume. Os verbetes incluem informações sobre aldeamentos, terras, trabalho, bandeiras, resistência e participação militar, com referências aos Carijó (Guarani), Guaianá, Bororo, Puri e muitos outros grupos.

Berwanger, Ana Regina; Osório, Helen; e Souza, Susana Bleil de, orgs. Catálogo de Documentos Manuscritos Avulsos referentes à Capitania do Rio Grande do Sul existentes no Arquivo Histórico Ultramarino, Lisboa. Porto Alegre: CORAG, 2001, 239p. Parte do Projeto Resgate, o catálogo elenca cerca de mil documentos referente a esta capitania, cobrindo o período de 1732 a 1825. Há vários documentos sobre índios Minuano, Tape, Charrua e Guarani, com informações sobre as missões durante e após a expulsão dos jesuítas, sobre as relações entre a expansão do gado e povos indígenas, e sobre conflitos.

Biblioteca Nacional. Alexandre Rodrigues Ferreira: Amazônia redescoberta no século XVIII. Rio de Janeiro: Biblioteca Nacional, 1992, 19p. e 20 lâminas. Nesta edição de uma seleção pequena das ilustrações da Viagem Filosófica, o que chama mais atenção é o "Catálogo de Manuscritos da Coleção Alexandre Rodrigues Ferreira", uma listagem completa e detalhada da extensa documentação que compõe a coleção. Há um índice remissivo detalhado.

Boschi, Caio C. e Furtado, Júnia Ferreira, orgs. Inventário dos Manuscritos Avulsos Relativos a Minas Gerais existentes no Arquivo Histórico Ultramarino (Lisboa). 3 vols. Belo Horizonte: Fundação João Pinheiro/Centro de Estudos Históricos e Culturais, 1998 (Coleção Mineiriana). Este inventário do Projeto Resgate descreve cerca de 14.000 documentos referentes a Minas Gerais, com abundantes informações sobre as populações indígenas do final do século XVII ao início do XIX. O terceiro volume inclui índices temático, onomástico e topográfico.

Boschi, Caio C. e Moraes, Jomar, orgs. Catálogo de Documentos Manuscritos Avulsos Relativos ao Maranhão existentes no Arquivo Histórico Ultramarino. São Luís: Fundação Cultural do Maranhão/Academia Maranhense de Letras, 2002, 662p. Preparado como parte do Projeto Resgate, este catálogo elenca mais de 13.000 documentos, muitos dos quais abordam a temática indígena, da primeira parte do século XVII ao início do XIX. Trata-se de um inventário indispensável para a história indígena da Amazônia colonial, com abundantes informações sobre diferentes grupos indígenas, sobre a política indigenista da coroa, sobre a atuação dos jesuítas, sobre as modalidades de trabalho colonial, sobre descimentos, entre tantos outros temas.

Boschi, Caio C., org. Catálogo de Documentos Manuscritos Avulsos da Capitania do Pará existentes no Arquivo Histórico Ultramarino de Lisboa. Belém: SECULT/ Arquivo Público do Pará, 2002, 3 vols, 1204p. Fruto do Projeto Resgate, o catálogo inclui mais de 12.000 verbetes descrevendo sumariamente a documentação, abrangendo o período de 1616 aos anos iniciais do Império. A quantidade de documentos sobre populações indígenas, política indigenista, descimentos, conflitos, aldeamentos, trabalho e outros temas é inesgotável.

Carneiro da Cunha, Manuela. Legislação Indigenista no Século XIX. São Paulo: Edusp, 1993, 362p. Trata-se de uma compilação das principais leis, decretos, provisões e outras peças de legislação referentes às populações indígenas. Acompanha uma excelente introdução aos principais temas da política e da legislação indigenista durante o Império.

Carneiro da Cunha, Manuela e Almeida, Mauro Barbosa de, orgs. Enciclopédia da Floresta. O Alto Juruá: práticas e conhecimentos das populações. São Paulo: Companhia das Letras, 2002, 735p. Fruto de um belíssimo projeto coletivo, esta edição requintada reúne informações sobre práticas, classificações e conhecimentos dos povos da região do Alto Juruá (Acre e Amazonas), abrangendo as sociedades Kaxinawá, Katukina e Ashaninka, porém também dando destaque para os saberes dos seringueiros não indígenas. No que diz respeito à história num sentido mais estrito, há textos sobre a história recente destes povos, além de uma quantidade expressiva de fotos históricas. O livro inclui um ótimo índice remissivo.

Damasceno, Darci, coord. Catálogo Arquivo de Mateus. Rio de Janeiro: Fundação Biblioteca Nacional, 2000 (Coleção Rodolfo Garcia, 27), 432p. Excelente inventário descrevendo a vasta documentação mantida por D. Luís Antônio de Souza Botelho Mourão, Morgado de Mateus (1722-1798), que governou a Capitania de São Paulo por dez anos (1765-1775), com a tarefa de implantar a política pombalina na região meridional da América Portuguesa. Com quase 2.500 itens, entre documentos, mapas e ilustrações, o arquivo hoje faz parte dos manuscritos da Biblioteca Nacional e apresenta várias possibilidades de pesquisa em história indígena. Há muitas informações sobre os aldeamentos de São Paulo, bem como sobre a expansão militar para o oeste e o sul. Os povos indígenas abordados incluem Kaingang, Guarani, Paiaguá, Bororo e Puri, entre outros. Falta um índice para facilitar a consulta deste catálogo.

Dantas, Beatriz Góis, org. Repertório de Documentos para a História Indígena: Arquivo Público Estadual de Sergipe. São Paulo: NHII-USP, 1993 (Série Instrumentos de Pesquisa), 80p. Este repertório elenca e descreve sumariamente 329 documentos do arquivo público, abrangendo o período do Império. Acompanham índices temático e toponímico.

Figueiredo, Arnaldo Estevão de, org. Catálogo de Verbetes dos documentos Manuscritos Avulsos da Capitania de Mato Grosso (1720-1827). Campo Grande: Editora da Universidade Federal do Mato Grosso do Sul, 1999, 527p. Vinculado ao Projeto Resgate, o catálogo traz cerca de 2.200 descrições sumárias de documentos, abrangendo o período de 1720 a 1827. O acervo oferece uma grande quantidade de documentos para a história indígena, cobrindo, entre outros assuntos, a guerra com os Paiaguá, o recrutamento de tropas Bororo, as relações entre colonos e índios Pareci, os conflitos e acordos com os Guaikuru e a presença dos Guaná.

Flores, Maria Bernadete Ramos e Serpa, Élio Cantalicio, orgs. Catálogo de Documentos Avulsos Manuscritos referentes à Capitania de Santa Catarina, 1717-1827. Florianópolis: Editora UFSC, 2000, 174p. Vinculado ao Projeto Resgate, o catálogo possui relativamente poucos registros referentes à presença indígena nesta capitania.

Freire, José Ribamar Bessa, coord. Os Índios em Arquivos do Rio de Janeiro. 2 vols. Rio de Janeiro: Ed. UERJ, 1995-1996, 225, 231p. Aprofundamento do trabalho realizado pelo autor no Guia de Fontes para a História Indígena e do Indigenismo, os dois volumes apresentam fichas detalhando diferentes conjuntos documentais em arquivos do Rio que tratam explicitamente dos índios e da política indigenista. É importante ressaltar que a documentação abrange o país como um todo, porém o guia também traz informações inéditas sobre os índios no Rio de Janeiro.

Galindo, Marcos e Hulsman, Lodewijk, orgs. Guia de Fontes para a História do Brasil Holandês. Recife: Fundação Joaquim Nabuco/ Editora Massangana/ Instituto de Cultura, 2001, 376p. Ligado ao Projeto Resgate, este guia retoma iniciativas anteriores (de Joaquim Caetano Silva, José Hygino Duarte Pereira e José Antônio Gonsalves de Mello) de trazer à tona a riqueza dos arquivos públicos holandeses para a história do Brasil. O guia fornece informações detalhadas sobre sete arquivos, além de reproduzir os relatórios de pesquisa de José Hygino (1885-6) e de Gonsalves de Mello (1957-8), que detalham outros acervos. Embora a listagem não especifique o conteúdo, de grande interesse para a história dos índios são os documentos administrativos, econômicos e políticos da Companhia das Índias Ocidentais, no Algemeen Rijksarchief em Haia, que também contém uma documentação referente à conversão dos índios pelos pregadores calvinistas.

Gomes, Alexandre Oliveira e Vieira Neto, João Paulo. Museus e Memória Indígena no Ceará: uma proposta em construção. Fortaleza: SECULT, 2009, 263p. Fruto do Projeto Emergência Étnica, o livro relata propostas e experiências relacionadas à constituição de centros de memória dedicados aos povos Tapeba, Kanindé, Pitaguary, Tremembé, Potiguara, Kalabaça, Tabajara, Gavião e Tubiba-Tapuia. O projeto contou com a participação de associações indígenas e quilombolas no estado.

Instituto Socioambiental. Povos Indígenas no Brasil 1991/1995. São Paulo: Instituto Socioambiental, 1996, 871p. Dando sequência a publicações anteriores na série "Aconteceu: Especial", este livro traz um denso dossiê de informações sobre todas as populações indígenas do país, com importantes artigos sobre demarcação de terras, movimentos de emergência étnica e mobilização política. As listas de povos, organizações e populações indígenas são referências básicas, levando-se em conta a necessária imprecisão dos dados sobre um objeto sempre em construção.

Instituto Socioambiental. Povos Indígenas no Brasil 1996/2000. São Paulo: Instituto Socioambiental, 2000, 832p. Atualização do item anterior. Neste último período, há interessantes avanços na discussão das organizações indígenas. As informações atuais do projeto Povos Indígenas no Brasil figuram no site do ISA (www.socioambiental.org/pib/).

Jucá, Gisafran Nazareno Mota, org. Catálogo de Documentos Manuscritos Avulsos da Capitania do Ceará: 1618-1832. Fortaleza: Fundação Demócrito Rocha, 1999, 358p. Este catálogo do Projeto Resgate descreve 1.400 documentos, de 1618 a 1832. Inclui uma documentação muito rica especialmente sobre missões e vilas indígenas, com certo destaque para os Tobajara da Serra de Ibiapaba.

Leal, João Eurípedes Franklin, org. Catálogo de Documentos Manuscritos e Avulsos da Capitania do Espírito Santo: 1585-1822. Vitória: Arquivo Público do Estado do Espírito Santo, 2000, 170p. Este catálogo do Projeto Resgate reúne descrições sumárias de 550 documentos abrangendo o período de 1585 a 1822. Contém uma documentação interessante do século XVIII e início do XIX sobre os índios da Aldeia de Reritiba, sobre os Botocudos e sobre os Puri.

