Os
Índios na História do Brasil (home)
Bibliografia Comentada
Esta listagem elenca uma seleção de obras publicadas desde
1990 que abordam a temática dos índios na história do Brasil ou, numa chave
um pouco diferente, da história dos índios no Brasil. A distinção é mais do que
um arranjo das palavras: demarca abordagens distintas, a primeira privilegiada
pelos historiadores, a segunda pelos antropólogos. Os comentários são menos
críticos que informativos, buscando chamar a atenção para os conteúdos que
trazem novos aportes para a discussão da história indígena e história do
indigenismo no Brasil. A bibliografia está dividida em oito partes. A primeira,
História
dos Índios, Índios na História, arrola etnografias e
monografias de história que tratam especificamente de povos indígenas, porém
também estão incluídas algumas obras mais gerais que oferecem informações e
abordagens relevantes. A segunda parte elenca Coletâneas e Números
Especiais de Revistas que contêm um conjunto de artigos
escritos por autores diversos, referentes à história indígena. A terceira
inclui uma Seleção de Obras Reeditadas neste
período, incluindo autores dos séculos XVI a XX. A quarta apresenta Instrumentos
de Pesquisa e Fontes de Informação, abrangendo guias de
fontes, repertórios de arquivos e de legislação, bibliografias, dicionários e
enciclopédias. A quinta enfoca a Edição de Fontes,
incluindo coleções de documentos, transcrições de textos manuscritos e
transcrições de relatos orais sobre a história dos índios. A sexta
inclui documentos e estudos ligados à Pesquisa Etnográfica,
o que abrange diários de campo, documentos sobre expedições e estudos sobre a
pesquisa científica entre os índios. A sétima parte traz uma listagem de
Catálogos
de Exposições e Coleções, que apresentam materiais
iconográficos e textos originais. Finalmente, a última parte é dedicada a Narrativas e
Autores Indígenas, com ênfase em textos voltados para a
história.
Esta bibliografia constitui um projeto em curso
e será aumentada e corrigida periodicamente. Compilada por John M.
Monteiro (atualizada julho de 2012; últimos acréscimos em
roxo).
Mande informações, correções e comentários para o editor da listagem. Última versão (pesquisável) em
PDF: clicar aqui.
1.
História dos Índios, Índios na História (voltar
ao início)
Agnolin, Adone. O Apetite da Antropologia. O Sabor
Antropofágico do Saber Antropológico: alteridade e identidade no caso tupinambá.
São Paulo: Associação Editorial Humanitas, 2005, 403p. Este livro surgiu da tese de
doutorado do autor, apresentando uma densa exegese da documentação europeia
sobre a antropofagia nas Américas, em especial entre os Tupinambá do litoral da
América Portuguesa. Além de dialogar com a bibliografia etnológica e
historiográfica, o autor discute a antropofagia não apenas como objeto em si
mas sobretudo como uma chave para compreender diferentes discursos antropológicos
em referência a um “outro” esvaziado de uma historicidade própria.
Agnolin, Adone. Jesuítas e Selvagens: a negociação da fé no encontro catequético-ritual
americano-tupi (séc. XVI-XVII). São Paulo: Humanitas, 2007, 560p. Partindo de uma leitura crítica dos
catecismos jesuíticos, obras compostas nos séculos XVI e XVII para auxiliar na
evangelização dos índios, este livro oferece ricas perspectivas sobre
“situações dialógicas” que configuraram o encontro entre culturas neste
período. De especial interesse para a história dos índios é a Parte III, que
enfoca “Doutrina e Sacramentos” e mostra o caráter “mão dupla” do sistema de
comunicação e do processo de conversão.
Alden, Dauril. The Making of an Enterprise:
the Society of Jesus in Portugal, its empire, and beyond, 1540-1750. Stanford: Stanford University Press,
1996, 707p. Resultado
de quase três décadas de pesquisa, o livro oferece um amplo panorama das
atividades jesuíticas na esfera do padroado lusitano, da fundação da ordem à
sua expulsão das dependências portuguesas. Os aspectos mais importantes do
livro residem na abordagem das atividades produtivas e comerciais dos jesuítas,
bem como na perspectiva interoceânica do empreendimento inaciano. No que diz
respeito à temática indígena no Brasil, o autor incorpora e expande seus
estudos anteriores sobre a questão da liberdade dos índios, sobre as aldeias
missionárias e sobre o trabalho indígena.
Alencastro, Luiz Felipe de. O Trato dos Viventes: formação do Brasil
no Atlântico Sul. São Paulo: Companhia das Letras, 2000, 525p. Arrojada interpretação da formação
do Brasil no século XVII a partir da sua inserção num sistema comercial e num
circuito cultural demarcados no espaço do Atlântico Sul. No que diz respeito à
temática indígena, o livro apresenta uma discussão densa e inovadora sobre a
relação entre a escravidão indígena e a escravidão africana no Brasil e em
Angola. Destacam-se a parte sobre epidemias enquanto fator de peso na opção
pelo trabalho africano, bem como a reinscrição das guerras indígenas do século
XVII no contexto mais amplo da história colonial seiscentista.
Almeida, Maria Regina Celestino de. Os Índios na História do Brasil.
Rio de Janeiro: Editora FGV, 2010 (Coleção FGV de Bolso, 15), 167p. Partindo do pressuposto de que a
historiografia brasileira, tal qual construída a partir do século XIX, “apagou
a história e as identidades de inúmeros povos indígenas”, este livro busca
recolocar os povos indígenas na história colonial e pós-colonial do país. Ao
deslocar os índios “dos bastidores ao palco”, a autora oferece uma síntese
habilíssima da recente historiografia voltada para a temática indígena e chama
a atenção para o desafio que enfrenta gerações futuras, pois “há ainda muitas
histórias de índios para se escrever e contar”.
Almeida, Maria Regina Celestino de. Metamorfoses Indígenas:
identidade e cultura nas aldeias coloniais do Rio de Janeiro. Rio de
Janeiro: Arquivo Nacional, 2003, 301p. Obra vencedora do Prêmio Arquivo Nacional de
Pesquisa em 2001, este livro apresenta uma ampla pesquisa documental, a partir
da qual a autora tece uma abordagem inovadora da história dos índios no Rio de
Janeiro colonial. O enfoque recai no papel das lideranças nativas, na inserção
dos índios aldeados no sistema de trabalho colonial, nas disputas em torno das
terras e na busca de uma identidade indígena num contexto de mudanças
profundas.
Almeida, Rita Heloisa de. O Diretório Pombalino. Brasília:
Editora da UnB, 1998¸ 370p. Estudo bastante detalhado da legislação pombalina e suas implicações
para os povos indígenas da Amazônia na segunda metade do século XVIII. É
importante a discussão sobre o conceito de civilização que serviu de base para
a política indigenista neste período, bem como a contextualização desta
política no plano mais amplo do império português. Reproduz, em facsímile, o
Diretório dos Índios de 1757.
Alves, Maurício Martins. Caminhos da Pobreza: a manutenção da
diferença em Taubaté (1680-1729). Taubaté: Prefeitura Municipal, 1998, 181p. Pesquisa detalhada a partir do rico
acervo documental (inventários, testamentos, notas de tabelião) existente em
Taubaté, referente ao final do século XVII e início do século XVIII, quando
vigorava a exploração intensiva da mão-de-obra indígena na região.
Amantino, Marcia. O Mundo das
Feras: os moradores do sertão oeste de Minas Gerais – século XVIII. São
Paulo: Annablume, 2008, 262p. Trata-se da tese de doutoramento da autora,
que aborda os sertões de Minas colonial, com enfoque interessante sobre as populações
indígenas e quilombolas. A pesquisa é bastante original e explora uma
documentação manuscrita em acervos mineiros e cariocas. Inclui uma discussão
muito interessante das relações entre comunidades indígenas e quilombolas,
sugerindo de forma instigante que “as estruturas quilombolas se assemelhavam às
organizações espaciais de aldeias indígenas”.
Amorim, Maria Adelina. Os
Franciscanos no Maranhão e Grão-Pará: missão e cultura na primeira metade de
seiscentos. Lisboa: Centro de Estudos de História Religiosa/ Universidade
Católica Portuguesa, 2005 (Estudos de História Religiosa 2), 373p. A partir
de uma ampla pesquisa documental em diversos arquivos portugueses, o livro
analisa a contribuição dos franciscanos para o estabelecimento da presença
portuguesa na Amazônia na primeira metade do século XVII. Inclui muitas
informações sobre missões e relações com os índios. A autora destaca o papel do
assim-chamado “Hércules da Capucha”, frei Cristóvão de Lisboa, que intercedeu a
favor da liberdade dos índios diante dos abusos cometidos por colonos
particulares e pelas autoridades portuguesas no Maranhão. O livro inclui
ilustrações pouco conhecidas e um extenso anexo documental com vários
documentos sobre as missões e sobre a defesa da liberdade, alguns inéditos,
outros publicados anteriormente nos Anais
da Biblioteca Nacional.
Anderson, Robin L. Colonization as
Exploitation in the Amazon Rain Forest, 1758-1911. Gainesville: University Presses of Florida,
1999, 208p. Ao
percorrer a história do baixo Amazonas da introdução do Diretório ao ocaso do boom
da borracha, a autora sustenta que a colonização representou basicamente a
exploração desenfreada dos recursos humanos e naturais da região. O objetivo é
mostrar que o processo contemporâneo de devastação da Amazônia possui raízes
profundas.
Andrade, Ugo Maia. Memória e Diferença: os Tumbalalá e as redes de
trocas no submédio São Francisco. São Paulo: Humanitas, 2008, 391p. A partir de uma pesquisa etnográfica
e documental, o autor ambienta a discussão da etnogênese tumbalalá em redes de
relações interétnicas e interindígenas, redes essas que se constituem e se
transformam no tempo e na memória. O livro inclui um capítulo muito bom sobre o
processo de ocupação colonial do sertão do São Francisco e as implicações deste
processo para a configuração de identidades indígenas. Mostra que a emergência
étnica é longe de ser uma invenção recente e oportunista, antes está articulada
a mudanças no quadro de relações historicamente profundas.
Andrade, Maristela de
Paula. Terra de Índio: Identidade Étnica
e Conflito em Terras de Uso Comum. São Luís: Ed. UFMA, 1999, 296p. A partir de uma pesquisa de campo no
Município de Viana, no Maranhão, a autora apresenta um estudo denso da relação
entre uma comunidade rural e as terras de uso comum. De particular interesse
para a temática da história indígena são as partes que trazem uma pesquisa
documental e cartográfica com referências importantes aos Gamela. Também são
significativos os depoimentos de moradores sobre diferentes aspectos do passado.
Finalmente, enfoca o processo recente de conflitos fundiários e suas
implicações para a elaboração da etnopolítica.
Andrello, Geraldo. Cidade do Índio: transformações e cotidiano
em Iauaretê. São Paulo: Editora Unesp; Instituto Socioambiental; NuTI,
2006, 447p. Estudo
tão instigante quanto inovador, Cidade do
Índio apresenta uma história e uma etnografia de uma “cidade indígena” no
noroeste da Amazônia. De complexa feição pluriétnica (Tukano, Arapasso, Desana,
Tariano, Pira-Tapuia e outros), Iauaretê propõe um desafio teórico para a
tradição etnográfica focada geralmente num povo e numa aldeia. Como parte deste
desafio, o autor realiza uma leitura diferenciada de fontes históricas,
analisadas à luz dos materiais etnográficos coletados em campo (na cidade). Mas
o autor também considera o “tom histórico” das narrativas indígenas, que pautam
suas avaliações de situações atuais à luz de uma referência ao modo de vida dos
antigos. Mais do que isso, segundo o autor, “os sentidos atribuídos pelos
índios às transformações contemporâneas relacionam-se nitidamente a uma longa
história de contato com a chamada sociedade nacional” (p. 18). De especial
interesse para a história indígena é o capítulo 2, que realiza uma admirável
síntese de vários séculos de história.
Apolinário, Juciene Ricarte. Os Akroá e Outros Povos Indígenas nas
Fronteiras do Sertão: políticas indígena e indigenista no norte da Capitania de
Goiás, atual Estado do Tocantins, século XVIII. Goiânia: Editora Kelps,
2006, 276p. Fruto
de uma tese de doutorado defendida na UFPE, o livro abarca a atribulada
história dos povos indígenas que, no século XVIII, enfrentaram o avanço da
presença colonial na região do rio Tocantíns. A autora traz inúmeros aportes
documentais que permitem elucidar o protagonismo de homens e mulheres Akroá,
Karajá e Xakriabá (entre outros) nos embates violentos, na negociação de
acordos de paz e na constituição de um espaço colonial para os índios. É de
grande interesse a utilização de textos e depoimentos de obscuros estadistas, de
sertanistas semi-analfabetos e de outros personagens que ilustram o encontro
nem sempre feliz entre a política indigenista de Lisboa e as práticas locais do
sertão. O livro inclui mapas ilustrados, com destaque para um manuscrito da
Biblioteca Pública de Évora que mostra representações pictóricas de índios e
aldeias.
Araújo, Melvina. Do
Corpo à Alma: missionários da Consolata e índios Macuxi em Roraima. São
Paulo: Humanitas, 2003, 248p. Apresentado originalmente
como tese de doutorado em Antropologia, o livro enfoca a configuração cultural
resultante das relações entre missionários do Instituto Consolata para Missões
Estrangeiras e seus interlocutores Macuxi, de meados do século XX ao início do
XXI. Pensado na linha que toma a “mediação cultural” como foco de análise, a
pesquisa é especialmente reveladora ao tratar da interface entre as concepções
etiológicas dos índios e as práticas missionárias no tratamento de doenças,
levando a uma interessante discussão do movimento das concepções de pessoa,
corpo e alma neste contexto transcultural.
Ataídes, Jézus Marco de. Sob o
Signo da Violência: colonizadores e Kayapó do Sul no Brasil Central.
Goiânia: Ed. UCG, 1998 (Coleção Teses Universitárias 4), 187p. Baseado
numa extensa pesquisa sobretudo em arquivos goianos, este estudo mapeia
literalmente séculos de encontros e confrontos entre os Kayapó do Sul e
diferentes atores envolvidos, incluindo paulistas, Bororo e autoridades
coloniais e imperiais, entre outros. O trabalho abrange as capitanias e
províncias de Goiás, Minas Gerais e São Paulo.
Bandeira, Júlio. Canibais no Paraíso: a França Antártica e o
imaginário europeu quinhentista. Rio de Janeiro: Mar de Idéias, 2006, 200p.
O autor reúne uma
quantidade expressiva de materiais textuais e iconográficos que refletem a
dimensão atlântica das relações entre franceses e índios durante o século XVI.
O livro é voltado para um público não especializado, porém a edição é muito bem
feita e as imagens são evocativas e provocadoras, sobretudo à medida que
permitem comparações entre as representações dos ameríndios com as de outros
povos. No final do livro há uma tradução do texto para o francês.
Baptista, Jean. O Temporal: sociedades e espaços missionais. São Miguel das
Missões: Museu das Missões, 2010 (Dossiê Missões, I), 228p. Marcando os 400 anos da formação das
reduções, o Dossiê Missões traz três volumes que buscam fornecer subsídios
conceituais e documentais para o Museu das Missões, em São Miguel RS. Este
primeiro volume, baseado nos Manuscritos da Coleção de Angelis e na
bibliografia especializada sobre os Guarani, aborda aspectos organizacionais e
administrativos com destaque para a experiência dos índios “reduzidos”. É
especialmente interessante o enfoque sobre os espaços ocupados por crianças,
mulheres e homens indígenas nas missões.
Baptista, Jean. O Eterno: crenças e práticas missionais. São Miguel das Missões:
Museu das Missões, 2010 (Dossiê Missões, II), 260p. Este segundo dossiê sobre as missões
se apoia sobretudo na tese de doutorado do autor, buscando elucidar questões
relativas à economia simbólica dos Guarani em situações de crise, com um
enfoque especial sobre a fome, as epidemias e a guerra. O autor mobiliza uma
quantidade expressiva de documentos inéditos, provenientes da Coleção de
Angelis.
Baptista, Jean, e Santos, Maria
Cristina dos. As Ruínas: a crise entre o
temporal e o eterno. São Miguel das Missões: Museu das Missões, 2010
(Dossiê Missões, III), 249p. O terceiro dossiê inclui uma parte da tese de doutorado de Maria
Cristina dos Santos sobre as missões no período posterior à expulsão dos
jesuítas na segunda metade do século XVIII. Baseado numa ampla pesquisa
documental, esta parte demonstra os percalços da administração espanhola e dos
índios na tentativa de reorganizar as comunidades, cada vez mais arruinadas. A
segunda parte do livro, escrito por Jean Baptista, adentra o século XIX e
acompanha o destino das ruínas de igrejas, das populações dispersas e dos
objetos sagrados que ficaram das reduções.
Barbosa, Bartira Ferraz. Paranambuco: poder e herança indígena.
Nordeste séculos XVI-XVII. Recife: Editora Universitária, 2007, 220p. Baseado numa tese de doutorado em
História defendida na USP, o livro busca, nas palavras da autora, “reordenar
questões” atinentes à ocupação portuguesa do espaço pernambucano nos séculos
XVI e XVII. Lançando mão de dados arqueológicos, fontes históricas escritas e
percepções cartográficas, a autora mostra que a conquista dos espaços
ameríndios constituiu um processo profundamente imbricado numa complexa trama
de guerra, aliança, mestiçagem e exploração do trabalho. O livro traz
informações detalhadas sobre a localização de espaços indígenas pré-coloniais e
coloniais. Em anexo, a autora inclui belas reproduções de mapas coloniais e
dados complementares sobre a ocupação portuguesa do território.
Barcelos, Artur H. F. Espaço e Arquitetura nas Missões Jesuíticas:
o caso de São João Batista. Porto Alegre: Editora da PUCRS, 2000 (Coleção
Arqueologia 7), 408p. Originalmente uma dissertação de mestrado, este livro
descreve e analisa a organização espacial da redução São João Batista.
Informado pelos aportes da arqueologia espacial, o estudo aproveita sobretudo
fontes textuais, cartográficas, topográficas e iconográficas dos jesuítas nas
missões espanholas da Província do Paraguai.
Barros, Clara Emília Monteiro de. Aldeamento de São Fidelis: o
sentido do espaço na iconografia. Rio de Janeiro: IPHAN, 1995 (Série
Ensaios 3), 143p. O
núcleo do trabalho está na análise iconográfica de uma gravura de 1782
mostrando a aldeia de São Fidélis, no Vale do Paraíba fluminense. Pouco
elaborado e carente de apoio documental, o texto busca analisar a organização
dos espaços político e simbólico deste aldeamento capuchinho.
Barros, Edir Pina de. Os Filhos
do Sol. História e cosmologia na organização social de um povo Karib: os
Kurâ-Bakairi. São Paulo: Edusp, 2003, 385p. Fruto de uma longa convivência da autora entre
os Bakairi no Mato Grosso, esta etnografia versa mais sobre a cosmologia e a
organização social do que sobre a história. Ainda assim, o primeiro capítulo
apresenta informações muito ricas retiradas de fontes históricas
diversificadas, dos relatos coloniais, à documentação do Império, aos relatos
da expedição de Karl von den Steinen (1884), aos relatórios do SPI.
Becker, Ítala Irene Basile. O Índio Kaingang no Rio Grande do Sul.
2ª ed. São Leopoldo: Editora Unisinos, 1995, 324p. Reedição de estudo publicado em 1975, superado
em muitos aspectos pela nova bibliografia Kaingang dos últimos tempos. Ainda
assim, há uma compilação de informações relevantes, com relativamente pouco
destaque para a dimensão histórica.
Becker, Ítala Irene Basile, com a
colaboração de Luís Fernando da Silva Laroque. O Índio Kaingang do Paraná: Subsídios para uma Etno-História. São
Leopoldo: Editora Unisinos, 1999, 344p. O texto busca oferecer um amplo painel da
presença Kaingang no território paranaense, baseada numa bibliografia variada e
alguns documentos impressos.
Bezerra, Marcos Otávio. Panambi: um Caso de Criação de uma Terra
Indígena Kayowá, Niterói: Editora da UFF, 1994, 149p. A partir de documentos do Serviço de
Proteção aos Índios, o trabalho avalia o processo de constituição de uma área
indígena no atual Mato Grosso do Sul.
Bigio, Elias dos Santos. Cândido Rondon: a integração nacional.
Rio de Janeiro: Contraponto/Petrobrás, 2000 (Série Identidade Brasileira), 72p.
Breve estudo sobre
a vida e obra do principal articulador do SPILTN, bem fundamentado numa
pesquisa documental e bibliográfica. O trabalho enfoca sobretudo os projetos
junto aos índios do Mato Grosso durante as primeiras décadas do século XX. O
autor inclui uma breve descrição da documentação do Museu do Índio e reproduz
algumas fotos interessantes daquele acervo.
Bigio, Elias dos Santos. Linhas Telegráficas e Integração de Povos
Indígenas: as estratégias políticas de Rondon (1889-1930). Brasília:
FUNAI/CGDOC, 2003, 357p. Baseado numa ampla pesquisa documental, este livro aborda as atividades
e as políticas de Rondon a partir da perspectiva da história regional de Mato
Grosso. Reproduz uma parte da documentação em citações extensas e traz algumas
das fotos publicadas anteriormente no livro de Rondon, Índios do Brasil (Rio de Janeiro: CNPI, 1946).
Bittencourt, Libertad
Borges. A Formação de um Campo Político
na América Latina: as organizações indígenas no Brasil. Goiânia: Editora
UFG, 2007, 227p. O núcleo deste livro está no capítulo 3, que discorre sobre as
organizações indígenas no Brasil, destacando o período posterior à Constituição
de 1988, pois, segundo a autora, 90% das organizações foram criadas depois
dessa data. Faz uma breve incursão pelo período anterior (anos 70 e 80) e
enfoca de maneira relevante o papel de mediadores não indígenas na articulação
do movimento. Utiliza um amplo leque de fontes e depoimentos ligados às
associações.
Brienen, Rebecca Parker. Visions of Savage Paradise: Albert Eckhout, Court Painter in Colonial
Dutch Brazil. Amsterdã:
Amsterdam University Press, 2006, 288p. A partir de uma
perspectiva de história da arte, este livro proporciona o primeiro estudo de
fôlego sobre a vida e obra do artista que acompanhou Maurício de Nassau e que
nos legou um dos mais penetrantes registros visuais do século XVII, notável
pelo seu olhar etnográfico. Após reconstituir a biografia do artista, a autora
apresenta uma densa análise dos desenhos de história natural e dos quadros
monumentais que retratam indígenas, africanos e mestiços, com destaque para um
estudo detalhado sobre os retratos dos Brasilianen
(brasilianos ou Tupi) e dos Tapuia. Além de chamar a atenção para aspectos
temáticos e estilísticos pouco notados em estudos anteriores, a autora também
investe numa análise do contexto mais amplo no qual estas obras se inseriram,
contexto esse envolvendo a circulação de imagens e objetos numa ampla rede de
trocas e de acumulação de saberes coloniais. Ver também a obra desta autora na seção Catálogos de Exposições e
Coleções.
Britto, Rossana G. A Saga de Pero
do Campo Tourinho: o primeiro processo da Inquisição no Brasil. Petrópolis:
Editora Vozes, 2000, 247p. Este livro retoma o célebre caso do capitão-donatário de Porto Seguro,
estudado por Capistrano de Abreu e outros. Ao esmiuçar os depoimentos constantes
do processo inquisitorial contra Tourinho, a autora evoca o mundo de relações
políticas, sociais e culturais entre os povoadores portugueses e os índios nos
turbulentos anos iniciais da colônia. Vem transcrito, no anexo, o processo da
Inquisição, inclusive a parte inédita que foi omitida na História da
Colonização Portuguesa do Brasil, de Carlos Malheiros Dias (1924).
Calavia Sáez, Oscar. O Nome e o Tempo dos Yaminawa: etnologia e
história dos Yaminawa do rio Acre. São Paulo: Editora Unesp; Instituto
Socioambiental; NuTI, 2006, 479p. Estruturado em três partes, este livro oferece uma abordagem inovadora
da história indígena, com foco num grupo de língua pano que veio a ser chamado
de Yaminawa. A primeira parte apresenta uma etnografia do grupo, cuja “função
essencial é definir o sujeito da história descrito nos capítulos seguintes, sua
estrutura interna e as fronteiras do grupo”. O autor descreve a segunda parte
como “uma tentativa de crônica”, lançando mão de fontes históricas, etnografias
antigas (com destaque para Capistrano de Abreu e Constant Tastevin),
etnografias recentes, relatos orais e cantos indígenas. Esta parte enfoca de
maneira instigante a história dos índios como um campo em disputa, inclusive
tecendo uma crítica à reiteração de uma história de perdas, que se contrasta
com uma abordagem que entende a história como parte de um processo constante de
produção da cultura e da identidade. Esta parte encerra com uma análise
fascinante dos mitos que tematizam o Inca, servindo de ponte para a terceira e
última seção, que apresenta uma rica análise da mitologia dos Yaminawa,
oferecendo ainda a transcrição de 70 relatos míticos em anexo.
Capiberibe, Artionka. Batismo de Fogo: os Palikur e o cristianismo.
São Paulo: Annablume; Fapesp; NuTI, 2007, 276p. Versão revista de uma dissertação defendida na
Unicamp, o livro enfoca o processo de evangelização dos Palikur, com ênfase
especial e inovadora sobre a atuação de missionários pentecostais. Fruto de uma
cuidadosa pesquisa etnográfica e documental, o livro não só contribui para a
crescente bibliografia etnológica sobre a região do Oiapoque como também
dialoga com os estudos sobre missões religiosas em comunidades indígenas. De
especial interesse para a história indígena é a análise do diário de um casal
de missionários ligados ao Summer Institute of Linguistics, abrangendo as
décadas de 1960-70.
Carneiro, Palmyos Paixão. Os Índios de São Januário do Ubá (1690-1990).
Ubá: Gráfica da Escola de Veterinária da UFMG, 1990, 104p. Baseado numa ampla bibliografia, o
livro estuda a presença dos índios na Zona da Mata mineira dos primeiros
contatos por paulistas aos dias de hoje.
Carneiro da Cunha, Manuela. Cultura com Aspas e Outros Ensaios. São
Paulo: Cosac Naify, 2009, 440p. Este livro reúne, de forma oportuna num único volume, 19 estudos e
ensaios publicados entre 1973 e 2009, muitos dos quais são referências
obrigatórias para qualquer aproximação à história indígena e do indigenismo no
país. Agrupados em quatros seções (Olhares Indígenas; Olhares Indigenistas e
Escravistas; Etnicidade, Indianidade e Política; Conhecimentos, Cultura e
“Cultura”), os ensaios incluem, entre outros, o estudo seminal sobre o
movimento messiânico canela de 1963; o artigo sobre vingança e temporalidade
entre os Tupinambá (com E. Viveiros de Castro); o manifesto “Por uma História
Indígena e do Indigenismo”; um texto sobre imagens de índios, contrastando as
visões francesa e portuguesa; a instigante incursão na “guerra das relíquias”
em que se explora os trajetos da memória no cruzamento entre o Velho e o Novo
Mundo. Escritos com estilo refinado e inteligência afiada, os textos
representam vários momentos em que a autora se debruçou sobre fontes históricas
para abrir novos caminhos para a antropologia no Brasil.
Carvalho, João Renôr Ferreira de. Resistência Indígena no Piauí Colonial:
1718-1774, Imperatriz: Ética, 2005, 130p. Apoiado numa farta documentação do Arquivo
Histórico Ultramarino, Arquivo Público do Estado do Pará e Arquivo Público do
Estado do Maranhão, este estudo traz uma contribuição original e valiosa para a
história colonial do Piauí. Dentre outros documentos analisados pelo autor,
destacam-se o “Diário da Viagem de Regresso para o Reino” (1728), do governador
João Maia da Gama, e o livro de “Assentos, Despachos e Sentenças da Junta das
Missões”, ambos com importantes detalhes sobre os conflitos entre colonizadores
e índios Timbira, Gueguê, Acroá-mirim e Acroá-guaçu ao longo do século XVIII.
Inclui, em anexo, oito documentos inéditos da época estudada.
Castelnau-L’Estoile, Charlotte. Operários
de uma Vinha Estéril: os Jesuítas e a conversão dos índios no Brasil
(1580-1620). Traduzido por Ilka Stern Cohen. Bauru: Edusc, 2006, 628p. Publicado
originalmente em francês em 2000, trata-se de um excelente estudo do projeto e
da prática de evangelização dos índios num período de reformulações na Europa e
na América. A autora não pretende avaliar o impacto dessas práticas sobre os
índios mas sim introduzir um olhar historico-antropológico sobre os próprios
jesuítas, buscando compreender suas categorias analíticas, bem como suas
experiências pessoais e religiosas. Meticulosamente pesquisado em arquivos e
bibliotecas nos dois lados do Atlântico, o livro oferece ricas análises sobre a
administração de aldeias, a confecção de instrumentos linguísticos, a
circulação de missionários, as estratégias e ações individuais e a tarefa de
escrever a experiência missionária em diferentes registros.
Castro, José Liberal de. Igreja Matriz de Viçosa do Ceará: arquitetura
e pintura de forro. Fortaleza: Edições IPHAN/UFC, 2001 (Cadernos de
Arquitetura Cearense 1), 166p. Interessantíssimo estudo da igreja de N. S. de Assunção, em Viçosa na
Serra de Ibiapaba, local de uma missão jesuítica e posteriormente uma vila de
índios. Bem documentado e fartamente ilustrado, o livro traz uma análise
detalhada dos painéis da capela-mor, oferecendo não apenas um rico estudo de
história da arte e arquitetura, como também um vislumbre do imaginário cristão
que acompanhava o processo de conversão dos índios.
Catharino, José Martins. Trabalho Índio em Terras da Vera ou Santa
Cruz e do Brasil: tentativa de resgate ergonlógico [sic]. Rio de Janeiro:
Salamandra, 1995, 628p. Trata-se de um livro difícil de abordar, uma vez que é constituído basicamente
por fichamentos de leituras das mais diversas. Escrito por um jurista
especializado em direito do trabalho, o texto reúne um vasto repertório de
informações, servindo, pela sua organização sistemática, sobretudo como um guia
para localizar diferentes assuntos referentes às atividades produtivas e à
cultura material dos índios, nas principais fontes descritivas do período
colonial.
Cavalcante, Thiago Leandro Vieira. Tomé,
o Apóstolo da América: índios e jesuítas em uma história de apropriações e ressignificações.
Dourados: Editora UFGD, 2009, 198p. Fruto de uma
dissertação de mestrado, o livro enfoca dois momentos de elaboração de
narrativas sobre a presença antiga do apóstolo S. Tomé na América do Sul.
Primeiro, mostra a busca de uma convergência entre as cosmologias tupi-guarani
e cristã no século XVI e, num segundo momento, sustenta que os jesuítas se
apropriaram, no século XVII, do mito, no intuito de se firmarem enquanto
sucessores do apóstolo. OBS: Este texto
está disponível para download no site da Editora.
Chambouleyron, Rafael. Povoamento, Ocupação e
Agricultura na Amazônia Colonial (1640-1706). Belém: Editora Açaí, 2010,
207p. O
livro apresenta uma densa pesquisa sobretudo em documentos do Arquivo Histórico
Ultramarino no intuito de fazer uma revisão do processo de colonização na
Amazônia, entre a Restauração de 1640 e o fim do reinado de Pedro II. O autor
conscientemente deixa de lado “o lugar social de índios e africanos” e o
processo de mestiçagem, porém proporciona uma nova leitura do processo
colonial, no qual o trabalho indígena aparece de maneira importante, apesar de
discreta.
Chamorro, Graciela. Kurusu Ñe’ëngatu: palabras que la historia no
podría olvidar. Assunção: Centro de Estudios Antropológicos de la
Universidad Católica e São Leopoldo: COMIN, 1995 (Biblioteca Paraguaya de
Antropología 25), 251p. Trata-se, segundo a autora, de uma etnohistória dos Guarani que busca
identificar o impacto da catequese jesuítica sobre as palavras sagradas e, ao
mesmo tempo, aferir "a resistência que o grupo foi capaz de efetuar no
campo linguístico". A pesquisa, realizada entre os Kaiowá de
Panambizinho-MS, coteja cantos e narrativas ligadas às festas do milho novo (avatikyry)
e das crianças (kunumi pepy) com textos catequéticos do período das missões.
No final, a autora apresenta uma boa discussão do problema da historicidade
guarani.
Chamorro, Graciela. A
Espiritualidade Guarani: uma teologia ameríndia da palavra. São Leopoldo:
Sinodal, 1998 (Série Teses e Dissertações 10), 234p. Fruto de uma longa vivência entre os
Guarani em Mato Grosso do Sul e no Rio Grande do Sul, de uma densa pesquisa em
documentos históricos do período colonial e de uma leitura criteriosa da
etnologia referente à religiosidade Guarani, este livro se define, nas palavras
da autora, "duplamente como uma teologia índia feita por uma teóloga
cristã e como tradução de uma experiência religiosa indígena". Ao enfocar
a maneira pela qual os índios cristãos têm permanecido "fiéis aos grandes
valores de seu sistema cultural", a autora permite repensar a longa
relação entre os Guarani e o cristianismo.
Chamorro, Graciela. Terra Madura
Yvy Araguyje: fundamento da palavra guarani. Dourados: Editora UFGD, 2008,
368p. Dedicado aos acadêmicos
e acadêmicas guarani e kaiowá da Universidade Federal da Grande Dourados, o
livro apresenta um amplo painel interpretativo da religião e religiosidade
guarani. Afirma que os grupos guarani “não podem ser tomados como exemplo de um
‘cristianismo ameríndio’, mas sim contados entre as populações aborígines que
mantêm uma relação marginal, embora cordial, com o cristianismo”. Para tanto, a
autora conta com uma densa pesquisa documental, uma interlocução com narradores
guarani e com sua própria experiência com a espiritualidade guarani ao longo
dos anos.
Coelho, Elizabeth Maria Bezerra. Territórios em Conflito: a dinâmica da
disputa pela terra entre índios e brancos no Maranhão. São Paulo: Hucitec,
2002, 349p. A
autora enfoca os conflitos entre grupos indígenas no Maranhão (sobretudo
Tenetehara e Guajajara) e trabalhadores rurais, porém também oferece uma
pesquisa histórica sobre a missão capuchinha e a rebelião de Alto Alegre em
1901.