Lopes, Fátima Martins, org. Catálogo de Documentos Manuscritos Avulsos da Capitania do Rio Grande do Norte (1623-1823). Natal: EDUFRN, 2000, 218p. Outro catálogo do Projeto Resgate, inclui verbetes referentes a 684 documentos, abrangendo o período de 1623 a 1823. Reúne uma quantidade expressiva de documentos sobre a Guerra dos Bárbaros, sobre a administração dos aldeamentos, sobre o trabalho indígena e sobre terras indígenas.

Maeder, Ernesto J. A., e Gutiérrez, Ramón, orgs. Atlas territorial y urbano de las misiones jesuíticas de guaraníes. Argentina, Paraguay y Brasil/ Atlas Territorial e Urbano das Missões Jesuíticas dos Guaranis. Argenitna, Paraguai e Brasil. Sevilla: Consejería de Cultura, 2009, 114p. Publicado originalmente em meados dos anos 90 em Buenos Aires, esta edição bilíngue do Atlas inclui mapas geográficos e plantas de missões, tanto históricos quanto recentes, com comentários descritivos. A boa seleção de imagens não é correspondida pela qualidade inferior das reproduções. A edição contou com o apoio do IPHAN.

Martinheira, José Joaquim Sintra, org. Catálogo dos Códices do Fundo do Conselho Ultramarino Relativos ao Brasil existentes no Arquivo Histórico Ultramarino. Rio de Janeiro: Real Gabinete Português de Leitura; Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 2001, 183p. Contém algumas poucas referências a grupos indígenas no Brasil.

Monteiro, John, coord. Guia de Fontes para a História Indígena e do Indigenismo em Arquivos Brasileiros. São Paulo: Núcleo de História Indígena e do Indigenismo/ Fapesp, 1994 (Série Instrumentos de Pesquisa), 496p. Este guia traz informações preliminares sobre os principais acervos arquivísticos localizados nas capitais do país. Inclui índices por nomes étnicos, locais geográficos e assuntos.

Noelli, Francisco Silva, org. Bibliografia Kaingang: referências sobre um povo jê do sul do Brasil. Londrina: Editora UEL, 1998, 185p. Trata-se do arrolamento de 1126 itens bibliográficos referentes aos Kaingang, abrangendo estudos de história, etnologia, arqueologia e linguística, bem como alguns textos indigenistas. Os itens não trazem comentários, porém o conjunto é bastante útil ao identificar textos de circulação bastante restrita.

Nunes, Maria Thetis e Santos, Lourival Santana, orgs. Catálogo de Documentos Manuscritos Avulsos da Capitania de Sergipe (1619-1822). São Cristóvão: Ed. UFS, 1999, 185p. Este catálogo do Projeto Resgate fornece uma descrição sumária de 495 documentos, de 1619 a 1822. Contém algumas referências a missões e terras indígenas.

Oliveira, Elza Regis de; Menezes, Mozart Vergetti de; e Lima, Maria da Vitória Barbosa, orgs. Catálogo de Documentos Manuscritos Avulsos referentes à Capitania da Paraíba, existentes no Arquivo Histórico Ultramarino de Lisboa. João Pessoa: Editora da UFPB, 2001, 655p. Vinculado ao Projeto Resgate, o catálogo traz a descrição sumária de cerca de 3.500 documentos, abrangendo o período de 1593 a 1826. Os verbetes incluem valiosas referências para a história indígena, com informações sobre aldeias e vilas indígenas, o trabalho dos índios, as atividades militares dos índios, terras, rebeliões e as relações entre índios e escravos africanos.

Osório, Helen, org. Catálogo de Documentos da Colônia do Sacramento e Rio da Prata: existentes no Arquivo Histórico Ultramarino, Lisboa. Rio de Janeiro: Nórdica, 2002, 375p. Nos mais de 660 documentos arrolados para o Projeto Resgate, abrangendo o período de 1682 a 1826, há várias referências aos índios em relação aos conflitos entre espanhóis e portugueses na disputa pela Banda Oriental do Rio da Prata. Os grupos mencionados incluem os Guarani, Minuano, Charrua, Chane, Tape e Serrano.

Porro, Antonio. Dicionário Histórico da Amazônia Colonial. São Paulo: Instituto de Estudos Brasileiros-USP, 2007 (Cadernos do IEB), 189p. Organizado tematicamente, o dicionário traz verbetes que valorizam sobretudo temas ligados à história indígena e à pesquisa etno-histórica. A primeira parte arrola cerca de 600 etnônimos que estão associados a uma localização geográfica e a uma fonte colonial; a segunda identifica aldeias, vilas e outros povoados; a terceira fornece rápidas informações sobre cerca de 50 personagens indígenas (chefes e pajés); a quarta (crenças e divindades) tematiza questões religiosas; e a quinta discute alguns temas de “economia e sociedade”. A cobertura é longe de ser exaustiva, conforme reconhece o próprio autor, porém não deixa de introduzir questões e evidências importantes para a história indígena da Amazônia no período colonial

Porto Alegre, Maria Sylvia; Mariz, Marlene; e Dantas, Beatriz Góis. Documentos para a História Indígena no Nordeste: Ceará, Rio Grande do Norte e Sergipe. São Paulo: Núcleo de História Indígena e do Indigenismo, 1994 (Série Instrumentos de Pesquisa), 269p. O livro traz uma listagem detalhada de documentos nos arquivos públicos e privados de interesse para a pesquisa sobre a temática indígena. Cada seção inclui uma introdução e um índice temático remissivo.

Santos, Francisco Jorge dos, org. Catálogo do Rio Negro: Documentos Manuscritos Avulsos existentes no Arquivo Histórico Ultramarino (1723-1825). Manaus: Editora da Universidade do Amazonas, 2000, 249p. Arrolamento do Projeto Resgate, este catálogo elenca 750 descrições sumárias da documentação desta capitania, com muitas referências à temática indígena; aliás, grande parte da documentação se refere, de uma maneira ou outra, aos índios. Há informações importantes sobre os descimentos na primeira metade do século XVIII; sobre as vilas estabelecidas sob o Diretório dos Índios; sobre os conflitos com índios Mura e Munduruku; sobre o movimento de canoas, entre muitos outros assuntos.

Santos, Lourival Santana, org. Catálogo de Documentos Manuscritos Avulsos da Capitania de Alagoas (1690-1826). Maceió: Instituto Histórico e Geográfico de Alagoas, 1999, 190p. Este catálogo do Projeto Resgate descreve 532 documentos, incluindo várias referências a missões, terras e trabalho indígena.

Santos, Ricardo Ventura dos, e Mello e Silva, Maria Celina Soares de, orgs. Inventário Analítico do Arquivo de Antropologia Física do Museu Nacional. Rio de Janeiro: Museu Nacional/UFRJ, 2006 (Série Livros 14), 160p. O inventário identifica a documentação textual, iconográfica e cartográfica do antigo Setor de Antropologia Física, abrangendo um período de meados do século XIX a 1960 e cobrindo “um conjunto de aproximadamente 10.000 documentos fundamentais para a compreensão da história da antropologia física no Brasil”. De interesse para a história indígena são, entre outros, as fotos de índios e de sítios arqueológicos indígenas; as fichas datiloscópicas com informações sobre indivíduos. Há ainda o livro de tombo da Divisão de Antropologia Física, cujos primeiros registros são de crânios de índios oriundos de aldeamentos do Império e de sítios arqueológicos.

Teixeira, Clotildes Avelar, org. Inventário do Arquivo Pessoal de Nelson Coelho de Senna (1876-1952). Belo Horizonte: Arquivo Público da Cidade de Belo Horizonte, 2000, 100p. Professor, pesquisador e político, Nelson Coelho de Senna passou boa parte da vida investigando assuntos mineiros, sendo autor de uma vasta obra. O arquivo pessoal inclui uma coleção bastante relevante de textos e imagens sobre os índios de Minas, com fotografias de Botocudos (Krenak e Pojixá) e estudos incompletos de etnografia e vocabulário dos índios. O inventário reproduz algumas das fotos da coleção.

Teles, José Mendonça, org. Catálogo de Verbetes dos Manuscritos Avulsos da Capitania de Goiás existentes no Arquivo Histórico Ultramarino, Lisboa-Portugal. Goiânia: Sociedade Goiana de Cultura, Institutos de Pesquisas e Estudos Históricos do Brasil-Central, 2001, 529p. Este catálogo do Projeto Resgate elenca cerca de 3.000 documentos, abrangendo o período de 1731 a 1822. Há uma enorme quantidade de referências aos índios, com destaque para os Bororo, Caiapó (do sul), Acroá, Tapirapé, Xacriabá, Xavante, Carajá e Javaé, entre outros. O catálogo aponta para inúmeras possibilidades de pesquisa.

Teles, José Mendonça, org. Catálogo de Verbetes dos Manuscritos Avulsos da Capitania do Piauí existentes no Arquivo Histórico Ultramarino, Lisboa-Portugal. Goiânia: Sociedade Goiana de Cultura, Institutos de Pesquisas e Estudos Históricos do Brasil-Central, 2002, 350p. Abrangendo o período de 1684 a 1828, este catálogo do Projeto Resgate descreve mais de 1.700 documentos. Muitos registros referem-se aos índios, com destaque para os Timbira, Guêguê, Acroá, Amanajó, Pimenteira, e Jaicó.

Vainfas, Ronaldo, coord. Dicionário do Brasil Colonial (1500-1808). Rio de Janeiro: Objetiva, 2000, 599p. Edição elegante, este é o primeiro dicionário histórico que abre um espaço mais amplo e adequado para a temática indígena. Os verbetes, organizados em ordem alfabética, refletem admiravelmente as tendências historiográficas atuais. Os índios aparecem tanto em verbetes biográficos (Antônio Paraupaba, Araribóia, Tibiriçá, Zorobabé, entre outros), quanto em artigos mais gerais (índios, Tupinambá), como em recortes episódicos (holandeses, Guerra dos Bárbaros). A maioria destes verbetes é assinada por Ronaldo Vainfas e Ronald Raminelli.

Vainfas, Ronaldo, coord. Dicionário do Brasil Imperial (1822-1889). Rio de Janeiro: Objetiva, 2002, 752p. Diferentemente do item anterior, este dicionário dá relativamente pouco destaque para a temática indígena, com alguma cobertura do indianismo e um verbete sobre o "Indigenismo". Alguns verbetes biográficos contêm informações esparsas: José Vieira Couto de Magalhães, José Bonifácio de Andrada e Silva, entre outros. Fica patente, no entanto, a ausência dos índios "carne-e-osso" (em oposição aos índios imaginados) na pauta dos historiadores que estudam este período.

Wiesebron, Marianne L., org. Brazilië in de Nederlanse Archieven/O Brasil em Arquivos Neerlandeses (1624-1654). Leiden: Research School CNWS, 2004 (Série Mauritiana), 179p. Dividido em duas partes e apresentado em edição bilíngue, o livro abre com ensaios sobre os Países Baixos no século XVII e, na segunda parte, traz um breve arrolamento de fontes referentes ao Brasil Holandês no Arquivo Nacional e no Arquivo da Casa Real de Haia. Alguns dos mapas são muito bem reproduzidos ao final do texto.

5. Edição de Fontes Documentais (voltar ao início)

Almeida, Luiz Sávio de, org. Os Índios nas Falas e Relatórios Provinciais de Alagoas. Maceió: Ed. UFAL, 1999, 88p. O livro reproduz trechos dos relatórios dos presidentes da Província de Alagoas, referentes a terras indígenas, à extinção dos antigos aldeamentos e outros assuntos.

Amado, Janaína, e Anzai, Leny Caselli, orgs. Anais de Vila Bela, 1734-1789. Cuiabá: Ed. UFMT/Carlini & Caniato Ed., 2006 (Coleção Documentos Preciosos), 319p. Valiosa edição do manuscrito adquirido em 1995 pela biblioteca Newberry em Chicago, EUA, os Anais de Vila Bela proporcionam, segundo as organizadoras, “um formidável manancial de nomes, datas, eventos, números, efemérides, nomeações, etc.” A primeira parte, referente ao período de 1734 a 1755, foi publicada anteriormente porém esta edição inclui, pela primeira vez, 35 textos inéditos, referentes aos anos de 1756 a 1789. Organizados cronologicamente, os Anais foram redigidos por vereadores da Câmara de Vila Bela com o intuito de registrar os “feitos dignos de memória”. Dentre esses feitos, episódios envolvendo índios abundam, sobretudo porque as ações e a audácia de sertanistas constituem “um dos núcleos narrativos do documento”. Além dos sangrentos conflitos entre colonos e índios Paiaguá, Caiapó e Guaicuru, há notícias de alianças e da presença e papel de índios no interior da sociedade colonial, inclusive de índios que passaram do lado espanhol da fronteira para se fixarem em Vila Bela. A edição traz anotações que visam sobretudo esclarecer usos arcaicos e coloquiais. O índice remissivo é bastante útil, apesar do verbete “Índios” remeter a quase todas as páginas dos Anais. Em anexo, a edição inclui a reprodução de mapas e ilustrações, com destaque para os mapas e plantas do acervo da Casa da Ínsua, em Portugal, o solar construído por Luiz de Albuquerque de Mello Pereira Cáceres, provável dono original desta cópia do manuscrito.

Amoroso, Marta Rosa, e Farage, Nádia, orgs. Relatos da Fronteira Amazônica no Século XVIII: Alexandre Rodrigues Ferreira e Henrique João Wilckens. São Paulo: NHII/USP, 1994 (Série Documentos), 134p. Dividido em duas partes, este livro apresenta a transcrição de documentos inéditos de grande valor para a história indígena da Amazônia. A primeira parte inclui o "Diário de Viagem ao Japurá", do engenheiro Wilckens, com minúcias sobre a expedição demarcadora de limites e suas relações com os índios da região, além de outros documentos ligados à atuação de Wilckens, com destaque para as relações com os Mura. A segunda parte traz dois textos, inéditos em português, da Viagem Filosófica de Alexandre Rodrigues Ferreira: o "Diário do Rio Branco" e o "Tratado Histórico do Rio Branco". Redigidos em 1786, os dois relatos comentam extensamente a presença e as atividades dos índios, com destaque para os circuitos de trocas, a participação militar e, sobretudo, a atuação dos principais.

Arquivo Histórico do Rio Grande do Sul, Os Índios D’Aldeia dos Anjos: Gravataí, Século XVIII. Apresentação de Francisco Riopardense de Macedo. Apresentação Técnica: Ana Cristina Oliveira Álvares. Porto Alegre: Escola Superior de Teologia, 1990 (Coleção Fontes 5), 96p. Transcrição (com a ortografia atualizada) de um códice do arquivo que se refere às ações do administrador pombalino do Rio Grande José Marcelino de Figueiredo no deslocamento dos índios Guarani dos “povos” incorporados ao dominio português para a Aldeia dos Anjos. De especial interesse são as matrículas detalhadas das famílias que originaram dos povos de Santo Ângelo, São Luís, São Miguel Novo, São Lourenço, São João, São Borges, São Nicolau e São Miguel Velho.

Ataídes, Jézus Marco de, org. Documenta Indígena do Brasil Central. Goiânia: Editora da UCG, 2001, 382p. Apesar de uma organização um pouco difícil de acompanhar, o livro traz uma quantidade muito expressiva de documentos manuscritos do Arquivo Histórico Estadual em Goiânia e do Arquivo do Museu das Bandeiras em Goiás Velho. A documentação é bastante variada, abrangendo o período anterior à criação da Capitania até o final do Império. Em alguns casos, o organizador faz apenas um resumo do documento e, em outros, reproduz o documento na íntegra. A documentação refere-se a 15 grupos distintos, 14 aldeamentos, 14 presídios e diversos temas relacionados à política indigenista. Trata-se, enfim, de um guia indispensável para pesquisas sobre as populações indígenas de Goiás nos séculos XVIII e XIX.

Boletim Informativo do Museu Amazônico, Manaus, vol. 5, no. 8, 1995, 103p. Dossiê Munduruku: uma contribuição para a história indígena da Amazônia colonial. Organizado por Francisco Jorge dos Santos. O dossiê apresenta a seleção e transcrição de 42 documentos manuscritos de vários arquivos, abrangendo o final do século XVIII e início do XIX. Trata-se sobretudo da correspondência trocada entre autoridades coloniais, com destaque para os administradores e comandantes de vilas e destacamentos militares no interior.

Cruz, Fr. Laureano de la, OFM. Descripción de los Reynos del Perú con particular noticia de lo hecho por los Franciscanos. Org. e notas de Julián Heras Diez, OFM. Lima: Pontificia Universidad Católica del Perú, 1999, 501p. Transcrição do manuscrito arquivado na Biblioteca Nacional de Madri, a Descripción contém um trecho significativo, já editado anteriormente, sobre a Amazônia: é o Nuevo descubrimiento del río de Marañon, llamado de las Amazonas, hecho por la religión de San Francisco, año de 1651. Este documento, que reflete a experiência pessoal do missionário nos rios Napo e Solimões na década de 1640, inclui uma descrição minuciosa dos Omágua e da viagem do frei Laureano até Belém em 1651. Além da breve introdução informativa, esta edição é enriquecida por índices onomástico e toponímico.

De Laet, João. Roteiro de um Brasil Desconhecido. Descrição das Costas do Brasil. Organização de José Paulo Monteiro Soares e Cristina Ferrão. Introdução, transcrição, tradução e anotação de B. N. Teensma. São Paulo: Kapa Editorial, 2007, 320p. Transcrição integral do manuscrito pertencente à biblioteca John Carter Brown, em Providence, EUA. Trata-se de uma coletânea de depoimentos, reunindo informações sobre a costa atlântica da América do Sul à época da partida da comitiva de Nassau para o Brasil. São 35 relatos – na verdade, “fragmentos”, como escreve o autor da introdução – sobretudo de viajantes e navegadores holandeses e portugueses, vários dos quais trazem informações sobre os índios. De especial interesse são os depoimentos de quatro índios potiguar (Gaspar Paraupaba, André Francisco, Antônio Paraupaba e Pedro Poti) que foram para a Holanda em meados da década de 1620, fornecendo uma descrição da “costa noroeste” do Brasil, isto é, Paraíba, Rio Grande e Ceará. Trata-se de um extrato do relatório de Kiliaan van Renselaer “a partir do interrogatório aos índios”. A edição inclui a reprodução integral do manuscrito da biblioteca John Carter Brown.

Figueiredo, Luciano Raposo de Almeida, e Campos, Maria Verônica, coords. Códice Costa Matoso: coleção das notícias dos primeiros descobrimentos das minas na América que fez o doutor Caetano da Costa Matoso sendo ouvidor-geral das do Ouro Preto, de que tomou posse em fevereiro de 1749, & vários papéis. 2 vols. Belo Horizonte: Fundação João Pinheiro, 1999 (Coleção Mineiriana), 983, 279p. Edição primorosa e integral do famoso códice arquivado na Biblioteca Municipal de São Paulo, a Coleção das notícias foi apenas parcialmente publicada anteriormente por Afonso de Taunay, que se interessou tão somente pelos relatos sobre os primeiros descobridores paulistas. Fruto de um projeto ambicioso e muito bem sucedido de edição documental, o Códice Costa Matoso apresenta uma quantidade expressiva de documentos relevantes para a história dos índios, sobretudo na Capitania de Minas Gerais porém não limitada a ela. Destacam-se os documentos sobre o descobrimento das minas, com muitas referências aos índios; documentos sobre a demarcação das fronteiras; a "Descrição do Bispado do Maranhão", de 1747, com detalhes sobre as aldeias indígenas no Maranhão e Piauí; e a "Descrição do Bispado do Pará", c. 1750, um minucioso arrolamento das aldeias e missões do bispado. O segundo volume inclui índices, notícias biográficas, um glossário e uma bibliografia de apoio.

Juzarte, Teotónio José. Diário da Navegação. Org. Jonas Soares de Souza e Miyoko Makino. São Paulo: Edusp/Imprensa Oficial, 2000 (Coleção Uspiana Brasil 500 Anos), 468p. "[U]ma das mais extraordinárias narrativas da navegação fluvial no Brasil do século 18", nas palavras dos organizadores, o relato de Juzarte recebe uma nova edição requintada, enriquecida pela reproduções fotográficas do manuscrito original do Museu Paulista e do inédito "Plano em borrão de todos os rios e todas as cachoeiras...", com esboços cartográficos do território entre Porto Feliz, no Tietê, e a fortaleza de Iguatemi, às margens do rio Paraná. O relato contém informações sobre os índios que participaram da expedição e alguns indícios sobre os índios das regiões percorridas entre 1769 e 1771. Em anexo, o livro inclui uma série de imagens (óleos e aquarelas) retratando o Tietê, várias das quais evocando o tempo das monções fluviais.