Coelho, Elizabeth Maria Bezerra. A Política Indigenista no Maranhão Provincial.
São Luís: SIOGE, 1990, 344p. A autora apresenta uma análise da trajetória da política provincial
através da legislação e da documentação do Império.
Cohen, Thomas. The Fire of Tongues:
António Vieira and the missionary church in Brazil and Portugal. Stanford: Stanford University Press,
1998, 274p. Neste
estudo do pensamento teológico e social do jesuíta Vieira, o autor inclui uma
boa discussão das controvérsias em torno da exploração da mão-de-obra indígena
no Maranhão e no Pará em meados do século XVII.
Coimbra Jr., Carlos; Flowers, Nancy;
Salzano, Francisco, e Santos, Ricardo Ventura dos. The Xavante in Transition: Health, Ecology, and Bioanthropology in
Central Brazil. Ann Arbor: University of Michigan
Press, 2002, 344p. Projeto
de colaboração interdisciplinar, o livro busca produzir uma percepção
diacrônica da relação entre os Xavante de Etéñitépa e a sociedade brasileira. O
enfoque recai sobre aspectos biológicos, demográficos, epidemiológicos e
ecológicos, porém os autores trazem informações históricas importantes, algumas
remontando ao século XVIII, com a reprodução de mapas e plantas de aldeias.
Colaço, Thaís Luzia. “Incapacidade” Indígena: tutela religiosa e
violação do direito guarani nas missões jesuíticas. 4ª Reimpressão.
Curitiba: Juruá, 2009, 223p. Publicado originalmente em 2000, o livro resulta de uma tese de
doutorado que busca entender as origens das noções de “incapacidade” e “tutela”
enquanto instrumentos de coação e desrespeito aos direitos indígenas, embora
apresentados como instrumentos de proteção desses mesmos direitos. A pesquisa
se atém sobretudo à bibliografia secundária e aborda as missões jesuíticas da
Província do Paraguai.
Costa, Anna Maria Ribeiro F. Moreira da. Wanintesu:
um construtor do mundo Nambiquara. Recife: Editora Universitária UFPE, 2010
(Coleção Teses e Dissertações), 612p. Fruto de uma longa convivência e
pesquisa em áreas indígenas, o livro aborda a história recente dos grupos
Nambiquara que vivem na Chapada dos Parecis no Mato Grosso. Focado na figura do
wanintesu (pajé), o estudo busca
“perceber o conjunto de representações que os índios tecem sobre seu próprio
passado”. Além das fontes orais, a autora também lança mão de um amplo
repertório de mapas, documentos e de informações históricas e etnográficas de
vários estudiosos, de Rondon e Roquette-Pinto a David Price, passando por
Lévi-Strauss, Kalervo Oberg e Desidério Aytai. Inclui um glossário de termos
nambiquara e um caderno de imagens com desenhos feitos por índios.
Costa, Maria de Fátima. História de um País Inexistente: o Pantanal
entre os séculos XVI e XVIII. São Paulo: Estação Liberdade/Kosmos, 1999,
277p. Esta
minuciosa pesquisa em fontes das mais variadas produz uma história fascinante
que transita entre o imaginário fantástico e a dura realidade da conquista de
povos indígenas do Pantanal, das primeiras expedições espanholas no século XVI
à demarcação de 1777. Inclui a belíssima reprodução de mapas, alguns pouco
conhecidos.
Couto, Jorge. A Construção do Brasil. Ameríndios, portugueses e africanos,
do início do povoamento a finais de Quinhentos. Lisboa: Cosmos, 1998, 408p.
Escrito
originalmente para uma coleção espanhola, este livro foi atualizado e oferece
uma ampla abordagem da experiência portuguesa no Brasil durante o século XVI.
No que diz respeito à história dos índios, é útil para visualizar o contexto
mais amplo da presença indígena nesse período.
Cymbalista, Renato. Sangue, Ossos e Terras: os mortos e a ocupação do
território luso-brasileiro, séculos XVI e XVII. São Paulo: Alameda, 2011,
364p. Originalmente
uma tese de doutorado, este livro aborda a formação inicial da América
portuguesa a partir de um enfoque singular, buscando mostrar a importância “das
complexas relações entre o espaço dos vivos, dos mortos e a realidade
territoiral na época da expansão colonial”. A investigação percorre uma
documentação familiar (registros de missionários), enriquecida por imagens
sacras, hagiografias e gravuras impressas mostrando cenas de martírio. Ao
evocar martírios, relíquias, crenças e práticas, o autor inevitavelmente
confronta “diálogos e traduções entre a cultura católica e ameríndia”. Se os
primeiros capítulos tratam de maneira instigante este horizonte de
convergências no espaço colonial, o último – dedicado exclusivamente aos índios
– parece redundante e algo fora do lugar.
Daher, Andrea. O Brasil Francês:
as singularidades da França Equinocial, 1612-1615. Trad. A. Stückenbruck.
Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2007, 358p. Publicado
originalmente em francês com o título Les
singularités de la France Equinoxiale em 2002, o livro aborda as relações
entre franceses e índios tupinambás nos dois lados do Atlântico. Dividido entre
“o mundo par delà” e o “o mundo par deçà”, o estudo apresenta uma
refinada análise dos textos escritos por missionários capuchinhos, textos estes
que permitem não apenas entender o sentido da missão no Maranhão como também
documentar “o espetáculo da conversão dos Tupinambá na França”, um episódio
singular reconstruído com maestria pela autora. O livro inclui ilustrações da
época e um bom prefácio de Roger Chartier.
Di Creddo, Maria do Carmo Sampaio. Terras e Índios: a propriedade da
terra no Vale do Paranapanema. São Paulo: Editora Arte & Ciência, 2003,
184p. Baseado numa
extensíssima pesquisa documental em cartórios do interior e no arquivo
estadual, este livro enfoca a política expansionista do governo provincial de
São Paulo na segunda metade do século XIX. Ao detalhar a organização de
bandeiras, as tentativas de aldeamento e os conflitos entre fazendeiros e
índios – Coroados (Kaingang), Cayuás (Kayowá-Guarani) e Xavantes (Oti) – a
autora documenta a convergência entre interesses particulares e do Estado na
ocupação fundiária do Vale, redundando na destruição dos povos indígenas.
Diacon, Todd. Stringing Together a Nation:
Cândido Mariano da Silva Rondon and the construction of a modern Brazil,
1906-1930. Durham:
Duke University Press, 2004, 228p. Baseado numa ampla pesquisa em arquivos,
jornais e publicações oficiais, o livro estuda a trajetória de Rondon, do
projeto de telégrafos à Revolução de 30. Ao relacionar as atividades de Rondon
a um projeto de nacionalidade, o autor busca mostrar o caráter incompleto do
processo, ressaltando a ineficácia e as contradições do projeto de integração
dos sertões à nação. No capítulo sobre a política indigenista, critica com
certa veemência a vertente "revisionista" de estudiosos que
"denigram" a imagem de herói nacional e defensor romântico dos
índios, imagem essa produzida por uma vertente "hagiográfica" ligada
aos militares. O livro inclui uma seleção muito interessante de fotografias do
acervo do Museu do Índio.
Domingues, Ângela. Quando os Índios eram Vassalos. Colonização e
relações de poder no Norte do Brasil na segunda metade do século XVIII.
Lisboa: CNCDP, 2000, 388p. Baseado numa rica pesquisa em arquivos portugueses e brasileiros, o
livro acompanha a implantação da política pombalina nas comunidades indígenas
da Amazônia, produzindo um retrato de complexas relações entre índios e as autoridades
portuguesas. O texto demonstra a multiplicidade de respostas à nova situação
por parte das autoridades locais, de outros agentes coloniais e, sobretudo, das
próprias lideranças indígenas.
Duffy, Eve M., e Metcalf, Alida. The Return of Hans Staden: a go-between in the Atlantic world. Baltimore: Johns Hopkins University Press, 2012, 192p.
Preparado
para um público universitário norte-americano dentro dos moldes de uma
“História Atlântica”, o livro reconstitui e reinterpreta o famoso relato de Hans
Staden, cuja experiência como cativo entre os Tupinambá no século XVI se tornou
um dos focos de debates sobre a antropofagia e sobre a veracidade das
narrativas de viagem. A avaliação final das autoras é um tanto ambígua porém
elas introduzem uma discussão interessante sobre o jogo entre verdade e mentira
no interior do próprio relato, jogo esse indispensável para a sobrevivência nas
condições precárias e arriscadas dos encontros interculturais no início da
época moderna.
Dutra, Carlos Alberto dos Santos. Ofaié: morte e vida de um povo. Campo
Grande: Instituto Histórico e Geográfico de Mato Grosso do Sul, 1996, 339p. Produto de um levantamento
etno-histórico feito pelo autor em meados dos anos 80 para o CIMI com o intuito
de iniciar o processo de identificação de uma área indígena Ofaié Xavante, o
livro costura textos do autor, depoimentos de lideranças indígenas, entrevistas
e documentos históricos referentes aos Ofaié, grupo hoje radicado no município
de Brasilândia MS. Apesar do caráter descontínuo do livro, o volume traz uma
grande quantidade de informações históricas sobre os Ofaíé, oferecendo um amplo
painel da luta desse povo contra as agressões de sertanistas e fazendeiros,
contra a doença e a miséria, contra o descaso das autoridades republicanas. A
Parte V reproduz uma série importante de documentos produzidos durante a gestão
do SPI.
Early, John D. e Peters, John F. The
Xilixana Yanomami of the Amazon: history, social structure, and population
dynamics. Gainesville:
University Press of Florida, 2000, 352p. Estudo detalhado das dinâmicas populacionais em
oito aldeias Yanomami, traçando um perfil da fertilidade, mortalidade e das
migrações. O livro busca documentar a história demográfica destas comunidades
desde 1930, abrangendo um período de quase trinta anos anterior ao contato
efetivo com forças sociais, políticas e econômicas externas. A pesquisa traz
aportes para o debate em torno da relação entre demografia e etnologia, com
reflexões sobre o impacto das doenças contagiosas introduzidas pelo contato e
sobre a mudança das dinâmicas populacionais após esse evento.
Eisenberg, José. As Missões Jesuíticas e o Pensamento Político
Moderno: encontros culturais, aventuras teóricas. Belo Horizonte: Editora
UFMG, 2000, 264p. Ao
explorar o movimento de ideias entre a América e a Europa do século XVI, o
autor introduz uma nova leitura das implicações políticas da obra missionária
dos jesuítas no Brasil em seu período formativo. A releitura dos escritos de
Nóbrega permite reavaliar as bases morais e éticas sobre as quais se formulou a
política indigenista colonial. O livro reproduz textos-chave de Nóbrega,
incluindo o Diálogo sobre a Conversão do Gentio e o chamado Plano Civilizador.
Espindola, Haruf Salmen. Sertão do Rio Doce. Bauru: Edusc, 2005,
492p. O livro
aborda a guerra de conquista na região do Rio Doce no século XIX, enfocando
particularmente as motivações econômicas que estimularam o projeto de ocupação
territorial. Bem documentado, o trabalho é menos sobre os índios propriamente
ditos e mais sobre o impacto das políticas governamentais.
Farage, Nádia. As Muralhas dos Sertões: os povos indígenas no rio
Branco e a colonização. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1991, 197p. Exemplo emblemático da nova história
indígena, este livro identifica a postura de atores indígenas frente à expansão
colonial na região do rio Branco, unindo uma sensibilidade etnográfica a uma
cuidadosa pesquisa documental. Demonstra que os índios não apenas foram usados
pelas potências europeias que disputavam esta região de fronteira, como também
usaram esta situação para consolidar uma certa autonomia.
Faulhaber, Priscila. O Lago dos Espelhos: etnografia do saber sobre a
fronteira em Tefé/Amazonas. Belém: Museu Paraense Emílio Goeldi, 1998,
215p. Estudo de
antropologia histórica enfocando os movimentos étnicos na região de fronteira
no rio Solimões. De especial interesse são as partes sobre a configuração das
fronteiras no século XIX e início do século XX e sua relação com os povos
indígenas locais. Há também um instigante estudo sobre a constituição dos
estudos etnológicos no início do século XX, mostrando a relação entre as
atividades missionárias e científicas de uma das principais fontes sobre a
região, o padre C. Tastevin.
Fausto, Carlos. Inimigos Fiéis: história, guerra e xamanismo na
Amazônia. São Paulo: Edusp, 2001, 587p. A primeira vista, trata-se de uma etnografia
nos moldes clássicos sobre os Parakanã, povo tupi-guarani que vive entre os
rios Xingu e Tocantins. No entanto, como as boas monografias clássicas, o
alcance do livro vai muito além da descrição do objeto em si e traz aportes
para a abordagem antropológica dos processos históricos vivenciados por
sociedades indígenas. Ao se defrontar com o desafio de explicar porque dois
ramos dos Parakanã – de origem comum porém cindidos no final do século XIX em
decorrência de uma "briga por mulheres" – apresentavam, na época do
contato (década de 1970), formas sociais "significativamente
distintas", o autor procura "mostrar como as transformações foram
produto da intersecção de determinações internas e externas, interesecção que
se deu em situações históricas particulares, conformando e sendo conformada
pela ação dos agentes". Transitando entre estrutura e processo, esta
etnografia apresenta uma sofisticada apreciação das "formas na história"
e da "história das formas", manejando com destreza documentos
históricos, narrativas indígenas, observações pessoais e uma extensa
bibliografia etnológica.
Fausto, Carlos. Os Índios antes do Brasil. Rio de Janeiro: Jorge
Zahar, 2000, 94p. Este
pequeno livro tem o grande mérito de sintetizar em poucas páginas os difíceis
debates em torno das origens e desenvolvimento cultural dos povos nativos no
amplo período anterior à chegada dos europeus. Mostra de forma hábil o diálogo
entre a arqueologia e o registro histórico, levantando sérias questões a
respeito das características demográficas, políticas e étnicas dessas
populações.
Felix, Cláudio Eduardo. Uma Escola para Formar Guerreiros.
Irecê: Print Fox, 2007, 110p. Originalmente uma dissertação defendida na UFPE, este livro descreve e
analisa o surgimento e expansão da Comissão de Professores Indígenas de
Pernambuco (COPIPE). Além da história recente desta organização, o livro também
faz uma breve incursão pela história da educação indígena no país.
Fernandes, João Azevedo. De Cunhã a Mameluca: a mulher tupinambá e o
nascimento do Brasil. João Pessoa: Editora UFPB, 2003, 303p. Ao transitar entre a etnologia e a
história, o autor produz uma monografia marcada sobretudo pela originalidade na
abordagem crítica dos inícios da mestiçagem no Brasil. O livro desloca o foco
para as mulheres tupinambás enquanto protagonistas de uma história de relações
que devem, segundo o autor, ser analisadas a partir de um "paradigma
interétnico". Para tanto, realiza uma ampla reavaliação crítica dos
estudos históricos e etnológicos à luz de uma releitura de relatos e fontes
coloniais dos mais variados. A riqueza deste trabalho só é empobrecida pela
baixa qualidade editorial do livro.
Fernandes, João Azevedo. Selvagens
Bebedeiras: álcool, embriaguez e contatos culturais no Brasil colonial (séculos
XVI-XVII). São Paulo: Alameda, 2011, 238p. Versão revista de uma
tese de doutorado que aborda o processo de encontro intercultural a partir de
um objeto sempre presente porém pouco estudado. O autor faz uma leitura
minuciosa de documentos e narrativas coloniais para revelar “o papel crucial
das festas e cerimônias etílicas nas sociedades indígenas”, com especial
atenção às “cauinagens canibais” dos Tupinambá. Chega à conclusão de que, se os
índios conseguiram impedir a introdução do vinho português enquanto “mercadoria
civilizatória”, sofreram uma derrota com a repressão do cauim e das cauinagens,
o que criou um “vazio etílico” que seria preenchido de maneira trágica por bebidas
destiladas, como a cachaça, com efeitos danosos sobre os índios e para os
planos dos evangelizadores. Mas o autor deixa para uma outra ocasião uma
análise sobre as maneiras pelas quais os índios, com larga experiência com
bebidas e embriaguez, se relacionaram com aquilo que de forma simplificada é
pensado como uma “arma da colonização”.
Freire, Carlos Augusto da Rocha. O SPI na Amazônia: política indigenista e
conflitos regionais, 1910-1932. Rio de Janeiro: Museu do Índio-Funai, 2007
(Série Publicação Avulsa do Museu do Índio, 2), 116p. Pequena publicação de grande
riqueza, este livro aborda uma série de questões ligadas à atuação da
Inspetoria Regional responsável por Amazonas e Acre durante as primeiras
décadas do SPI. O autor enfoca de maneira particular as atividades e os
escritos de Bento de Lemos, cuja carreira permite colocar em discussão aspectos
demográficos, territoriais, políticos e administrativos da gestão indigenista.
O material documental inédito e as fotografias dos postos são, simplesmente,
fantásticos.
Freire, José Ribamar Bessa. Rio Babel: a História das Línguas na
Amazônia. Rio de Janeiro: Atlântica Editora/Editora da UERJ, 2004, 272p. De forma pioneira e abrangente, o
autor apresenta uma "história social das línguas na Amazônia num período
de trezentos anos", percorrendo um rico manancial de fontes escritas. O
livro aborda a transformação do quadro etnolinguístico, mostrando o processo de
formação da língua geral e a introdução da língua portuguesa no contexto da
diversidade linguística ameríndia. O autor salienta não apenas o papel do
sistema de exploração da mão-de-obra na interação de línguas diversas, como
também demonstra a importância das "políticas de línguas" dos
missionários e do Estado nesta história. Por fim, o livro acompanha a
trajetória da língua geral no século XIX, revelando um delicado quadro marcado
tanto pela persistência localizada quanto pelo declínio geral face ao avanço do
português.
Freire, José Ribamar Bessa e Malheiros, Márcia Fernanda. Aldeamentos
Indígenas no Rio de Janeiro. 2ª ed. Rio de Janeiro: Editora da UERJ, 2009,
100p. Pensado
inicialmente como um aporte didático, o livro ultrapassa essa limitação ao
trazer um material original de pesquisa em arquivos realizada pela equipe do
Programa de Estudos dos Povos Indígenas, da UERJ. O texto é curto porém
contundente, buscando levantar questões e problemas quanto à presença indígena
no Rio de Janeiro, entre os séculos XVI e XIX.
French, Jan Hoffman. Legalizing Identities: Becoming Black or Indian in Brazil’s Northeast.
Chapel Hill: University
of North Carolina Press, 2009, 247p. A partir de uma
pesquisa de campo realizada em 1998-2000, a autora analisa a construção de
identidades indígenas e quilombolas em Sergipe. A autora introduz uma
perspectiva da antropologia do direito e chega a conclusão de que o êxito das
políticas identitárias nestes dois casos não passa pela prova de uma
“autenticidade” de origem e sim pela articulação de múltiplos agentes em torno
de uma relação com a legislação e com o conceito de justiça social.
Funari, Pedro Paulo e Piñón, Ana. A Temática Indígena na Escola:
subsídios para os professores. São Paulo: Editora Contexto, 2011, 127p. Destinado a “professores das escolas
não indígenas”, trata-se de um livro paradidático que se mostra mais eficaz no
manejo de conceitos e informações provenientes da arqueologia americanista do
que dos debates atuais a respeito da história dos índios nas Américas. O livro
traz uma discussão útil sobre a imagem dos índios ao longo da história, porém os
índios surgem enquanto atores sociais e políticos apenas na conclusão, quando
se faz uma referência rápida ao contexto da abertura política.
Gallois, Dominique. Mairi Revisitada. A Reintegração da Fortaleza de
Macapá na Tradição Oral dos Waiãpi. São Paulo: Núcleo de História Indígena
e do Indigenismo, 1993 (Série Estudos), 91p. Estudo bastante criativo que apresenta
diferentes versões indígenas sobre as origens da humanidade e as origens da
presença dos brancos na vida social dos índios Waiãpi do Amapá. A autora
comenta longos depoimentos de diferentes narradores nativos, com destaque para
o chefe Waiwai, apresentando uma rica discussão dos diferentes gêneros de
narrativa sobre o passado.
Gambini, Roberto. O Espelho Índio: a formação da alma brasileira.
2a ed., São Paulo: Axis Mundi/Terceiro Nome, 2000, 191p. Publicado originalmente em 1988 com
outro subtítulo, este estudo apresenta uma abordagem instigante do encontro
entre missionários e índios no século XVI, lançando mão de instrumentos
junguianos de análise. A nova edição é enriquecida por um projeto editorial
arrojado, amplamente ilustrado.
Ganson, Barbara. The Guarani Under Spanish
Rule in the Río de la Plata. Austin: University of Texas Press, 2003, 290p. Apesar da abrangência do título, o
livro trata menos das missões espanholas e mais sobre o período após a expulsão
dos jesuítas dos territórios espanhóis em 1767. A autora introduz uma pesquisa
bastante original e densa, destacando-se a documentação evocativa das vozes e
das ações dos Guarani, não se atendo apenas às lideranças. O trabalho trava um
diálogo entre a etnologia e a história, situando-se numa rica tradição de
estudos sobre as áreas de fronteiras coloniais. Embora o enfoque seja sobre a
América Espanhola, o livro acrescenta informações e perspectivas sobre
episódios envolvendo colonos e índios da América Portuguesa, incluindo as
expedições paulistas, a chamada Guerra Guaranítica e a incorporação dos Sete
Povos ao lado português da fronteira.
Garcia, Elisa Frühauf. As Diversas
Formas de Ser Índio: políticas indígenas e políticas indigenistas no extremo
sul da América portuguesa. Rio de Janeiro: Arquivo Nacional, 2009, 352p. Segundo
lugar no Prêmio Arquivo Nacional de Pesquisa, este livro é fruto de uma extensa
pesquisa de doutorado que enfoca a presença e participação dos índios na
configuração da sociedade colonial na fronteira meridional da América
portuguesa. Aborda de maneira inovadora as políticas de alianças iniciadas
pelos índios, desde o contexto da demarcação territorial em torno do Tratado de
Madri às vésperas da Independência.
Garfield, Seth. Indigenous Struggle at the
Heart of Brazil: state policy, frontier expansion, and the Xavante Indians,
1937-1988. Durham:
Duke University Press, 2001, 316p. Pesquisa de fôlego, este livro mostra a
articulação entre as ideias sobre a nação, a política indigenista e as
estratégias indígenas durante o período crítico de expansão econômica (e
política, com a mudança da capital federal) para o Brasil central. São vários
destaques dignos de nota: traz muitas informações e perspectivas novas sobre o
período do Estado Novo (1937-1945); confronta, de maneira instigante, o
pessimismo sentimental dos etnógrafos com as posturas assumidas por atores
indígenas; documenta os embates em torno da demarcação de terras dos Xavante;
demonstra o jogo complexo entre a formação da imagem dos Xavante enquanto
símbolos primordiais da nacionalidade e a política da diferença adotada pelos
mesmos Xavante em prol de seus direitos territoriais.
Gaspar, Madu. A Arte Rupestre no
Brasil. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2003 (Série Descobrindo o
Brasil), 83p. Trata-se de um pequeno resumo do estado atual do
conhecimento referente aos grafismos rupestres presentes em várias regiões do
país. A autora fornece informações sobre pesquisas recentes em seus esforços de
contextualizar as imagens e de propor um quadro analítico para interpretar o
domínio do simbólico expresso nos grafismos.
Giraldin, Odair. Cayapó e Panará: luta e sobrevivência de um povo Jê
no Brasil Central. Campinas: Editora Unicamp, 1997, 198p. Ao transitar entre a documentação
histórica e as etnografias modernas, o autor apresenta um sólido estudo da
trajetória dos Kayapó meridionais, objetos de uma brutal política de repressão
a partir do século XVIII. A pesquisa documental revela fontes e perspectivas
antes desconhecidas, além de aprofundar as evidências que apontam para a
relação entre os Kayapó meridionais, considerados "extintos", e os
Panará do rio Peixoto de Azevedo.
Giucci, Guillermo. Sem Fé, Lei ou Rei: Brasil 1500-1532. Rio de
Janeiro: Rocco, 1993, 239p. Enfocando o primeiro período de atividades coloniais no litoral
brasileiro, o autor apresenta uma sugestiva discussão sobre o papel de
náufragos e degredados naquilo que chama de "colonização acidental".
Enfoca de maneira interessante as fontes do período, que dizem várias coisas
sobre as primeiras relações entre europeus e índios.
Goldschmidt, Eliane M. Rea. Casamentos Mistos: liberdade e escravidão
em São Paulo colonial. São Paulo: Annablume, 2004, 176p. Fruto de uma paciente pesquisa em
documentos eclesiásticos abrangendo o período de 1728 a 1822, o livro traz
informações sobre os casamentos entre africanos e índios em São Paulo, dando
visibilidade a um assunto pouco abordado na historiografia.
Golin, Tau. A Guerra Guaranítica: como os exércitos de Portugal e Espanha
destruíram os Sete Povos dos jesuítas e índios guaranis no Rio Grande do Sul.
Passo Fundo: EDUPF, 1998 [3ª ed., 2004], 623p. A parte principal desta publicação é a edição
anotada do “Diário da Expedição e Demarcação da América Meridional e das
Campanhas das Missões do Rio Uruguai”, escrito pelo engenheiro militar
português José Custódio de Sá e Faria. Apesar de escrito alguns anos depois dos
eventos, Custódio foi participante e testemunha de vários episódios da rebelião
indígena que investiu contra as comissões castelhana e portuguesa que visavam
cumprir os artigos do Tratado de Madri. O texto é prefaciado por um estudo
sobre Sá e Faria e as anotações que acompanham a transcrição trazem abundantes
informações complementares, baseadas numa extensa pesquisa documental e
bibliográfica. O Diário traz detalhes sobre aspectos cerimoniais,
políticos, militares e culturais das
relações entre os rebeldes e as autoridades coloniais. O autor inclui, ainda,
uma quantidade expressiva de imagens cartográficas e iconográficas do período.
Gomes, José Eudes. As Milícias d’El Rey: tropas militares e poder no
Ceará setecentista. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2010, 359p. Dissertação de mestrado vencedora do
Prêmio Pronex/UFF Culturas Políticas, este livro aborda um tema de grande
importância para a história dos índios, porém parcamente estudado: a estrutura
e atuação de diferentes espécies de tropas militares nos processos de
conquista, colonização e controle territorial na América portuguesa. Além de
percorrer uma bibliografia ampla, o autor realizou uma pesquisa extensíssima em
documentos impressos e manuscritos, enfocando de modo particular o Ceará.
Enfoca de maneira original a participação e recompensa de tropas ameríndias,
incluindo a identificação de doações de sesmarias a índios neste contexto.
Inclui um bom número de mapas, tabelas, gráficos e ilustrações de interesse
para a temática da história indígena.
Gomes, Mércio Pereira. O Índio na História: o povo Tenetehara em
busca da liberdade. Petrópolis: Editora Vozes, 2002, 631p. O autor alia uma extensa pesquisa
documental a sua longa experiência como etnógrafo e indigenista para produzir
um detalhadíssimo relato das relações entre os Tenetehara do Maranhão e os
brancos, desde o contato inicial com os franceses no início do século XVII aos
dias de hoje. Conforme alerta o próprio autor, o livro está escrito em vários
registros distintos, passando pela teoria antropológica
("ontosistêmica"), pela história do contato, pela "economia
igualitarista", pela demografia e pela filosofia. A parte sobre a história
é organizada pela sequência das principais instituições da política
indigenista, com uma concentração maior no período do SPI. No mais, destacam-se
a abordagem da rebelião de Alto Alegre (1901) e o capítulo sobre a demografia
histórica. Presente de maneira indireta ao longo do livro, a voz dos índios
aparece de maneira explícita num capítulo curto com a transcrição de alguns
depoimentos.
Gonçalves, Regina Célia. Guerras e Açúcares: política e economia na
Capitania da Parayba – 1585-1630. Bauru: Edusc, 2007, 330p. Baseado numa extensa pesquisa
documental em arquivos portugueses e brasileiros, o livro enfoca a consolidação
da sociedade e economia colonial na Paraíba, durante o período entre a “guerra
da conquista contra os Potiguara” e o início da presença holandesa. Nascida “às
custas de sangue”, a Capitania da Paraíba foi palco de uma intensa disputa
entre populações indígenas e adventícias. Sobretudo nos capítulos 1 e 2, a
autora destrincha estas relações com uma análise detalhada da guerra, das
alianças, do comércio entre índios e franceses, do “negócio do cativeiro de
índios” e da política dos conquistadores em “limpar o terreno”, marcada tanto
pelos esforços de aldeamento de aliados quanto no massacre de inimigos. O livro
também mostra, de maneira bastante persuasiva, a importância da conquista e das
narrativas de conquista para o surgimento de uma elite regional, cuja
participação nas guerras redundou em recompensas na distribuição de terras a
serem exploradas na produção açucareira.
Grünberg, Georg. Os Kaiabi do Brasil Central: história e
etnografia. São Paulo: Instituto Socioambiental, 2004, 299p. A publicação deste livro revela algo
da história recente dos índios do Xingu e, ao mesmo tempo, a busca por parte
das lideranças atuais por subsídios para uma história indígena do povo Kaiabi.
Fruto de uma pesquisa de campo realizada em 1965-66, o texto foi apresentado
como tese em etnologia e publicado em alemão na revista Archiv für Völkerkunde em Viena em 1970. O autor situa, no capítulo
II, as fontes históricas sobre os Kaiabi, do século XVIII ao XX; no capítulo
III, coteja as informações de meados dos anos de 1950 com as observações do
período da pesquisa para aferir mudanças demográficas e territoriais. Esta
edição inclui um posfácio escrito por Klinton Senra, Geraldo Mosimann da Silva
e Simone Ferreira de Athayde trazendo dados atuais sobre os Kaiabi, o que
permite mais um cotejo histórico com as observações e dados desta rica tese
escrita há algumas décadas.
Grünewald, Rodrigo de Azeredo. Os Índios do Descobrimento: tradição e
turismo. Rio de Janeiro: Contra Capa, 2001, 224p. Fruto de uma densa pesquisa
etnográfica realizada às vésperas das "comemorações" do quinto
centenário, este estudo problematiza a postura dos Pataxó do sul da Bahia ao
assumirem o papel de "índios do descobrimento" no sítio histórico dos
primeiros contatos de 1500. Lançando mão de uma antropologia histórica em
diálogo com os "estudos pós-coloniais", o autor demonstra o quanto a
história dos índios se complica à medida que os índios apresentem versões
próprias dessa história no contexto da negociação de identidades. Outra
contribuição importante deste estudo reside no enfoque sobre o turismo étnico,
outra arena na qual se mobiliza discussões em torno das tradições que, neste
caso, segundo o autor, estão vinculadas tanto a manifestações culturais
essencializadas (danças, artesanato, língua) quanto a uma narrativa histórica
que remete ao descobrimento do Brasil.
Harris,
Mark. Rebellion on the Amazon: the
Cabanagem, race, and popular culture in the north of Brazil, 1798-1840. Cambridge: Cambridge University Press, 2010, 331p. Baseado numa extensa pesquisa
documental e um domínio ágil da bibliografia vigente, este livro aborda a
Cabanagem enquanto “rebelião camponesa”, comparável com outros movimentos nas
Américas. Para tanto, o autor faz uma interessante revisão dos desdobramentos
econômicos, políticos e culturais do Diretório abolido em 1798. De especial
interesse para a história dos índios é o capítulo “Formas de Resistência nos
Anos Finais do Período Colonial”, mostrando as bases mais profundas dos
processos de conflito, mobilização e rebeldia que marcariam as décadas após a
independência.
Heckenberger,
Michael J. The Ecology of Power: Culture,
Place, and Personhood in the Southern Amazon, A.D. 1000-2000. Londres: Routledge, 2005, 404p. A partir de um enfoque historico-ecológico, o
autor apresenta uma empolgante análise de um milênio de história alto-xinguana,
tecendo um rico diálogo interdisciplinar. Ao questionar modelos e ao
reivindicar novos estudos arqueológicos e etnohistóricos para fornecer
respostas mais claras, esta importante contribuição adensa a discussão em torno
da chefia (e dos cacicados) na Amazônia anterior ao contato com a expansão
europeia e, em certo sentido, no período coêvo a esta mesma expansão.
Hemming, John. Ouro Vermelho: A
Conquista dos Índios Brasileiros. Trad. Carlos Eugênio Marcondes de Moura.
São Paulo: Edusp, 2007 (Série Clássicos, 27), 811p. Excelente
tradução deste livro pioneiro, publicado originalmente em inglês em 1978.
Apesar da ausência de um diálogo mais consistente com a historiografia colonial
ou com a etnologia sul-americana, Hemming apresenta uma pesquisa bastante
abrangente nas fontes impressas e uma narrativa empolgante, bem ao estilo de
sua obra anterior sobre a conquista dos Incas. A importância do livro reside na
abrangência da cobertura, porém falta a esta edição uma apresentação (como há nos
outros volumes da série Clássicos), esclarecendo o contexto em que a obra foi
produzida e o seu significado para os estudos indígenas. A tradução preserva a
edição de 1978 quase integralmente, acrescido de algumas citações
bibliográficas mais recentes (até o início dos anos 90). Se não há um esforço
de atualização da obra à luz da revolução nos estudos sobre a história dos
índios nos últimos anos, surge estranhamente uma alteração no anexo
demográfico, em certo sentido amenizando a visão catastrófica e pessimista da
edição original (na qual declarava que a população indígena daquela época seria
menos de 100.000, obviamente reproduzindo as projeções de Darcy Ribeiro).
Aparece uma cifra de 700.000 para a população atual (referência ao censo de
2000).
Hemming, John. Fronteira
Amazônica: A Derrota dos Índios Brasileiros. Trad. Antônio de Pádua Danesi.
São Paulo: Edusp, 2009 (Série Clássicos), 712p. No segundo volume da
trilogia sobre a história dos índios no Brasil, Hemming recorta o tema em torno
de dois momentos capitais na história da política indigenista: a introdução do
Diretório dos Índios e o estabelecimento do SPI. A exemplo de Ouro Vermelho, trata-se antes de mais
nada de uma apropriação sistemática das fontes impressas, porém, ao contrário
do primeiro volume, também incorpora uma parte da emergente (na época)
bibliografia sobre a história indígena. A tradução, sem qualquer esforço de
contextualização, chega mais de vinte anos depois da sua edição inicial em
inglês. Segundo Camila Dias, em sua crítica no Jornal de Resenhas (nov. 2010), isso pode conferir “uma falsa
impressão sobre o estado atual da história indígena” e, ademais, deixa a visão
pessimista do autor a respeito da “derrota” dos povos indígenas em dissonância
com o atual momento de avanços legais e êxitos políticos do movimento indígena,
que apenas começava a ganhar força na época em que o livro foi lançado.
Hemming, John. Die If You Must: Brazilian
Indians in the twentieth century. Londres: MacMillan, 2003, 855p. Terceiro livro da trilogia que começou com Red
Gold (1978) e passou por Amazon Frontier (1987), oferecendo uma
cobertura ampla da história dos índios no Brasil desde 1500. A exemplo dos
volumes anteriores, o autor se vale de anos de pesquisa e apresenta uma
impressionante quantidade de informações. Como sugere o título ("Morrer se
preciso for"), este livro não apenas começa com a saga rondoniana como
também se inspira nesta vertente do indigenismo, dando um amplo destaque para
as ações de sertanistas como os irmãos Villas-Bôas e para as situações de
primeiro contato com "índios isolados". Diferentemente dos livros
anteriores, este mostra um aproveitamento maior da etnologia contemporânea e vê
os índios mais como protagonistas do que vítimas da história.
Hemming, John. Tree of Rivers: the story
of the Amazon. Londres: Thames and Hudson, 2008, 368p. Tomando a história do rio como fio
da narrativa, Hemming revisita os episódios e as tragédias relatadas em sua
trilogia sobre os índios. De Iquitos à Ilha do Marajó, da pré-história aos
projetos desenvolvimentistas, Hemming aborda a história do rio Amazonas com
paixão e nostalgia, unindo décadas de estudo a uma vasta experiência como
viajante. Se algumas partes evocam a sensação de déjà vu (ou, melhor, déjà lu),
o livro não deixa de ser uma leitura informativa e interessante.
Holler, Marcos. Os Jesuítas e a Música no Brasil Colonial.
Campinas: Editora da Unicamp, 2010, 254p. Fruto de uma pesquisa exaustiva na documentação
jesuítica, este livro traz aportes significativos para se pensar o uso e impacto
da música sacra em comunidades indígenas no período colonial. A riqueza da
documentação não é plenamente correspondida na abordagem analítica, embora o
autor levante questões importantes e polêmicas no que diz respeito à aceitação
pelos índios das formas musicais adventícias e ao contraste com a experiência
jesuítica na América espanhola.
Hue, Sheila Moura (com a colaboração de Ângelo Augusto dos Santos e
Ronaldo Menegaz). Delícias do
Descobrimento: a gastronomia brasileira no século XVI. Rio de Janeiro:
Jorge Zahar, 2008, 207p. A partir de uma leitura pormenorizada de
textos escritos nos séculos XVI e XVII, a autora e seus colaboradores
identificam e comentam as iguarias consumidas por índios e adventícios nos
primórdios do período colonial. Apresentado na forma de um catálogo de plantas
(frutos, legumes e cereais), animais (mamíferos, aves, peixes, invertebrados
aquáticos, répteis, anfíbios e insetos) e “outras comidas e bebidas”, o livro é
interessante para a temática da história indígena à medida que demonstra o
encontro de saberes e práticas alimentares, encontro que abrange não apenas a
familiarização do exótico por parte dos europeus, como também a incorporação de
elementos novos por parte dos índios. O livro traz algumas receitas, do Livro de Cozinha da Infanta d. Maria e
da Arte de Cozinha (1765), de
Domingos Rodrigues.
José Neto, Joaquim. Jovens Tapuios
do Carretão: processos educativos de reconstrução da identidade indígena.
Goiânia: Editora da UCG, 2005, 188p. Descendentes de índios
Xavante, Carajá, Javaé e Kayapó (do sul), que foram assentados no aldeamento de
Pedro III no noroeste de Goiás no século XVIII, os “Tapuios do Carretão”
passaram a reivindicar o reconhecimento da indianidade e direitos territoriais
no final dos anos de 1970, resultando na homologação da Terra Indígena Carretão
em 1990. Este livro enfoca mais particularmente a questão da educação escolar,
porém traz vários depoimentos nos quais os Tapuios entrevistados comentam de
maneira muito instigante as suas relações com o passado.
Kantor, Iris. Esquecidos e Renascidos: historiografia acadêmica
luso-americana (1724-1759). São Paulo: Editora Hucitec, Salvador: Centro de
Estudos Baianos/UFBA, 2004, 286p. Trabalho pioneiro sobre a "historiografia brasílica" dos
acadêmicos baianos coloniais, este livro traz informações surpreendentes sobre
a relação entre os índios e a história em meados do século XVIII.
Kellogg,
Susan. Weaving the Past: A History of
Latin America’s Indigenous Women from the Prehispanic Period to the Present.
Oxford: Oxford University Press, 2005, 338p. Apesar do título abrangente e da
proposta inovadora, o livro trabalha de maneira mais adequada a história das
mulheres indígenas da Mesoamérica e dos Andes, sobretudo em função de um
suporte bibliográfico mais amplo. O Brasil aparece apenas num capítulo sobre as
“culturas tropicais” no período recente, aproveitando uma bibliografia
antropológica bastante restrita, fazendo referência aos Munduruku, Bororo,
Yanomami, Kaingang e Kayapó. Sequer cita a obra pioneira de Mary Karasch sobre
Damiana da Cunha.
Kodama, Kaori, Os Índios no Império do Brasil: a etnografia no IHGB
entre as décadas de 1840 e 1860. Rio de Janeiro: Editora da Fiocruz; São
Paulo: Edusp, 2009, 333p. Originalmente uma tese de doutorado, este livro explora o lugar dos
índios na “operação historiográfica” empreendida por membros do Instituto
Histórico e Geográfico do Brasil em suas primeiras décadas de intensa
atividade. A partir de uma leitura cuidadosa dos estudos, ensaios e debates
impressos nas páginas da Revista
Trimensal do Instituto, a autora demonstra a tensão entre o lugar dos
índios na elaboração de uma narrativa sobre a história do Brasil e o
“não-lugar” reservado aos índios no futuro da nação que se consolidava.
Kok, Glória, Os Vivos e os Mortos na América Portuguesa: da
antropofagia à água do batismo. Campinas: Editora da Unicamp, 2001, 183p. Centrado nas relações entre
missionários e índios (sobretudo Tupinambá e Guarani), este estudo faz uma
leitura bastante original da "disputa pelo espaço simbólico". Ao
eleger a questão da morte, a autora tece um argumento interessante a respeito
das transformações decorrentes do processo de conversão religiosa.
Kok, Glória. O Sertão Itinerante: expedições da Capitania de São
Paulo no Século XVIII. São Paulo: Hucitec, 2004, 279p. Pesquisa de fôlego sobre as
expedições de sertanistas no século XVIII, este livro em certo sentido atualiza
e amplia as discussões introduzidos por Sérgio Buarque de Holanda em Monções
e Caminhos e Fronteiras. A temática da história dos índios aparece com
força no capítulo 4, evocando os processos de contato e resistência que
afetaram os Kayapó do Sul, Guaikuru, Paiaguá e Kaingang. O capítulo inclui um
estudo perspicaz da série de quarenta aquarelas retratando o contato entre
portugueses e índios no sertão do Tibagi em 1771, com uma reprodução da série.
Também é de grande interesse a reprodução de mapas do sertão, vários dos quais
detalham a presença de grupos indígenas, abrangendo São Paulo (incluindo o sul,
atuais estados de Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul), Minas Gerais,
Goiás e Mato Grosso.
Ladeira, Maria Inês. O Caminhar
sob a Luz: Território Mbya à Beira do Oceano. São Paulo: Ed. Unesp/Fapesp,
2007, 199p. Fruto de pesquisas e vivências realizadas entre 1979
e 1991, este livro foi apresentado como dissertação de mestrado em 1992. Grande
parte do livro enfoca “os mitos e o modo de ser mbya”, porém inclui uma
abordagem original sobre a história dos Mbya em território brasileiro, com
destaque para a questão das migrações religiosas. Bartomeu Melià chama a atenção no prefácio para a
ideia de que os episódios relatados nesse “registro etnográfico da década de
1980” hoje “se tornam etno-história”. Mas a atualidade do livro reside
sobretudo no diálogo que a autora constrói com os índios, captado de maneira
interessante por Davi da Silva Karaí Rataendy na orelha do livro: “Palavras que
estão aqui pertenceram a muitas pessoas, muitos entre nós, que deixaram a sua
sabedoria”. O texto é enriquecido por fotografias e desenhos feitos por índios.
Langer, Protásio Paulo. Os
Guarani-Missioneiros e o Colonialismo Luso no Brasil Meridional: projetos
civilizatórios e faces da identidade étnica, 1750-1798. Porto Alegre:
Martins Livreiro, 2005, 252p. Originalmente uma tese de doutorado, o livro
analisa as consequências do Tratado de Madri para a população Guarani das
missões, em particular os pueblos que
ficaram do lado português da fronteira demarcada.
Langfur, Hal. The Forbidden Lands: Colonial Identity, Frontier Violence, and the
Persistence of Brazil’s Eastern Indians, 1750-1830. Stanford: Stanford University Press,
2006, 408p. Fruto de uma extensa pesquisa que garimpou arquivos
e bibliotecas portugueses, brasileiros e norte-americanos, este livro constitui
um denso estudo da história de “uma fronteira esquecida”, das “terras
proibidas” situadas na faixa oriental de Minas Gerais. Ensejada pelo declínio
da produção aurífera, esta “expansão para o leste” envolveu uma complexa trama
de “relações sociais, culturais e raciais”, na qual os confrontos entre
interesses coloniais (privados e públicos) e os “índios do leste” (isto é,
Botocudos) proporcionam o fio principal da narrativa. Além de introduzir
informações de uma enorme quantidade de documentos inéditos, o livro traz uma
discussão instigante e inovadora das dimensões geográfica e historiográfica da
noção de “fronteira”.
Lasmar, Denise Portugal. O Acervo Imagético da Comissão Rondon no
Museu do Índio 1890-1938. Rio de Janeiro: Museu do Índio-Funai, 2008 (Série
Publicação Avulsa do Museu do Índio, 3), 264p. Originalmente uma dissertação de mestrado, este
livro traz uma riqueza extraordinária de informações e imagens produzidas pelos
fotógrafos e cineastas ligados à Comissão Rondon. São representados vários
grupos indígenas, em sua maioria de Rondônia, Mato Grosso e Amazonas. O extenso
anexo serve de repertório das fotografias e filmes no acervo, trazendo ainda o
interessantíssimo relatório do tenente Luiz Thomaz Reis sobre as expedições
fotográficas e cinematográficas empreendidas em 1916-17 entre os Bororo,
incluindo o detalhamento das despesas com as expedições e da receita
provenientes da exibição do filme.
Leonardi, Victor. Entre Árvores e Esquecimentos: história social nos
sertões do Brasil. Brasília: Paralelo 15/Editora UnB, 1996, 431p. Este livro reúne 21 ensaios do
historiador, num tom que oscila entre o informal e o erudito, porém que é
sempre provocativo. O autor aborda vários temas ligados à história dos índios, chamando
a atenção para a omissão desta temática na historiografia brasileira, às vezes
evocando uma comparação com outros países do continente. São particularmente
pertinentes suas observações sobre o trabalho indígena e sobre a evangelização.
Ao sublinhar os processos de violência, exclusão e exploração, Leonardi se
propõe a decifrar o enigma do Brasil, nas palavras dele, buscando
"entender como é que uma nação com uma origem tão dura pode ter traços tão
meigos e carinhosos em suas formas diárias de viver..." (p. 185)
Leonel, Mauro. Etnodicéia Uruéu-au-au. São Paulo: Edusp/Iamá,
1995, 224p. Escrito
em tom de denúncia, o livro conta a envolvente história deste povo de língua
tupi-guarani e mostra que a história recente dos povos indígenas de Rondônia só
pode ser compreendida à luz do papel do Estado brasileiro e suas políticas para
o desenvolvimento econômico da região. O autor percorre uma vasta quantidade de
depoimentos e documentos, com destaque para os arquivos do SPI e da Funai,
relatando uma dramática sequência de agressões ensejadas pelas frentes de
expansão extrativista.
Lestringant, Frank. A Oficina do Cosmógrafo ou A Imagem do Mundo no
Renascimento. Trad. Edmir Missio. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira,
2009, 319p. Publicado
originalmente na França em 1991, este estudo centra o olhar na obra de André
Thevet, mostrando o caráter inovador da empreitada cosmográfica. Uma parte
importante desse caráter reside na apreciação dos povos ameríndios, porém o
autor também confere uma importância ao diálogo que se tece com autores da
antiguidade, sugerindo que, na cosmografia, a experiência toma precedência
sobre a autoridade. Outro diálogo relevante é com o Levante, outro espaço
importante para a caracterização dos modelos de alteridade e da questão da unidade
humana.
Lestringant, Frank. O Canibal: grandeza e decadência. Trad. Mary
del Priore. Brasília: Ed. UnB, 1997, 293p. Traçando um amplo painel do Renascimento ao
Romantismo, o autor sustenta que a degradação da imagem do outro foi
acompanhado por uma crescente incompreensão da antropofagia. Grande
especialista nos textos quinhentistas franceses a respeito do Brasil,
Lestringant dedica alguns capítulos aos Tupinambá e à sua fortuna política e
filosófica no pensamento europeu.
Lima, Antonio Carlos de Souza. Um Grande Cerco de Paz: poder tutelar,
indianidade e formação do Estado no Brasil. Petrópolis: Vozes, 1995, 335p. Fruto de uma minuciosa pesquisa e de
uma reflexão original sobre o indigenismo, este livro apresenta um estudo denso
da trajetória histórica do Serviço de Proteção aos Índios, das suas origens em
1910 à tumultuada extinção em 1967. É particularmente relevante a forma
cuidadosa com a qual o autor trata os conceitos que nortearam – e norteiam, em
alguma medida – a política indigenista do Estado brasileiro.
Lima, Valéria. J.-B. Debret, Historiador e Pintor: A Viagem Pitoresca
e Histórica ao Brasil (1816-1839). Campinas: Editora da Unicamp, 2007,
325p. Baseado na
tese de doutorado da autora, o livro propõe uma análise diferente do texto e
das imagens publicados no livro de Debret, com enfoque especial sobre a
história, o que inclui uma abordagem das representações de populações
ameríndias e africanas.
Lopes, Fátima Martins. Índios,
Colonos e Missionários na Colonização da Capitania do Rio Grande do Norte.
Mossoró: Fundação Vingt-un Rosado/IHGRN, 2003 (Coleção Mossoroense 1379), 301p.
Trata-se de uma excelente dissertação de mestrado, vencedora do Prêmio
Janduí/Potiguaçu em 1997, publicada sem grandes revisões. Baseado numa pesquisa
abrangente em arquivos portugueses e potiguares, este é um dos primeiros
resultados mais expressivos de uma pesquisa ligada ao Projeto Resgate. O estudo
abrange o longo período de meados do século XVI a meados do XVIII, introduzindo
uma enorme quantidade de informações inéditas sobre a atuação dos índios diante
dos projetos de colonização, conquista e aldeamento. Em anexo, a autora
transcreve 27 documentos na íntegra.
Luz, Guilherme Amaral. Carne Humana: canibalismo e retórica
jesuítica na América Portuguesa (1549-1587). Uberlândia: Ed. da
Universidade Federal de Uberlândia, 2007, 284p. Organizado na forma de quatro ensaios, este
livro busca entender “os papéis do canibalismo como tópica do discurso sobre a
América portuguesa”. Não é a pretensão do autor estudar os índios em si, porém
realiza uma ampla releitura de fontes quinhentistas com o objetivo de “recriar,
mediante as preocupações historiográficas do presente, os debates implicados na
invenção retórico-histórica [do
canibal]”. Esta invenção, sustenta o autor, precisa ser rearticulada “a uma
visão teológico-política”, característica do pensamento jesuítico do século
XVI.
Maestri Filho, Mário. Senhores do Litoral: conquista portuguesa e
agonia tupinambá no litoral brasileiro. 2a ed., Porto Alegre: Editora da
UFRGS, 1995, 164p. Num
tom trágico, conta a história da destruição dos povos Tupi da costa diante dos
processos de doenças epidêmicas, escravização e confinamento em aldeias
missionárias.
Martins, Maria Cristina Bohn. Sobre
Festas e Celebrações: as Reduções do Paraguai (séculos XVI e XVIII). Passo
Fundo: UPF Editora, 2006, 256p. Baseado na tese de doutorado da autora, este
livro busca entender como os índios guarani vivenciaram a missão a partir de um
enfoque singular, o da festa e das celebrações. Unindo uma leitura criativa das
cartas e relatos jesuíticos a uma leitura cuidadosa da historiografia e
etnografia referentes aos Guarani, a autora busca demonstrar que o encontro
entre tradições distintas de festa produziu algo historicamente novo: “Em
contato, as duas experiências [europeia e guarani] moldaram uma nova situação,
na qual os motivos católicos (do Corpo de Cristo, da Morte e Ressurreição, dos
Santos, da Virgem etc.) estiveram transpassados por práticas que abrigavam
elementos muito expressivamente guaranis” (p. 232).
Martins, Pedro. Anjos de Cara Suja: etnografia da comunidade cafusa.
Petrópolis: Ed. Vozes, 1995, 309p. Neste estudo etnográfico dos
"Cafuzos" que vivem na área indígena dos Xokleng em Ibirama, SC, o
autor recupera as origens históricas da comunidade, utilizando-se de
depoimentos orais e documentos históricos. É interessante a análise da busca de
referências mestiças (afro-indígenas) na constituição de uma identidade étnica.
Ao mesmo tempo, o livro examina a participação dos cafusos no Contestado
(1912-1916), sua fuga depois da guerra e o processo de deslocamento da Serra do
Mirador para o Posto Indígena Ibirama em meados da década de 1940. Também
interessa a análise das relações entre índios e mestiços neste espaço.
Mattos, Izabel Missagia de. Civilização e Revolta: os Botocudos e a
catequese na Província de Minas. Bauru: EDUSC/ANPOCS, 2004, 491p. Vencedor do Concurso EDUSC-ANPOCS em
2003, este estudo inovador acompanha a trajetória dos Botocudos dos vales do
Doce e Mucuri, enfocando particularmente a fundação, consolidação e
desagregação do aldeamento capuchinho de Itambacuri (1873-1911). Fruto de uma
ampla pesquisa documental, o estudo é enriquecido pelo olhar etnográfico da
autora, que faz uma leitura instigante das cartas e relatos dos padres,
documentos esses que não apenas informam sobre o projeto de "catequese e
civilização" como também permitem entrever um "modelo indígena de
historicidade" que conduzia as ações dos Botocudos diante das
transformações profundas em curso. A revolta de 1893 em Itambacuri condensa,
segundo a autora, "significados das transformações históricas" e das
políticas de "misturas" nesse momento crucial na formação da
nacionalidade.
Medeiros, Maria do Céu e Sá, Ariane Norma de Menezes. O Trabalho na
Paraíba: das origens à transição para o trabalho livre. João Pessoa:
Editora da UFPB, 1999 (Série História Temática da Paraíba, 1), 126p. O livro inclui dois textos
independentes, o primeiro de grande interesse para a temática indígena, pois
acompanha o trabalho dos índios na Paraíba do século XVI a 1850. Apesar do
caráter didático da série, o estudo de Maria do Céu Medeiros apresenta uma
pesquisa original em fontes manuscritas.
Mello, Marcia Eliane Alves de Souza e. Fé e Império: as Juntas das
Missões nas conquistas portuguesas. Manaus: Editora da Universidade Federal
do Amazonas, 2009, 384p. A partir de uma ampla pesquisa documental em
arquivos portugueses e brasileiros, o livro traça de maneira detalhada o
funcionamento e a atuação das Juntas das Missões no Reino e nas partes
ultramarinas, com especial atenção para a Junta no Estado do Maranhão e Grão
Pará, no período entre 1681 e 1757. Uma das chaves da política indigenista
colonial, apesar de pouco estudada, a Junta das Missões produziu uma
documentação importante sobre a atuação de missionários, sobre descimentos e
tropas de resgate, sobre o trabalho indígena e sobre guerras contra grupos que
se opuseram aos portugueses.
Menezes, Maria Lúcia Pires. Parque Indígena do Xingu: a construção de
um território estatal. Campinas: Editora da Unicamp, 2000, 404p. Estudo que detalha as origens do
Parque Indígena desde a Expedição Roncador-Xingu até a implantação do parque.
Mostra de forma interessante a articulação do processo nos níveis nacional,
regional e local. Bem documentado, o estudo traz um anexo com documentos
ilustrativos do processo estudado.
Menget, Patrick. Em Nome dos Outros: classificação das relações
sociais entre os Txicáo do Alto Xingu. Lisboa: Assírio & Alvim, 2001,
334p. Escrita
originalmente em 1977, esta etnografia sobre o povo Ikpeng (conhecido também
como Txicão), além de refletir as questões teóricas que movimentavam a
etnologia sul-americana nesse período, também traz elementos de interesse para
a história indígena. O autor trabalha com informações do século XIX a respeito
do Alto Xingu (inclusive o diário inédito do geógrafo alemão Hermann Meyer) e
também apresenta versões Ikpeng para a história das relações com outros grupos
e com os brancos. O forte é a etnografia, escrita com estilo e inteligência, proporcionando
uma leitura muito agradável.
Metcalf, Alida C. Go-Betweens and the
Colonization of Brazil, 1500-1600. Austin: University of Texas Press, 2005, 368p. Baseado numa extensa pesquisa documental,
este livro aborda o primeiro século de contatos entre índios e europeus no
litoral brasileiro, enfocando em particular os mediadores que transitavam entre
culturas, incluindo viajantes, missionários, sertanistas mestiços, bem como
lideranças e mulheres indígenas. O livro mostra, de maneira instigante, que as
trocas interculturais envolviam a circulação de objetos, plantas, animais e
doenças, bem como representações, cosmologias e práticas sociais. Também
oferece uma nova leitura sobre a mestiçagem (biológica e cultural), com um
enfoque interessante sobre a Santidade de Jaguaripe.
Monteiro, Denise Mattos. Introdução à História do Rio Grande do Norte.
Natal: EDUFRN, 2000, 244p. Embora elaborado como um livro didático visando o público do ensino médio,
este trabalho se destaca pela atenção dispensada à história dos índios enquanto
aspecto fundamental da formação do Rio Grande do Norte.
Monteiro, John. Negros da Terra: índios e bandeirantes nas origens de
São Paulo. São Paulo: Companhia das Letras, 1994, 300p. Estudo da presença indígena em São
Paulo entre 1550 e 1730, documentando de forma inovadora o papel de populações
nativas na articulação de uma sociedade colonial. Apresenta uma ampla revisão
da história das expedições de apresamento, das relações entre paulistas e
jesuítas na disputa em torno dos índios, da escravidão e do trabalho indígena,
da resistência e, por fim, do legado deste período.
Moreau, Felipe Eduardo. Os Índios nas Cartas de Nóbrega e Anchieta.
São Paulo: Annablume, 2003, 355p. Através de uma minuciosa releitura dos documentos escritos pelos
primeiros jesuítas no Brasil, o autor busca analisar as representações do índio
nestes escritos. Com efeito, o livro enfoca de maneira especial os próprios jesuítas
e os índios que eles em certo sentido inventaram.
Mota, Lúcio Tadeu. As Guerras dos Índios Kaingang: a história épica
dos índios Kaingang no Paraná, 1769-1924. Maringá: Editora da UEM, 1994,
275p. Baseada numa
ampla pesquisa documental, o livro narra os conflitos armados entre os Kaingang
do oeste paranaense e diferentes agentes de ocupação territorial, desde a
primeira expedição para Guarapuava até a "pacificação" no início do
século XX. Preenche de forma admirável uma lacuna na historiografia regional,
centrada nos mitos do "vazio demográfico" e da epopeia imigrante.
Mota, Lúcio Tadeu. As Colônias Indígenas no Paraná Provincial.
Curitiba: Aos Quatro Ventos, 2000, 200p. Neste livro, o historiador documenta o
estabelecimento de várias colônias indígenas no interior da Província do
Paraná, mostrando a importância destes entrepostos na política indigenista do
Império. Ao mesmo tempo, procura elucidar a experiência de populações Kaiowá,
Guarani, Xetá, Xokleng e Kaingang que ocuparam as colônias. Baseado em
documentos administrativos, relatos de sertanistas e correspondência de
missionários capuchinhos, o livro apresenta uma pesquisa e uma reflexão
bastante originais.
Moura, Marlene Castro Ossami de. Os
Tapuios do Carretão: etnogênese de um grupo indígena do Estado de Goiás.
Goiânia: Editora da UCG, 2008, 368p. Fruto de uma ampla
pesquisa documental, historiográfica e etnográfica, este livro busca entender a
etnogênese do grupo indígena denominado Tapuio, residente na Área Indígena
Carretão. Ao buscar as raízes coloniais de um processo de etnificação
envolvendo a fusão de quatro grupos distintos (Xavante, Xerente, Kaiapó e
Javaé), a autora trabalha de maneira interessante o jogo político entre os
processos históricos de “invisibilização” e “visibilização”. Dentre outros
temas, é de especial interesse o trabalho realizado a partir de registros
paroquiais do século XIX, mostrando diferentes inflexões nos casamentos
interétnicos. Em anexo encontram-se exemplos destes documentos, além de mapas,
plantas e fotografias.
Müller, Nelci. Guarani e Jesuíta: romance e
história. Campinas: Ed. Curt Nimuendajú, 2012, 178p. Originalmente uma
dissertação de mestrado, o livro analiza cerca de 20 autores de ficção que
tematizaram as relações entre índios e missionários no tempo das reduções
(1609-1767). A autora explora três formas de tratamento da temática histórica
na ficção regional: a paráfrase, o mito e a paródia.
Namem, Alexandro Machado. Botocudo: uma história de contacto.
Florianópolis: Editora da UFSC/Ed. FURB, 1994, 111p. Publicação de uma dissertação de
mestrado sobre a Área Indígena de Ibirama SC, visando sobretudo a
"reconstituição histórica do processo histórico pós-1954". Para
tanto, buscou juntar elementos "nas diversas tradições de história oral
nativas", embora pouco elaborados no texto. Oferece, finalmente, algumas
reflexões sobre o sentido e as implicações teóricas da noção de
"contato".
Novaes, Sylvia Caiuby. Jogo de Espelhos: imagens da representação de
si através de outros. São Paulo: Edusp, 1993, 263p. O núcleo de análise deste livro
reside nas questões da identidade e da noção da pessoa a partir de uma
abordagem antropológica. Ao delimitar estas questões no caso específico da
sociedade Bororo, a autora introduz um material muito rico sobre a história das
missões salesianas e sobre a história da etnologia. É de particular interesse a
reprodução e análise de fotografias tiradas nas aldeias, não apenas aquelas
feitas pelos missionários na primeira metade do século XX, como também as da
autora, nas décadas de 1970 e 80.
Oliveira Jr., Gerson Augusto de. Torém: brincadeira dos índios velhos.
São Paulo: Annablume, 1998, 126p. Ao analisar a importância da dança do torém como instrumento de
afirmação étnica entre os Tremembé de Almofala (Ceará), o autor inclui um
levantamento dos registros feitos por observadores no passado e por
folcloristas. Lançando mão de depoimentos dos índios e de relatórios
antropológicos, também documenta o processo de luta pelo reconhecimento oficial
ao longo dos anos de 1980.
Oliveira, Jorge Eremites de. Arqueologia das Sociedades Indígenas no
Pantanal. Campo Grande: Editora Oeste, 2004, 116p. Embora enfoque a arqueologia do
Pantanal, o autor inclui um capítulo que avalia as fontes históricas referentes
aos grupos indígenas da região no período colonial, cotejando informações dos
séculos XVI a XVIII com dados arqueológicos.
Oliveira, Jorge Eremites de. Guató, Argonautas do Pantanal. Porto
Alegre: Editora da PUCRS, 1996 (Coleção Arqueologia, 2), 179p. Voltado para o estudo dos assentamentos,
subsistência e cultura material dos Guató, o livro utiliza e problematiza um
amplo repertório de fontes históricas e etnográficas, sobretudo do século XIX.
Oliveira Filho, João Pacheco de. Ensaios de Antropologia Histórica.
Rio de Janeiro: Editora da UFRJ, 1999, 269p. Importante coletânea de artigos do autor, este
livro enfoca vários temas relacionados ao indigenismo e à antropologia
indígena, colocando em primeiro plano a problemática relação entre antropologia
e história. De especial interesse: o ensaio sobre a criação da primeira reserva
indígena no alto Solimões, no qual o autor confronta a interpretação
fundamentada na documentação histórica com a interpretação baseada em
narrativas indígenas; o estudo sobre a relação entre os Ticuna e o etnólogo/indigenista
C. Nimuendaju, buscando elucidar como o lugar dos brancos é pensado pelos
índios em suas versões sobre o passado; o artigo sobre os "Índios
Misturados", expondo de maneira controvertida a relação entre história e
antropologia nos atuais estudos sobre índios no Brasil; e o ensaio sobre os
índios nos censos demográficos e suas implicações.
Oliveira, Maria Lêda. A Historia do Brazil de Frei Vicente do Salvador: história e política no império português
do século XVII. Rio de Janeiro: Versal e São Paulo: Odebrecht, 2008, 241p. Publicado junto à edição crítica da
obra de Frei Vicente do Salvador (veja abaixo, em Seleção de Obras Reeditadas),
este livro é fruto de uma tese de doutorado defendida na Universidade Nova de
Lisboa. Vencedor do Prêmio Clarival do Prado Valladares, o livro ganha uma
edição esmerada, com o texto entremeado de ilustrações da época, algumas
inéditas. O texto serve de introdução e guia para a leitura da História, com o mérito de pensar a obra
em sua dimensão historiográfica ao invés de considerá-la simplesmente uma fonte
de informação sobre o período colonial. Há relativamente pouca discussão acerca
dos índios, embora a temática indígena figure como um elemento central nesta
pioneira História do Brasil.
Oliveira, Marilda Oliveira de. Interculturalidade e Identidade: história e
arte guarani. Santa Maria: Editora UFSM, 2004, 261p. Fruto de uma tese de doutorado, este
livro aborda o barroco missioneiro a partir da soma entre a contribuição
cultural guarani e a contribuição cultural jesuítica. Este processo de fusão de
culturas e estilos é estudado de maneira mais detalhada na redução de São
Miguel, unindo uma pesquisa documental à apreciação dos vestígios materiais que
sobrevivem até hoje. As principais fontes documentais e iconográficas
utilizadas vêm de um levantamento sistemático do material impresso,
acrescentando-se pontualmente documentos de arquivos. A apreciação das
numerosas ilustrações infelizmente é prejudicada pela baixa qualidade das
reproduções.
Paiva, Adriano Toledo. Os Indígenas e os Processos de Conquista dos
Sertões de Minas Gerais (1767-1813). Belo Horizonte: Argumentum, 2010,
206p. Originalmente
uma dissertação de mestrado em história na UFMG, este livro apresenta uma
contribuição muito original e relevante para a história dos índios no Brasil.
Ao enfocar a freguesia de São Manoel dos Sertões do Rio da Pomba e Peixe, o
autor demonstra a complexa trama envolvendo atores dos mais variados e
fascinantes, do vigário mulato Manoel de Jesus Maria, ao padre indígena Pedro
da Motta, ao capitão dos Coroados Leandro Francisco Pires Farinho, entre
outros. O autor lança mão de uma pesquisa muito extensa em manuscritos do
período, com destaque para o arquivo eclesiástico local de Rio Pomba, onde
identificou e classificou mais de 1000 registros de batismo de índios.
Pereira, Levi Marques. Os Terena
de Buriti: formas organizacionais, territorialização e representação da
identidade étnica. Dourados: Editora UFGD, 2009, 170p. Produto
decorrente de uma perícia judicial na Terra Indígena Buriti, no Mato Gross do
Sul, este livro busca situar os Terenas (e os estudos sobre os Terena) num
contexto histórico e etnográfico, buscando identificar uma “civilidade terena”,
na qual a “negociação” desempenha um papel de relevo.
Perrone-Moisés, Leyla, Vinte Luas: viagem de Paulmier de Gonneville
ao Brasil, 1503-1505. São Paulo: Companhia das Letras, 1992, 186p. Baseado no relato de viagem do
início do século XVI e numa pesquisa realizada na França, o livro reconstrói a
fascinante história de Essomeriq, um índio Carijó (Guarani) que foi levado para
a Europa pelos comerciantes franceses. Leitura surpreendente e agradável.
Petrone, Pasquale, Aldeamentos Paulistas, São Paulo: Edusp, 1995,
398p. Edição de um
trabalho de geografia apresentado como tese de livre docência em meados da
década de 1960. Fruto de uma expressiva pesquisa histórica, o livro documenta o
lugar das populações indígenas na organização do espaço colonial em São Paulo,
com destaque para o século XVIII.
Pi Hugarte, Renzo. Los
Indios del Uruguay. Montevideu: Ediciones de la Banda Oriental, 2007, 242p.
Publicado originalmente na Espanha em 1993, o livro
apresenta uma síntese da presença histórica de povos indígenas no território
que compõe o atual Uruguai, buscando contribuir subsídios para debates
contemporâneos sobre a presença indígena nesse “país sem índios”. Extravasando
as fronteiras para alcançar Rio Grande do Sul, por um lado, e algumas
províncias argentinas contíguas, por outro, o autor enfoca de maneira especial
os Charruas e os Guarani, colocando em questão o peso relativo de cada povo
para a composição da população e cultura do Uruguai moderno. As notas
biobibliográficas no fim do livro, bem como a bibliografia geral, são bastante
úteis para conhecer fontes e pesquisas.
Pires, Maria Idalina da Cruz. "A Guerra dos Bárbaros":
resistência indígena e conflitos no Nordeste colonial. 2a ed.
Recife: Editora da UFPE, 2002, 154p. Publicado originalmente em 1990, este livro
constitui um dos primeiros esforços em compreender o conjunto de conflitos que
marcaram a história do sertão nordestino no final do século XVII a partir de
uma perspectiva da história dos índios. Fruto de uma extensa pesquisa em
documentos inéditos em arquivos portugueses, o estudo coloca em primeiro plano
a resistência dos índios frente à expansão colonial, porém também demonstra que
o conflito envolvia uma complexa interação de interesses coloniais, muitas
vezes em dissonância.