Langsdorff, Georg Heinrich von. Os Diários de Langsdorff. Org. Danuzio Gil Bernardino da Silva. 3 vols. Rio de Janeiro: Editora FIOCRUZ, 1996-98, 400, 333, 298p. Esta edição reúne diários e imagens produzidos ao longo da expedição científica liderada pelo Barão Langsdorff entre 1821 e 1829, organizados cronologicamente. O primeiro volume cobre Rio de Janeiro e Minas Gerais (1824 e 1825), o segundo São Paulo (1825-1826) e o terceiro Mato Grosso e Amazônia (1826 a 1828). São muitas as observações sobre populações indígenas, sobretudo nos volumes 1 e 3. Planeja-se a edição de um quarto volume, com mapas e reproduções facsimilares dos manuscritos.

Lima, Antonio Carlos de Souza. As Órbitas do Sítio: subsídios para o estudo da política indigenista no Brasil, 1910-1967. Rio de Janeiro: Contra Capa/LACED, 2009, 252p. Originalmente produzido como um anexo à tese de doutorado do autor, este volume reproduz gráficos, tabelas, mapas, legislação, textos e quadros referentes à atuação do Serviço de Proteção aos Índios. De especial interesse é o “Quadro resumo das ações das unidades locais do SPI, 1911-1962”, compilado a partir de uma documentação variada, trazendo informações pontuais sobre incidentes e processos que marcaram a história do SPI em todas as regiões do país.

Lopes Sierra, Juan. As Excelências do Governador: o panegírico fúnebre a D. Afonso Furtado, de Juan Lopes Sierra (Bahia, 1676). Organizado por Stuart B. Schwartz e Alcir Pécora. Trad. C. Antunes e A. Pécora. São Paulo: Companhia das Letras, 2002, 440p. Primeira edição em português do manuscrito publicado anteriormente em inglês, em 1977. Trata-se de uma narrativa em castelhano que glorifica os feitos de D. Afonso Furtado de Castro do Rio de Mendonça, Governador e Capitão Geral do Estado do Brasil entre 1671 e 1675. Esta edição, que inclui uma transcrição paleográfica do manuscrito original e sua tradução para o português, é enriquecida pela introdução original de Schwartz, traduzida da edição americana, e acrescida de um comentário de Alcir Pécora sobre a composição retórica e o estilo narrativo do documento. A narrativa traz informações muito interessantes sobre as relações dos portugueses com os índios da Bahia neste período, marcado pela contratação de mercenários paulistas para lutar contra os "bárbaros" do sertão ao longo do rio Paraguaçu.

Meira, Márcio, org. Livro das Canoas: documentos para a história indígena da Amazônia. São Paulo: NHII-USP, 1993 (Série Documentos), 239p. Transcrição integral do "Livro que há de servir para o registro das canoas que se despacharem para o sertão ao cacao e às peças, e das que voltarem com escravos", abrangendo o período de 1739 a 1755. Os registros trazem detalhes preciosos sobre os índios deslocados dos rios da Amazônia para Belém através dos descimentos e tropas de resgate, indicando o nome da "nação", o local de origem e a condição livre ou escrava dos índios. A breve introdução do organizador é esclarecedora, assim como é a lista de etnias mencionadas no livro.

Mello, José Antônio Gonsalves de, org. Fontes para a História do Brasil Holandês. 2a ed. 2 vols. Recife: CEPE, 2004. Reedição dos documentos compilados no início da década de 1980 pelo erudito autor de Tempo dos Flamengos, o livro inclui vários textos traduzidos do holandês com informações sobre os índios. No primeiro volume, A Economia Açucareira, chama a atenção a "Memória" de Adriaen Verdonck, de 1630, com informações sobre os Potiguar e outros "brasilienses", inclusive trabalhadores nos engenhos; também interessa o "Breve Discurso" de 1638, uma espécie de relatório geral enviado à Companhia das Índias Ocidentais, com uma discussão importante do trabalho indígena; e o "Relatório" de Adriaen van der Dussen, de 1640, com um detalhamento dos engenhos e aldeias de índios nas terras conquistadas pelos batavos. No volume 2, A Administração da Conquista, destaca-se a "Descrição Geral da Capitania da Paraíba", de Elias Herckmans, com muitas informações sobre os Potiguar.

Monteiro, Maria Elizabeth Brêa, org. Levantamento Histórico sobre os Índios Guarani Kaiwá. Rio de Janeiro: Museu do Índio/FUNAI, 2003 (Coleção Fragmentos da História do Indigenismo), 180p. Trabalho elaborado em 1981 para subsidiar o departamento da FUNAI encarregado de demarcar terras indígenas, este Levantamento Histórico inclui um pequeno estudo preliminar baseado na leitura de fontes e na bibliografia disponível na época. São de grande relevância e utilidade os anexos, trazendo cópias facsimilares de documentos dos séculos XIX e XX, destacando-se o relatório de Genésio Pimentel Barbosa, de 1927, com várias fotografias e informes sobre as atividades realizadas nesse ano. 

Noronha, José Monteiro de. Roteiro da Viagem da Cidade do Pará até as Últimas Colônias do Sertão da Província (1768). Introdução e notas de Antonio Porro. São Paulo: Edusp, 2006 (Coleção Documenta Uspiana 1), 111p. Primeira edição anotada deste importante relato de 1768, o Roteiro de Noronha traz informações geográficas e etnográficas sobre a Amazônia. Segundo o organizador Antonio Porro, apesar de Noronha ser o autor setecentista “que mais informa a respeito dos índios, o seu indianismo é paradoxal”. Isso se explica pela alternância entre “observações atentas e enriquecedoras” e “inexplicáveis omissões”, sobretudo no que diz respeito às “relações entre índios e brancos nas vilas e povoados amazônicos”. Ainda assim, o Roteiro fornece indicações precisas sobre as origens étnicas dos habitantes das vilas sob o Diretório, além de detalhes etnográficos que não estão presentes em outros relatos.

Pinto, Renan Freitas, org. O Diário do Padre Samuel Fritz. Manaus: EDUA/Faculdades Salesianas Dom Bosco, 2006, 272p. Reedição da tradução feita por Rodolfo Garcia e publicada na Revista do IHGB em 1912, o relato é acompanhado por diversos estudos antigos e atuais que esclarecem diferentes aspectos da vida e obra do autor jesuíta. Traz também reproduções dos mapas do rio Amazonas feitos por Fritz em 1691 e 1707. Trata-se de uma fonte importante para a história indígena da Amazônia, com destaque para as informações a respeito do Solimões.

Ribeiro, Darcy e Moreira Neto, Carlos de Araújo, orgs. A Fundação do Brasil: testemunhos, 1500-1700. Petrópolis: Vozes, 1992, 447p. Preparada originalmente para uma coleção do quinto centenário (Biblioteca Ayacucho), esta seleção de textos abrange relatos de viajantes, correspondência de missionários, legislação e informes administrativos, com uma certa ênfase na temática indígena. Os extratos documentais são intercalados com comentários explicativos dos organizadores.

Rosário, Manuel da Penha do. Língua e Inquisição no Brasil de Pombal. Transcrição, introdução e notas de José Pereira da Silva. Rio de Janeiro: Ed. UERJ, 1995, 116p. Este pequeno livro transcreve as "Questões Apologéticas" redigidos por um obscuro mercedário em 1773, contestando a política linguística pombalina ao defender o uso da língua geral na catequese dos índios do Pará. Este manuscrito da Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro foi editado anteriormente pelo mesmo organizador na Revista do IHGB e nos Anais da Biblioteca Nacional e parece ser a versão resumida e vulgarizada de um original em latim. Estruturada em forma de perguntas e respostas fundamentadas nas Escrituras, o texto arranha temas relevantes para a história dos índios. O organizador acrescenta um glossário, um índice onomástico e uma pequena bibliografia de apoio, que ajudam a esclarecer a leitura do texto.

Silva, José Bonifácio de Andrada e. Projetos para o Brasil. Org. Miriam Dohlnikoff. São Paulo: Companhia das Letras, 1998 (Coleção Retratos do Brasil), 371p. O livro reúne vários escritos do Bonifácio, inclusive alguns textos inéditos, muitos em forma de rascunho. Sobre os índios, além dos conhecidos "Apontamentos" apresentados à Constituinte em 1823, há vários outros textos de grande interesse sobre a história dos índios e sobre a questão da civilização. A introdução da organizadora situa bem o autor e seus escritos.

Schmalkalden, Caspar. Brasil Holandês: A Viagem de Caspar Schmalkalden de Amsterdã para Pernambuco no Brasil, 2 vols. Org. Dante Martins Teixeira. Rio de Janeiro: Editora Index, 1998, 175, 192p. Edição facsimilar do manuscrito (em alemão) pertencente à Forschungs und Landesbibliothek de Gotha, na Alemanha, trata-se de um documento interessantíssimo para a história dos índios durante a presença holandesa no Brasil. Pouco se sabe sobre o autor, um alemão a serviço da Companhia das Índias Ocidentais que permaneceu poucos anos no Brasil e que participou da expedição de Hendrick Brouwer para o Chile. O texto merece um estudo mais detalhado no que diz respeito aos índios. Acompanha uma série de desenhos, mapas e prospectos, alguns aquarelados, inclusive com representações de indígenas de Pernambuco e do Chile. Há um pequeno vocabulário alemão-brasiliano (tupi) que o autor levantou junto a um índio mestre-escola. Contém também um vocabulário dos índios do Chile, mas os editores nos oferecem esta pérola: “O vocabulário desta viagem ao Chile não foi traduzido por não ter maiores significados para nós em Português” (!) O segundo volume, fartamente ilustrado, trata da flora e fauna, trazendo os nomes em tupi, português e, às vezes, holandês.

Vainfas, Ronaldo, org. Confissões da Bahia: Santo Ofício da Inquisição de Lisboa. São Paulo: Companhia das Letras, 1997 (Coleção Retratos do Brasil), 362p. Trata-se de uma nova edição, amplamente revista, corrigida e anotada, do livro das confissões da Bahia, composto durante a visitação de Heitor Furtado de Mendonça em 1591-92. Publicado pela primeira vez em 1922 por Capistrano de Abreu, o livro das confissões traz depoimentos interessantíssimos sobre o sertanismo na Bahia, sobre os mamelucos e sobre a "Santidade de Jaguaripe", um movimento sociorreligioso entre os Tupinambá. A introdução e notas de Ronaldo Vainfas permitem uma leitura atualizada destes documentos.