Pissolato, Elizabeth. A Duração da
Pessoa: mobilidade, parentesco e xamanismo mbya (guarani). São Paulo:
Editora Unesp/Instituto Ambiental/NuTI, 2007, 445p. Trata-se
de uma excelente etnografia que enfoca os Guarani no estado do Rio de Janeiro,
buscando, por um lado, problematizar um tema clássico na bibliografia
etnológica e etnohistórica guarani (a mobilidade) e, por outro, ao esmiuçar o
parentesco e o xamanismo, contribuir com enfoques pouco elaborados na densa
bibliografia guarani, à luz de debates na atual etnologia americanista. Um
aspecto relevante do estudo é a incorporação do problema das relações com os
“jurua” (brancos) explicitamente na análise. “Se por um lado o mundo mbya está
longe de se resumir à relação com jurua,
por outro não se pode pensar a vida atual nas aldeias sem o que vem do mundo
dos brancos” (p. 64).
Pompa, Cristina. Religião Como Tradução: missionários, Tupi e Tapuia
no Brasil colonial. Bauru: EDUSC, 2003 (Coleção Ciências Sociais), 443p. Prêmio de melhor tese de doutorado
no Concurso CNPq-ANPOCS de 2002, este livro oferece leituras instigantes de um
vasto repertório documental. Dividido entre o século XVI e o XVII, entre o
litoral e o sertão, entre os Tupi e os Kariri, entre a Antropologia e a
História, o trabalho explora as múltiplas dimensões da tradução, não apenas no
plano linguístico como também (e sobretudo) no espaço do encontro entre
horizontes cosmológicos distintos. Na primeira parte, ao refazer a trajetória
do "profetismo tupi-guarani", a autora mostra a necessidade de reler
as fontes à luz de uma crítica às leituras de outros estudiosos; na segunda, ao
evocar a riqueza das missões do sertão nordestino, demonstra as possibilidades
(e limites) do rico acervo de escritos missionários, que muito podem informar
sobre a disputa entre índios e missionários em torno do poder simbólico.
Porro, Antonio. O Povo das Águas: ensaios de etno-história amazônica.
Petrópolis: Vozes, 1996, 203p. Reúne vários artigos do autor publicados em revistas e coletâneas, com
especial enfoque sobre os povos do alto e médio Amazonas nos séculos XVI e
XVII. Trabalha de maneira inovadora com problemas de demografia, organização
política, atividades comerciais e messianismo. Há também uma discussão
importante das fontes para a história indígena na Amazônia.
Portocarrera, José Afonso Botura. Tecnologia Indígena em Mato Grosso:
habitação. Cuiabá: Entrelinhas, 2010, 230p. O livro apresenta um estudo de etnoarquitetura,
enfocando o desenho das habitações de dez povos indígenas no Mato Grosso.
Embora o foco principal recaia nas técnicas contemporâneas de construção das
casas indígenas, o autor percorre de maneira interessante as observações e
desenhos de viajantes e etnógrafos do passado, com destaque para Adrien Taunay,
Hercule Florence, Wilhelm von den Steinen, Max Schmidt e Claude Lévi-Strauss,
entre outros. O livro inclui um grande número de ilustrações.
Possamai, Paulo. A Vida Quotidiana
na Colónia do Sacramento (1715-1735): um bastião português em terras do futuro
Uruguai. Lisboa: Ed. Livros do Brasil, 2006, 456p. Versão
revista da tese de doutorado do autor, este livro traz alguns elementos inéditos
sobre o lugar dos índios Charrua, Minuano e Guarani no projeto expansionista
português para o Prata. É de grande interesse também a curta exposição sobre a
mão-de-obra indígena, oriunda sobretudo dos aldeamentos paulistas e
fluminenses, nas obras da fortificação portuguesa na Colônia.
Prezia, Benedito A. Os Indígenas
do Planalto Paulista nas Crônicas Quinhentistas e Seiscentistas. São Paulo:
Humanitas, 2000, 266p. Num duplo exercício de crítica documental e de
estudo toponímico, o autor busca identificar as populações indígenas em termos
sociolinguisticos, objeto de longas polêmicas na história de São Paulo.
Prous, André. O Brasil antes dos Brasileiros: a pré-história do nosso país. Rio
de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2006 (série Nova Biblioteca de Ciências
Sociais), 141p. Este
livro oferece uma excelente introdução às principais questões referentes ao
povoamento e ocupação do território (hoje) brasileiro e à história da
arqueologia no país. O autor traduz a sua experiência e erudição para um texto
claro, conciso e, sobretudo, útil para pautar algumas das questões de fundo
para a compreensão da história dos povos ameríndios.
Puntoni, Pedro. A Guerra dos Bárbaros: povos indígenas e a
colonização do sertão nordeste do Brasil, 1650-1720. São Paulo:
Hucitec/Edusp, 2002, 323p. Fruto de uma extensa pesquisa documental, este livro proporciona uma
contribuição importante para a história dos conflitos envolvendo grupos
indígenas no Brasil colonial, enfocando particularmente as guerras no Recôncavo
Baiano (décadas de 1650 e 1670), no Rio São Francisco (década de 1670) e a
chamada "Guerra do Açu" (1687 ao início do século XVIII). Um dos
aspectos mais interessantes do livro é a caracterização das tropas paulistas
envolvidas nestes conflitos, as quais contavam necessariamente com soldados
índios recrutados nas aldeias da coroa ou através de alianças com grupos
indígenas. O autor enfatiza os aspectos da violência e do despovoamento como
elementos centrais ao processo de expansão colonial na região, porém também
introduz indícios das iniciativas de atores indígenas. No apêndice, apresenta
uma lista detalhada de 61 missões e aldeamentos criados no século XVII e início
do XVIII, e transcreve os tratados de paz firmados entre as autoridades
coloniais e os índios Janduí (1692, emendado 1695) e Ariú Pequenos (1697).
Quarleri, Lia. Rebelión y guerra en las fronteras del Plata:
Guaraníes, jesuitas e imperios coloniales. Buenos Aires: Fundo de Cultura
Económica, 2009, 384p. Fruto de uma ampla pesquisa documental em arquivos europeus e
sul-americanos, este livro enfoca de maneira particular a chamada “Guerra
Guaranítica” de 1754 a 1756, com especial atenção ao protagonismo guarani, à
luz das relações históricas estabelecidas na região ao longo de mais de
duzentos anos de colonização europeia.
Queiroz, Jonas Marçal de, e Coelho, Mauro Cezar. Amazônia:
modernização e conflito (séculos XVIII e XIX). Belém e Macapá: UFPA/UNIFAP,
2001, 200p. Este
livro reúne textos dos dois autores. São de interesse para a história dos
índios os primeiros dois capítulos, de Mauro Cezar Coelho, sobre os relatos
referentes ao Cabo Norte e o trabalho indígena sob o regime do Diretório.
Quevedo, Júlio. Guerreiros e Jesuítas na Utopia do Prata. Bauru:
Edusc, 2000, 249p. Baseado
numa pesquisa sólida e bem escrito, o livro apresenta uma interpretação da
experiência missionária nas terras limítrofes entre as colônias espanhola e
portuguesa, enfocando particularmente o papel dos Guarani "enquanto agente
do próprio processo histórico". O ponto alto é o estudo do episódio da
"guerra guaranítica" em meados do século XVIII, mostrando como a
experiência colonial e cristã forneceu elementos para a articulação da resistência
dos índios das missões, ao enfrentar um inimigo insólito – as tropas
luso-espanholas.
Raminelli, Ronald. Imagens da Colonização. São Paulo: Edusp,
1996, 186p. O autor
faz um estudo iconológico das representações pictóricas dos índios no decorrer
dos séculos XVI e XVII, mostrando a tematização de certas características do
discurso europeu sobre os nativos da América. Ao confrontar estas
representações com relatos escritos e com a cartografia, o autor aponta para o
"descompasso entre os textos e as imagens", observação essa ilustrada
de forma bastante criativa no que diz respeito à antropofagia. Um outro aspecto
importante do livro reside na abordagem das "mulheres canibais", o
que permite ilustrar tanto o impacto do Novo Mundo sobre o pensamento europeu,
quanto o impacto desse pensamento sobre as políticas coloniais.
Ramos, Alcida Rita. Indigenism: ethnic
politics in Brazil. Madison: University of Wisconsin Press, 1998, 326p. A autora reúne importantes ensaios e
estudos sobre o indigenismo no Brasil, a maioria dos quais publicados em
português em diferentes revistas e coletâneas. Escritos num estilo polemizante,
os textos esmiuçam as diferentes facetas do indigenismo, recorrendo aos
precursores históricos em vários pontos. O aspecto mais interessante deste
livro reside no confronto entre as representações do índio construídas em
consonância com as diferentes ideias sobre a nação brasileira e as estratégias
de autorepresentação mobilizadas por atores indígenas em defesa de seus
direitos e interesses.
Ratts, Alex. Traços Étnicos: espacialidades e culturas negras e indígenas.
Fortaleza: Museu do Ceará, 2009 (Coleção Outras Histórias – 56), 123p. Este pequeno livro reúne artigos
escritos pelo autor entre 1992 e 2006, produzidos para jornais e revistas de
organizações indígenas e quilombolas. Geógrafo e militante em apoio aos
movimentos étnicos, o autor enfoca de maneira particular os movimentos
etnopolíticos no Ceará, num esforço de aproximar a produção acadêmica ao
saberes produzidos no interior dos movimentos sociais.
Rocha, Jan. Haximu. São Paulo: Editora Casa Amarela, 2007. Trata-se de um relato do episódio
ocorrido em 1993, quando um grupo de garimpeiros massacraram 12 índios Yanomami
na aldeia Haximu, em Roraima. Reconhecido pelo Estado como ato de genocídio, o
massacre de Haximu ensejou um debate amplo sobre os direitos humanos e o
problema da exploração do garimpo na Amazônia. A autora, jornalista, era
correspondente da BBC na época e publicou esta reportagem pelo Latin American
Bureau em Londres em 1999 com o título Murder
in the Rainforest: the Yanomami, the gold miners and the Amazon.
Rocha, Leandro Mendes. A Política
Indigenista no Brasil: 1930-1967. Goiânia: Editora UFG, 2003, 267p. Ex-funcionário
da FUNAI, onde trabalhou com a documentação textual e iconográfica do SPI
pertencente ao Departamento de Documentação (DEDOC/FUNAI), o autor apresentou
uma versão original deste livro como tese de doutorado na Universidade de Paris
III. Organizado tematicamente para dar conta de diferentes dimensões da
política indigenista ao longo do período abordado, o livro busca entender essa
política dentro do contexto mais abrangente de “modernização autoritária”,
embora mantendo em mente a variação regional da aplicação de políticas
federais. Para tanto, dedica os últimos capítulos a casos específicos, tais
como os Tikuna, Tiriyó, Tuxá e Fulniô. Inclui fotos e mapas, tirados sobretudo
dos relatórios impressos do SPI.
Romeiro, Adriana. Paulistas e
Emboabas no Coração das Minas: idéias, práticas e imaginário político no século
XVIII. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2008. Bem escrito e
fartamente documentado, este livro apresenta uma arrojada revisão de um
conjunto de eventos que foram posteriormente chamados de “Guerra dos Emboabas”.
Embora o foco central não seja os índios propriamente, a autora inclui
informações e perspectivas novas sobre as relações entre paulistas e índios,
bem como a forma da “guerra brasílica”, como dimensões cruciais para a
compreensão da história deste período.
Saeger, James Schofield. The Chaco Mission
Frontier: the Guaycuruan experience. Tucson: University of Arizona Press, 2000,
266p. Estudo
detalhado das missões estabelecidas em meados do século XVIII na região do
Chaco, na América espanhola, enfocando as populações Guaikuru. O livro
interessa não apenas pelo povo estudado, bastante presente na história da
fronteira oeste da América portuguesa, mas sobretudo pela abordagem de temas
pouco elaborados na bibliografia: a questão de gênero nas missões, o papel das
mercadorias como indício de mudanças substantivas na organização social e a
transformação do papel das lideranças indígenas.
Sampaio-Silva, Orlando. Tuxá: índios do Nordeste. São Paulo:
Annablume, 1997, 215p. Essencialmente uma etnografia deste grupo indígena, o livro contém uma
parte muito interessante sobre a história do grupo, traçando suas origens aos
tempos das missões quando foram aldeados em Rodelas.
Santilli, Paulo. Pemongon Patá: território macuxi, rotas de conflito.
São Paulo: Editora da Unesp, 2001, 225p. O autor une a pesquisa acadêmica ao trabalho
pericial para abordar o conflito fundiário em terras Macuxi em Roraima, com
ênfase especial no período entre as décadas de 1970 e 1990. O livro esmiúça
diferentes formas de construção do território, culminando com a “construção
política” da área Raposa-Serra do Sol, fruto de novas articulações face ao
conflito com fazendeiros. Inclui um Ensaio Fotográfico, com imagens atuais e
históricas dos Macuxi, bem como vários anexos que reproduzem processos ligados
à demarcação, com várias referências históricas.
Santilli, Paulo. As Fronteiras da República: história e política
entre os Macuxi no vale do rio Branco. São Paulo: NHII-USP, 1994 (Série
Estudos), 119p. Baseado
em documentação do SPI e da Ordem dos Beneditinos, este livro analisa o impacto
da formação de grandes aldeias entre os Macuxi na primeira metade do século XX,
sob a orientação das ações indigenistas do Estado e dos missionários. O autor
acompanha a formação e atuação de lideranças políticas indígenas nesta região
na qual sempre pairava a questão das fronteiras da nação.
Santos, Francisco Jorge dos. Além da Conquista: guerras e rebeliões
indígenas na Amazônia pombalina. 2a ed. Manaus: Editora da
Universidade do Amazonas, 2002, 216p. Este livro registra a deplorável história de
violência que marcou as relações entre portugueses e diversos povos indígenas
na Amazônia durante o século XVIII. É especialmente interessante a abordagem da
guerra contra os Mundurucus, apresentando muita documentação inédita.
Santos, Márcio. Bandeirantes Paulistas no Sertão do São Francisco:
povoamento e expansão pecuária de 1688 a 1734. São Paulo: Edusp, 2009,
192p. Ao enfocar a
região do médio superior São Francisco e do Verde Grande nos séculos XVII e
XVIII, este livro traz enfoques inovadores sobre as atividades de sertanistas
de São Paulo e suas relações com os índios. O capítulo 2, “Conquistadores e
Índios: Empresa Militar”, sublinha a “situação de violência interétnica de
fronteira” ao caracterizar estas relações, embora também apresente informações
importantes sobre o trabalho indígena e a administração dos índios após a
consolidação do controle dos paulistas. Fruto de uma excelente dissertação de
mestrado, o livro lança mão de um leque variado de fontes impressas e
manuscritas, acrescentando um material cartográfico fascinante, objeto de uma
perspicaz análise.
Saragoça, Lucinda. Da "Feliz Lusitânia" aos Confins da
Amazônia (1615-1662). Lisboa: Edições Cosmos, 2000, 509p. Baseado numa ampla pesquisa documental
em arquivos portugueses, este livro documenta a conquista e ocupação portuguesa
da Amazônia a partir da construção do forte do Presépio em Belém. Embora
interessada sobretudo nos aspectos de história administrativa, a autora aborda
a sublevação dos Tupinambás que tanto marcou as origens da história colonial
naquela região. O livro inclui um extensíssimo anexo documental, com a
transcrição de vários documentos, alguns com informações sobre os povos
indígenas.
Schwartz, Stuart B. Da América Portuguesa ao Brasil. Trad. Nuno
Mota. Lisboa: Difel, 2003, 324p. O livro reúne vários artigos, antes inéditos em português, incluindo o
clássico estudo do trabalho indígena na grande lavoura e o texto sobre a
formação de uma identidade colonial no Brasil, comentando de maneira
interessante o lugar do passado indígena no discurso dos genealogistas e
memorialistas na segunda metade do século XVIII. Também vale a pena ler o
ensaio bibliográfico que compõe o último capítulo do livro, pois coloca muito
bem o contexto historiográfico no qual se pode situar os estudos sobre os
índios na América Portuguesa.
Silva, Amaro Hélio Leite da. Serra dos Perigosos: Guerrilha e Índio no
Sertão de Alagoas. Maceió: Editora UFAL, 2007 (Série Índios do Nordeste:
Temas e Problemas 7).
Com base em depoimentos indígenas, este livro discute o episódio insólito da
aliança entre os índios Geripankó do alto sertão alagoano e a Ação Popular,
organização guerrilheira que tinha como objetivo derrubar a ditadura através da
luta armada. O tema levanta questões interessantes sobre o lugar dos índios em
relação aos movimentos de resistência cujos protagonistas eram não-índios.
Silva, Isabelle Braz Peixoto da. Vilas de Índios no Ceará Grande: Dinâmicas
Locais sob o Diretório Pombalino. Campinas: Pontes Editores, 2005, 208p. Publicação da tese de doutorado da
autora, este estudo enfoca de maneira original as vilas pombalinas no Ceará,
mostrando a dimensão regional da implementação do Diretório. A autora dá voz
aos agentes locais através da citação extensa de documentos inéditos.
Sousa, Neimar Machado de. A Redução de Nuestra Señora de Fe no Itatim:
Entre a Cruz e a Espada (1631-1659). Campo Grande: Editora UCDB, 2004,
127p. Publicação da
dissertação de mestrado do autor, o livro enfoca uma das missões jesuíticas na
Província do Itatim. Ao sublinhar a ação das lideranças e xamãs Guarani, o
autor aborda a resistência indígena nesta área de fronteira da América
Espanhola, área que envolveu também a presença de sertanistas oriundos da
América Portuguesa.
Souza
Filho, Carlos Frederico Marés de. Renascer dos Povos Indígenas para o
Direito. Curitiba: Juruá Editora, 2004, 211p. A partir de um enfoque jurídico, o autor mostra
a contradição histórica entre políticas de proteção e de assimilação. O livro
sublinha a importância do período introduzido pela Constituição de 1988,
abrindo espaço para a expressão e reconhecimento dos direitos coletivos.
Sposito, Fernanda. Nem Cidadãos, Nem Brasileiros:
indígenas na formação do Estado nacional brasileiro e conflitos na Província de
São Paulo (1822-1845). São Paulo: Alameda, 2012 (Série Teses), 292p. Originalmente uma
dissertação de mestrado, este livro apresenta uma excelente pesquisa em
documentos variados, sobretudo do Arquivo do Estado de São Paulo. A autora
discute, em primeiro lugar, as inflexões regionais da política indigenista
imperial no período entre a Independência e o Regulamento Acerca das Missões
(1845), mostrando a relação entre a política indigenista e a construção do
estado. A segunda parte do livro enfoca os conflitos envolvendo índios no
interior da Província, onde a formulação “catequese e civilização” parecia mais
tomar a forma de “conquista”.
Stepan, Nancy Leys. Picturing Tropical
Nature. Ithaca: Cornell University Press, 2001, 283p. Neste estudo sobre as representações
científicas e artísticas da natureza tropical durante os séculos XIX e XX, a
autora apresenta uma discussão bem documentada das questões de raça e
mestiçagem no Brasil. O texto inclui algumas fotografias interessantes de
índios, arquivadas na Fundação Oswaldo Cruz.
Tacca, Fernando de. A Imagética da
Comissão Rondon. Campinas: Papirus Editora, 2001 (Coleção Campo Imagético),
135p. Trata-se de um estudo original sobre as imagens fotossensíveis (estáticas
e em movimento) realizadas pela Comissão Rondon durante as primeiras décadas do
século XX. O autor analisa quatro tipos ou estágios de integração dos índios
sobretudo através de filmes, do “selvagem”, ao “pacificado”, ao “integrado”, ao
“civilizado”, enfocando respectivamente os Bororo, os índios do alto Xingu, os
Karajá e os índios das missões salesianas no alto Rio Negro. O último capítulo
aborda as imagens dos índios da fronteira norte do Brasil com as Guianas.
Tassinari, Antonella Maria Imperatriz. No Bom da Festa: o processo de
construção cultural das famílias Karipuna do Amapá. São Paulo: EDUSP, 2003,
413p.
Essencialmente uma etnografia dos Karipuna, este livro inclui uma
problematização da história indígena, em dois sentidos: primeiro, na utilização
de "dados históricos" sobre a região do Uaçá para mostrar como a
dinâmica das relações interétnicas forneceu as condições para a configuração de
identidades étnicas e para a manutenção de uma relativa autonomia dos povos
indígenas; segundo, na utilização de histórias de vida e testemunhos indígenas
para compreender como os Karipuna construíram concepções acerca da categoria de
"misturados", a qual caracteriza a sua singularidade. O livro é muito
bem ilustrado, não apenas com fotografias etnográficas contemporâneas mas
também com algumas imagens antigas, inclusive do livro de viagem de Jean
Mocquet (1617), com uma ilustração de mulheres Karipuna.
Teao, Kalna Mareto, e Loureiro, Klítia. História dos Índios do
Espírito Santo. Vitória: Ed. do Autor, 2009, 150p. Preparado para suprir a carência
absoluta de materiais didáticos sobre os povos indígenas no Espírito Santo, o
livro também atende à chamada instaurada pela Lei 11.645, tornando obrigatória
a inclusão da história e cultura indígena no currículo escolar no ensino
fundamental e médio. O livro inclui informações sobre a história porém o foco
principal recai em questões atuais, referentes a identidades, demarcação de
terras e mobilização política. Inclui fotografias, desenhos e indicações de
leituras.
Torrão Filho, Amílcar. Paradigma do Caos ou Cidade da Conversão?: São
Paulo na Administração do Morgado de Mateus (1765-1775). São Paulo:
Annablume, 2007, 292p. Originalmente dissertação de mestrado, o livro enfoca questões urbanas
durante o período pombalino, com uma incursão relevante na temática indígena,
tanto no sentido da herança da presença jesuítica pós-expulsão, quanto nas
políticas do Morgado de Mateus referente aos aldeamentos nos arredores da
cidade. Conclui com um comentário interessante sobre a “invisibilidade” dos
índios nas áreas urbanas coloniais, codificada na imagem do caráter
“despovoado” das vilas e cidades porém ao mesmo tempo sinal da exclusão social.
Treece, David. Exilados, Aliados, Rebeldes: o movimento indianista, a
política indigenista e o estado-nação imperial. São Paulo: Edusp/Nankin,
2008, 352p. Estudo
inovador e de fôlego que situa o indianismo no contexto político e ideológico
do seu tempo ao invés de considerá-lo uma mera abstração romântica, descolada
dos problemas contemporâneos. O autor destaca o paradoxo entre o investimento
de escritores, artistas e intelectuais numa “mitologia integracionista” e a
história de “um processo destrutivo de prorporções genocidas”, paradoxo esse
que chega a novas alturas no meio do século XIX, com a disjunção entre o
indianismo (com inflexões diferentes, como aponta o autor) e a política
indigenista imperial. Publicado originalmente em inglês em 2000, a edição
brasileira traz alguns pequenos problemas de tradução.
Torres, Milton. O Maranhão e o Piauí no Espaço Colonial: a Memória de
Joaquim José Sabino de Rezende Faria e Silva. São Luís: Instituto Geia,
2005 (Coleção Geia de Temas Maranhenses 9), 264p. Diplomata, poeta e historiador, o autor
desenvolveu este estudo originalmente como tese de doutorado na USP, centrado
num documento inédito encontrado na Biblioteca da Ajuda em Lisboa. A “Memória
Politico-Econômica”, escrita no início do século XIX pelo secretário da
Capitania do Maranhão, inclui um interessante capítulo sobre os índios,
analisado pelo autor e transcrito como anexo. O autor também evoca outros
“escritos de interesse regional”, incluindo inéditos dos séculos XVII e XVIII,
que abordam a natureza dos índios e questões de política indigenista, com
ênfase nas questões do trabalho e de aldeamento.
Ugarte, Auxiliomar
Silva. Sertões de Bárbaros: o mundo
natural e as sociedades indígenas da Amazônia na visão dos cronistas ibéricos
(séculos XVI-XVII). Manaus: Valer, 2009, 601p. Originalmente tese de doutorado defendido
na USP, o livro traz uma leitura minuciosa dos escritores coloniais, sobretudo
espanhóis, que produziram textos sobre a Amazônia nos séculos XVI e XVII,
tematizando a natureza edénica e a humanidade bárbara. Retoma questões de fundo
sobre o imaginário textual referente à América do Sul, situando a Amazônia
entre o paraíso e inferno.
Vainfas, Ronaldo. A Heresia dos Índios: catolicismo e rebeldia no
Brasil colonial. São Paulo: Companhia das Letras, 1995, 275p. Centrado num volumoso processo da
Inquisição de Lisboa, este estudo documenta e interpreta a chamada Santidade de
Jaguaripe, movimento profético que surgiu no sertão da Bahia no final do século
XVI. A partir da perspectiva da história cultural, o autor mostra as matrizes
tupis e cristãs deste estranho movimento, sublinhando o choque entre sistemas
simbólicos radicalmente distintos.
Vainfas, Ronaldo. Traição: um jesuíta a serviço do Brasil
holandês processado pela Inquisição. São Paulo: Companhia das Letras, 2008,
384p. Trata-se de
uma biografia do jesuíta Manoel de Morais. Nascido em São Paulo, descendente de
índios pelo lado paterno, este personagem fascinante seguiu uma trajetória
singular, permitindo ao biógrafo explorar a inconstância das lealdades e a
volatilidade das identidades no Atlântico seiscentista. No que diz respeito aos
índios, o autor destaca dois aspectos importantes. Primeiro, Manoel de Morais
teve um papel significativo no comando de um contingente indígena, não apenas
enquanto missionário como sobretudo na rearticulação das alianças com a
conquista holandesa de Pernambuco. Segundo, serviu de assessor para a Companhia
das Índias ao informar sobre as populações nativas e sobre a língua geral.
Deslocado para a Holanda já em 1635, redigiu uma “História do Brasil” (hoje
perdida porém conhecida através de outros autores) e um dicionário de nomes e
verbos na língua brasiliense, o qual foi incluído na Historia Naturalis Brasiliae de Piso e Marcgrave.
Vasconcelos, Cláudio Alves de. A Questão Indígena na Província do
Mato Grosso: conflito, trama e continuidade. Campo Grande: Editora UFMS,
1999, 160p. Baseado
sobretudo nos relatórios dos Diretores Gerais dos Índios e dos Presidentes da
Província, este estudo mapeia várias questões subjacentes à política
indigenista do Império. Em anexo, traz uma transcrição do "Parecer"
de Ricardo Franco de Almeida Serra sobre os Guaikuru e Guaná (1803) e um ofício
do Presidente da Província de MT sobre a criação da Diretoria Geral dos Índios
(1846), com informações sobre os povos indígenas da Província.
Veiga, Juracilda. Aspectos Fundamentais da Cultura Kaingang.
Campinas: Editora Curt Nimuendajú, 2006, 256p. +CD. Apresentado inicialmente na forma de
dissertação de mestrado na Unicamp, este livro oferece um amplo estudo que,
segundo o prefácio de Vanessa Lea, efetivamente coloca os Kaingang “no mapa
etnográfico dos povos Jê”. O enfoque de fato é etnográfico porém o livro também
traz informações históricas dos séculos XIX e XX, sobretudo em referência às
aldeias do Xapecó. O CD inclui tabelas genealógicas de famílias Kaingang de
Xapecó.
Vidal, Laurent. Mazagão: a cidade que atravessou o Atlântico. Trad. M. Marcionilo.
São Paulo: Martins, 2008, 294p. A partir de uma pesquisa minuciosa em arquivos portugueses e
brasileiros, o autor narra a fascinante trajetória dos 2.000 habitantes que
foram forçados a abandonar a fortaleza de Mazagão, no litoral marroquino, em
1769, retomando a vida pouco depois no outro lado do Atlântico, na Nova
Mazagão, situada na boca do Rio Amazonas. O capítulo 4 introduz um material muito
interessante sobre os “construtores de Nova Mazagão”, em sua maioria artesãos e
trabalhadores braçais oriundos das vilas indígenas do Pará.
Viegas, Susana de Matos. Terra Calada: os Tupinambá na mata atlântica
do sul da Bahia. Rio de Janeiro: 7Letras, 2007, 339p. Ao entrelaçar a etnografia e a
história, trata-se de um excelente estudo dos Tupinambá de Olivença. Baseado em
vários anos de experiência etnográfica e de pesquisa em materiais históricos, o
livro tece um diálogo muito rico com perspectivas atuais da etnologia
americanista, da história indígena e dos estudos sobre territorialidade. Focado
no cotidiano e na experiência vivida de homens, mulheres e crianças Tupinambá,
o livro faz incursões instigantes nos domínios da memória e da história. O Capítulo
VIII, sobre a terra, reporta a diferentes contextos históricos – do século
XVIII ao período crítico de 1940-60 – e traz uma interpretação bastante
interessante da chamada “revolta de Marcelino”, entretecendo informações
documentais e depoimentos atuais. O ponto alto do argumento está na ideia das
“compatibilidades equívocas”, o que permite compreender discursos sobre a
cessão de terras para os brancos.
Vilaça, Aparecida. Quem Somos Nós: os Wari’ encontram os
brancos. Rio de Janeiro: Editora UFRJ, 2006, 608p. Versão modificada de uma tese de
doutorado defendida no Museu Nacional, este livro tem como “eixo etnográfico”
os primeiros e os sucessivos encontros entre os Wari’ e os brancos em Rondônia.
Fruto de uma profunda pesquisa etnográfica complementada por uma pesquisa
documental, o livro enfoca a história a partir de uma análise fina das
percepções nativas que, longe de estáticas ou defensivas, reposicionam questões
relativas à identidade, alteridade e mudança, à medida que os “brancos” passam
a ocupar um lugar permanente no cotidiano ameríndio. Ao se defrontar com a
maneira pela qual os Wari’ minimizam ou mesmo tratam como positivos os
sofrimentos e perdas causados pelos massacres e epidemias, a autora coloca uma
questão muito importante para a história dos índios, qual seja a dissonância
entre percepções sobre os sentidos da transformação que decorre das relações
entre um grupo indígena e a sociedade ocidental. O livro é amplamente ilustrado
com fotografias e desenhos; de especial interesse para a história são as fotos
do arquivo diocesano de Guajará-Mirim, tiradas no início da década de 1960.
Viveiros de Castro, Eduardo. A Inconstância da Alma Selvagem e outros
ensaios de antropologia. São Paulo: Cosac & Naify, 2002, 551p. Este livro reúne, numa edição muito
bem cuidada, nove estudos e uma entrevista do etnólogo. O texto de maior
interesse para a discussão em torno da história dos índios é "O Mármore e
a Murta", uma releitura da documentação quinhentista informada por um
saber etnológico apurado. Outros ensaios também abordam aspectos críticos dos
rumos atuais da etnologia sul-americana, os quais abrangem problemas de
arqueologia e história indígena.
Warren, Jonathan W. Racial Revolutions:
antiracism and Indian resurgence in Brazil. Durham: Duke University Press, 2001, 364p. Baseado sobretudo em entrevistas
aplicadas entre informantes indígenas e não-indígenas, este livro busca
problematizar o processo de "reemergência étnica" entre populações de
"índios póstradicionais" da "região leste", o que
corresponde sobretudo a Minas Gerais, Espírito Santo e Sul da Bahia. A questão
da história está presente em várias dimensões, sobretudo na discussão da
construção de imagens e de critérios para a indianidade, passando pelo discurso
sobre as raízes mestiças da nação e, de forma mais agressiva e polêmica, pelo
"pensamento selvagem" dos antropólogos. Escrito no melhor (e pior)
estilo pósmoderno, o livro traz um material para a discussão em torno dos
"índios misturados", mesmo que o leitor não compartilhe a
racialização da questão, tal como apresentada pelo autor.
Wilde, Guillermo. Religión y poder en las misiones de
Guaraníes. Buenos Aires: SB, 2009, 509p. Importante contribuição à extensa bibliografia
sobre os Guarani das missões durante e depois da presença jesuítica, este livro
busca entender a formação de uma “comunidade política heterogênea” em suas
dimensões histórica e simbólica, além de enfocar as lideranças indígenas em sua
interlocução com outros setores da sociedade colonial. Baseada numa exaustiva
pesquisa documental e bibliográfica, a obra transita com habilidade nas
fronteiras entre a América espanhola e portuguesa, bem como entre a
antropologia e a história.
Wittmann, Luisa Tombini. O Vapor e o Botoque: imigrantes alemães e
índios Xokleng no Vale do Itajaí/SC (1850-1926). Florianópolis: Letras
Contemporâneas, 2007, 268p. Originalmente uma dissertação de mestrado, este livro narra, com
maestria, as trajetórias de várias vidas tocadas pela envolvente história do
contato entre os Xokleng e os imigrantes europeus que ocuparam o Vale do Itajaí
a partir de meados do século XIX. De especial interesse para a história
indígena, o Capítulo 3 introduz um quadro de “singulares relações interétnicas”
ao acompanhar a vida de pessoas que foram adotadas ou raptadas, incorporando-se
no mundo do outro. O último capítulo traz uma leitura inovadora das relações
entre o encarregado do SPI Eduardo Hoerhann e os índios que integravam o Posto
Indígena Duque de Caxias.
Woortmann, Klaas. O Selvagem e o Novo Mundo: Ameríndios,
Humanismo e Escatologia. Brasília: Editora UnB, 2004, 300p. Conforme esclarece o autor na
introdução, o livro é menos sobre os índios em si e mais “sobre os europeus que
os construíram reflexivamente como selvagens para darem conta de si mesmos como
civilizados”. Ao refletir sobre o pensamento europeu do século XVI através do
topos ameríndio, o autor discute de maneira relevante não apenas a questão das
“representações” como também a ideia da história que dava suporte às hipóteses
sobre as origens e natureza do selvagem.
Wright, Robin. Cosmos, Self, and History in
Baniwa Religion: for those unborn. Austin: University of Texas Press, 1998, 314p. Trata-se de uma etnografia da
religião Baniwa, trazendo uma importante contribuição para a discussão em torno
da relação entre mito e história. Wright explora o lugar da cosmogonia e da
escatologia na articulação dos eventos e dos processos que marcaram a história
dos Baniwa, com destaque para os movimentos proféticos. O autor lança mão de
uma documentação interessante, porém as principais fontes históricas são os
depoimentos e narrativas dos índios.
Wright, Robin. História Indígena e do
Indigenismo no Alto Rio Negro. Campinas: Mercado das Letras e São Paulo:
Instituto Socioambiental, 2005, 319p. Importante coletânea
que reúne sete estudos, alguns publicados anteriormente, versando sobre
diferentes dimensões da história dos índios do noroeste amazônico, com destaque
para os Baniwa. Para além do mérito de reunir num só volume uma produção
dispersa por revistas e coletâneas, o autor apresenta versões atualizadas e as
contextualiza face aos debates atuais na etnologia sul-americana. Wright junta
a análise documental – incluindo um material muito rico sobre a escravidão dos
índios no século XVIII – com mais de vinte anos de pesquisa etnográfica,
valorizando em primeiro plano as versões e interpretações indígenas sobre um
passado marcado não apenas por grandes transformações, como também pela
persistência de modos de vida e de pensar, a contrapelo das mudanças.
Zeron, Carlos Alberto de Moura
Ribeiro. Ligne de Foi: la Compagnie de Jésus et
l’esclavage dans le processus de formation de la société coloniale en Amérique
portugaise (XVIe-XVIIe siècles). Paris: Honoré Champion, 2009, 573p. Exaustiva análise dos debates em torno da escravidão indígena e africana
na América portuguesa, com ênfase nos escritos jesuíticos nos dois lados do
Atlântico. Aborda as dimensões teológicas, jurídicas e historiográficas da
questão, mostrando que, a exemplo da América espanhola, o debate teve uma
importância central para a consolidação da presença portuguesa no Novo
Mundo.
Zeron, Carlos Alberto
de Moura Ribeiro. Linha de Fé : a
Companhia de Jesus e a escravidão no processo de formação da sociedade colonial
(Brasil, séculos XVI e XVII). São Paulo: Edusp, 2011, 616p. Edição brasileira do item anterior.
2.
Coletâneas e Números Especiais de Revistas (voltar
ao início)
Adams, Cristina; Murrieta, Rui; e Neves, Walter, orgs. Sociedades Caboclas
Amazônicas: modernidade e invisibilidade. São Paulo: Annablume, 2006, 362p.
Fruto de um evento
interdisciplinar realizado na USP em 2002, esta coletânea enfoca, numa chave
crítica e multidisciplinar, o “campesinato histórico” da Amazônia. Vários textos
problematizam de maneira instigante a relação entre a categoria “caboclo” e as
sociedades indígenas. Para a temática da história indígena, são de especial
interesse as discussões teóricas de Stephen Nugent e Henyo Barreto, bem como os
estudos que evocam mais explicitamente processos históricos, de William Balée
(enfocando a ecologia histórica em referência ao Ka’apor), Décio Guzmán (sobre
a mestiçagem no Rio Negro durante os séculos XVIII e XIX) e Mark Harris (sobre
o “modo de ser no tempo” dos ribeirinhos mestiços).
Albert, Bruce, e Ramos, Alcida Rita, orgs. Pacificando o Branco:
cosmologias do contato no norte-amazônico. São Paulo: Editora da UNESP,
2002, 531p. Importante
coletânea, este livro reúne 17 estudos de etnólogos com pesquisa de campo no norte
da Amazônia, introduzindo leituras muito ricas da relação entre cosmologia e
história nas versões indígenas sobre a origem dos brancos e o evento do
contato. Os autores trabalham não apenas com narrativas orais mas também com
desenhos e com música. Os textos abordam questões ligadas a bens materiais,
doenças, relações políticas, mito, ritual, retórica e vários outros assuntos.
Em seu conjunto, o livro proporciona "uma referência obrigatória",
nas palavras de Manuela Carneiro da Cunha na Apresentação.
Almeida, Luiz Sávio de; Galindo, Marcos; e Silva, Edson, orgs. Índios
do Nordeste: temas e problemas. Maceió: Edufal, 1999. Esta coletânea inclui os textos
apresentados no I Encontro de Etnohistória Indígena, realizado em Penedo, AL,
em 1996. Os textos enfocam sobretudo a experiência histórica dos povos
indígenas do nordeste, com uma certa ênfase no episódio da "guerra dos
bárbaros" e no fenômeno de reemergência étnica.
Almeida, Luiz Sávio de; Galindo, Marcos; e Elias, Juliana Lopes, orgs. Índios
do Nordeste: temas e problemas 2. Maceió: Edufal, 2000, 448p. O livro abre com um texto que trata
da relação entre etnia e nação a partir de um enfoque marxista, adotando o
exemplo australiano. Segue um conjunto de artigos que enfocam o período
holandês, trazendo inclusive novas pesquisas de fontes holandesas. Um outro
conjunto inclui textos sobre a história e a arqueologia dos povos do nordeste,
com um bloco de estudos e depoimentos referentes ao grupo Kariri-Xocó. A
coletânea fecha com um interessante levantamento de narrativas dos Tremembé do
Ceará, feito por Betty Mindlin.
Almeida, Luiz Sávio de, e Galindo, Marcos, orgs. Índios do Nordeste:
temas e problemas 3. Maceió: Edufal, 2002, 271p. Após uma breve incursão pela
história andina, com cinco textos de José Carlos Mariátegui e um estudo de
Jaime de Almeida, a coletânea traz diversos estudos sobre a história e
arqueologia dos índios do Nordeste, além de um trabalho sobre a política
indigenista castelhana durante a "União Ibérica". Destacam-se o texto
de Marcus Carvalho sobre os índios nas revoluções pernambucanas do século XIX e
o interessante estudo de Joceny Pinheiro sobre história, memória e identidade
entre os Pitaguary do Ceará.
Almeida, Luiz Sávio de, e Silva, Christiano Barros Marinho da, orgs. Índios
do Nordeste: temas e problemas 4. Maceió: Edufal, 2004, 203p. Neste quarto número da série, há
dois estudos de especial interesse para a temática da história indígena: de Ugo
Maia Andrade sobre o processo de etnogênese Tumbalalá, no médio São Francisco;
e de José Glebson Vieira, sobre os Potyguara da Baía da Traição.
Almeida, Luiz Sávio de; Silva, Christiano Barros Marinho da; Silva,
Amaro Hélio Leite da; Vieira, Jorge Luiz Gonzaga; e Silva, Maria Ester Ferreira
da, orgs. Resistência, Memória, Etnografia
(Índios do Nordeste: temas e problemas
8). Maceió: Edufal, 2007, 230p. Este número inclui alguns ensaios de especial
interesse para a história indígena: Dirceu Lindoso apresenta um retrospecto das
abordagens etnográficas referentes aos Tapuia no nordeste; Maria Hilda B.
Paraíso aborda o tráfico de kurukas
(crianças indígenas) no Espírito Santo, Bahia e Minas Gerais na época da
Independência; e Luiz Mott, que analisa um processo da Inquisição de meados do
século XVIII, referente às atividades de um índio, Miguel Pestana, da aldeia de
Reritiba, ES, acusado de feitiçaria.
Almeida, Luiz Sávio
de, e Silva, Amaro Hélio Leite da, orgs. Índios
de Alagoas: cotidiano, terra e poder. Maceió: EDUFAL, 2009 (Série Índios do
Nordeste: Temas e Problemas, 11), 124p. Este volume reúne sete estudos
apresentados na Reunião Regional da SBPC em 2008, incluindo Amaro Leite da
Silva sobre a resistência dos Geripankó, Jorge Luiz Gonzaga Vieira sobre a
história dos Kalankó, Aldemir Barros sobre os Xucuru-Kariri sob o SPI e Ivan Soares
Farias sobre memórias dos Xucuru-Kariri.
Amazônia em Cadernos, n. 6, Manaus, jan.-dez. 2000, 343p. Reunidos sob o título Diálogos
Interdisciplinares, todos os artigos que compõem este número especial do
periódico publicado pelo Museu Amazônico abordam aspectos da história dos
índios na Amazônia. Dentre os temas estudados, destacam se os textos sobre a
língua geral (José R. Bessa Freire), sobre as viagens de naturalistas (Mauro
Cezar Coelho, Hideraldo Costa), sobre resistência (F. J. dos Santos, J. B. Botelho
e Vânia Tadros), sobre missionários (Auxiliomar Ugarte) e sobre as identidades
sociais (Patrícia Sampaio).
The Americas, Washington D.C., 61:3,
jan. 2005, número especial Rethinking Bandeirismo Studies in Colonial Brazil.
Este número, organizado pelo
historiador A.J.R. Russell-Wood, reúne quatro artigos sobre a relação entre o
sertanismo e as populações indígenas na América Portuguesa: Alida Metcalf sobre
os mamelucos e as entradas baianas no século XVI; Barbara Sommer sobre o
movimento de escravos índios na Amazônia; Hal Langfur sobre os conflitos
armados nos sertões do leste de Minas no século XVIII; e Mary Karasch sobre o
papel dos índios na "conquista" de Goiás no final do século XVIII.
Athias, Renato, org. Povos Indígenas de Pernambuco: identidade,
diversidade e conflito. Recife: Ed. Universitária da UFPE, 2007
(Publicações Especiais do Programa de Pós-Graduação em Antropologia), 242p. O livro reúne pesquisas etnográficas
realizadas junto ao Núcleo de Estudos e Pesquisas sobre a Etnicidade, enfocando
os povos indígenas de Pernambuco, com estudos específicos sobre os Pankararu,
Pipipãs, Fulni-ô, Xukuru, Pankará e Atikum. Os temas são variados, abrangendo
as organizações e lideranças indígenas, saúde, ritual, eleições, gênero e
mestiçagem. As referências bibliográficas no fim do livro demonstram a
vitalidade dos estudos nesta região.
Azevedo, Francisca L. Nogueira de, e Monteiro, John Manuel, orgs. Confronto
de Culturas: conquista, resistência, transformação. São Paulo e Rio de Janeiro:
Edusp/Expressão e Cultura, 1997 (América 500 Anos, 7), 422p. Esta coletânea de textos
apresentados no mega-congresso América 92: Raízes e Trajetórias traz 24 estudos
sobre temas relacionados aos índios no Brasil e na América Espanhola. No que se
refere ao Brasil, destacam-se os trabalhos de Jorge Couto, Mário Maestri Filho,
João Francisco Marques, Paulo Castagna, Renato Pereira Brandão, Marcus
Carvalho, Antonio Carlos de Souza Lima e Maria Helena P. T. Machado.
Baruzzi, Roberto G., e Junqueira, Carmen,
orgs. Parque Indígena do Xingu: Saúde,
Cultura e História. São Paulo: Terra Virgem, 2005, 295p. Entre depoimentos e estudos, este
livro reúne 14 textos sobre o Parque do Xingu, enfocando particularmente a
atuação dos médicos da Escola Paulista de Medicina e as questões da saúde e da
cura nas comunidades indígenas. Os capítulos são ilustrados por fotografias
interessantes, oriundas da coleção de Orlando Villas-Boas.
Bonilla, Heraclio, org. Os
Conquistados: 1492 e a população indígena das Américas. Trad. Magda Lopes.
São Paulo: Hucitec, 2006 (Estudos Históricos 52), 426p. Resultado
de um simpósio realizado em 1992 no Equador, esta coletânea inclui vários
estudos sobre a história dos índios nas Américas, inclusive de autores pouco
traduzidos para o português, como Steve Stern, Enrique Florescano, Heraclio
Bonilla, Roberto Choque, Manuel Burga, Henrique Urbano e R. Tom Zuidema, entre
outros, abordando temas ligados ao impacto e aos sentidos da conquista. A
América Portuguesa aparece apenas marginalmente, através de um extrato d’O Escravismo Colonial, de Jacob
Gorender.
Cabral, Ana Suelly Arruda Câmara, e Rodrigues, Aryon Dall’Igna, orgs. Línguas e Culturas Tupi. Campinas:
Editora Curt Nimuendajú e Brasília: Laboratório de Línguas Indígenas da UnB,
2007, 468p. A coletânea reúne 30 estudos apresentados no I
Encontro Internacional sobre Línguas e Culturas dos Povos Tupi, realizado em
2004 em Brasília, divididos nas categorias Antropologia, Linguística
Antropológica e Linguística. Apesar do enfoque majoritariamente linguístico,
alguns estudos incluem abordagens históricas e, ademais, há uma consciência a
respeito do lugar dos estudos tupi na história da antropologia e da
linguística.
Camargo, Vera Regina Toledo; Ferreira, Maria Beatriz Rocha; Von Simson,
Olga R., orgs. Jogo, Celebração, Memória
e Identidade: reconstrução da trajetória de criação, implementação e difusão
dos Jogos Indígenas no Brasil (1996-2009). Campinas: Editora Curt
Nimuendajú, 2011, 176p. Fruto de um projeto realizado na Unicamp, o
livro reúne 16 textos de pesquisadores e alunos sobre variados aspectos dos
Jogos Indígenas, realizados em dez edições entre 1996 e 2009. A primeira parte
avalia o evento numa perspectiva histórica. Inclui curtas entrevistas com os
idealizadores dos jogos Carlos Justino Terena e Marcos Terena e com a
Secretária Nacional de Esporte e Lazer Rejane Penna Rodrigues.
Carneiro da Cunha, Manuela, org. História dos Índios no Brasil.
São Paulo: Companhia das Letras/Fapesp, 1992, 608p. Ponto de partida indispensável para
o estudo da história indígena, esta coletânea pioneira reúne 25 artigos
originais sobre diferentes aspectos da história dos índios, da pré-história à
atualidade. O aspecto mais inovador do livro é o esforço em problematizar o
papel de atores indígenas nos processos históricos, porém também traz aportes
significativos para a etnologia sul-americana e para a história da política
indigenista e do indigenismo. A segunda edição de 1998 incorpora algumas
revisões, sobretudo na bibliografia.
Carvalho, Maria Rosário de; Reesink, Edwin; e Cavignac, Julie, orgs. Negros
no Mundo dos Índios: imagens, reflexos, alteridades. Natal: Editora da
UFRN, 2011, 449p. Esta coletânea parte do desafio de estabelecer um
diálogo produtivo sobre as relações entre africanos e afro-descendentes, por um
lado, e povos indígenas, por outro, levando em consideração que “negros e
índios têm siddo tratados, pela literatura científica, separadamente, não
obstante eles tenham ... compartilhado experiências, quase invariavelmente sob
a hegemonia política branca”. Para
tanto, reúne 13 ensaios e estudos de antropólogos e historiadores que buscam
aprofundar temas tão sugestivos quanto ricos. Destacam-se, entre outros
problemas, as questões da classificação étnico-racial, das identidades, da
mestiçagem ou mistura em vários planos (histórico, religioso, identitário) e do
lugar de índios e negros nas representações da nação. A maioria dos textos
abordam o Nordeste, enriquecidos por uma seção de dois estudos sobre a
Colômbia.
Chambouleyron, Rafael, e Alonso, José Luís
Ruiz-Peinado, orgs. T(r)ópicos de História: gente, espaço e tempo na
Amazônia (séculos XVII a XXI). Belém: Editora Açaí, 2010, 283p. A coletânea reúne 15 trabalhos apresentados no 52º Congresso
Internacional de Americanistas, abordando aspectos bastante diversos da
história da Amazônia. Diferentes aspectos da história indígena e do indigenismo
aparecem nos textos de José Alves de Souza Jr. (sobre o trabalho indígena),
Fernando Torres Londoño (sobre missões jesuítas entre os Jebero e Cocama), Márcia
Eliane Alves de Souza e Mello (sobre a Junta das Missões), Patrícia Melo
Sampaio (sobre identidades de índios e brancos) e Odair Giraldin (sobre os
povos indígenas no Tocantins).
Clio. Revista de Pesquisa Histórica, Recife, no. 25.2,
2007, 354p. Este
número, organizado por Marcus J. M. de Carvalho e Edson Silva, traz um
excelente dossiê “História dos Povos Indígenas”, com 13 artigos baseados em
pesquisas originais, focados em sua maioria em temas nordestinos. Maria Hilda
Paraíso e Pablo Iglesias Magalhães abordam a atuação dos soldados indígenas das
aldeias jesuíticas durante a invasão holandesa de Salvador em 1624; Edson Silva
estuda as memórias dos Xukuru, Fulni-ô e Wassú referentes à participação dos
antepassados na Guerra do Paraguai; Patrícia Pinheiro de Melo escreve sobre a
construção da resistência indígena em Pernambuco colonial; Ricardo Pinto de
Medeiros analisa as relações entre povos indígenas e o avanço colonial no
sertão da Paraíba nos séculos XVII e XVIII; Deborah Freitas estuda a construção
do sujeito em narrativas orais Xukuru, Arara e Makuxi; Antonio Jorge Siqueira
reflete sobre índios, propriedade fundiária e poder no Brasil colonial; Rômulo
Xavier examina a relação entre índios e holandeses na fase inicial da conquista
de Pernambuco; Juliana Elias acompanha a trajetória de D. Antônio Filipe
Camarão e seus descendentes; Jaci Vieira estuda o papel das populações
indígenas na construção de um projeto português para o Rio Branco; Geyza Alves
da Silva apresenta uma análise da relação entre Tabajaras e Potiguaras no
espaço colonial; Anna Elizabeth Lago aborda a resistência indígena face ao
Diretório dos Índios em Pernambuco; Marcus Carvalho acompanha o convívio entre
índios, negros e grupos de classificação incerta nos sertões de Pernambuco entre
os séculos XVII e XIX; e Juciene Ricarte Apolinário avalia a aplicação da
política indigenista face à resistência dos índios no norte da Capitania de
Goiás.
Coelho, Mauro Cezar; Gomes, Flávio
dos Santos; Queiroz, Jonas Marçal; Marin, Rosa Acevedo; Prado, Geraldo, orgs. Meandros da História: trabalho e poder no
Pará e Maranhão, séculos XVIII e XIX. Belém: UNAMAZ, 2005, 385p. A coletânea inclui 19 artigos,
muitos deles baseados em pesquisas originais em arquivos regionais. Sobre a
temática indígena, destacam-se os estudos de Maria Regina Celestino de Almeida
sobre o lugar dos índios na ocupação territorial da Capitania do Rio Negro; de
Mauro Cezar Coelho, que realiza um balanço e sugere perspectivas para o estudo
do Diretório dos Índios; de Patrícia de Melo Sampaio, que reavalia as
implicações da Carta Régia de 1798, extinguindo o Diretório; de Eliane Cristina
Lopes Soares sobre a constituição de uma economia camponesa na Ilha do Marajó,
a partir da destruição das populações indígenas; e, finalmente, de Manoel de
Jesus Barros Martins sobre a atuação do militar e escritor Francisco de Paula
Ribeiro diante dos índios na exploração dos Sertões dos Pastos Bons no início
do século XIX.
Costigan, Lúcia Helena, org. Diálogos da Conversão: Missionários, Índios,
Negros e Judeus no Contexto Ibero-Americano do Período Barroco. Campinas:
Editora da Unicamp, 2005, 207p. Esta coletânea reúne sete textos de historiadores, antropólogos e
estudiosos da literatura, oferecendo análises de diferentes perspectivas sobre
textos missionários. Sobre a temática indígena, destacam-se os textos de João
Adolfo Hansen sobre a escrita, enfocando de maneira interessante o poema
anchietano “Tupána Kuápa”; de Ronaldo Vainfas sobre a “demonização” das
práticas religiosas Tupi; de Alcir Pécora sobre o lugar dos índios nos sermões
de Vieira; e de Andréa Daher sobre as obras impressas referentes às iniciativas
francesas na América do Sul, enfocando particularmente Léry e Abbeville.
Dias, Marcelo Henrique e Carrara,
Ângelo Alves, orgs. Um Lugar na História:
a Capitania e Comarca de Ilhéus antes do cacau. Ilhéus: Editus – Editora da
UESC, 2007, 322p. Esta
coletânea inclui cinco pesquisas originais sobre Ilhéus no período colonial e
uma referente ao Império. Os estudos de Carrara (sobre as estruturas agrárias)
e Dias (sobre a economia e administração da capitania) abordam questões
historiográficas referentes ao papel da resistência indígena e da mão-de-obra
nativa na articulação da economia colonial na região. Um segundo artigo de
Marcelo Dias traz uma contribuição original ao debate, enfocando as atividades
produtivas dos índios residentes nos aldeamentos jesuíticos, em especial o de
N. S. da Escada (Olivença). De especial interesse é a análise que o autor
oferece de um relatório manuscrito, elaborado pelo ouvidor Luís Freire de Veras
em 1768. O texto também reproduz uma ilustração da Vila de Santarém, a qual
acompanha o relato do Cap. Domingos Alves Muniz Barreto a respeito dos “índios
sublevados nas vilas e aldeias da Comarca de Ilhéus e norte da Cap. da Bahia”.
Documentos. Revista do Arquivo Público do Ceará, Fortaleza, 3, 2006, número especial Índios e Negros. No se refere aos índios, a revista inclui artigos originais sobre
casamentos interétnicos e intraétnicos em Acaraú durante o século XVIII (Cíntia
Vasconcelos) e sobre chefes indígenas e a circulação da escrita em Ibiapaba no
século XVII (Lígio Maia), além de uma resenha por este mesmo autor.
Espaço Ameríndio, Porto Alegre, 5:2, 2011, edição
especial Fontes e Problemas Coloniais: temas
da cultura sul-ameríndia no contexto colonial. Organizado por Carlos
Paz e Guilherme Galhegos Felippe, este número especial da revista online traz quatro artigos com pesquisas
originais, uma entrevista com a historiadora Graciela Chamorro e duas resenhas
de livros recentes. Os artigos são de Eliane Fleck, sobre rituais de cura, luto
e sepultamento nas reduções jesuítico-guaranis, entre o tradicional e o
colonial; Glória Kok sobre a presença dos índios nas capelas coloniais de São
Paulo; Luisa Wittmann sobre música e contato nas aldeias missionárias no
Brasil; e Guilherme Galhegos Felippe sobre as implicações da aquisição de
objetos e técnicas de origem européia pelos índios (sobretudo nas reduções) nos
planos social e cosmológico.
Estudos de História, Franca, 10:2, 2003, dossiê
especial Escravidão Indígena. O dossiê traz cinco artigos inéditos
sobre este tema: Flávio Gomes sobre a relação entre índios e mocambeiros na
área de fronteira entre Brasil e Suriname; Eliane Fleck sobre a sensibilidade
indígena nas narrativas coloniais; Izabel Missagia de Mattos sobre a
administração dos Botocudos em Minas Gerais no século XIX; Silvana Alves de
Godoy sobre as relações entre portugueses, paulistas e índios na rota das
monções; e Mauro Leonardo Costa de Oliveira sobre a condição dos índios na
Amazônia colonial.
Fausto, Carlos e Heckenberger, Michael, orgs. Time and Memory in Indigenous Amazonia:
Anthropological Perspectives. Gainesville: University Press of Florida, 2007, 322p. Trata-se
de uma excelente coletânea que reúne nove trabalhos de ponta em história
indígena. Conforme elucida os organizadores em sua introdução ao volume, os
estudos abordam os temas do tempo e da mudança, buscando problematizar a tensão
entre as teorias sociais dos estudiosos e as acepções ameríndias dos
componentes-chave destas teorias. Além das divergentes formas de entender a
alteridade, os organizadores chamam a atenção para as divergências em torno das
noções de ação e “agência”, uma vez que a “teoria social” ameríndia pode
incluir, no leque de agentes capazes de contribuir com ações transformadoras,
agentes extra-humanos ou mesmo não-humanos. Versões anteriores de alguns dos
trabalhos, como o de Carlos Fausto sobre canibalismo e cristianismo entre os
Guarani, de Peter Gow sobre a identidade Cocama e de Aparecida Vilaça sobre o
corpo War’i foram publicados em revistas brasileiras.
Forline, Louis; Murrieta, Rui; e Vieira, Ima, orgs. Amazônia Além dos 500 Anos. Belém: Museu Paraense Emílio Goeldi,
2006, 566p. O livro reúne estudos que foram apresentados no
simpósio internacional e interdisciplinar “Amazônia 500 Anos”, realizado em
Belém no ano de 2000. De especial interesse para a história indígena são os
textos de Michael Heckenberger sobre a necessidade de entender os processos
históricos xinguanos de maneira mais complexa; de Eduardo Neves sobre línguas,
tradições orais e arqueologia como chaves para a compreensão da história
indígena do Rio Negro; de Rafael Chambouleyron sobre as tensões e conflitos
entre principais indígenas, jesuítas e autoridades no Maranhão e Pará durante o
século XVII; e de Márcio Meira, que apresenta um estudo panorâmico e instigante
das relações entre índios e brancos no Rio Negro.
Franchetto, Bruna e Heckenberger, Michael, orgs. Os Povos do Alto
Xingu: história e cultura. Rio de Janeiro: Editora UFRJ, 2000, 492p. Este livro reúne os resultados de
uma ampla gama de pesquisas arqueológicas, históricas, etnológicas e
linguísticas enfocando a região do Alto Xingu. Se os índios do Xingu povoam o
imaginário popular sobre as sociedades primitivas isoladas e suspensas no
tempo, a coletânea mostra uma outra face ao sublinhar a formação histórica de
um sistema interétnico e a importância dos processos de contato na estruturação
das sociedades e culturas ao longo dos últimos dez séculos. Um aspecto muito
marcante dos novos estudos é o diálogo que se estabelece com as narrativas,
mitos, memória e rituais xinguanos, onde se inscreve a história a partir de
perspectivas indígenas.
Freire, Carlos Augusto da Rocha, org. Memória do SPI:
textos, imagens e documentos sobre o Serviço de Proteção aos Índios (1910-1967).
Rio de Janeiro: Museu do Índio-Funai, 2011, 492p. Dividido em três partes, este
livro registra uma afirmação contundente do “estado da arte” em termos de
estudos sobre o SPI. Na primeira parte, o organizador C. A. da Rocha Freire
brinda o leitor e pesquisador com uma viagem pela iconografia, com destaque
para o rico acervo fotográfico que aos poucos começa a ser disseminado e
analisado por especialistas. A segunda parte traz 25 textos dos principais
estudiosos que se debruçaram sobre o acervo documental e iconogáfico do órgão
indigenista, abordando temas bastante variados, incluindo vários estudos sobre
a experiência de diferentes povos indígenas em todas as regiões do país porém
também tratando de aspectos transversais, tais como o poder tutelar, a saúde,
os projetos vinculados à Seção de Estudos e o papel de Rondon e Darcy Ribeiro.
A última parte inclui um guia sumário do acervo, uma explicação de como acessar
o material pelo site do Museu do Índio e uma bibliografia extensa de livros,
artigos, teses e publicações avulsas referentes ao SPI.
Freire, José Ribamar Bessa, e Rosa, Maria Carlota, orgs. Línguas Gerais:
política lingüística e catequese na América do Sul no período colonial. Rio
de Janeiro: Ed. UERJ, 2003, 209p. Apresentados originalmente no I Colóquio sobre Línguas Gerais, os 11
artigos deste volume proporcionam uma excelente introdução à temática,
abrangendo estudos de linguística e de história. Um dos focos principais dos
trabalhos reside na política e na produção dos jesuítas na sistematização e
disseminação do Tupi; outro foco é a Língua Geral Amazônica. Há, ainda, dois
textos muito bons sobre as línguas gerais na América espanhola.
Gadelha, Regina A. F., org. Missões Guarani: impacto na sociedade
contemporânea. São Paulo: EDUC, 1999. Resultado de um simpósio realizado em 1998,
esta coletânea reúne vários textos sobre as missões jesuíticas da região
platina, que incluía uma parte significativa do futuro território brasileiro.
Os textos enfocam a história das missões a partir de abordagens históricas,
etnológicas, arqueológicas e artísticas.
Galindo, Marcos, org. Viver e Morrer no Brasil Holandês.
Recife: Fundação Joaquim Nabuco/Editora Massangana, 2005, 248p. Este livro reúne quatro estudos e
dois documentos traduzidos referente aos holandeses no Brasil durante o século
XVII. No que diz respeito à temática indígena, destaca-se o texto de Frans Schalkwijk
sobre “a Igreja evangélica indígena”, uma ampliação de um estudo divulgado
anteriormente por este autor sobre a missão protestante entre os índios, em
particular os “brasilianos” ou Tupi.
Hispanic American Historical Review,
Durham, 80:4, 2000, número especial Colonial Brazil: foundations, crises,
and legacies. Neste
número em homenagem aos 500 anos, a primeira seção (Foundations) inclui
quatro trabalhos sobre a temática indígena: John Monteiro sobre as "castas
de gentio", Neil Whitehead sobre Hans Staden e a política cultural do
canibalismo, Tom Conley sobre os escritos de Thevet e Janaína Amado sobre
Caramuru o mito de origem da nação.
Kern, Arno Álvares, org. Arqueologia Histórica Missioneira. Porto
Alegre: Ed. PUC-RS, 1998 (Coleção Arqueologia 6), 206p. São sete estudos referentes a
pesquisas arqueológicas realizadas nas antigas reduções jesuíticas situadas no
atual estado do RS. Embora bastante preliminares, os estudos apontam para as
ricas possibilidades oferecidas pela arqueologia histórica no estudo das
populações indígenas no Brasil.
Kern, Arno Álvares; Santos, Maria Cristina; Golin, Tau, orgs. Povos Indígenas. Passo Fundo: Méritos,
2009 (História Geral do Rio Grande do Sul, vol. 5), 559p. Parte de uma
história geral do Rio Grande do Sul sob a direção geral de Nelson Boeira e Tau
Golin, a coletânea reúne 20 capítulos de historiadores, antropólogos e
arqueólogos sobre um leque aberto de temas e problemas. Partindo da ideia de
que “o Rio Grande do Sul não seria o que é social e culturalmente sem a sua
parte indígena”, os autores abordam a presença e experiência dos Kaingang,
Guarani, Charrua e Minuano em textos que combinam pesquisas originais e
esforços de síntese. De especial interesse para a história indígena são os
textos de Luís Fernando da Silva Laroque sobre a territorialidade kaingang;
Rogério Gonçalves da Rosa sobre a lenda e mito do cacique Nonohay; Klaus
Hilbert sobre Charruas e Minuanos entre a história e a “grife”; Jean Baptista
sobre identidades étnicas nas missões; Eduardo Neumann sobre razão gráfica e
cultura escrita nas reduções; Maria Cristina dos Santos sobre versões indígenas
da história; José Otávio Catafesto de Souza e o mburuvixá José Cirilo Pires Morinico sobre relatos mbyá-guarani
referentes às ruínas das missões; Vanderlise Machado Brandão sobre a escola
guarani; e Lígia Simonian sobre a política de Brizola e a expropriação de
terras indígenas no estado. O volume inclui mapas, ilustrações e uma
bibliografia atualizada.
Machado, Maria Fátima Roberto, org. Mato Grosso Português: ensaios de
antropologia histórica. Cuiabá: Ed. da UFMT, 2001 (Série Ensaios
Antropológicos, 6), 267p. A coletânea reúne seis estudos sobre a Capitania de Mato Grosso a partir
de um enfoque interdisciplinar. Destacam-se a introdução da organizadora sobre
a antropologia histórica, o texto de Gilberto Brizolla Santos sobre os Guaikuru
e o estudo de Marina Azem sobre as doenças e epidemias segundo os textos de
Alexandre Rodrigues Ferreira.
Montero, Paula, org. Deus na
Aldeia: missionários, índios e mediação cultural. São Paulo: Editora Globo,
2006, 583p. Fruto de um projeto coletivo, este livro reúne 11
textos originais que oferecem uma leitura antropológica dos diversos aspectos
do “encontro” entre missionários e índios. Vários capítulos lançam mão de
documentos históricos e todos levam em consideração a dimensão histórica dos
processo e eventos sob análise. Destacam-se o capítulo inicial da organizadora
sobre o problema da “mediação cultural” nas abordagens antropológicas e
historiográficas das relações entre missionários e “nativos”; o texto de Nicola
Gasbarro trata da prática missionária ocidental à luz da história das
religiões; Cristina Pompa discute a relação entre história e antropologia a
partir da análise de narrativas missionárias e outros documentos históricos;
Adone Agnolin avalia, através dos instrumentos de tradução dos jesuítas, a
“gramática cultural, religiosa e linguística” do encontro nos espaços da
doutrina e do ritual; Marta Amoroso estuda os escritos capuchinhos referentes à
missão entre os Munduruku de Bacabal, no Tapajós, durante o Império; Marcos
Rufino retraça o debate em torno da noção de “inculturação” na Igreja Católica
e sobretudo no CIMI; Ronaldo de Almeida analisa o processo de “tradução
cultural da religião evangélica”, apoiado em diferentes casos etnográficos;
Artionka Capiberibe explora, ao longo de séculos, as “conversões” entre os
Palikur, percorrendo o catolicismo missionário, o catolicismo “reinterpretado”
e, por fim, o impacto das missões evangélicas; Aramis Luís Silva confronta dois
projetos de “valorização cultural” entre os Bororo, um da iniciativa dos
Salesianos, outro em parceria com uma ONG indígena; José Maurício Arruti amplia
a noção de “conversão” através de seu estudo sobre o ritual do Toré no
Nordeste, enfocando primeiro a atuação da Igreja Católica na década de 1970 e
em seguida os passos que compõem o processo da “etnogênese”; no texto final,
Melvina Araújo parte de uma descrição etnográfica da “performance ritual do Natal”
numa maloca Macuxi para a análise da construção de um “código compartilhado”
entre missionários e índios no que diz respeito ao que seria “tradicionalmente
indígena”.
Mota, Lúcio Tadeu; Noelli, Francisco; e Tommasino, Kimiye, orgs. Uri
e Wãxi: estudos interdisciplinares dos Kaingang. Londrina: Editora UEL,
2000. Coletânea de
textos abordando os Kaingang do Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul a
partir de enfoques bastante diversos, desde a arqueologia à educação indígena.
No plano histórico, destacam-se os textos de Noelli, Mota e Tommasino, sendo
também de grande interesse o estudo inovador de Janir Simiema sobre as
habitações kaingang.
Mota, Lúcio Tadeu; Noelli, Francisco Silva; e Tommasino, Kimiye, orgs. Novas
Contribuições aos Estudos Interdisciplinares dos Kaingang. Londrina:
Editora UEL, 2004, 410p. Dando continuidade ao item anterior, esta coletânea reúne dez estudos
originais sobre diferentes aspectos de arqueologia, história, etnologia e
política referente aos Kaingang. Vários dos estudos divulgam os resultados de
teses e dissertações acadêmicas recém defendidas.