6. Pesquisa Etnográfica: Documentos e Estudos (voltar ao início)

Ambrosetti, Juan Bautista. Os Índios Kaingang de San Pedro (Missiones), com um vocabulário. Trad. Thiago Bolivar. Campinas: Curt Nimuendajú, 2006 (série Etnografia e História), 160p. Publicado originalmente em Buenos Aires em 1894, o livro do eminente folclorista e diretor do Museu Etnográfico recebe uma tradução anotada. Pouco explorado no Brasil – não há sequer um exemplar em bibliotecas no país, segundo Wilmar D’Angelis, em sua apresentação – o livro de Ambrosetti é fruto de uma viagem para a província de Misiones, na época território disputado com o Brasil na célebre “Questão de Palmas”. Portanto, o autor não se refere tão somente aos Kaingang na Argentina como também traz frequentes referências a comunidades situadas no lado brasileiro, no Paraná. Escrito para contribuir para o conhecimento das “tribos próximas da extinção”, o livro descreve algumas práticas observadas pelo autor e relata episódios e opiniões passadas pelo cacique Maidana, seu principal informante, inclusive para o vocabulário. Esta edição reproduz fotos e outras ilustrações da publicação original.

Carneiro da Cunha, Manuela, org. Tastevin, Parrisier: fontes sobre índios e seringueiros do Alto Juruá. Rio de Janeiro: Museu do Índio-FUNAI, 2009 (Série Monografias), 247p. Ao reunir textos traduzidos por Mauro Almeida e Nicolás Niymi Campanário há mais de uma década no interior de um projeto internacional sobre o Alto Juruá, este livro traz aportes importantes de missionários espiritanos para documentar um período crítico na história da região. O primeiro texto é o interessante relato inédito do padre Jean-Baptiste Parrisier, pertencente ao Arquivo Espiritano de Chevilly-la-Rue, França, dando conta de seis meses de uma viagem apostólica no interior do “país da borracha”. Os restantes oito textos são artigos publicados pelo padre Constant Tastevin em francês em revistas de acesso nem sempre fácil, incluindo Les Missions Catholiques, Annales Apostoliques, La Géographie e Le Lys de St. Joseph. A breve introdução de Manuela Carneiro da Cunha contextualiza a missão espiritana no Amazonas. Os mapas publicados em La Géographie (juntos com um mapa inédito do Arquivo Espiritano) e uma bibliografia completa das publicações do padre Tastevin sobre a Amazônia figuram em anexo.

Coelho, Vera Penteado, org. Karl von den Steinen: um século de antropologia no Xingu. São Paulo: Edusp, 1993, 632p. Excelente coletânea com 18 estudos originais sobre diversos aspectos das expedições para o alto Xingu, comandadas por von den Steinen em 1884 e 1887. Um belo trabalho editorial, o livro é amplamente ilustrado com imagens atuais e da época das expedições, trazendo ainda uma reprodução em tamanho original do mapa da expedição de 1887, publicada em Berlim em 1893.

Faulhaber, Priscila e Monserrat, Ruth, orgs. Tastevin e a Etnografia Indígena. Rio de Janeiro: Museu do Índio-FUNAI, 2008, 213p. Trata-se de uma coletânea de textos do missionário-etnógrafo Constant Tastevin (1880-1958), escritos durante a sua estada no Brasil entre 1905 e 1926 e publicados sobretudo em francês. Os textos escolhidos pelas organizadoras foram produzidos em Tefé, no Estado do Amazonas, e incluem informações históricas, arqueológicas, linguísticas e etnográficas a respeito de populações indígenas e caboclas na região do Solimões e seus afluentes. Os textos incluem notas de doze especialistas em línguas, cultura material, zoologia, geografia, história e etnologia, esclarecendo e enriquecendo a leitura do padre Tastevin, autor conhecido entre os estudiosos da Amazônia ocidental porém pouco traduzido anteriormente.

Fontana, Riccardo. A Amazônia de Ermano Stradelli. Brasília: Secretaria de Cultura do Estado de Amazonas, 2006, 92p. +mapas fora do texto. O pequeno estudo fornece algumas informações sobre a vida e viagens do explorador italiano Ermano Stradelli (1852-1926), que deixou uma obra interessante de estudos etnográficos e geográficos sobre a Amazônia. O livro traz reproduções de baixa qualidade de uma excelente série de fotos feitas na Amazônia entre 1887 e 1889 (com várias fotos de índios de diferentes localidades), bem como uma reprodução das inscrições rupestres do alto rio Negro, do livro Iscrizioini Indigene della regione dell’Uaupès, publicado em Roma em 1900. O livro inclui um encarte com dois mapas feitos por Stradelli, um do rio Uaupés (1891) e outro do estado do Amazonas (1901).

Galvão, Eduardo. Diários de Campo entre os Tenetehara, Kaioá e Índios do Xingú. Edição e organização de Marco Antonio Gonçalves. Rio de Janeiro: Editora UFRJ/ Museu do Índio, 1996, 397p. Transcrição integral de diários de campo deste notável etnólogo, marcando uma época importante na pesquisa de sociedades indígenas no Brasil. As anotações sobre observações etnográficas, questões práticas e outros personagens (incluindo, com destaque, Charles Wagley), abrangem três pesquisas: entre os Tenetehara no Maranhão (1941-43), Kaiowá no Mato Grosso [do Sul] (1946) e vários grupos no Alto Xingu (1947-1967). A introdução de Marco Antonio Gonçalves é bastante esclarecedora e o livro inclui um interessante caderno de fotos, retratando o etnólogo em diferentes momentos e situações de carreira.

Grupioni, Luís Donisete Benzi. Coleções e Expedições Vigiadas: os etnólogos no Conselho de Fiscalização das Expedições Artísticas e Científicas no Brasil. São Paulo: Hucitec/Anpocs, 1998, 341p. Ao estudar o Conselho de Fiscalização, o autor demonstra a intrincada relação entre a ciência e o nacionalismo no Brasil durante o Estado Novo, mostrando também a importância do colecionismo de artefatos para museus (sobretudo na Europa) como móvel do contato com populações indígenas. O autor trabalha com os dossiês sobre C. Nimuendaju, Claude Lévi-Strauss e outros etnólogos estrangeiros. Vencedor do Prêmio da Anpocs em 1997, o livro inclui um dossiê de fotos e uma listagem de fontes arquivados no MAST no Rio de Janeiro.

Koch-Grünberg, Theodor. Die Xingu-Expedition (1898-1900): ein Forschungstagebuch. Organizado por Michael Kraus. Colônia: Böhlau, 2004, 503p. Transcrição e estabelecimento de texto dos diários de Koch-Grünberg durante a expedição realizada junto com Herrmann Meyer para o alto Xingu. Os diários dão conta de toda a viagem, desde a chegada em Buenos Aires nos últimos dias de 1898 até o regresso a Europa, nos primeiros dias de 1900. As anotações do etnógrafo ganham densidade no Xingu, com destaque para as observações referentes aos  Bakairi. A edição inclui algumas vinhetas tiradas dos manuscritos, incluindo desenhos feitos pelos índios a pedido de Koch-Grünberg, além de dois encartes de fotografias, mostrando imagens interessantíssimas realizadas em Cuiabá. O volume tem um apêndice com artigos sobre a expedição e o etnógrafo, assinados por Anita Hermannstädter, Mark Münzel e Michael Kraus.

Koch-Grünberg, Theodor. A Distribuição dos Povos entre Rio Branco, Orinoco, Rio Negro e Yapurá. Tradução, introdução e notas de Erwin Frank. Manaus: Editora da Universidade Federal do Amazonas, 2006, 151p. Tradução de uma parte do terceiro volume de Vom Roroima zum Orinoco (volume publicado originalmente em 1923), o texto do etnólogo alemão apresenta um levantamento de informações de viajantes e cientistas que percorreram o norte da Amazônia no século XIX. Esta edição inclui a tradução de um ensaio do botânico alemão Ernst Ule, descrevendo a sua viagem entre os índios do rio Branco em 1908, num texto publicado originalmente no Zeitschrift für Ethnologie em 1913.

Koch-Grünberg, Theodor. Do Roraima ao Orinoco, volume 1: Observações de uma Viagem pelo Norte do Brasil e pela Venezuela durante os Anos de 1911 a 1913. Trad. Cristina Alberts-Franco. São Paulo: Editora Unesp, 2006, 374p. Obra antes inédita em português, o relato de Koch-Grünberg é mais do que uma narrativa de viagem, pois fornece dados históricos e etnográficos de grande densidade, conforme apontam Nádia Farage e Paulo Santilli em sua excelente introdução à obra. Ao enfocar sobretudo os povos de língua Karib na região do rio Branco, o livro traz um importante exemplo da antropologia alemã do início do século XX, que elegeu as sociedades sul-americanas como campo privilegiado para explorar hipóteses sobre as origens e a difusão das línguas e culturas humanas. O livro inclui uma quantidade expressiva de fotografias de índios, de aldeias e de outros lugares percorridos pelo autor.

Koch-Grünberg, Theodor. Dois Anos entre os Indígenas: viagens no noroeste do Brasil (1903/1905). Manaus: Editora da Universidade Federal do Amazonas/Faculdade Salesiana Dom Bosco, 2005, 627p. Tradução do influente relato de viagem Zwei Jahre unter den Indianern (1909). Dotado de um olhar tão detalhista quanto sensível, Koch-Grünberg não só se inscreve na tradição das narrativas de viagem como também introduz uma grande quantidade de informações etnográficas sobre vários povos do norte da Amazônia. O livro inclui dezenas de fotos de "tipos" indígenas e de objetos de cultura material, bem como desenhos e mapas. A tradução foi realizada por uma equipe do Centro Iauaretê de Documentação Etnográfica e Missionária, a qual incorporou "expressões da linguagem regional", o que convida ao cotejo com o original.

Lévi-Strauss, Claude. Saudades do Brasil. Trad. Paulo Neves. São Paulo: Companhia das Letras, 1998, 227p. Publicado em Paris em 1994, o livro traz uma série de fotografias feitas pelo etnólogo durante as suas viagens pelo Brasil entre 1935 e 1939. As fotos, muito sugestivas em si, são enriquecidas por comentários de Lévi-Strauss, alguns remetendo ao texto de Tristes Trópicos. Os registros indígenas referem-se sobretudo aos Kadiwéu, Bororo, Nambiquara, Tupi-Mondé e Kawahib.