Moura, Marlene Castro Ossami de, coord. Índios de Goiás: uma perspectiva histórico-cultural. Goiânia: Ed.
UCG/Ed. Vieira/Ed. Kelps, 2006, 377p. Obra coletiva
multidisciplinar, o livro traz contribuições arqueológicas, históricas e
etnográficas sobre os povos indígenas no território do atual Estado de Goiás.
Um capítulo, assinado por Jézus Ataídes, aborda a história dos Kayapó do Sul a
partir do contato. Outro enfoca três grupos atuais, incluindo informações sobre
a história: os Avá-Canoeiro, por Dulce Madalena Rios Pedroso; os Karajá de
Aruanã, por Manuel Ferreira Lima Filho; e os Tapuios do Carretão, pela
coordenadora do livro. O último capítulo, de Maria Eugênia Brandão Alvarenga
Nunes e Mariza de Oliveira Barbosa, apresenta materiais do Acervo de Imagens do
Instituto Goiano de Pré-História e Antropologia (IGPA), incluindo fotos de
sítios arqueológicos e das populações indígenas descritas no capítulo anterior.
Neves, Erivaldo Fagundo, org. Sertões da Bahia:
formação social, desenvolvimento econômico, evolução política e diversidade
cultural. Salvador: Editora Arcádia, 2011, 720p. Obra preparada para
uso de alunos de História da Bahia, este polpudo volume traz 19 estudos baseados
sobretudo em pesquisas em arquivos, com destaque para alguns repositórios
locais. A temática indígena espalha-se discretamente pelo livro porém emerge de
forma mais concentrada no alentado estudo de Maria Hilda Baqueiro Paraíso sobre
a presença e atuação de povos indígenas diante da abertura de caminhos nos
sertões do leste, entre Bahia e Minas Gerais. Também de interesse especial é o
texto de Isnara Pereira Ivo, sobre “trânsitos culturais” nos sertões mineiros e
baianos nos séculos XVIII e XIX, mostrando as relações entre sertanistas e
índios.
Novaes, Adauto, org. A Outra Margem do Ocidente. São Paulo:
Companhia das Letras, 1999. O livro reúne 28 ensaios de vários especialistas renomados, abordando a
temática indígena a partir de múltiplas perspectivas. Os textos foram
apresentados originalmente num ciclo de conferências patrocinado pela Funarte.
Vários aspectos da história indígena no Brasil e na América em geral estão
representados nesta coletânea, cujo conjunto aponta para algumas das tendências
mais marcantes dos debates atuais.
Oceanos,
Lisboa, n. 24, out.-dez. 1995, número especial O Teatro da Natureza:
Maximiliano no Brasil. São seis artigos, fartamente ilustrados, que devassam a viagem do
príncipe de Wied-Neuwied ao Brasil. De especial interesse são os textos de
Ernest Pijning sobre o contexto científico que informou a viagem e de João
Rocha Pinto sobre a imagem dos índios nos quadros do idealismo alemão. As notas
bibliográficas compiladas por Rosemarie Erika Horch também são de grande
utilidade.
Oceanos,
Lisboa, n. 39, jul.-set. 1999, número especial O Achamento do Brasil. Ao reunir 12 artigos (e uma resenha)
de especialistas, a revista coloca em discussão diversos aspectos do achamento
– ou, para a maioria dos autores, descobrimento – do Brasil. A maioria dos
textos trata da navegação, porém há uma discussão da imagem do Novo Mundo, da
carta de Pero Vaz e das representações do descobrimento em livros didáticos no
Brasil e em Portugal. O elemento mais rico desta revista reside nas belas
ilustrações de mapas, gravuras e outras representações visuais do século XVI.
Oliveira, Carla Mary S.; Menezes, Mozart Vergetti de, e Gonçalves,
Regina Célia, orgs. Ensaios sobre a
América Portuguesa. João Pessoa: Editora Universitária UFPB, 2009, 206p. Esta
coletânea enfoca de modo particular alguns aspectos da história das Capitanias
do Norte, com vários estudos sobre os índios, trazendo aportes documentais
inéditos ou, pelo menos, estudados à luz de novas perspectivas. Maria Emília
Monteiro Porto estuda as representações jesuíticas em áreas fronteiriças no Rio
Grande do Norte; Regina Célia Gonçalves e colaboradores analisam os documentos
escritos por lideranças indígenas durante o domínio holandês; Fátima Martins
Lopes enfoca os capitães mores de ordenança nas vilas de índios no Rio Grande
do Norte; Ricardo Pinto de Medeiros apresenta uma síntese da história dos
índios na Paraíba colonial, são de especial interesse para a temática da
história indígena dois artigos com pesquisas originais em fontes inéditas: de
Regina Célia Gonçalves sobre “guerra e açúcar” na Paraíba, abordando o processo
de conquista e as alianças com grupos indígenas como aspectos cruciais da
formação de uma elite política na região; e de Ricardo Pinto de Medeiros sobre
o impacto da política pombalina sobre as “vilas e lugares de índios” nas
capitanias de Pernambuco, Paraíba, Rio Grande e Ceará, incluindo informações
interessantes sobre a atuação de lideranças indígenas.
Oliveira, Carla Mary S., e Medeiros, Ricardo Pinto de, orgs. Novos Olhares sobre as Capitanias do Norte
do Estado do Brasil. João Pessoa: Editora Universitária UFPB, 2007, 185p. Nesta
coletânea, são de especial interesse para a temática da história indígena dois
artigos com pesquisas originais em fontes inéditas: de Regina Célia Gonçalves
sobre “guerra e açúcar” na Paraíba, abordando o processo de conquista e as
alianças com grupos indígenas como aspectos cruciais da formação de uma elite
política na região; e de Ricardo Pinto de Medeiros sobre o impacto da política
pombalina sobre as “vilas e lugares de índios” nas capitanias de Pernambuco,
Paraíba, Rio Grande e Ceará, incluindo informações interessantes sobre a
atuação de lideranças indígenas.
Oliveira, João Pacheco de, org. A Presença Indígena
no Nordeste: processos de territorialização, modos de reconhecimento e regimes
de memória. Rio de Janeiro: Contra Capa, 2011, 732p. xxx
Oliveira, João Pacheco de, org. A Viagem da Volta: etnicidade,
política e reelaboração cultural. 2a ed. Rio de Janeiro: Contra
Capa/LACED, 2004 (Série Territórios Sociais, 2), 363p. Publicada originalmente em 1999,
esta coletânea reúne oito estudos sobre o fenômeno de ressurgimento de
identidades indígenas no Nordeste. Todos os textos problematizam, de uma
maneira ou outra, a relação entre a história e os processos de afirmação
étnica: o ensaio do organizador sobre a etnologia dos "índios
misturados"; o estudo de Sidnei Peres sobre as terras indígenas sob o
regime do SPI; Henyo Barreto Filho sobre os Tremembé; Rodrigo Grünewald sobre
história, cultura e tradição na Serra do Umã; Sheila Brasileiro sobre terra e
faccionalismo entre os Kiriri; Silvia Martins sobre as aldeias Xucuru-Kariri;
José Maurício A. Arruti sobre a "árvore Pankararu"; e Carlos
Guilherme do Valle sobre os Tremembé.
Pagliaro, Heloísa; Azevedo, Marta
Maria; e Santos, Ricardo Ventura dos, orgs. Demografia
dos Povos Indígenas no Brasil. Rio de Janeiro: Editora FIOCRUZ e ABEP,
2005, 192p. (Coleção Saúde dos Povos Indígenas). Explorando sobretudo a relação entre demografia
e antropologia, este livro reúne sete estudos originais e uma entrevista com o
antropólogo John Early, especialista em demografia Yanomami. Apesar de enfocar
questões contemporâneas, vários estudos apresentam informações históricas, com
destaque para os Xavante, Kamaiurá, Kaiabi, Sateré-Mawé e vários povos do Alto
Rio Negro.
Palitot, Estévão Martins, org. Na Mata do Sabiá: contribuições sobre a
presença indígena no Ceará. Fortaleza: Secult/ Museu do Ceará/ IMOPEC,
2009, 461p. Esta
excelente coletânea reúne 14 estudos de especialistas, oferecendo uma visão
panorâmica dos índios no Ceará no passado e no presente. A primeira parte
aborda temas históricos, com destaque para as pesquisas de Lígio Maia sobre o
lugar dos índios na expansão pecuária, através das datas de sesmarias; João
Paulo Costa sobre as tropas indígenas na Revolução de 1817; Carlos Guilherme do
Valle sobre argumentos referentes ao desaparecimento étnico; Alexandre Oliveira
Gomes sobre a trajetória dos índios “Algodões” de Porangaba. A coletânea se
completa com textos sobre territórios, rituais, políticas culturais e o
movimento indígena, incluindo entrevistas e depoimentos de lideranças.
Resende, Maria Efigênia Lage de, e
Villalta, Luiz Carlos, orgs. As Minas
Setecentistas, vol. 1. Belo Horizonte: Companhia do Tempo/Ed. Autêntica,
2007 (História de Minas Gerais), 589p. Trata-se de uma excelente e exaustiva
introdução à história de Minas Gerais, reunindo estudiosos que contribuíram não
apenas com sínteses da bibliografia conhecida como também introduziram
pesquisas originais a partir da documentação inédita. Este volume inclui dois
estudos densos sobre a presença indígena na região: de Renato Pinto Venâncio,
que apresenta uma abordagem de “Minas antes de Minas”, enfocando questões de
demografia e das guerras nas capitanias ao entorno daquilo que viria a ser a
Minas Gerais, chegando à conclusão de que “as primeiras fronteiras mineiras não
nasceram de uma decisão administrativa, mas, sim, da maior ou menor capacidade
de o mundo indígena resistir ao avanço colonizador”; e de Maria Leônia Chaves
de Resende, que confere uma nova e vibrante visibilidade aos índios que a
historiografia mineira apagou com as entradas e bandeiras. Os índios também
figuram do estudo de Liana Maria Reis sobre a criminalidade escrava, na posição
ambígua entre recrutas das forças de repressão e aliados dos quilombolas que
foram o objeto deste mesmo aparato repressivo.
Restall,
Matthew, org. Beyond Black and Red:
African-Native Relations in Colonial Latin America. Albuquerque: University of New Mexico Press, 2005, 303p. (Coleção
Dialogos). Coletânea
oportuna, o livro traz nove estudos originais sobre as relações entre africanos
e ameríndios na América colonial, enfocando sobretudo diferentes partes da
América Espanhola. Há um texto sobre estas relações no Caribe e um estudo
exploratório referente à América Portuguesa, escrito por Stuart Schwartz e Hal
Langfur.
Revista USP, no. 34, jun.-ago 1997, dossiê Surgimento do Homem na América. A partir de perspectivas
pluridisciplinares, os oito artigos reunidos nesta revista redimensionam as
hipóteses sobre a primeira ocupação humana do continente americano.
Revista USP, no. 44, dez. 1999-fev. 2000, 2 fascículos, número especial Antes de
Cabral: Arqueologia Brasileira. Marcando os 500 anos, o dossiê sobre a
arqueologia no Brasil fornece um amplo panorama do processo formativo e do
estado atual do campo no que diz respeito ao estudo das populações
pré-coloniais. Em termos da interface com a história indígena, os artigos de
Eduardo Góes Neves, Jorge Ermites de Oliveira e Francisco Silva Noelli são de
maior interesse.
Rocha, Leandro Mendes,
e Baines, Stephen, orgs. Fronteiras e
Espaços Interculturais: transnacionalidade, etnicidade e identidade em regiões
de fronteira. Goiânia: Ed. UCG, 2008, 117p. Nesta coletânea de seis textos
de seminário tematizando fronteiras internacionais multi-étnicas, destaca-se o
estudo de Giovani José da Silva sobre a história e etnicidade dos Kinikinau de
Mato Grosso do Sul.
Roosevelt,
Anna C., org. Amazonian Indians from
Prehistory to the Present: Anthropological Perspectives. Tucson: University of Arizona Press, 1994, 421p. Fruto de uma conferência
internacional Wenner-Gren, esta coletânea reúne 17 estudos, em sua maioria
inéditos, oferecendo um amplo panorama dos estudos amazônicos, com uma certa
ênfase em questões de adaptação. A parte sobre as “primeiras transformações”
realça de maneira mais concentrada a documentação histórica.
Sampaio, Patrícia de Melo, e Erthal,
Regina de Carvalho, orgs. Rastros da Memória:
Histórias e Trajetórias das Populações Indígenas na Amazônia. Manaus:
Editora da Universidade Federal do Amazonas, 2006, 481p. Fruto de um projeto integrado
multidisciplinar, este livro reúne nove estudos originais, baseados em
pesquisas documentais e num diálogo entre a história e a antropologia. O livro
agrega, ainda, dois anexos documentais de grande utilidade, o primeiro
oferecendo um repertório da legislação indigenista das províncias do Pará e
Amazonas durante o Império, e o segundo reproduzindo uma seleção de ofícios
manuscritos abordando as populações indígenas do Amazonas entre 1852 e 1865.
Entre os estudos, destacam-se pela originalidade do material pesquisado os
textos de Márcia de Souza e Mello sobre as ações de liberdade movidas por índios
no Pará colonial; de Simei de Souza Torres sobre a negociação das fronteiras na
esteira do Tratado de Santo Ildefonso; de Irma Rizzini sobre as crianças
indígenas na Casa de Educandos Artífices em Manaus durante o II Reinado; de
Patrícia Sampaio e Natália Albuquerque do Nascimento sobre os aportes
demográficos das fontes eclesiásticas em Manaus imperial; e de Regina Erthal
sobre a trajetória recente dos museus indígenas, com destaque para o Museu
Magüta dos Ticuna.
Schröder,
Peter, org. Os Fulni-ô: cultura,
identidade e território no Nordeste indígena, Recife: Ed. Universitária,
2012 (Série Antropologia e Etnicidade 1), 262p. A coletânea conta com oito
autores de diversas áreas, incluindo um sociólogo Fulni-ô (Wilke Torres de
Melo), para dimensionar o povo Fulni-ô a partir de certos aspectos históricos,
econômicos e culturais. O organizador contribui não apenas com um sólido
levantamento e discussão da história (inacabada) do território dos índios, como
também apresenta uma utilíssima bibliografia crítica dos estudos sobre este
povo. Outros textos de interesse para a história dos índios incluem o capítulo
de Eliana Gomes Quirino sobre a memória (com destaque para o lugar do padre
Alfredo Damaso nos relatos indígenas) e o capítulo de Sérgio Neves Dantas sobre
a música sagrada como elemento articulador de memória e identidade. Em anexo
estão transcritos seis documentos históricos referentes à demarcação de terras
indígenas.
Santos Granero, Fernando, org. Globalización y cambio en la Amazonía
indígena, vol. 1. Quito: Ed. Abya-Yala, 1996 (coleção Biblioteca Abya-Yala 37), 472p. Esta coletânea reúne 11 estudos de
fôlego sobre os processos de mudança em sociedades ameríndias. Especificamente
no que diz respeito ao Brasil, há três estudos, um de Alcida Ramos sobre as
vozes do contato, um de Cecilia McCallum sobre língua e parentesco e um de
Terence Turner sobre o uso do vídeo entre os Kayapó. No entanto, o livro inclui
vários outros textos muito relevantes, sobretudo de Jean Jackson sobre a noção
de cultura entre os Tukano; de Beverly Bennett sobre a saúde Machiguenga;
Anne-Christine Taylor sobre as missões entre os Achuar; e Peter Gow sobre
grafismo e xamanismo entre os Piro.
Schwartz, Stuart B., e Salomon, Frank, orgs. The Cambridge History of the Native Peoples
of the Americas. Volume III. South America. 2 vols. Cambridge: Cambridge
University Press, 1999, 1054, 976p. Ambicioso projeto de história indígena,
cobrindo o continente sul-americano e o Caribe, dos paleoíndios aos índios
cidadãos às vésperas do século XXI. A ênfase maior recai no período
pós-conquista e reflete as tendências inovadoras em pesquisa etnohistórica das
últimas três décadas do século XX. Vários dos ensaios gerais buscam superar a
clássica divisão entre terras altas e terras baixas. No que diz respeito à
história indígena no Brasil, são de especial interesse os ensaios de Frank
Salomon sobre “fontes nativas”; Sabine MacCormick sobre fontes “etnográficas”
dos séculos XVI e XVII; Anna Roosevelt sobre a origem de “culturas complexas”;
John Monteiro sobre o litoral brasileiro no século XVI; Juan Carlos Garavaglia
sobre a invasão europeia da região platina nos séculos XVI e XVII;
Anne-Christine Taylor sobre a margem ocidental da Amazônia do XVI ao XIX; James
Schofield Saeger sobre o Chaco e Paraguai de 1573 a 1882, incluindo a história
das reduções; Robin Wright (e colaboradores) sobre o Brasil entre os séculos
XVII e XIX; Neil Whitehead sobre o nordeste da América do Sul, incluindo a
região norte amazônica, entre 1500 e 1900; Stuart Schwartz e Frank Salomon
sobre etnogênese e mestiçagem no período colonial; Jonathan Hill sobre os povos
indígenas face à independência, com enfoque na Amazônia; e David Maybury-Lewis
sobre os povos nas terras baixas durante o século XX. Também vale a pena ler as
boas sínteses de história andina, não elencadas aqui.
Silva, Aracy Lopes da, e Grupioni, Luís Donisete Benzi, orgs. A
Temática Indígena na Escola: novos subsídios para professores de primeiro e
segundo graus. Brasília: MEC/MARI/UNESCO, 1995. Importante coletânea que busca
introduzir o leitor não especializado à temática indígena. Os ensaios abrangem
várias questões, tais como os direitos indígenas, a luta pela terra, o problema
da identidade étnica, a história dos povos, o conceito da cultura, entre muitas
outras.
Silva, Aracy Lopes da, e Ferreira,
Mariana Kawall, orgs. Antropologia,
História e Educação: A Questão Indígena e a Escola. São Paulo: Ed.
Global/MARI, 2001, 398 p. Organizada em quatro partes, esta coletânea oferece um panorama da
educação escolar indígena no Brasil. A Parte II traz artigos diretamente
voltados para a história, incluindo textos de Marta Amoroso sobre a educação
nos aldeamentos capuchinhos; de Antonella Tassinari referente à trajetória da
escola indígena na história do Uaçá; e, por fim, de Lux Vidal discutindo a
relação entre cosmologia e história através de uma análise dos grafismos
indígenas no Oiapoque.
Silva, Giovani José da, org. Kadiwéu: senhoras da
arte, senhores da guerra. Curitiba: Editora CRV, 2011, 211p. Dividida em três partes
(História; Antropologia; Educação, Linguagens e Artes), esta coletânea reúne
estudos de especialistas para compor um quadro amplo, informativo e analítico,
que dá conta dos avanços recentes em pesquisas sobre os Kadiwéu. No que diz
respeito à história, Ana Lucia Herberts oferece um “panorama” dos
Mbayá-Guaikuru abrangendo os séculos XVI a XIX; Giovani José da Silva enfoca um
século (1899-1984) de conflitos pela posse da terra na Reserva Indígena
Kadiwéu, percorrendo documentos históricos e relatos etnográficos realizados em
diferentes períodos; Jaime Siqueira Jr. coloca o problema do território a
partir das relações espacial e temporal que marcam a organização social dos
Kadiwéu; Léia Teixeira Lacerda aborda a educação escolar, com algumas observações
sobre a história; Filomena Sandalo lança mão de trabalhos etnográficos do
passado para dialogar com os dados de campo sobre dialetos prosódicos e sua
relação com a estratificação social Kadiwéu; Vânia Perrotti Pires Graziato
também remete às etnografias do passado para situar a questão da arte no
universo feminino da cerâmica.
Silva, Joana A. Fernandes, org. Estudos sobre os Chiquitanos no
Brasil e na Bolívia: história, língua, cultura e territorialidade. Goiânia:
Editora da UCG, 2008, 317p. Excelente coletânea (a despeito de pequenos deslizes editoriais),
oferecendo um olhar pluridisciplinar sobre um povo indígena que apresenta
desafios consideráveis pela sua mobilidade entre fronteiras transnacionais,
linguísticas e territoriais. Com referência à história indígena, são de
especial interesse os textos de Leny Caselli Anzai sobre a relação entre as
missões chiquitanas e a Capitania de Mato Grosso, de José Eduardo F. M. da
Costa sobre a formação do território chiquitano, Roberto Tomichá Charupá sobre
o processo de formação sociocultural do povo chiquitano no contexto de intensos
conflitos e aproximações multiétnicas no Oriente boliviano (séculos XVI-XVIII)
e uma revisão bibliográfica de Giovani José da Silva.
Silva, Maria Beatriz Nizza da, org. Brasil: colonização e escravidão.
Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2000, 417p. Resultado de um colóquio realizado em Lisboa,
esta coletânea inclui uma primeira parte sobre a história dos índios, com
textos originais de Francisco Ribeiro da Silva sobre a legislação do século
XVII, de Muriel Nazzari sobre a escravidão e liberdade indígena em São Paulo
colonial e de Ângela Domingues sobre a noção de Guerra Justa na Amazônia.
Smiljanic, Maria Inês; Pimenta, José e Baines, Stephen Grant, orgs. Faces
da Indianidade. Curitiba: Nexo Design, 2009, 290p. Cobrindo um amplo leque temático, o
livro reúne estudos produzidos por professores e alunos dos programas de
pós-graduação em Antropologia Social da Universidade de Brasília e da
Universidade Federal do Paraná. A primeira parte traz “Histórias do Contato”
com textos sobre o povo Apiaká (Giovanna Tempesta), sobre o contato interétnico
no rio Apaporís (Luís Cayón) e sobre índios e seringueiros no Alto Juruá (Paulo
Roberto Homem de Góes). A segunda parte discute “Agencialidades”, com enfoque
especial sobre projetos indígenas; a terceira enfoca “Políticas”; a quarta
“Imagens”; o livro encerra com uma parte dedicada a pesquisas em andamento por
alunos de graduação.
Temáticas. Revistas dos Pós-Graduandos em Ciências Sociais, ano 16,
no. 31/32, Campinas, 2008, 329p. O dossiê “Estudos
Indígenas”, organizado por Olendina Cavalcante e Levi Marques Pereira, traz artigos dos seguintes
autores: Felipe Vander Velden, sobre o sal e a transformação dos corpos entre
os Karitiana; João Veridiano sobre o célebre casamento entre Jakuí Kalapalo e o
sertanista Ayres Câmara Cunha; Fabiane Vinente sobre comida e identidade entre
as mulheres indígenas nas áreas urbanas do alto rio Negro; Ilana Goldstein
sobre gênero e identidade numa mostra de arte Inuit em São Paulo; Raquel
Pereira Rocha sobre os Apinajé o cenário multiétnico atual; Levi Marques
Pereira sobre a socialidade na família Kaiowa; Aparecida Schmidt-Madsen a luta
de grupos Waimiri-Atroari e Kayapó contra o "desenvolvimento forçado"
na década de 80; Lucybeth Arruda sobre brindes e atração num Posto Indígena do
SPI no MT no início do século XX; Olendina Cavalcante sobre a memória Sapará e
a etnopolítica no rio Uraricoera, RR. O dossiê inclui duas resenhas de livros
recentes sobre povos indígenas no alto rio Negro.
Tempo, vol. 12, no. 23, Niterói, jul.-dez. 2007, 224p. A consagrada revista do Departamento de História da UFF inclui neste
número o dossiê “Os Índios na História: abordagens interdisciplinares”.
Organizado por Maria Regina Celestino de Almeida, autora da apresentação, o
dossiê contêm cinco artigos: de Maria Leônia Chaves de Resende e Hal Langfur
sobre a resistência dos índios em Minas Gerais no século XVIII; de Elisa
Frühauf Garcia sobre o projeto pombalino em sua dimensão meridional, enfocando
a introdução da língua portuguesa entre os índios de Rio Grande; de Patrícia
Melo Sampaio sobre as estratégias políticas de lideranças indígenas face às
mudanças na legislação na Amazônia no fim do século XVIII; de Guillaume Boccara
sobre os processos de territorialização e reestruturação entre os Mapuche no
Chile durante o período colonial; e de João Pacheco de Oliveira, que propõe uma
“historização radical” ao abordar o destino de objetos etnográficos deslocados
de um contexto para outro bem diferente, o do museu. Este número da revista
traz, ainda, a resenha do livro de Cristina Pompa (por Ronald Raminelli) e uma
pequena entrevista com Serge Gruzinski sobre a história dos indios na América.
Tenório, Maria Cristina, org. Pré-História da Terra Brasilis. Rio
de Janeiro: Editora UFRJ, 1999. Destinado a um público geral, este livro traz 28 textos dos principais
estudiosos da arqueologia brasileira, abordando as principais questões que
marcam este campo: a relação entre arqueologia, pré-história e história; a origem
do povoamento das Américas; as evidências em torno do "paleoíndio";
os vestígios dos primeiros caçadores-coletores, com destaque para as pinturas
rupestres; os achados e as controvérsias em torno dos sambaquis; a pesquisa
arqueológica em sítios de horticultores; o problema da preservação do
patrimônio arqueológico no Brasil.
Territórios e Fronteiras, vol. 3, no. 2, Cuiabá, jul.-dez. 2002. Revista editada pelo Programa de
Pós-Graduação em História da UFMT, este número é dedicado integralmente aos
estudos indígenas, com destaque para aspectos da história de povos
mato-grossenses.
Vainfas, Ronaldo; Santos, Georgina Silva dos; e Neves, Guilherme Pereira
das, orgs. Retratos do Império:
trajetórias individuais no mundo português nos séculos XVI e XIX. Niterói:
Editora da UFF, 2006, 438p. Coletânea de 24 estudos biográficos, a maioria
sobre temas relacionados à América Portuguesa. De interesse para a história
indígena, destacam-se o texto de Maria Regina Celestino de Almeida sobre
lideranças indígenas a partir do exemplo de Araribóia; o estudo de Iris Kantor
sobre os escritores beneditinos Domingos Loreto Couto e Gaspar da Madre de
Deus, que abordaram de maneira original o lugar dos índios na história da
América; e o trabalho de Ronaldo Vainfas sobre o jesuíta renegado Manuel de
Morais, cuja trajetória inclui a presença indígena em vários registros.
Vangelista, Chiara, org. Fronteras, Etnías, Culturas: América Latina,
siglos XVI-XX. Quito: Abya-Yala, 1996, 258p. Esta coletânea reúne os trabalhos apresentados
num simpósio do Congresso de Americanistas de 1994 sobre fronteiras e grupos
indígenas na América do Sul. Sobre o Brasil, há textos de Regina Gadelha,
Denise Maldi, Chiara Vangelista, Ettore Finazzi-Agrò, John Monteiro e Loiva
Félix.
Viveiros de Castro, Eduardo, e Carneiro da Cunha, Manuela, orgs. Amazônia:
Etnologia e História Indígena. São Paulo: Núcleo de História Indígena e do
Indigenismo, 1993. Importante
coletânea traz 15 estudos sobre história, organização social, cosmologia e
natureza, enfocando várias sociedades indígenas na Amazônia. Na parte sobre
"História e Historicidade", destacam-se os trabalhos de Terence
Turner sobre a relação entre história e cosmologia entre os Kayapó, de Bruna
Franchetto sobre os discursos cerimoniais dos Kuikuro e de Rafael Menezes
Bastos sobre a relação entre música e história entre os Kamayurá. Os textos
ilustram de forma representativa algumas das tendências atuais da antropologia
histórica.
Whitehead,
Neil L., org., Histories and
Historicities in Amazonia. Lincoln: University of Nebraska
Press, 2003, 236p. Nesta
coletânea de estudos originais enfocando sobretudo o norte da Amazônia, os
autores apresentam uma rica discussão da história e das historicidades
indígenas, lançando mão de uma documentação variada e de narrativas orais.
Segundo o organizador, um dos objetivos dos ensaios é de mostrar como
diferentes aspectos ligados à cultura e à natureza podem contribuir para a
formação de uma consciência histórica. Além da introdução de Whitehead, são de
especial interesse os estudos de Nádia Farage sobre uma rebelião entre os
Wapishana da Guiana e seus desdobramentos no Brasil; de Silvia Vidal sobre a
“cartografia ameríndia” no Noroeste da Amazônia, mostrando como a memória e a
história podem ser inscritas na paisagem física; de Loretta Cormier sobre a
historicidade Guajá (Maranhão), buscando mostrar como os Guajá recriam e
transformam eventos do passado mediante rituais e sonhos; e um estudo sobre o
papel da aguardente na colonização do Orenoco, de Franz Scaramelli e Kay Tarble.
Wilde, Guillermo, org. Saberes de la Conversión:
jesuítas, indígenas e imperios coloniales em las fronteras de la Cristandad.
Buenos Aires: Editorial SB, 2011, 592p. Excelente coletânea de textos
preparados originalmente para as XII Jornadas Internacionais sobre as Missões
Jesuíticas, o livro reúne 24 estudos originais sobre as relações entre jesuítas
e diferentes povos do mundo, com destaque para as populações ameríndias na
América do Sul. Os estudos abrangem uma grande variedade de temas, incluindo a
escrita, línguas gerais, saberes científicos, relíquias, música e relações
políticas. Uma última seção traz trabalhos sobre os jesuítas em outros
contextos, abarcando o mundo muçulmano, China, Japão e Índia.
Wright, Robin, org. Transformando os Deuses: os múltiplos sentidos da
conversão entre os povos indígenas no Brasil. Campinas: Editora da Unicamp,
1999, 547p. Coletânea
de ensaios enfocando a presença de missões religiosas em comunidades indígenas,
sobretudo a partir da perspectiva dos conversos. Vários artigos abordam o
assunto dentro de um contexto histórico, com ênfase na experiência recente. São
12 estudos de casos de conversão entre povos indígenas, incluindo um texto
sobre a obra anchietana durante o século XVI. O livro inclui um extenso (e utilíssimo)
levantamento das organizações religiosas atuando em áreas indígenas.
Wright, Robin, org. Transformando os Deuses, Volume II: igrejas
evangélicas, pentecostais e neopentecostais entre os povos indígenas no Brasil.
Campinas: Editora da Unicamp, 2004, 407p. Dando continuidade ao item anterior, esta
coletânea abrange 10 estudos originais, além de um ensaio geral do organizador,
sobre a presença e o impacto das igrejas protestantes entre diferentes
sociedades indígenas no Brasil. Além de documentar o fenômeno da proliferação
destas igrejas, através de documentos das igrejas além de narrativas e
depoimentos indígenas, vários capítulos também trazem aportes para algumas
discussões que informam o debate em torno da história indígena. É interessante
a exploração de diários e de outros registros feitos por missionários.
3. Seleção de Obras
Reeditadas (voltar ao início)
Abbeville, Claude d’, OFMCap. História da Missão dos Padres Capuchinhos
na Ilha do Maranhão e suas Circunvizinhanças. 2a ed. Trad. César
Augusto Marques. São Paulo: Editora Siciliano, 2002 (Série Maranhão Sempre),
436p. Publicado em
Paris em 1614, a História do capuchinho Abbeville tem duas traduções em
português, a primeira de César Marques (1874) e a segunda, mais divulgada, de
Sérgio Milliet (1945), cada qual, segundo o prefácio de Sebastião Moreira
Duarte, "bem longe de ser perfeita". O relato é sumamente valioso não
apenas pela descrição minuciosa dos Tupinambá do Maranhão, como também pelas
narrativas indígenas embutidas no texto. Cabe ainda refletir sobre este texto
enquanto relato histórico e não propriamente etnográfico.
Acuña, Cristóbal de, S.J. Novo Descobrimento do Grande Rio das
Amazonas. Trad. Helena Ferreira. Rio de Janeiro: Agir, 1994, 180p. Nova tradução da crônica da
expedição comandada por Pedro Teixeira entre 1637 e 1639, escrita por um dos
jesuítas que acompanharam a viagem de regresso, de Quito à boca do Amazonas.
Encomendado pela coroa espanhola, o relato apresenta detalhes sobre as
populações indígenas abordadas na viagem e sobre as atividades de apresamento
conduzidas pelos portugueses de Belém e São Luís. A boa introdução assinada
pela historiadora Maria Yedda Leite Linhares fornece o contexto para a leitura
deste notável relato.
Anchieta, José de, S.J. Poemas: lírica portuguesa e tupi. Org.
Eduardo Navarro. 2a ed. São Paulo: Martins Fontes, 2004 (Coleção
Poetas do Brasil), 226p. Esta obra traz uma amostra da poesia anchietana, incluindo textos em
tupi.
Anônimo. História da Conquista da Paraíba. Brasília: Senado Federal, 2006
(Edições do Senado Federal 73), 120p. Reedição do documento “Sumário das Armadas”,
escrito por um jesuíta na Paraíba na década de 1580, narrando a conquista da
Paraíba por iniciativa de particulares. Aborda a ação dos Potiguar e chega à
conclusão de que “o verdadeiro sangue e substância de se povoar e se sustentar
o Brasil é com o mesmo gentio da terra, ganhado por amizade...” A edição
reproduz o texto e as notas (de pouca utilidade) da publicação original na Revista do IHGB.
Azevedo, João Lucio de. História
de Antônio Vieira. [4ª ed.]. 2 vols. São Paulo: Alameda, 2008, 471, 492p. Publicada
originalmente em 1918, a reedição desta importante biografia de Vieira reproduz
o texto da segunda edição revista de 1931. Dividida em capítulos cronológicos e
temáticos, a biografia faz frequentes referências ao envolvimento de Vieira com
os índios e com a política indigenista. É de especial interesse para a história
dos índios o alentado capítulo “O Missionário, 1651-1661”, dando conta das
viagens pelos rios da Amazônia e das disputas com os colonos em torno do
cativeiro dos índios. O livro inclui apêndices documentais com vários
documentos referentes aos índios.
Azevedo, João Lucio de. Os
Jesuítas e o Grão-Pará, suas missões e a colonização: bosquejo historico com
varios documentos ineditos. Edição Facsimilar. Belém: SECULT, 1999 (Série
Lendo o Pará, 20), 366p. Edição facsimilar do estudo do historiador
português, publicado originalmente em Lisboa pela Livraria Editora Tavares,
Cardoso & Irmão, em 1901. Embora superada em certos aspectos pela obra de
Serafim Leite, o livro de Azevedo narra, de forma detalhada, a história das
atividades dos jesuítas junto aos índios na Amazônia durante os séculos XVII e
XVIII. A edição carece de um material de apoio para situar o contexto da obra,
que serviu de referência para vários autores posteriores.