Lévi-Strauss, Claude. Tristes Trópicos. Trad. Rosa Freire D’Aguiar. São Paulo: Companhia das Letras, 1997, 400p. Publicado originalmente em 1955, é um misto de relato de viagem e reflexão antropológica do destacado etnólogo francês, cuja passagem pelo Brasil nos anos de 1930 foi fundamental na sua formação. Guardadas as especificidades contextuais, o livro proporciona uma excelente introdução à temática indígena e ao lugar dessa discussão no mundo contemporâneo. Com o passar do tempo, também passa a proporcionar uma espécie de documento histórico.

Machado, Maria Fátima Roberto. Museu Rondon: antropologia e indigenismo na Universidade da Selva. Cuiabá: Entrelinhas, 2009, 335p. Muito mais do que uma história institucional, este livro reflete sobre a trajetória do Museu Rondon, criado em plena ditadura militar numa universidade que, desde o início, tinha um compromisso com os estudos indígenas. Baseado em documentos e depoimentos, o livro dedica uma parte muito interessante a “índios, indigenistas e antropólogos”, colocando em evidência a relação nem sempre tranquila entre antropologia e indigenismo no Brasil. 

Manizer, H. H. Os Kaingang de São Paulo. Trad. Juracilda Veiga. Campinas: Curt Nimuendajú, 2006 (série Etnografia e História), 64p. Publicado originalmente nos anais do 23º Congresso de Americanistas em 1930, o estudo de Manizer registra, de maneira interessante, as observações feitas no posto do SPI que abrigava um grupo Kaingang no noroeste do estado de São Paulo em dezembro de 1914 e janeiro de 1915. A despeito de Manizer ter feito este estudo a partir da convicção do “desaparecimento iminente dessa tribo”, esta edição busca, de acordo com a apresentação da tradutora, colocar o texto de Manizer finalmente “nas mãos dos Kaingang de São Paulo e dos demais Kaingang, das áreas indígenas do sul do Brasil, que certamente nele encontrarão eco de suas experiências culturais”. De fato, conforme a tradutora coloca acertadamente na apresentação, o texto de Manizer proporciona um misto de “documento histórico” e “modelo de etnografia”.

Nimuendaju, Curt. Cartas do Sertão de Curt Nimuendajú para Carlos Estévão de Oliveira. Introdução e notas de Thekla Hartmann. Lisboa: Assírio & Alvim/Museu Nacional de Etnologia, 2000, 396p. Abrangendo o período de 1923 a 1942, o livro inclui as cartas de Nimuendajú sobre vários assuntos relacionados aos índios do nordeste e da Amazônia.

Oliveira, Roberto Cardoso de. Os Diários e Suas Margens: viagem aos territórios Terêna e Tükúna. Brasília: Editora da UnB, 2002, 346p. Além de reproduzir integralmente os diários de campo escritos nos anos de 1950, este livro inclui, de maneira interessante, comentários reflexivos do autor enquanto releitor de seus próprios diários, assim apresentando um duplo registro da experiência de campo do etnólogo. Tanto os diários quanto os comentários proporcionam uma leitura prazerosa, não apenas pelo estilo agradável do autor como pelos detalhes e incidentes descritos e comentados. Acompanha um pequeno dossiê fotográfico, de caráter etnográfico e pessoal.

Ribeiro, Darcy. Diários Índios. Os Urubus-Kaapor. São Paulo: Companhia das Letras, 1996. Escritos entre 1949 e 1951, os diários relatam duas expedições empreendidas pelo autor entre os índios Urubu-Kaapor, povo Tupi do Maranhão. Além da leitura caracteristicamente agradável, os diários representam um material histórico de grande interesse, retratando o processo de contato, o papel dos sertanistas, a presença de populações diversas – de ex-quilombolas a índios "aculturados" – entre muitas outras coisas. Também documentam a busca deste autor pelas origens do Brasil, marca importante de suas obras subsequentes.

Silva, Orlando Sampaio. Eduardo Galvão: índios e caboclos. São Paulo: Annablume, 2007, 417p. Trata-se de uma apreciação minuciosa de toda a obra do antropólogo Eduardo Galvão, fornecendo um roteiro interessante de uma fase importante dos estudos etnológicos no país, pois Galvão teve uma contribuição tanto em termos de pesquisa etnográfica quanto em ambição teórica, entre as décadas de 1940 e 70.

Silva, Orlando Sampaio. Índios do Tocantins. Manaus: Editora Valer, 2009 (Coleção Memória da Amazônia), 159p. Baseado nos cadernos de campo do antropólogo, o livro reúne uma série de observações etnográficas realizadas em meados dos anos 70, quando Sampaio e Silva estava a serviço da Sudam. “Minha missão”, nas palavras do autor, “contemplava a constatação de quais eram os grupos indígenas existentes naquela área do [rio Tocantins], suas situações de contatos com a sociedade nacional inclusiva, além de proceder observações sobre mudanças socioculturais”. O resultado é o retrato de uma época crítica na história recente dos índios, confrontando-se a política integracionista e desenvolvimentista do Estado e o difícil desafio da sobrevivência étnica e física das populações indígenas face aos projetos de desenvolvimento.

7. Catálogos de Exposições e de Coleções (voltar ao início)

Aguilar, Nelson, org. Artes Indígenas. São Paulo: BrasilConnects, 2002, 215p. Catálogo da exposição realizada no interior da Mostra do Redescobrimento, o livro oferece belas reproduções de objetos de cultura material de vários povos, presente e passado. Edição bilíngue português-inglês.

Belluzzo, Ana Maria de Moraes et alii. Do Contato ao Confronto: a conquista de Guarapuava no século XVIII. São Paulo: BNP Paribas, 2003, 144p. Edição requintada das estampas da Coleção Beatriz e Mário Pimenta Camargo, uma série de aquarelas atribuídas a Joaquim José Miranda, retratando cenas de contato entre uma expedição portuguesa e índios Kaingang no sertão do Tibagi, atual Paraná, por volta de 1770. Além da reprodução definitiva das aquarelas, o livro inclui artigos de Marta Rosa Amoroso, Nicolau Sevcenko, Ana Maria Belluzzo e Valéria Piccoli. Edição bilíngue português-francês.

Belluzzo, Ana Maria de Moraes. O Brasil dos Viajantes. 2a ed., São Paulo: Fundação Odebrecht/Metalivros, 1999 (3 vols. em 1), 156, 168 e 192p. Catálogo de uma bem-sucedida exposição, o livro oferece belas reproduções de representações artísticas de temas brasileiros, com algum destaque para a temática indígena. O primeiro volume, sobre o "Imaginário do Novo Mundo", enfoca as imagens dos índios nas gravuras impressas, em mapas e na pintura, do início do século XVI ao período holandês. O segundo volume, "Um Lugar no Universo", dá ênfase à construção dos saberes científicos, de Frei Cristóvão de Lisboa (século XVII) à expedição de Agassiz em 1865-66. Também estão reproduzidas imagens, algumas menos conhecidas, das viagens de Alexandre Rodrigues Ferreira, Maximiliano Príncipe de Wied-Neuwied, Debret, Rugendas e Keller. O terceiro volume, "A Construção da Paisagem", inclui algumas poucas representações de índios no contexto da natureza luxuriante. Os três volumes trazem abundantes notas biográficas (sobre viajantes e artistas) e indicações bibliográficas.

Berlowicz, Barbara; Due, Berete; Pentz, Peter; e Waehle, Espen, orgs. Albert Eckhout Volta ao Brasil, 1644-2002. Copenhagen: Nationalmuseet, 2002, 228p. Este catálogo acompanhou a exposição de 24 quadros de Albert Eckhout referentes ao Brasil, pertencentes ao Museu Nacional da Dinamarca e mostrados em quatro cidades brasileiras (Recife, Brasília, São Paulo e Rio de Janeiro) em 2002-2003. Além da reprodução dos quadros, o catálogo traz 14 artigos curtos sobre diversos aspectos da coleção e do contexto de sua produção e circulação. De especial interesse são os textos de Rebecca Brienen, que faz uma reconstrução especulativa sobre a função e disposição dos quadros no Palácio Vrijburg, na ilha Antônio Vaz; de Bente Gundestrup sobre o lugar desses mesmos quadros no gabinete de artes e curiosidades do Rei Frederik III da Dinamarca; de Ernst van den Boogaart, que realiza uma instigante análise dos quadros etnográficos, propondo uma leitura deles enquanto série ordenada hierarquicamente por “grau de civilidade”; de Dante Martins Teixeira, que estuda a relação entre os óleos pintados por Eckhout e os desenhos do Thierbuch de Zacharias Wagener, apresentando os textos de Wagener que acompanham cada desenho; de Berete Due sobre os artefatos ameríndios e africanos que fazem parte da coleção do mesmo gabinete dos quadros; e de Barbara Berlowicz, tecendo algumas considerações sobre conteúdo e técnica, chegando à conclusão de que o conteúdo etnográfico dos quadros “é menos realista do que se supõe normalmente”. A edição é bilíngue português-inglês.

Brienen, Rebecca Parker. Albert Eckhout – Visões do Paraíso Selvagem: Obra Completa. São Paulo: Capivara, 2010, 432p. Com a reprodução e análise de mais de 800 imagens, este catálogo raisonné representa uma apreciação definitiva da obra do artista que deixou registros visuais preciosos, com algum destaque para a temática indígena. O texto é baseado no livro desta mesma autora (ver detalhes acima na primeira seção).

Brito, Joaquim Pais de, org. Os Índios, Nós. Lisboa: Museu Nacional de Etnologia, 2000. Catálogo de uma exposição realizada no Museu Nacional de Etnologia, este livro inclui artigos de especialistas em história, etnologia, linguística e arte indígena. Os objetos e ilustrações da exposição abrangem vários séculos, porém estão dispostos em forma não-linear, colocando a ênfase menos nas transformações ocorridas e mais na persistente vitalidade da diversidade indígena. Figuram com destaque os objetos de coleções etnográficas, das viagens científicas do século XVIII às expedições antropológicas do século XX.

Cardoso, Rafael; Bandeira, Júlio et alii. Castro Maya Colecionador de Debret. São Paulo: Capivara, 2003, 264p. Trata-se de um catálogo geral da coleção de aquarelas, esboços e documentos adquirida por Raymundo Ottoni de Castro Maya junto aos descendentes de Debret em Paris em 1939. Na série "Tipos Índios", Debret tematiza trajes, práticas sociais e cultura material com algum destaque para a região leste (Botocudo, Puri, Maxakali, Camacã), porém com ilustrações interessantes de Guaicuru, Guarani e "caboclos civilizados", inclusive da cidade do Rio de Janeiro. São muito ricas (porém mal identificadas) as aquarelas de máscaras indígenas. O livro inclui estudos sobre Debret e a coleção.

Corrêa do Lago, Pedro, e Corrêa do Lago, Bia. Coleção Princesa Isabel: fotografias do século XIX. São Paulo: Editora Capivara, 2008, 432p. O livro disponibiliza reproduções de uma coleção de mais de mil fotografias pertencentes à Princesa Isabel. Embora não seja um tema prioritário, a presença indígena está espalhada pelo livro, desde imagens da época da Exposição Antropológica no Rio de Janeiro (1882), aos retratos de dois sertanistas negros (Tenente Antônio José Duarte e Manoel Urbano de Encarnação) no final do Império, às fotos tiradas por Barbosa Rodrigues na Amazônia ocidental (1889), ao retrato de um jovem índio com roupa de marinheiro (c. 1890), aos retratos de índios feitos no estúdio de Teixeira e Vázquez (c. 1892).

Dias, Jill, org. Brasil nas Vésperas do Mundo Moderno. Lisboa: Comissão Nacional para as Comemorações dos Descobrimentos Portugueses, [1991], 262p. Catálogo do segmento sobre o Brasil da exposição Nas Vésperas do Mundo Moderno: África e Brasil, realizada em 1992 no Museu Nacional de Etnologia em Lisboa. Sobre a história dos índios, o livro inclui densos capítulos de Anna Roosevelt, João da Rocha Pinto, Luís Felipe de Alencastro, John Monteiro e Ângela Domingues. Dentre os itens relacionados no catálogo, muitos dos quais expostos pela primeira vez porém que se tornaram mais conhecidos em exposições subsequentes, destacam-se os objetos da Viagem Filosófica de Alexandre Rodrigues Ferreira que estão depositados na Academia de Ciências de Lisboa. Além das máscaras, armas e adornos, chama a atenção a belíssima cerâmica produzida pelas índias das vilas de Monte Alegre e Barcelos, tal qual descrita nas memórias de Ferreira e reproduzida nas estampas desenhadas pelos riscadores que acompanharam a viagem.

Diener, Pablo e Costa, Maria de Fátima. Rugendas e o Brasil. São Paulo: Capivara, 2002, 376p. Fruto de um projeto ambicioso, este livro cataloga e reproduz a vasta produção artística de Johann Moritz Rugendas no que se refere ao Brasil. Os estudos que acompanham as ilustrações trazem aportes significativos para o conhecimento do "artista-viajante", situando a sua produção brasileira no contexto mais amplo de sua obra, que também abrange outras partes da América Latina, notadamente México, Chile, Argentina e Peru. Complementando as gravuras que acompanham a Voyage Pittoresque dans le Brésil (1835), os autores reuniram uma grande quantidade de obras de coleções particulares, incluindo quadros a óleo, estudos e aquarelas. Para além das imagens mais conhecidas através da Viagem Pitoresca, a temática indígena aparece em algumas telas sobre a paisagem e numa curiosa representação da "Primeira Missa Celebrada em São Vicente", uma tela de traços orientalistas.

Erikson, Philippe, org. La pirogue ivre: bières traditionelles en Amazonie. Nanterre: Laboratoire d’Ethnologie et de Sociologie Comparative/Musée Français de la Brasserie, 2006, 146p. Preparado como catálogo para acompanhar a exposição “Cervejas Tradicionais da Amazônia”, realizada no Musée Français de la Brasserie em Saint Nicolas-de-Port, na França, o volume traz um conjunto expressivo de pequenos artigos etnográficos e etnohistóricos a respeito do lugar das bebidas alcoólicas fermentadas entre os povos indígenas da América do Sul contemporânea. Não podiam faltar, é claro, amplas referências e um estudo mais pontual (de Renato Sztutman) de fontes sobre os Tupinambá dos séculos XVI e XVII. Além de fotografias e ilustrações etnográficas, o livro inclui um breve anexo com trechos de materiais históricos, de Staden, Thevet e Léry a Crevaux, Nordenskiold e Métraux. O livro fecha com um conjunto de receitas – sem a advertência de não tentar fazer em casa – reunidas por pesquisadores em vários momentos diferentes

Fernandes Jr., Rubens e Lago, Pedro Corrêa do. O Século XIX na Fotografia Brasileira: Coleção Pedro Corrêa do Lago. Rio de Janeiro: Francisco Alves, s/d, 192p. Neste catálogo de uma exposição, são de interesse para a história dos índios alguns retratos feitos entre 1875 e 1885 por Marc Ferrez (Kaiowá, Kayapó, Apiacá, Botocudo); duas fotos de um álbum com dez fotografias tiradas por Emílio Goeldi em Goiás em 1889 (Krahó); e duas fotos de Albert Fritsch no Amazonas em 1865 (grupo não identificado). O texto fornece algumas informações sobre os fotógrafos.

Fric, Pavel. Guido Boggiani, Fotógrafo. Lisboa: Museu Nacional de Etnologia, 2001, 79p. Belíssimo catálogo da exposição de fotos registradas por Boggiani em sua segunda viagem para a América do Sul, na qual buscava conservar "a memória documentada" de povos "em vias de total extinção". Devido às circunstâncias da morte do aventureiro, muitas fotos (inclusive dos Kadiwéu) foram destruídas, porém graças aos esforços do viajante e etnógrafo tcheco Albert Vojtech Fric (1882-1944), uma parte expressiva da coleção de chapas de vidro voltou para a Europa e permaneceu encaixotada por quase um século. O livro reproduz sobretudo os registros feitos entre os Chamacoco no Paraguai, em fotos que misturam estilos de fotografia, seja no modo antropológico, artístico ou mesmo informal.

Gauditano, Rosa, org. Aldeias Guarani Mbya na Cidade de São Paulo/ Nhandekuery mbya rekoa São Paulo tetã mbyte re. Edição trilingue português-guarani-inglês. São Paulo: Studio RG e Associação Guarani Tenonde Porã, 2006, 79p. Este livro acompanhou a exposição realizada na Caixa Cultural em 2006. Traz depoimentos de lideranças indígenas que relatam as origens das quatro aldeias mbyá existentes no município de São Paulo. De especial interesse é o depoimento do cacique Vera Popygua, de Tenonde Porã (Morro da Saudade), que oferece uma reinterpretação da presença histórica dos Guarani em terras paulistas. Além das belíssimas fotos feitas por Rosa Gauditano, o livro também inclui desenhos realizados por moradores destas aldeias.

Gomes, Denise Maria Cavalcante. Cerâmica Arqueológica da Amazônia: vasilhas da Coleção Tapajônica MAE-USP. São Paulo: Edusp/Imprensa Oficial, 2002, 360p. Este belo trabalho, além de oferecer um catálogo ilustrado das peças tapajônicas da coleção do museu, apresenta um estudo bem documentado do desenvolvimento cultural numa região da Amazônia. De particular interesse é o capítulo que coteja as evidências da coleção de cerâmicas com as hipóteses sobre a formação de cacicados, com base nos dados arqueológicos e etnohistóricos.

Grupioni, Luís Donisete Benzi, org. Índios no Brasil. São Paulo: Secretaria Municipal da Cultura, 1992 (reeditado duas vezes pelo MEC), 279p. Catálogo da exposição organizada em torno do Quinto Centenário da viagem de Colombo, este livro inclui excelentes artigos que buscam introduzir o leitor leigo à temática indígena. Fartamente ilustrada, o livro torna acessível aspectos da história e da cultura das sociedades indígenas, mostrando a diversidade e a complexidade do tema.

Monteiro, Salvador e Kaz, Leonel, orgs. Expedição Langsdorff ao Brasil, 1821-1829: Rugendas, Taunay, Florence. Rio de Janeiro: Edições Alumbramento, 1998, 412p. Edição luxuosa da iconografia pertencente ao Arquivo da Academia de Ciências da Rússia, em São Petersburgo, produzida durante a expedição científica comandada pelo barão Grigory Ivanovitch (Georg Heinrich) Langsdorff na década de 1820. O livro está dividido por artista, cada qual contribuindo com desenhos etnográficos. Na parte de Johann Moritz Rugendas, são reproduzidos esboços de índios Maxakali; de Aimé Adrien Taunay, há retratos aquarelados de índios e mestiços de origem Paresi e Chiquito, bem como imagens muito evocativas de índios Bororo, mostrando a pintura corporal e objetos de cultura material; e de Hércules Florence, há belíssimas imagens de índios Guató, Guaná, Cabixi, Apiaká e Munduruku. Notas esclarecedoras acompanham os dossiês de imagens.

Schoepf, Daniel. George Huebner, 1862-1935: um fotógrafo em Manaus. 2a ed., São Paulo: Metalivros, 2005, 216p. Não se trata, na verdade, de uma segunda edição mas sim da edição em português do catálogo de exposição publicado originalmente em francês pelo Museu de Etnografia de Genebra em 2000. O livro é excepcional, com um estudo pormenorizado deste fotógrafo praticamente esquecido e uma reprodução de fotos marcantes tiradas na Amazônia peruana, venezuelana e brasileira entre 1888 e 1920. Dentre os grupos retratados, figuram os Conibo, Piro, Shipibo, Campa, Cashibo, Ahuishiri, Makuxi, Wapixana e Canela. Além destas fotos inéditas, o livro também reúne um conjunto de cartas inéditas do fotógrafo a seu amigo o etnógrafo Theodor Koch-Grünberg, com detalhes interessantes sobre os Yauaperys (Waimiri-Atroari), sobre os trabalhos etnográficos no Rio Branco, sobre a investigação de Roger Casement nas propriedades de J. C. Araña e sobre a expedição Roosevelt-Rondon.

Silva, Fabíola Andrea e Gordon, César, orgs., Xikrin: uma coleção etnográfica, São Paulo: Edusp, 2012, 324p. Belo volume que retrata, através de textos, fotografias e um rico depoimento da etnóloga Lux Vidal, a coleção de artefatos da cultura material xikrin, reunida ao longo de 30 anos por Vidal, a principal estudiosa deste povo indígena. O depoimento e outros textos fornece importantes subsídios para a história dos Xikin, bem como perspectivas importantes sobre arte e cultura. Inclui um catálogo ilustrado da coleção.