Bettendorff, João Felipe, S.J. Crônica dos Padres da Companhia de
Jesus no Estado do Maranhão. Ed. facsimilar. Belém: Fundação Cultural do
Pará/SECULT, 1990 (Série Lendo o Pará, 5), 697p. Escrita no apagar do século XVII, a crônica do
padre Bettendorff constitui uma das obras mais ricas para a história do
primeiro século da Amazônia portuguesa, com muitas informações sobre a
conquista, as expedições de apresamento, as missões e as respostas dos índios
às atividades europeias. Esta edição reproduz um facsímile da versão impressa
pela primeira vez na Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro
em 1910, "com suas lacunas e incorreções", conforme esclarece Vicente
Sales na nota prévia. Apesar de carecer de notas esclarecedoras e de um cuidado
maior com a edição, a Crônica deste jesuíta luxemburguês proporciona uma
obra de consulta obrigatória para os estudiosos da Amazônia colonial.
Borba, Telêmaco. Atualidade Indígena no Paraná. Organização
Raphael Guilherme Gonçalves de Carvalho. Curitiba: Instituto Memória, 2009,
196p. Publicado
pela primeira vez em 1908, o livro reúne textos do início da década de 1880,
época em que o autor desempenhava funções junto aos aldeamentos na Província do
Paraná. Os textos incluem sua “Breve Notícia sobre os Índios Caingangs”, com
notícias sobre mitos kaingang e um vocabulário em português-coroado (Kaingang),
a partir das informações reunidas no aldeamento de São Pedro de Alcântara, no
qual foi diretor em décadas anteriores. Também publicou pequenos vocabulários
português-cayugua (Guarani) e português-chavante (Oti)
Brandão, Ambrósio Fernandes. Diálogos das Grandezas do Brasil. 3a
ed. Organização e notas de José Antônio Gonsalves de Mello. Recife: Editora
Massangana, 1996, 240p. Baseada no manuscrito arquivado em Leiden, trata-se da edição feita pelo
historiador pernambucano Gonsalves de Mello, há muito esgotada. O texto, do
início do século XVII, é composto de diálogos entre Brandônio, um português
experiente em assuntos da terra, e Alviano, recém-chegado ao Novo Mundo. No
último diálogo, Brandônio explica várias questões relacionadas aos índios,
proporcionando um resumo do estado do conhecimento da época.
Cardim, S.J., Fernão. Tratados da Terra e da Gente do Brasil.
Transcrição, edição e notas de Ana Maria de Azevedo. Lisboa: Comissão Nacional
para a Comemoração dos Descobrimentos Portugueses, 1997, 337p. Trata-se de uma nova edição dos
textos deste jesuíta sobre os índios, transcritos dos originais arquivados em
Évora, com um estudo preliminar e notas muito esclarecedoras, colocando o texto
em diálogo com a atual historiografia e etnologia. São três tratados: "Do
Clima e Terra do Brasil", que é uma espécie compêndio de saberes
indígenas; "Do Princípio e Origem dos Índios do Brasil", que inclui
uma descrição detalhada das práticas culturais dos Tupi e um esboço da
diversidade étnica; e a "Narrativa Epistolar de uma Viagem e Missão
Jesuítica", o que apresenta um relato esmiuçado da viagem do visitador
jesuíta Cristóvão de Gouveia pelas missões do Brasil entre 1583 e 1590, com
descrições preciosas dos índios que viviam nessas aldeias.
Cardim, S.J., Fernão. Tratados da Terra e da Gente do Brasil.
Organização de Ana Maria de Azevedo. São Paulo: Hedra, 2009, 220p. Edição de bolso do item anterior.
Carvajal, Frei Gaspar de. Relatório do Novo Descobrimento do Famoso
Rio Grande Descoberto pelo Capitão Francisco de Orellana. Edição bilíngue
organizada por Guillermo Giucci. Trad. A. Durão e M. S. Cicaroni. Rio de
Janeiro: Scritta Editorial, 1992 (Coleção Orellana, 6), 113p. Crônica da expedição comandada por
Orellana que percorreu a Amazônia do Rio Napo até o Atlântico em 1541-42, o
relato do dominicano Carvajal recebe uma edição bilíngue com notas
esclarecedoras do historiador Guillermo Giucci. A tradução nem sempre é ágil,
porém a obra é importante pelos indícios que traz a respeito das populações que
viviam às margens do Amazonas, pelos episódios de confronto entre espanhóis e
índios e pelas informações sobre os povos que não foram vistos, inclusive o das
amazonas.
Daniel, João, S.J. Tesouro Descoberto no Máximo Rio Amazonas. 2
vols. Rio de Janeiro: Contraponto, 2004, 597, 622p. Reunida integralmente pela primeira
vez nos Anais da Biblioteca Nacional em 1976, a obra do padre Daniel é,
simplesmente, fabulosa. Fundamentado em sua longa vivência na Amazônia
(1741-1757) e escrito durante sua igualmente longa experiência de cárcere em Portugal
após a expulsão dos jesuítas da América Portuguesa, o Tesouro Descoberto
constitui um vasto compêndio de informações sobre a geografia, a flora, a
fauna, os índios, a agricultura, as missões e a navegação fluvial, entre outros
assuntos. Embora tenha sido aproveitada, citada e comentada em inúmeros
estudos, a obra do padre Daniel ainda está a espera de um estudo definitivo,
sobretudo no que diz respeito à história dos índios. A transcrição é cuidadosa
mas a edição carece de um índice identificando nomes, lugares e assuntos.
Debret, Jean-Baptiste. Les Indiens du Brésil: illustrations &
commentaires de Jean-Baptiste Debret. Seleção e introdução
de Jean-Paul Duviols. Paris: Éditions Chandeigne, 2005, 151p. Por incrível que pareça, segundo o
autor da introdução, a obra Voyage
historique et pittoresque au Brésil (Paris, 1834) até hoje não viu uma
segunda edição em francês. Este livro, editado com esmero, repete a fórmula do
volume Rio de Janeiro, la ville métisse,
neste caso extraindo da Voyage as
litogravuras de Debret referentes aos índios, acompanhadas pelos comentários
originais do autor-artista. O livro traz um pequeno anexo com um mapa, uma
bibliografia de referência e uma lista das ilustrações.
Denis,
Ferdinand. Uma Festa Brasileira Celebrada
em Rouen em 1550: teogonia dos antigos povos do Brasil, um fragmento do século
XVI. Tradução do francês Júnia Guimarães Botelho. Tradução do tupi Eduardo
de Almeida Navarro. São Bernardo do Campo: Bazar das Palavras-Usina das Ideias,
2007, 233p. Edição
bilíngue com o original em francês e a tradução em português do livro editado
em Paris em 1850, reproduz três documentos originalmente publicados por Denis:
a breve Suntuosa Entrada, impresso
anônimo de 1551 descrevendo a celebração em Rouen, que incluiu a representação
de uma batalha entre os Tupinambá e os Tabajara; um fragmento antes inédito da Cosmografia de André Thevet sobre a
teogonia tupi; e uma seleção de poemas em tupi, do jesuíta Cristóvão Valente,
com nova tradução de Eduardo Navarro. Os apêndices incluem o termo de batismo
de Catarina Paraguaçu, uma breve nota biográfica sobre Ferdinand Denis e uma
bibliografia das obras escritas por Denis sobre o Brasil.
Edwards,
W. H. Voyage up the River Amazon
Including a Residence at Para in 1846. Santa Barbara: The Narrative Press,
2004, 214p. (Série Historical Adventure and Exploration 94). Reedição da narrativa de viagem
publicada pela primeira vez em 1847, o livro do norte-americano Edwards é um
misto de relato de naturalista e texto promovendo a imigração estrangeira para
a Amazônia. Estranhamente inédito em português, o relato inclui observações
pontuais porém relevantes para a história dos índios, a despeito da pouca
importância que o autor dá às populações abordadas e apesar de alguns equívocos
decorrentes dos conhecimentos limitados que o autor mostra possuir. A edição
não traz informações sobre o autor e a obra, além de cometer um erro grosseiro
ao situar a viagem no fim da Guerra Civil americana, a qual terminou quase
vinte anos mais tarde.
Évreux, Yves d’. História das Coisas Mais Memoráveis Ocorridas no
Maranhão nos Anos de 1613 e 1614. Tradução de Marcella Mortara. Rio de
Janeiro: Fundação Darcy Ribeiro, 2009 (Coleção Franceses no Brasil, séculos XVI
e XVII, vol. 4), 468p. Como nos demais livros desta série, há poucas informações editoriais
para ajudar a situar esta edição. Trata-se de uma tradução nova, bastante
superior à tradução que costuma ser utilizada (de César Augusto Marques),
baseada na edição crítica realizada por Ferdinand Denis em 1864, portanto a
introdução e as notas (de Denis) refletem saberes superados desde há muito. Um
breve ensaio de Mércio Gomes comenta o contexto da obra, que merece a atenção
dos estudiosos pelas importantes observações sobre os povos indígenas da região
do Maranhão, sobre as relações destes com os europeus e, por fim, sobre a
missão em si.
Evreux, Yves d’, OFMCap. Viagem ao Norte do Brasil Feita nos Anos de
1613 a 1614. 3a ed. Trad. César Augusto Marques. São Paulo:
Editora Siciliano, 2002 (Série Maranhão Sempre), 436p. Reedição da tradução publicada em
1874, acrescida de algumas notas de Sebastião Moreira Duarte, basicamente
corrigindo deslizes na tradução de Marques. Apesar do título atribuído no
século XIX, não se trata de um relato de viagem e sim de dois tratados sobre o
Maranhão, o primeiro descrevendo os costumes dos Tupinambás e o segundo
descrevendo a missão. Talvez o aspecto mais interessante destes textos resida
na reprodução de relatos e discursos indígenas, apresentados na forma de diálogos
("conferências", na tradução). Também é importante a reprodução de um
fragmento da Doutrina Cristã, cotejando a "língua dos Tupinambás" com
o francês numa tradução interlinear.
Fernandes, Florestan. A Investigação Etnológica no Brasil e outros
ensaios. 2ª edição revista. Apresentação de Edgar de Assis Carvalho. São
Paulo: Global, 2009, 320p. Publicado originalmente em 1975, este livro reúne cinco ensaios
etnológicos escritos por Fernandes entre 1946 e 1964, incluindo estudos sobre a
reação tupi à conquista, a educação entre os Tupinambá, a trajetória de Tiago
Marques Abiporeu, as tendências teóricas da pesquisa etnológica e o valor
etnográfico das fontes coloniais. Inclui o famoso quadro sinóptico das
observações registradas pelos “cronistas”.
Ferreira, Alexandre Rodrigues. Viagem Filosófica ao Rio Negro.
Organizado por Francisco Jorge dos Santos, Auxiliomar Ugarte e Mateus Coimbra
de Oliveira. 2a ed. Manaus: Editora da Universidade Federal do
Amazonas, 2007, 665p. Reúne e reorganiza os diários escritos por Alexandre Rodrigues Ferreira
em sua viagem pela Capitania do Rio Negro durante a década de 1780,
originalmente publicados no Revista do
Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro e reeditados, no século XX,
pelo Museu Goeldi. Esta edição atualiza a ortografia e normatiza o uso de
etnônimos, porém não se trata de uma edição crítica pela ausência de uma
introdução ou de notas explicativas à luz de conhecimentos recentes a respeito
dos temas e problemas levantados pelo texto de Ferreira. Inclui uma documentação
complementar e índices remissivos.
Franco, Afonso Arinos de Melo. O Índio Brasileiro e a Revolução
Francesa: as origens brasileiras da teoria da bondade natural. 3a
ed. Rio de Janeiro: Topbooks, 2000, 318p. Ensaio publicado originalmente em 1937, este
livro trata de forma pioneira e erudita a elaboração da imagem do índio no
pensamento europeu entre os séculos XVI e XVIII. A reedição é oportuna, pois
permite estabelecer um diálogo com a bibliografia mais recente sobre o tema, à
qual esta obra antiga não fica devendo. Para além da tese central sobre a
"teoria da bondade natural" e a sua ligação com a Revolução Francesa,
o livro aborda alguns autores pouco conhecidos no Brasil e apresenta uma
discussão fascinante sobre o impacto dos índios que viajaram para a Europa
durante este período.
Franklin, Adalberto, e Carvalho,
João Renôr F. de, orgs. Francisco de
Paula Ribeiro, Desbravador dos Sertões de Pastos Bons: A Base Geográfica e
Humana do Sul do Maranhão. Imperatriz: Ética, 2005, 286p. Reedição, sem correções, dos textos
publicados originalmente na Revista do
IHGB, com o acréscimo de alguns documentos inéditos sobre as atividades de
Paula Ribeiro nos sertões do rio Tocantins entre 1798 e 1820, bem como um
índice onomástico remissivo bastante útil. Os principais documentos, o “Roteiro
da Viagem”, a “Descrição do Território de Pastos Bons” e a “Memória sobre as
Nações Gentias” são apresentados pelos organizadores com textos introdutórios
que ajudam a contextualizar estes documentos importantes para a história dos
povos indígenas do Maranhão, Tocantins e Goiás.
Gândavo, Pero Magalhães. Tratado da Terra do Brasil (5a ed.) e História
da Província de Santa Cruz (12a ed.) Edição conjunta organizada e
prefaciada por Leonardo Dantas Silva. Recife: Massangana, 1995, 128p. Reedição da primeira obra impressa
em português sobre o Brasil (História), de 1576, junto com um texto que
permaneceu inédito até o século XIX. Fonte importante para avaliar os
conhecimentos vigentes na segunda metade do século XVI a respeito das populações
indígenas. O prefácio inclui informações úteis sobre o autor e as edições
anteriores da obra.
Gândavo, Pero de Magalhães. A Primeira História do Brasil: História da
província de Santa Cruz a que vulgarmente chamamos Brasil. Organização,
introdução e notas de Sheila Moura Hue e Ronaldo Menegaz. Rio de Janeiro: Jorge
Zahar Editor, 2004, 207p. Com base no texto impresso de 1576, esta edição “moderniza” o texto do
gramático luso-flamengo, mexendo não apenas na ortografia e pontuação, como
também na construção sintática, com o intuito de facilitar a leitura. Algumas
das anotações são esclarecedoras, sobretudo no que diz respeito a informações
botânicas e zoológicas, porém a parte que refere aos índios aproveita pouco dos
grandes avanços na bibliografia dos últimos anos para elucidar as questões
suscitadas pela leitura. A descrição do “gentio” (capítulos 10-12), com ênfase
especial sobre o ritual antropofágico, proporciona uma leitura importante para
o conhecimento da história dos índios na segunda metade do século XVI.
Gandavo, Pero de Magalhães. História da província de Santa Cruz.
Introdução e notas de Clara Santos e Ricardo Valle. São Paulo: Hedra, 2008,
156p. Edição de
bolso que reproduz, com atualização ortográfica, o texto publicado em 1576. Os
organizadores apresentam um ensaio introdutório a partir de um enfoque da
teoria literária e as notas são mais úteis quando falam de questões de forma,
estilo e retórica. O índice temático ajuda a localizar trechos que abordam os
índios.
Gondim, Joaquim. A Pacificação dos Parintintins: Koró de iuirapá.
Ed. facsimilar. Manaus: Edições Governo do Estado, 2001, 67p. Edição facsimilar do livro escrito
pelo integrante da equipe do SPI do Amazonas, é uma narrativa muito
interessante sobre a expedição chefiada pelo "auxiliar" Curt
Nimuendaju entre 1922 e 1924, aliás baseada em grande parte no relatório do
sertanista. Em anexo há um vocabulário, desenhos feitos pelos índios, uma
partitura e uma sequência de fotografias.
Knivet, Anthony. As Incríveis Aventuras e Estranhos
Infortúnios de Anthony Knivet. Organização, introdução e notas de Sheila
Moura Hue. Tradução de Vivien K. Lessa de Sá. Rio de Janeiro: Jorge Zahar
Editor, 2007, 255p. Publicado
pela primeira vez em 1625 por Samuel Purchas, o relato de Knivet traz informações
importantes sobre os índios de Rio de Janeiro e São Vicente nos anos finais do
século XVI. Esta nova tradução é baseada na primeira edição em inglês e a
introdução é esclarecedora no que diz respeito à trajetória deste inglês que
conviveu com diferentes grupos indígenas. As notas são úteis até certo ponto,
até porque não levaram em conta perspectivas etnológicas recentes sobre os
Tupinambá e outros grupos abordados pelo autor. A edição inclui ilustrações que
acompanharam a edição holandesa de Knivet por Pieter van der Aa, do início do
século XVIII.
Leite, Serafim, S.J. História da Companhia de Jesus no Brasil. 2a
ed. 4 vols. São Paulo: Loyola, 2004, 2088p. Reedição dos 10 volumes publicados em Lisboa e
Rio de Janeiro entre 1938 e 1950, trata-se de um rico manancial de informações
e fontes para a história dos índios na América Portuguesa. Se a abordagem do
autor pode parecer um tanto ultrapassada e tendenciosa, é inegável a sua grande
contribuição ao transcrever inúmeros documentos (cartas, relatos detalhados,
informes estatísticos, entre outros tipos) e ao elencar, um a um, os
"escritores" jesuítas e seus escritos, fornecendo um precioso manual
para pesquisas no Arquivo dos Jesuítas, na Biblioteca Pública de Évora e em
várias outras instituições. Um CD-Rom com mapas e ilustrações acompanha os
volumes impressos.
Léry,
Jean de. Histoire d’un Voyage en Terre de Brésil. Estabelecimento do texto, introdução
e notas de Frank Lestringant. Paris: Librairie Générale Française, 1994 (Série Bibliothèque
Classique), 670p. Edição
de bolso ("Livre de Poche") baseado na segunda edição publicada em
Genebra em 1580, esta é a versão definitiva do livro clássico de Léry,
cuidadosamente anotada por Frank Lestringant. Esta versão inclui um prefácio de
Claude Lévi-Strauss, apresentado em forma de entrevista, no qual o antropólogo
sugere a leitura de Léry não como etnologia e sim como uma "grande obra
literária". O organizador acrescenta, ainda, uma cronologia detalhada e
uma bibliografia bastante útil. É importante notar que o cotejo desta edição
com a principal versão traduzida para o português (por Sérgio Milliet) revela
erros e lacunas significativas.
Léry, Jean de. História de uma Viagem Feita à Terra do Brasil, também
chamada América. Tradução de Maria Ignez Duque Estrada. Rio de Janeiro:
Fundação Darcy Ribeiro, 2009 (Coleção Franceses no Brasil, séculos XVI e XVII,
vol. 3), 294p. Além
de ajustar alguns problemas que aparecem na tradução anterior de Sérgio
Milliet, esta nova edição do importante relato francês é enriquecida pelo
ensaio introdutório e notas linguísticas de Aryon Rodrigues. A introdução de
Carlos Moreira Neto comenta rapidamente a atualidade da obra de Léry, chamando
a atenção para as observações do francês que são de particular interesse para a
etnologia.
Manizer, H. H. Os Kaingang de São
Paulo. Trad. Juracilda Veiga. Campinas: Ed. Curt Nimuendajú, 2006 (Série
Etnografia e História), 64p. Publicado postumamente nos anais do Congresso
de Americanistas em 1930, o estudo de Manizer sistematiza as observações
realizadas durante uma estada de dois meses num posto indígena no interior de
São Paulo, em 1914-1915.
Marcoy, Paul. Viagem pelo Rio Amazonas. Tradução, introdução e notas
de Antonio Porro. Manaus: Ed. Universidade do Amazonas/Edições Governo do
Estado, 2001, 313p. Trata-se
da parte final do relato de viagem inédito em português, Voyage à travers
l’Amérique du Sud, publicado originalmente em fascículos na revista Le
Tour du Monde entre 1862 e 1867, saindo como livro em dois volumes em 1869.
Neste trecho da viagem, que começa na fronteira entre Peru e Brasil por volta
de abril de 1847 e que termina quatro meses e 3.300 quilômetros depois, o autor
descreve vários aspectos da história e dos costumes dos índios. Diferentemente
de outros viajantes dessa época, Marcoy (cujo nome verdadeiro era Laurent
Saint-Cricq) não manifestava pretensões científicas, porém as suas observações
a respeito da história e da condição atual dos índios e mestiços da Amazônia
mostram uma sensibilidade rara. O organizador do volume reproduz as anotações
feitas em edições anteriores (francesa e inglesa) e acrescenta informações
bastante pertinentes. Também constam as ilustrações originais, incluindo imagens
de vilas, ruínas e tipos humanos.
Melatti, Julio Cezar. Índios do Brasil. 9ª edição. São Paulo:
Edusp, 2007, 304p. Síntese
clássica publicada pela primeira vez em 1970, a nona edição de Índios do Brasil traz revisões,
atualizações e acréscimos, proporcionando uma visão de conjunto sobre aspectos
arqueológicos, históricos, etnográficos e políticos da presença indígena no
Brasil. A obra permanece uma das melhores introduções à temática indígena para
não-especialistas.
Montaigne,
Michel de. Dos Canibais. Tradução e apresentação de Luiz
Antonio Alves Eva. Organização de Plínio Junqueira Smith. São Paulo: Alameda
Casa Editorial, 2009 (Série A Descoberta do Pensamento), 80p. Nova
tradução do célebre ensaio do filósofo francês, escrito em 1578-79. Entre os saberes
da antiguidade e as observações sobre a América reveladas no próprio século
XVI, Montaigne realiza uma reflexão sobre a humanidade no Velho e Novo Mundo.
Otoni, Teófilo. Notícia sobre os Selvagens do Mucuri. Org. Regina
Horta Duarte. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2002, 184p. O livro reedita dois textos do
político mineiro Teófilo Benedito Otoni, o primeiro escrito na forma de uma
carta sobre os Botocudos, endereçada a Joaquim Manuel de Macedo (publicado na Revista
do Instituto Histórico Brasileiro em 1859), e o segundo na forma de uma Memória
Justificativa sobre a colonização do Mucuri (publicado no Rio de Janeiro no
mesmo ano). A Notícia é um documento muito rico que denuncia as
atrocidades que marcaram as relações entre índios, brancos e mestiços no Vale
do Mucuri em meados do século XIX. A introdução da organizadora do volume
fornece um bom guia para a leitura dos textos.
Reis, Arthur Cézar Ferreira. Lobo
d’Almada: um Estadista Colonial. 3a ed. revista. Manaus: Academia
Amazonense de Letras, 2006 (Série Clássicos da Academia), 302p. Publicado
originalmente em 1939, o livro traz um estudo biográfico do coronel Manoel da
Gama Lobo d’Almada, governador da Capitania do Rio Negro e responsável pela
demarcação de limites no final do século XVIII. Grande parte do livro é
composta da transcrição de 154 cartas e ofícios escritos entre 1770 e 1800.
Embora não seja o principal destaque da introdução, a presença indígena é
constante nas correspondências, abrangendo as expedições relacionadas à
demarcação dos limites, a participação nos corpos militares e a resistência dos
Munduruku, entre outros temas.
Roosevelt, Theodore. Through the Brazilian
Wilderness. Edição Facsimilar. Mechanicsburg: Stackpole Books, 1994 (Série
Classics of American Sport), 410p. Trata-se da reprodução do livro editado pela primeira vez em 1914,
relatando a expedição do ex-presidente norte-americano em companhia de Rondon.
Escrita em tom de aventura, a narrativa inclui observações sobre os índios, em
especial os Nambiquara, e sobre o caráter mestiço do povo brasileiro. Ao
comentar a relação amistosa entre os Nambiquara e Rondon, Roosevelt observa,
com simplicidade, que o célebre indigenista "nunca matou um sequer".
A narrativa é acompanhada de fotografias muito interessantes, além de uma apresentação
escrita pelo bisneto Tweed Roosevelt, que em 1992 retraçou o percurso do
ex-presidente. Tweed sublinha não apenas o talento deste prodigioso escritor
(que teria escrito mais de 150 mil cartas durante a vida), como também
esclarece alguns detalhes a respeito da relação nada tranquila entre o velho
Roosevelt e Rondon.
Ruiz de Montoya, Antonio, S.J. Conquista Espiritual feita pelos religiosos
da Companhia de Jesus nas Províncias do Paraguai, Paraná, Uruguai e Tape.
Trad. Arnaldo Bruxel e Arthur Rabuske. 2ª ed. Porto Alegre: Martins Livreiro,
1996, 296p. Publicada
originalmente em 1639 com o intuito de persuadir a coroa espanhola a tomar
medidas contra os sertanistas da América Portuguesa que atacavam as reduções, a
Conquista Espiritual é um dos livros
mais notáveis sobre os povos Guarani. Esta edição coloca o texto numa linguagem
acessível, porém carece de notas explicativas, índices e glossário, o que
esclareceria a leitura deste texto extraordinário.
Sousa, Gabriel Soares de. Tratado
Descritivo do Brasil em 1587. Organização Fernanda Trindade Luciani. São
Paulo: Hedra, 2010, 418p. Edição de bolso desta que seria a maior das
fontes sobre povos indígenas escritas no século XVI. A organizadora cotejou a
primeira “edição castigada” feita por Varnhagen em 1851 com a edição de 1879
(publicada um ano após a morte de Varnhagen) e com uma versão manuscrita
pertencente ao acervo da Biblioteca Guita e José Mindlin. Traz uma nova
introdução, que faz uma leitura dos textos de Soares de Sousa à luz de uma
bibliografia atual. Além de conservar as notas e comentários de Varnhagen no
fim do texto, a organizadora agrega notas informativas que ajudam no
esclarecimento da terminologia empregada pelo autor e que apontam para
diferenças entre o texto estabelecido por Varnhagen e o manuscrito da
Biblioteca Mindlin.
Staden, Hans. Primeiros Registros Escritos e Ilustrados sobre o
Brasil e seus Habitantes, São Paulo: Editora Terceiro Nome, 1999, 120p. Com a tradução de Angel Bojadsen,
esta nova edição da História Verídica reproduz o texto integral e as
ilustrações originais da edição de Marburg de 1557. Inclui um texto
introdutório assinado por Fernando Novais.
Staden, Hans. Hans Staden’s
True History: an account of cannibal captivity in Brazil. Organizado e traduzido por Neil
Whitehead e Michael Harbsmeier. Durham: Duke University Press, 2008, civ, 208p.
Trata-se de uma nova tradução e edição crítica em inglês do livro de
Staden, acompanhado por um denso estudo introdutório do antropólogo Neil
Whitehead. A introdução chama a atenção para a necessidade de rever o relato de
Staden dentro do emergente contexto colonial no qual foi produzido. Mas também
enfoca de maneira pertinente a importância do texto de Staden para os debates
etnológicos e literários que atravessaram o século XX, com especial ênfase no
problema da antropofagia. Ao dialogar com uma vasta bibliografia sobre relatos
de viagem e observação etnográfica, Whitehead revaloriza o estatuto de Staden
enquanto observador, cuja experiência de náufrago e cativo colocaram-no numa
posição privilegiada para conhecer os índios.
Staden, Hans. Warhaftige Historia:
zwei Reisen nach Brasilien (1548-1555)/História de duas viagens ao Brasil.
Edição crítica de Franz Obermeier. Tradução ao português Guiomar Carvalho
Franco. Kiel: Westensee Verlag, 2007 (Fontes Americanae 1), lxvi, 410p. Esta
edição do célebre livro quinhentista oferece vários elementos críticos para o
estudo das populações indígenas que fazem parte da obra de Staden. Apesar de
apresentada como uma edição bilíngue, há notáveis diferenças entre os aportes
críticos em alemão e a tradução para o português. A versão em alemão inclui uma
alentada introdução do historiador Franz Obermeier, fornecendo um contexto
histórico e crítico para a leitura da obra. Segue-se um facsímile da edição
original de Marburg, de 1557, extensamente anotada por Obermeier, com
informações esclarecedoras sobre lugares, nomes, espécies vegetais e animais,
grupos e personagens indígenas, entre outros assuntos, lançando mão de uma
bibliografia bastante ampla e atual. Também inclui vários índices de grupos
indígenas, nomes pessoais, lugares, fauna, flora e palavras em tupi que
aparecem ao longo do livro. Na sequência, o texto da edição de Marburg é
transcrito integralmente numa versão em alemão atual, por Joachim Tiemann. Na
última parte desta edição aparecem um resumo em português da introdução de
Obermeier e uma transcrição da tradução realizada em 1942 por Guiomar Carvalho
Franco (com alguns ajustes feitos por Augusto Rodrigues). As anotações em português
também são abreviadas em relação à versão em alemão, que é mais extensa e
completa. O livro é disponibilizado no Brasil através do Instituto
Martius-Staden.
Taunay, Alfredo d’Escragnolle. Ierecê a Guaná, seguido de Os Índios
do Distrito de Miranda e Vocabulário da Língua Guaná ou Chané. Organização
de Sérgio Medeiros. São Paulo: Iluminuras, 2000 (Coleção Vera Cruz), 172p. Este pequeno livro inclui um conto
indianista do Visconde de Taunay e dois textos extraídos de sua obra Scenas
de Viagem, o primeiro descrevendo as populações indígenas da região em
torno de Miranda, MT, e o segundo apresentando um vocabulário português-chané,
língua aruaque falada pelos Terena, Kinikinau, Layana e Guaná, segundo a
divisão que fez dos "chanés". A edição é complementada por textos
críticos de Antonio Candido, Haroldo de Campos, Lúcia Sá e do organizador.
Thevet, André. A Cosmografia Universal de André Thevet, Cosmógrafo do
Rei. Tradução e notas de Raul de Sá Barbosa. Rio de Janeiro: Fundação Darcy
Ribeiro, 2009 (Coleção Franceses no Brasil, séculos XVI e XVII, vol. 2), 190p. Infelizmente, não se trata da Cosmografia inteira e apenas dos 16
capítulos sobre a França Antártica, traduzidos para o português pela primeira
vez. Publicada em 1575, a Cosmografia
repete muitas das afirmações e informações publicadas anteriormente n’As Singularidades da França Antártica
porém também oferece perspectivas diferentes sobre questões de religião,
parentesco, alimentação e relações com os europeus. A introdução geral
esclarece pouco sobre a obra e as notas são mais completas para alguns dos
capítulos.
Thevet,
André. Le Brésil d’André Thevet: Les singularités de la France Antarctique
(1557). Estabelecimento
de texto, introdução e notas de Frank Lestringant. Paris: Editions Chandeigne,
1997, 446p. Exemplo
primoroso de como se deve editar uma fonte histórica, esta versão definitiva do
livro do célebre cosmógrafo proporciona, segundo o organizador, "uma
janela para o Novo Mundo". Trata-se, no entanto, de uma "falsa
janela" pois, conforme lembra Lestringant em sua excelente introdução, Les
Singularités precisa ser lido na articulação entre aquilo que se mostrava
novo e o conhecimento da Antiguidade Clássica que embasava os relatos de viagem
renascentistas. O organizador também chama a atenção para o aspecto inovador da
iconografia impressa na obra, constituída por 41 xilogravuras de Bernard de
Poisduluc, consagrando (segundo Lestringant) "a figura apolínia do
Selvagem", num explícito diálogo entre o novo e o clássico. Além das notas
esclarecedoras no fim do texto, esta edição traz um suplemento bibliográfico e
um índice onomástico.
Vicente do Salvador, Frei. Historia
do Brazil. Edição e introdução de Maria Lêda Oliveira. Rio de Janeiro: Versal e São Paulo: Odebrecht, 2008, 345p. +CD-Rom. Com o texto estabelecido a partir do
Códice 49 (Manuscritos do Brasil – Arquivo Nacional da Torre do Tombo, Lisboa),
esta nova edição da importante obra de Frei Vicente do Salvador permite
vislumbrar algo próximo do texto original, repleto de referências e narrativas
a respeito de povos indígenas. A organizadora da edição, cujo livro acompanha
esta edição (veja acima, na seção História dos Índios, Índios na História),
detalha na introdução a história dos manuscritos e edições anteriores,
incluindo quadros esclarecedores que cotejam trechos da Historia do Brazil com outras obras do período colonial, como o Santuário Mariano e Desagravos do Brasil. A transcrição diplomática do Códice 49 tem
poucas notas, sobretudo explicações sobre variantes textuais. A edição inclui
um bom glossário, bem como índices onomástica e toponímica. Infelizmente, por
incúria editorial, as páginas do texto principal não são numeradas, o que
dificulta o aproveitamento dos índices. Por fim, o livro traz um CD-Rom com
cópias digitalizadas do Códice 49, Códice 24 (“Adições e emendas”), trechos
referentes ao Brasil no Santuário Mariano
e os “Prolegômenos” de Capistrano de Abreu da edição de 1918, com notas
importantes sobre o texto.
Vieira, Antônio, S.J. Cartas do Brasil. Organização e introdução
de João Adolfo Hansen. São Paulo: Hedra, 2003, 675p. Edição brasileira de uma seleção das
cartas constantes da compilação em três volumes feita por João Lúcio de Azevedo
entre 1925 e 1928 (republicados em Lisboa em 1997). Acrescenta-se uma excelente
introdução de João Adolfo Hansen junto com algumas notas esclarecedoras que
complementam as de Azevedo. As cartas abrangem o período de 1626 a 1697 e estão
divididas em três partes, por destinatários: cartas a outros jesuítas, cartas à
Corte e cartas a particulares. Várias cartas tratam dos índios (há, inclusive,
uma carta que responde à missiva do Principal Guaquaíba), porém é necessário
percorrer o volume com paciência, por falta de um índice detalhado.
Vieira, Antônio, S.J. Escritos Instrumentais sobre os Índios.
Org. J. C. Sebe Bom Meihy. São Paulo: Educ/Loyola, 1992, 216p. Destacam-se, neste livro, os textos
que Vieira escreveu opinando sobre o cativeiro dos índios no Estado do Maranhão
e em São Paulo. O texto principal, no entanto, é a "Relação da Missão da
Serra de Ibiapaba", uma preciosa narrativa sobre as atividades
missionárias entre vários grupos indígenas do início do século XVII à chegada
do próprio padre Vieira na década de 1650.
Vieira, Antônio. A Missão de Ibiapaba. Org. António de
Araújo. Coimbra: Almedina, 2006, 223p. Edição bem apresentada do importante relato de
Vieira (veja-se a anotação anterior), com um bom prefácio do ensaísta e crítico
português Eduardo Lourenço.