Soares, João Paulo Monteiro e Ferrão, Cristina, orgs., Viagem ao Brasil de Alexandre Rodrigues Ferreira, 2 vols. São Paulo: Kapa Editorial/Fundação Vitae, 2002, 312, 157p. De produção esmerada, estes volumes reproduzem o exemplar do Museu Bocage (Lisboa) das aquarelas realizadas para ilustrar a “Viagem Filosófica”. O primeiro volume é composto por “Desenhos de Gentios, Animais Quadrúpedes, Aves, Anfíbios, Peixes e Insetos” e o segundo por “Prospectos de Cidades, Vilas, Povoações, Fortalezas e Edifícios, Rios e Cachoeiras”. As ilustrações representando índios de diferentes grupos são de especial interesse, pois trazem informações ausentes ou equivocadas na versão mais conhecida destas imagens, pertencente ao Museu Nacional do Rio de Janeiro. Já os prospectos incluem vários desenhos que não fazem parte da outra coleção e que são de interesse para os estudiosos das populações indígenas. As figuras referentes aos índios são pouco esclarecidas porém a parte zoológica traz notas detalhadas de Nelson Papavero e Dante Martins Teixeira.

Soares, João Paulo Monteiro e Ferrão, Cristina, orgs., Viagem ao Brasil de Alexandre Rodrigues Ferreira: Coleção Etnográfica, 3 vols. São Paulo: Kapa Editorial/Fundação Vitae, 2005, 240, 200, 80p. Publicação importante e oportuníssima que divulga os acervos de cultura material reunidos durante a “Viagem Filosófica” e guardados na Academia de Ciências de Lisboa (vol. 1) e no Museu Antropológico da Universidade de Coimbra (vol. 2). Se os textos introdutórios apresentam poucas novidades, as imagens são preciosas e poderosas, com fotografias de excelente qualidade, constituindo um catálogo completo das duas coleções. Chamam especial atenção as cerâmicas produzidas pelas índias das vilas pombalinas de Barcelos e Monte Alegre; as máscaras cerimoniais dos índios Jurupixuna; as coifas Munduruku; os trançados de palha e de missangas; as clavas, remos e pranchetas, ricamente decorados; enfim, a lista completa de objetos seria longa. Vários objetos trazem descrições mais detalhadas, baseadas nas anotações feitas pela etnóloga Thekla Hartmann nos anos 80. O terceiro volume inclui a transcrição de alguns manuscritos da Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro, oferecendo algumas informações que esclarecem a origem e características das peças colecionadas e complementam as estampas iconográficas, algumas das quais reproduzidas neste volume.

8. Narrativas e Autores Indígenas (voltar ao início)

Almeida, Rita Heloísa de, org. Aldeamento do Carretão segundo os seus Herdeiros Tapuios: conversas gravadas em 1980 e 1983. Brasília: Funai/CGDOC, 2003, 422p. Este livro reproduz as entrevistas – na verdade, conforme explica a autora, conversas – realizadas com os habitantes do antigo aldeamento de Carretão ou Pedro III, em Goiás. Voltados inicialmente para informar a FUNAI sobre os conflitos na região e, em seguida, para subsidiar a dissertação de mestrado da autora, os levantamentos aqui apresentados fornecem detalhes bastante interessantes sobre a identidade étnica, sobre a história fundiária e sobre a memória. Além de depoimentos de Tapuios, também há entrevistas com posseiros e fazendeiros que contam outra história. O livro traz, ainda, um pequeno anexo documental.

Borges, Paulo Humberto Porto. Ymã, Ano Mil e Quinhentos: relatos e memórias indígenas sobre a conquista. Campinas: Mercado das Letras, 2000, 168p. Interessante trabalho sobre uma experiência educacional na escola indígena de uma comunidade Guarani no Rio de Janeiro. Confronta-se a memória oral com os registros escritos da história dos últimos 500 anos, mostrando as ricas possibilidades de diálogo entre formas diferentes de pensar a história. O livro traz depoimentos de alunos e professores indígenas, ilustrando os resultados da experiência, com destaque para o trabalho realizado com ilustrações.

Ferreira, Mariana Kawall Leal. Histórias do Xingu. São Paulo: Núcleo de História Indígena e do Indigenismo, 1993. A autora reúne e comenta numa excelente introdução várias narrativas de índios de diferentes grupos étnicos residentes no Parque Indígena do Xingu. Além de versões de mitos que se entrelaçam com memórias históricas, são de particular interesse as reconstituições das origens do contato e do estabelecimento do Parque.

Flória, Cristina, e Fernandes, Ricardo Muniz, orgs. Tradição e Resistência: Encontro de Povos Indígenas. São Paulo: Edições SESC-SP, 2008, 328p. +DVD e Mapa. Este volume documenta, com textos e fotos, o evento realizado em junho e julho de 2004 no SESC-Belenzinho, na capital paulista, reunindo representantes de 16 povos indígenas. Os textos reproduzem as falas de 25 expositores, em sua maioria índios, agrupadas nos grandes temas de meio ambiente, política e territorialidade, e cultura. Embora raramente tratada de maneira explícita, a dimensão histórica das culturas representadas está sempre presente, mesmo se codificada nas categorias que dão o título do livro. Uma seleção dos depoimentos indígenas realizados durante o encontro aparece no DVD, junto com cenas filmadas em diversas aldeias, conferindo uma visualidade à noção de tradição através da confecção de artefatos e da realização de rituais. O livro inclui a versão dos textos para o inglês. 

Garcia, Wilson Galhego, org. Nhande Rembypy. Nossas Origens. São Paulo: Editora Unesp, 2003, 770p. Fruto subsidiário de uma pesquisa sobre o universo botânico dos Kaiowá, este livro reúne um grande número de cântigos, narrativas e depoimentos de índios enfocando sobretudo o tema da origem dos Kaiowá e de suas práticas culturais. Apesar de um índice temático abrangente, o livro é difícil de manusear e de apreciar. Há informações e perspectivas interessantes sobre a história dos Kaiowá, porém o organizador não deixa claro quem são os narradores, que ficam diluídos numa categoria geral de “informantes”. Ainda assim, conforme salienta Sílvia Carvalho na orelha do livro, a obra tem uma escala monumental que reflete a longa experiência do organizador entre os índios e, ademais, através da colaboração do tradutor Kaiowá Aniceto Ribeiro, a edição bilíngue contribui para colocar um material ao alcance de estudantes indígenas.

Gentil, Gabriel dos Santos. Povo Tukano: cultura, história e valores. Manaus: Editora da Universidade Federal do Amazonas, 2005 (Série Autores Indígenas), 291p. Escrito pelo kumu (iniciado) tukano Séribhi Tëoñari, da aldeia Pari-Cachoeira no rio Tiquié (Noroeste da Amazônia), o livro busca reunir informações sobre a cultura e história dos povos Tukano, com destaque para os “saberes dos pajés”. 

Jecupé, Kaka Werá. A Terra dos Mil Povos: História Indígena do Brasil Contado por um Índio. 2a ed. São Paulo; Editora Fundação Peirópolis, 1998 (Série Educação para a Paz), 115p. Iniciativa do Instituto Nova Tribo, criado pelo autor em 1994, o livro reúne uma sequência de textos curtos sobre vários aspectos da história dos povos indígenas no Brasil desde 1500. O autor intercala informações de vários tipos, navegando entre mitos ameríndios, referências à arqueologia e à historiografia, dados informativos e experiência pessoal.

Jekupé, Olívio. Xerekó Arandu. A Morte de Kretã. Ilustrado por Maté. São Paulo e Guarulhos: Peirópolis e Palavra de Índio, 2002, 56p. Neste livro, o autor Tupã, “um guarani crescido na cidade”, relata conversas que teve com vários interlocutores no Paraná, no período em que estudava filosofia numa faculdade em Curitiba, no final dos anos 80. Rememora, de forma interessante, os desafios que enfrentavam o movimento indígena naquela conjuntura crítica. O livro culmina com um relato da morte do líder kaingang Ângelo Kretã, vítima de um acidente automobilístico em janeiro de 1980, em circunstâncias que indicam que houve um atentado. Mártir, Kretã se tornou um símbolo da luta pela terra e pelos direitos indígenas e, ao sublinhar o caráter carismático deste líder, o autor deste livro reivindica a necessidade atual de lideranças como Kretã, “pois um povo sem líder é como um rebanho perdido nos campos”. 

Maná, Joaquim Paula, coord. Shenipabu Miyui: história dos antigos. 2a ed. revisada. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2000, 168p. Iniciativa da Comissão Pró-Índio do Acre e da Organização dos Professores Indígenas do Acre, o livro reúne a transcrição de narrativas de memória oral coletadas em várias aldeias Kaxinawá dos rios Jordão e Purus. De autoria coletiva, o livro surgiu de uma iniciativa do professor e liderança indígena Osair Sales Siã, que viajou pelas aldeias Kaxinauá no Peru para gravar as narrativas. O livro, editado em Kaxinawá e português, inclui desenhos feitos por índios.

Medeiros, Sérgio, org. Makunaíma e Jurupari: Cosmogonias Ameríndias. São Paulo: Editora Perspectiva, 2002, 413p. (Coleção Textos 13). Este livro reproduz e comenta as coletâneas de mitos e lendas feitas pelos etnógrafos Theodor Koch-Grünberg e Ermanno Stradelli há mais de um século. No caso de Stradelli, é a primeira tradução integral para o português da versão da “Lenda de Jurupari”, inicialmente redigida em nhengatu por Maximiano José Roberto, filho mestiço de uma índia Tariana da região do Uaupés, e publicada em italiano em 1890.

Meihy, José Carlos Sebe Bom. Canto de Morte Kaiowá: história oral e de vida. São Paulo: Edições Loyola, 1991, 303p. Motivado inicialmente pela perplexidade diante do surto de suicídios de jovens Kaiowá na Reserva Francisco Horta Barbosa em Dourados MS, o projeto que resultou neste livro se abriu para um registro bastante interessante de narrativas, conduzidas e transcritas mediante técnicas de história oral. São 16 textos, em sua maioria de narradores indígenas, que incluem reflexões não apenas sobre o cotidiano como também sobre o passado.

Pataxó, Katão. Trioká Hakão Pataxi: Caminhando pela História Pataxó. Salvador: Gráfica Santa Helena, 2001, 75p. O autor relata a história dos índios desde a chegada dos portugueses aos dias de hoje, enfocando particularmente o povo Pataxó do sul da Bahia. Inclui algumas lendas e um vocabulário.

Ribeiro, Eduardo Magalhães, org. Lembranças da Terra: histórias do Mucuri e Jequitinhonha. Belo Horizonte: Cedefes, s/d. O livro reúne depoimentos de viajantes e moradores na região. No que diz respeito à temática indígena, há a notável narrativa de Domingos Ramos Pacó, um professor Botocudo (nascido em Itambacuri) que, em 1918, colocou no papel uma história do contato entre missionários e Botocudos a partir de uma perspectiva indígena: "Hámbric anhamprá ti mattâ nhiñchopón? 1918" (pp. 198-211), com comentário esclarecedor do organizador.

 

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