Vieira, Antônio, S.J. Sermões. Org. Alcir Pécora. 2 vols. São Paulo:
Hedra, 2001, 663, 605p. Cuidadosamente editada e copiosamente anotada, esta edição traz uma
seleção de 50 sermões de Vieira, abrangendo o período de 1644 a 1694,
estabelecendo o texto de acordo com as primeiras edições, impressas no século
XVII. São de particular interesse para a história dos índios os sermões
pregados em São Luís e Belém no calor das disputas entre jesuítas e colonos em
torno da liberdade dos índios.
4. Instrumentos de
Pesquisa e Fontes de Informação (voltar ao
início)
Arquivo Público do
Estado do Maranhão. Repertório de
Documentos para a História Indígena do Maranhão. São Luís: Secretaria de
Estado da Cultura-Arquivo Público, 1997, 361p. Valioso instrumento de pesquisa,
este repertório inclui vários elementos importantes para a história indígena,
incluindo a documentação da Junta de Missões (1738-1777) e a correspondência
dos governantes dos anos finais do período colonial ao fim do Império.
Arquivo Público do Paraná. Catálogo Seletivo de Documentos Referentes
aos Indígenas do Paraná Provincial, 1853-1870. Curitiba: Imprensa Oficial,
2007, 585p. Realizado sob a coordenação de Tatiana Dantas
Marchette e com anotações das historiadoras Claudia Inês Parellada e Maria
Fernanda Maranhão, o catálogo fornece detalhes sobre a documentação provincial
em 1547 verbetes sucintos e eficientes. A documentação descrita coloca em tela
a dimensão regional da política indigenista do Império, com importantes
informações sobre populações Kaingang, Kayowá e Guarani, sobre aldeamentos
capuchinhos, sobre embates violentos, entre muitos outros temas. Inclui índices onomástico e
topográfico para facilitar a localização de documentos.
Arruda, José Jobson de Andrade, org. Documentos Manuscritos Avulsos
da Capitania de São Paulo. 2 vols. Bauru: EDUSC e São Paulo: Imprensa
Oficial, 2000-2002, 340p., 804p. Arrolamentos ligados ao Projeto Resgate, foram projetados três volumes,
dos quais dois estão concluídos: o Catálogo 1, abrangendo o período de 1644 a
1830, descreve o conteúdo de 30 caixas (quase 1.400 documentos) que não foram
inventariados anteriormente; e o Catálogo 2, abrangendo 1618 a 1823, reproduz
de maneira sintética os verbetes publicados por Alfredo Mendes Gouveia na
ocasião do IV Centenário de São Paulo, em 15 volumes. O Catálogo 2 traz mais de
5.000 descrições sumárias, a serem completadas futuramente com o volume 3. São
muitas as referências aos índios, uma parte das quais que pode ser identificada
pelo índice temático de cada volume. Os verbetes incluem informações sobre aldeamentos,
terras, trabalho, bandeiras, resistência e participação militar, com
referências aos Carijó (Guarani), Guaianá, Bororo, Puri e muitos outros grupos.
Berwanger, Ana Regina; Osório, Helen; e Souza, Susana Bleil de, orgs. Catálogo
de Documentos Manuscritos Avulsos referentes à Capitania do Rio Grande do Sul
existentes no Arquivo Histórico Ultramarino, Lisboa. Porto Alegre: CORAG,
2001, 239p. Parte
do Projeto Resgate, o catálogo elenca cerca de mil documentos referente a esta
capitania, cobrindo o período de 1732 a 1825. Há vários documentos sobre índios
Minuano, Tape, Charrua e Guarani, com informações sobre as missões durante e
após a expulsão dos jesuítas, sobre as relações entre a expansão do gado e
povos indígenas, e sobre conflitos.
Biblioteca Nacional. Alexandre Rodrigues Ferreira: Amazônia
redescoberta no século XVIII. Rio de Janeiro: Biblioteca Nacional, 1992,
19p. e 20 lâminas. Nesta
edição de uma seleção pequena das ilustrações da Viagem Filosófica, o que chama
mais atenção é o "Catálogo de Manuscritos da Coleção Alexandre Rodrigues
Ferreira", uma listagem completa e detalhada da extensa documentação que
compõe a coleção. Há um índice remissivo detalhado.
Boschi, Caio C. e Furtado, Júnia Ferreira, orgs. Inventário dos
Manuscritos Avulsos Relativos a Minas Gerais existentes no Arquivo Histórico
Ultramarino (Lisboa). 3 vols. Belo Horizonte: Fundação João
Pinheiro/Centro de Estudos Históricos e Culturais, 1998 (Coleção Mineiriana). Este inventário do Projeto Resgate
descreve cerca de 14.000 documentos referentes a Minas Gerais, com abundantes
informações sobre as populações indígenas do final do século XVII ao início do
XIX. O terceiro volume inclui índices temático, onomástico e topográfico.
Boschi, Caio C. e Moraes, Jomar, orgs. Catálogo de Documentos
Manuscritos Avulsos Relativos ao Maranhão existentes no Arquivo Histórico
Ultramarino. São Luís: Fundação Cultural do Maranhão/Academia Maranhense
de Letras, 2002, 662p. Preparado como parte do Projeto Resgate, este catálogo elenca mais de
13.000 documentos, muitos dos quais abordam a temática indígena, da primeira
parte do século XVII ao início do XIX. Trata-se de um inventário indispensável
para a história indígena da Amazônia colonial, com abundantes informações sobre
diferentes grupos indígenas, sobre a política indigenista da coroa, sobre a
atuação dos jesuítas, sobre as modalidades de trabalho colonial, sobre
descimentos, entre tantos outros temas.
Boschi, Caio C., org. Catálogo de Documentos Manuscritos Avulsos da
Capitania do Pará existentes no Arquivo Histórico Ultramarino de Lisboa.
Belém: SECULT/ Arquivo Público do Pará, 2002, 3 vols, 1204p. Fruto do Projeto Resgate, o catálogo
inclui mais de 12.000 verbetes descrevendo sumariamente a documentação,
abrangendo o período de 1616 aos anos iniciais do Império. A quantidade de
documentos sobre populações indígenas, política indigenista, descimentos,
conflitos, aldeamentos, trabalho e outros temas é inesgotável.
Carneiro da Cunha, Manuela. Legislação Indigenista no Século XIX. São
Paulo: Edusp, 1993, 362p. Trata-se de uma compilação das principais leis, decretos, provisões e
outras peças de legislação referentes às populações indígenas. Acompanha uma
excelente introdução aos principais temas da política e da legislação indigenista
durante o Império.
Carneiro da Cunha, Manuela e Almeida, Mauro Barbosa de, orgs. Enciclopédia
da Floresta. O Alto Juruá: práticas e conhecimentos das populações. São
Paulo: Companhia das Letras, 2002, 735p. Fruto de um belíssimo projeto coletivo, esta edição
requintada reúne informações sobre práticas, classificações e conhecimentos dos
povos da região do Alto Juruá (Acre e Amazonas), abrangendo as sociedades
Kaxinawá, Katukina e Ashaninka, porém também dando destaque para os saberes dos
seringueiros não indígenas. No que diz respeito à história num sentido mais
estrito, há textos sobre a história recente destes povos, além de uma
quantidade expressiva de fotos históricas. O livro inclui um ótimo índice
remissivo.
Damasceno, Darci, coord. Catálogo Arquivo de Mateus. Rio de
Janeiro: Fundação Biblioteca Nacional, 2000 (Coleção Rodolfo Garcia, 27), 432p. Excelente inventário descrevendo a
vasta documentação mantida por D. Luís Antônio de Souza Botelho Mourão, Morgado
de Mateus (1722-1798), que governou a Capitania de São Paulo por dez anos
(1765-1775), com a tarefa de implantar a política pombalina na região
meridional da América Portuguesa. Com quase 2.500 itens, entre documentos,
mapas e ilustrações, o arquivo hoje faz parte dos manuscritos da Biblioteca Nacional
e apresenta várias possibilidades de pesquisa em história indígena. Há muitas
informações sobre os aldeamentos de São Paulo, bem como sobre a expansão
militar para o oeste e o sul. Os povos indígenas abordados incluem Kaingang,
Guarani, Paiaguá, Bororo e Puri, entre outros. Falta um índice para facilitar a
consulta deste catálogo.
Dantas, Beatriz Góis, org. Repertório de Documentos para a História
Indígena: Arquivo Público Estadual de Sergipe. São Paulo: NHII-USP, 1993
(Série Instrumentos de Pesquisa), 80p. Este repertório elenca e descreve sumariamente
329 documentos do arquivo público, abrangendo o período do Império. Acompanham
índices temático e toponímico.
Figueiredo, Arnaldo Estevão de, org. Catálogo de Verbetes dos
documentos Manuscritos Avulsos da Capitania de Mato Grosso (1720-1827). Campo
Grande: Editora da Universidade Federal do Mato Grosso do Sul, 1999, 527p. Vinculado ao Projeto Resgate, o
catálogo traz cerca de 2.200 descrições sumárias de documentos, abrangendo o
período de 1720 a 1827. O acervo oferece uma grande quantidade de documentos
para a história indígena, cobrindo, entre outros assuntos, a guerra com os
Paiaguá, o recrutamento de tropas Bororo, as relações entre colonos e índios
Pareci, os conflitos e acordos com os Guaikuru e a presença dos Guaná.
Flores, Maria Bernadete Ramos e Serpa, Élio Cantalicio, orgs. Catálogo
de Documentos Avulsos Manuscritos referentes à Capitania de Santa Catarina,
1717-1827. Florianópolis: Editora UFSC, 2000, 174p. Vinculado ao Projeto Resgate, o catálogo
possui relativamente poucos registros referentes à presença indígena nesta
capitania.
Freire, José Ribamar Bessa, coord. Os Índios em Arquivos do Rio de
Janeiro. 2 vols. Rio de Janeiro: Ed. UERJ, 1995-1996, 225, 231p. Aprofundamento do trabalho realizado
pelo autor no Guia de Fontes para a
História Indígena e do Indigenismo, os dois volumes apresentam fichas
detalhando diferentes conjuntos documentais em arquivos do Rio que tratam
explicitamente dos índios e da política indigenista. É importante ressaltar que
a documentação abrange o país como um todo, porém o guia também traz
informações inéditas sobre os índios no Rio de Janeiro.
Galindo, Marcos e Hulsman, Lodewijk, orgs. Guia de Fontes para a
História do Brasil Holandês. Recife: Fundação Joaquim Nabuco/ Editora
Massangana/ Instituto de Cultura, 2001, 376p. Ligado ao Projeto Resgate, este guia retoma
iniciativas anteriores (de Joaquim Caetano Silva, José Hygino Duarte Pereira e
José Antônio Gonsalves de Mello) de trazer à tona a riqueza dos arquivos públicos
holandeses para a história do Brasil. O guia fornece informações detalhadas
sobre sete arquivos, além de reproduzir os relatórios de pesquisa de José
Hygino (1885-6) e de Gonsalves de Mello (1957-8), que detalham outros acervos.
Embora a listagem não especifique o conteúdo, de grande interesse para a
história dos índios são os documentos administrativos, econômicos e políticos
da Companhia das Índias Ocidentais, no Algemeen Rijksarchief em Haia, que
também contém uma documentação referente à conversão dos índios pelos
pregadores calvinistas.
Gomes, Alexandre Oliveira e Vieira Neto, João Paulo. Museus e Memória
Indígena no Ceará: uma proposta em construção. Fortaleza: SECULT, 2009,
263p. Fruto do
Projeto Emergência Étnica, o livro relata propostas e experiências relacionadas
à constituição de centros de memória dedicados aos povos Tapeba, Kanindé,
Pitaguary, Tremembé, Potiguara, Kalabaça, Tabajara, Gavião e Tubiba-Tapuia. O
projeto contou com a participação de associações indígenas e quilombolas no estado.
Instituto Socioambiental. Povos Indígenas no Brasil 1991/1995. São
Paulo: Instituto Socioambiental, 1996, 871p. Dando sequência a publicações anteriores na
série "Aconteceu: Especial", este livro traz um denso dossiê de
informações sobre todas as populações indígenas do país, com importantes
artigos sobre demarcação de terras, movimentos de emergência étnica e
mobilização política. As listas de povos, organizações e populações indígenas
são referências básicas, levando-se em conta a necessária imprecisão dos dados
sobre um objeto sempre em construção.
Instituto Socioambiental. Povos Indígenas no Brasil 1996/2000. São
Paulo: Instituto Socioambiental, 2000, 832p. Atualização do item anterior. Neste último
período, há interessantes avanços na discussão das organizações indígenas. As
informações atuais do projeto Povos Indígenas no Brasil figuram no site do ISA
(www.socioambiental.org/pib/).
Jucá, Gisafran Nazareno Mota, org. Catálogo de Documentos Manuscritos
Avulsos da Capitania do Ceará: 1618-1832. Fortaleza: Fundação Demócrito
Rocha, 1999, 358p. Este
catálogo do Projeto Resgate descreve 1.400 documentos, de 1618 a 1832. Inclui
uma documentação muito rica especialmente sobre missões e vilas indígenas, com
certo destaque para os Tobajara da Serra de Ibiapaba.
Leal, João Eurípedes Franklin, org. Catálogo de Documentos
Manuscritos e Avulsos da Capitania do Espírito Santo: 1585-1822. Vitória:
Arquivo Público do Estado do Espírito Santo, 2000, 170p. Este catálogo do Projeto Resgate
reúne descrições sumárias de 550 documentos abrangendo o período de 1585 a
1822. Contém uma documentação interessante do século XVIII e início do XIX
sobre os índios da Aldeia de Reritiba, sobre os Botocudos e sobre os Puri.
Lopes, Fátima Martins, org. Catálogo de Documentos Manuscritos
Avulsos da Capitania do Rio Grande do Norte (1623-1823). Natal: EDUFRN,
2000, 218p. Outro
catálogo do Projeto Resgate, inclui verbetes referentes a 684 documentos,
abrangendo o período de 1623 a 1823. Reúne uma quantidade expressiva de
documentos sobre a Guerra dos Bárbaros, sobre a administração dos aldeamentos,
sobre o trabalho indígena e sobre terras indígenas.
Maeder, Ernesto J. A., e Gutiérrez, Ramón, orgs. Atlas territorial y
urbano de las misiones jesuíticas de guaraníes. Argentina, Paraguay y Brasil/
Atlas Territorial e Urbano das Missões Jesuíticas dos Guaranis. Argenitna,
Paraguai e Brasil. Sevilla: Consejería de Cultura, 2009, 114p. Publicado originalmente em meados
dos anos 90 em Buenos Aires, esta edição bilíngue do Atlas inclui mapas geográficos e plantas de missões, tanto
históricos quanto recentes, com comentários descritivos. A boa seleção de
imagens não é correspondida pela qualidade inferior das reproduções. A edição
contou com o apoio do IPHAN.
Martinheira, José Joaquim Sintra, org. Catálogo dos Códices do Fundo
do Conselho Ultramarino Relativos ao Brasil existentes no Arquivo Histórico
Ultramarino. Rio de Janeiro: Real Gabinete Português de Leitura; Lisboa:
Fundação Calouste Gulbenkian, 2001, 183p. Contém algumas poucas referências a grupos
indígenas no Brasil.
Monteiro, John, coord. Guia de Fontes para a História Indígena e do
Indigenismo em Arquivos Brasileiros. São Paulo: Núcleo de História Indígena
e do Indigenismo/ Fapesp, 1994 (Série Instrumentos de Pesquisa), 496p. Este guia traz informações
preliminares sobre os principais acervos arquivísticos localizados nas capitais
do país. Inclui índices por nomes étnicos, locais geográficos e assuntos.
Noelli, Francisco Silva, org. Bibliografia Kaingang: referências
sobre um povo jê do sul do Brasil. Londrina: Editora UEL, 1998, 185p. Trata-se do arrolamento de 1126
itens bibliográficos referentes aos Kaingang, abrangendo estudos de história,
etnologia, arqueologia e linguística, bem como alguns textos indigenistas. Os
itens não trazem comentários, porém o conjunto é bastante útil ao identificar
textos de circulação bastante restrita.
Nunes, Maria Thetis e Santos, Lourival Santana, orgs. Catálogo de
Documentos Manuscritos Avulsos da Capitania de Sergipe (1619-1822). São
Cristóvão: Ed. UFS, 1999, 185p. Este catálogo do Projeto Resgate fornece uma descrição sumária de 495
documentos, de 1619 a 1822. Contém algumas referências a missões e terras
indígenas.
Oliveira, Elza Regis de; Menezes, Mozart Vergetti de; e Lima, Maria da
Vitória Barbosa, orgs. Catálogo de Documentos Manuscritos Avulsos
referentes à Capitania da Paraíba, existentes no Arquivo Histórico Ultramarino
de Lisboa. João Pessoa: Editora da UFPB, 2001, 655p. Vinculado ao Projeto Resgate, o
catálogo traz a descrição sumária de cerca de 3.500 documentos, abrangendo o
período de 1593 a 1826. Os verbetes incluem valiosas referências para a
história indígena, com informações sobre aldeias e vilas indígenas, o trabalho dos
índios, as atividades militares dos índios, terras, rebeliões e as relações
entre índios e escravos africanos.
Osório, Helen, org. Catálogo de Documentos da Colônia do Sacramento
e Rio da Prata: existentes no Arquivo Histórico Ultramarino, Lisboa. Rio
de Janeiro: Nórdica, 2002, 375p. Nos mais de 660 documentos arrolados para o Projeto Resgate, abrangendo
o período de 1682 a 1826, há várias referências aos índios em relação aos
conflitos entre espanhóis e portugueses na disputa pela Banda Oriental do Rio
da Prata. Os grupos mencionados incluem os Guarani, Minuano, Charrua, Chane,
Tape e Serrano.
Porro, Antonio. Dicionário Histórico da Amazônia Colonial. São
Paulo: Instituto de Estudos Brasileiros-USP, 2007 (Cadernos do IEB), 189p. Organizado tematicamente, o
dicionário traz verbetes que valorizam sobretudo temas ligados à história
indígena e à pesquisa etno-histórica. A primeira parte arrola cerca de 600
etnônimos que estão associados a uma localização geográfica e a uma fonte
colonial; a segunda identifica aldeias, vilas e outros povoados; a terceira
fornece rápidas informações sobre cerca de 50 personagens indígenas (chefes e
pajés); a quarta (crenças e divindades) tematiza questões religiosas; e a
quinta discute alguns temas de “economia e sociedade”. A cobertura é longe de
ser exaustiva, conforme reconhece o próprio autor, porém não deixa de
introduzir questões e evidências importantes para a história indígena da
Amazônia no período colonial
Porto Alegre, Maria Sylvia; Mariz, Marlene; e Dantas, Beatriz Góis. Documentos
para a História Indígena no Nordeste: Ceará, Rio Grande do Norte e Sergipe. São
Paulo: Núcleo de História Indígena e do Indigenismo, 1994 (Série Instrumentos
de Pesquisa), 269p. O
livro traz uma listagem detalhada de documentos nos arquivos públicos e
privados de interesse para a pesquisa sobre a temática indígena. Cada seção
inclui uma introdução e um índice temático remissivo.
Santos, Francisco Jorge dos, org. Catálogo do Rio Negro: Documentos
Manuscritos Avulsos existentes no Arquivo Histórico Ultramarino (1723-1825). Manaus:
Editora da Universidade do Amazonas, 2000, 249p. Arrolamento do Projeto Resgate, este catálogo
elenca 750 descrições sumárias da documentação desta capitania, com muitas
referências à temática indígena; aliás, grande parte da documentação se refere,
de uma maneira ou outra, aos índios. Há informações importantes sobre os
descimentos na primeira metade do século XVIII; sobre as vilas estabelecidas
sob o Diretório dos Índios; sobre os conflitos com índios Mura e Munduruku;
sobre o movimento de canoas, entre muitos outros assuntos.
Santos, Lourival Santana, org. Catálogo de Documentos Manuscritos
Avulsos da Capitania de Alagoas (1690-1826). Maceió: Instituto Histórico e
Geográfico de Alagoas, 1999, 190p. Este catálogo do Projeto Resgate descreve 532
documentos, incluindo várias referências a missões, terras e trabalho indígena.
Santos, Ricardo Ventura dos, e Mello e Silva, Maria Celina Soares de,
orgs. Inventário Analítico do Arquivo de
Antropologia Física do Museu Nacional. Rio de Janeiro: Museu Nacional/UFRJ,
2006 (Série Livros 14), 160p. O inventário identifica a documentação
textual, iconográfica e cartográfica do antigo Setor de Antropologia Física,
abrangendo um período de meados do século XIX a 1960 e cobrindo “um conjunto de
aproximadamente 10.000 documentos fundamentais para a compreensão da história
da antropologia física no Brasil”. De interesse para a história indígena são,
entre outros, as fotos de índios e de sítios arqueológicos indígenas; as fichas
datiloscópicas com informações sobre indivíduos. Há ainda o livro de tombo da
Divisão de Antropologia Física, cujos primeiros registros são de crânios de
índios oriundos de aldeamentos do Império e de sítios arqueológicos.
Teixeira, Clotildes Avelar, org. Inventário do Arquivo Pessoal de
Nelson Coelho de Senna (1876-1952). Belo Horizonte: Arquivo Público da
Cidade de Belo Horizonte, 2000, 100p. Professor, pesquisador e político, Nelson
Coelho de Senna passou boa parte da vida investigando assuntos mineiros, sendo autor
de uma vasta obra. O arquivo pessoal inclui uma coleção bastante relevante de
textos e imagens sobre os índios de Minas, com fotografias de Botocudos (Krenak
e Pojixá) e estudos incompletos de etnografia e vocabulário dos índios. O
inventário reproduz algumas das fotos da coleção.
Teles, José Mendonça, org. Catálogo de Verbetes dos Manuscritos
Avulsos da Capitania de Goiás existentes no Arquivo Histórico Ultramarino,
Lisboa-Portugal. Goiânia: Sociedade Goiana de Cultura, Institutos de
Pesquisas e Estudos Históricos do Brasil-Central, 2001, 529p. Este catálogo do Projeto Resgate
elenca cerca de 3.000 documentos, abrangendo o período de 1731 a 1822. Há uma
enorme quantidade de referências aos índios, com destaque para os Bororo,
Caiapó (do sul), Acroá, Tapirapé, Xacriabá, Xavante, Carajá e Javaé, entre
outros. O catálogo aponta para inúmeras possibilidades de pesquisa.
Teles, José Mendonça, org. Catálogo de Verbetes dos Manuscritos
Avulsos da Capitania do Piauí existentes no Arquivo Histórico Ultramarino,
Lisboa-Portugal. Goiânia: Sociedade Goiana de Cultura, Institutos de
Pesquisas e Estudos Históricos do Brasil-Central, 2002, 350p. Abrangendo o período de 1684 a 1828,
este catálogo do Projeto Resgate descreve mais de 1.700 documentos. Muitos
registros referem-se aos índios, com destaque para os Timbira, Guêguê, Acroá,
Amanajó, Pimenteira, e Jaicó.
Vainfas, Ronaldo, coord. Dicionário do Brasil Colonial (1500-1808). Rio
de Janeiro: Objetiva, 2000, 599p. Edição elegante, este é o primeiro dicionário histórico que abre um
espaço mais amplo e adequado para a temática indígena. Os verbetes, organizados
em ordem alfabética, refletem admiravelmente as tendências historiográficas
atuais. Os índios aparecem tanto em verbetes biográficos (Antônio Paraupaba,
Araribóia, Tibiriçá, Zorobabé, entre outros), quanto em artigos mais gerais
(índios, Tupinambá), como em recortes episódicos (holandeses, Guerra dos
Bárbaros). A maioria destes verbetes é assinada por Ronaldo Vainfas e Ronald
Raminelli.
Vainfas, Ronaldo, coord. Dicionário do Brasil Imperial (1822-1889). Rio
de Janeiro: Objetiva, 2002, 752p. Diferentemente do item anterior, este dicionário dá relativamente pouco
destaque para a temática indígena, com alguma cobertura do indianismo e um
verbete sobre o "Indigenismo". Alguns verbetes biográficos contêm
informações esparsas: José Vieira Couto de Magalhães, José Bonifácio de Andrada
e Silva, entre outros. Fica patente, no entanto, a ausência dos índios "carne-e-osso"
(em oposição aos índios imaginados) na pauta dos historiadores que estudam este
período.
Wiesebron, Marianne L., org. Brazilië in de Nederlanse Archieven/O
Brasil em Arquivos Neerlandeses (1624-1654). Leiden: Research School CNWS,
2004 (Série Mauritiana), 179p. Dividido em duas partes e apresentado em edição bilíngue, o livro abre
com ensaios sobre os Países Baixos no século XVII e, na segunda parte, traz um
breve arrolamento de fontes referentes ao Brasil Holandês no Arquivo Nacional e
no Arquivo da Casa Real de Haia. Alguns dos mapas são muito bem reproduzidos ao
final do texto.
5. Edição de
Fontes Documentais (voltar ao início)
Almeida, Luiz Sávio de, org. Os Índios nas Falas e Relatórios
Provinciais de Alagoas. Maceió: Ed. UFAL, 1999, 88p. O livro reproduz trechos dos
relatórios dos presidentes da Província de Alagoas, referentes a terras
indígenas, à extinção dos antigos aldeamentos e outros assuntos.
Amado, Janaína, e Anzai, Leny Caselli, orgs. Anais de Vila Bela, 1734-1789. Cuiabá: Ed. UFMT/Carlini &
Caniato Ed., 2006 (Coleção Documentos Preciosos), 319p. Valiosa
edição do manuscrito adquirido em 1995 pela biblioteca Newberry em Chicago,
EUA, os Anais de Vila Bela
proporcionam, segundo as organizadoras, “um formidável manancial de nomes,
datas, eventos, números, efemérides, nomeações, etc.” A primeira parte,
referente ao período de 1734 a 1755, foi publicada anteriormente porém esta
edição inclui, pela primeira vez, 35 textos inéditos, referentes aos anos de 1756
a 1789. Organizados cronologicamente, os Anais
foram redigidos por vereadores da Câmara de Vila Bela com o intuito de
registrar os “feitos dignos de memória”. Dentre esses feitos, episódios
envolvendo índios abundam, sobretudo porque as ações e a audácia de sertanistas
constituem “um dos núcleos narrativos do documento”. Além dos sangrentos
conflitos entre colonos e índios Paiaguá, Caiapó e Guaicuru, há notícias de
alianças e da presença e papel de índios no interior da sociedade colonial,
inclusive de índios que passaram do lado espanhol da fronteira para se fixarem
em Vila Bela. A edição traz anotações que visam sobretudo esclarecer usos
arcaicos e coloquiais. O índice remissivo é bastante útil, apesar do verbete
“Índios” remeter a quase todas as páginas dos Anais. Em anexo, a edição inclui a reprodução de mapas e
ilustrações, com destaque para os mapas e plantas do acervo da Casa da Ínsua,
em Portugal, o solar construído por Luiz de Albuquerque de Mello Pereira
Cáceres, provável dono original desta cópia do manuscrito.
Amoroso, Marta Rosa, e Farage, Nádia, orgs. Relatos da Fronteira
Amazônica no Século XVIII: Alexandre Rodrigues Ferreira e Henrique João
Wilckens. São Paulo: NHII/USP, 1994 (Série Documentos), 134p. Dividido em duas partes, este livro
apresenta a transcrição de documentos inéditos de grande valor para a história
indígena da Amazônia. A primeira parte inclui o "Diário de Viagem ao
Japurá", do engenheiro Wilckens, com minúcias sobre a expedição
demarcadora de limites e suas relações com os índios da região, além de outros
documentos ligados à atuação de Wilckens, com destaque para as relações com os
Mura. A segunda parte traz dois textos, inéditos em português, da Viagem
Filosófica de Alexandre Rodrigues Ferreira: o "Diário do Rio Branco"
e o "Tratado Histórico do Rio Branco". Redigidos em 1786, os dois
relatos comentam extensamente a presença e as atividades dos índios, com
destaque para os circuitos de trocas, a participação militar e, sobretudo, a
atuação dos principais.
Arquivo Histórico do Rio Grande do
Sul, Os Índios D’Aldeia dos Anjos:
Gravataí, Século XVIII. Apresentação de Francisco Riopardense de Macedo.
Apresentação Técnica: Ana Cristina Oliveira Álvares. Porto Alegre: Escola
Superior de Teologia, 1990 (Coleção Fontes 5), 96p. Transcrição (com a ortografia atualizada) de
um códice do arquivo que se refere às ações do administrador pombalino do Rio
Grande José Marcelino de Figueiredo no deslocamento dos índios Guarani dos
“povos” incorporados ao dominio português para a Aldeia dos Anjos. De especial
interesse são as matrículas detalhadas das famílias que originaram dos povos de
Santo Ângelo, São Luís, São Miguel Novo, São Lourenço, São João, São Borges,
São Nicolau e São Miguel Velho.
Ataídes, Jézus Marco de, org. Documenta Indígena do Brasil Central.
Goiânia: Editora da UCG, 2001, 382p. Apesar de uma organização um pouco difícil de
acompanhar, o livro traz uma quantidade muito expressiva de documentos
manuscritos do Arquivo Histórico Estadual em Goiânia e do Arquivo do Museu das
Bandeiras em Goiás Velho. A documentação é bastante variada, abrangendo o
período anterior à criação da Capitania até o final do Império. Em alguns
casos, o organizador faz apenas um resumo do documento e, em outros, reproduz o
documento na íntegra. A documentação refere-se a 15 grupos distintos, 14
aldeamentos, 14 presídios e diversos temas relacionados à política indigenista.
Trata-se, enfim, de um guia indispensável para pesquisas sobre as populações
indígenas de Goiás nos séculos XVIII e XIX.
Boletim Informativo do Museu Amazônico, Manaus, vol. 5, no. 8, 1995, 103p.
Dossiê Munduruku: uma contribuição para a história indígena da Amazônia
colonial. Organizado por Francisco Jorge dos Santos. O dossiê apresenta a seleção e
transcrição de 42 documentos manuscritos de vários arquivos, abrangendo o final
do século XVIII e início do XIX. Trata-se sobretudo da correspondência trocada
entre autoridades coloniais, com destaque para os administradores e comandantes
de vilas e destacamentos militares no interior.
Cruz, Fr. Laureano de la, OFM. Descripción de los Reynos del Perú con
particular noticia de lo hecho por los Franciscanos. Org. e notas de Julián
Heras Diez, OFM. Lima: Pontificia Universidad Católica del Perú, 1999, 501p. Transcrição do manuscrito arquivado
na Biblioteca Nacional de Madri, a Descripción contém um trecho
significativo, já editado anteriormente, sobre a Amazônia: é o Nuevo
descubrimiento del río de Marañon, llamado de las Amazonas, hecho por la
religión de San Francisco, año de 1651. Este documento, que reflete a
experiência pessoal do missionário nos rios Napo e Solimões na década de 1640,
inclui uma descrição minuciosa dos Omágua e da viagem do frei Laureano até
Belém em 1651. Além da breve introdução informativa, esta edição é enriquecida
por índices onomástico e toponímico.
De Laet, João. Roteiro de um Brasil Desconhecido. Descrição das Costas do Brasil.
Organização de José Paulo Monteiro Soares e Cristina Ferrão. Introdução,
transcrição, tradução e anotação de B. N. Teensma. São Paulo: Kapa Editorial,
2007, 320p. Transcrição
integral do manuscrito pertencente à biblioteca John Carter Brown, em
Providence, EUA. Trata-se de uma coletânea de depoimentos, reunindo informações
sobre a costa atlântica da América do Sul à época da partida da comitiva de
Nassau para o Brasil. São 35 relatos – na verdade, “fragmentos”, como escreve o
autor da introdução – sobretudo de viajantes e navegadores holandeses e
portugueses, vários dos quais trazem informações sobre os índios. De especial
interesse são os depoimentos de quatro índios potiguar (Gaspar Paraupaba, André
Francisco, Antônio Paraupaba e Pedro Poti) que foram para a Holanda em meados
da década de 1620, fornecendo uma descrição da “costa noroeste” do Brasil, isto
é, Paraíba, Rio Grande e Ceará. Trata-se de um extrato do relatório de Kiliaan
van Renselaer “a partir do interrogatório aos índios”. A edição inclui a
reprodução integral do manuscrito da biblioteca John Carter Brown.
Figueiredo, Luciano Raposo de Almeida, e Campos, Maria Verônica, coords.
Códice Costa Matoso: coleção das notícias dos primeiros descobrimentos das
minas na América que fez o doutor Caetano da Costa Matoso sendo ouvidor-geral
das do Ouro Preto, de que tomou posse em fevereiro de 1749, & vários papéis.
2 vols. Belo Horizonte: Fundação João Pinheiro, 1999 (Coleção Mineiriana), 983,
279p. Edição
primorosa e integral do famoso códice arquivado na Biblioteca Municipal de São
Paulo, a Coleção das notícias foi apenas parcialmente publicada
anteriormente por Afonso de Taunay, que se interessou tão somente pelos relatos
sobre os primeiros descobridores paulistas. Fruto de um projeto ambicioso e
muito bem sucedido de edição documental, o Códice Costa Matoso apresenta
uma quantidade expressiva de documentos relevantes para a história dos índios,
sobretudo na Capitania de Minas Gerais porém não limitada a ela. Destacam-se os
documentos sobre o descobrimento das minas, com muitas referências aos índios;
documentos sobre a demarcação das fronteiras; a "Descrição do Bispado do
Maranhão", de 1747, com detalhes sobre as aldeias indígenas no Maranhão e
Piauí; e a "Descrição do Bispado do Pará", c. 1750, um minucioso
arrolamento das aldeias e missões do bispado. O segundo volume inclui índices,
notícias biográficas, um glossário e uma bibliografia de apoio.
Juzarte, Teotónio José. Diário da Navegação. Org. Jonas Soares de
Souza e Miyoko Makino. São Paulo: Edusp/Imprensa Oficial, 2000 (Coleção Uspiana
Brasil 500 Anos), 468p. "[U]ma das mais extraordinárias narrativas da navegação fluvial no
Brasil do século 18", nas palavras dos organizadores, o relato de Juzarte
recebe uma nova edição requintada, enriquecida pela reproduções fotográficas do
manuscrito original do Museu Paulista e do inédito "Plano em borrão de
todos os rios e todas as cachoeiras...", com esboços cartográficos do
território entre Porto Feliz, no Tietê, e a fortaleza de Iguatemi, às margens
do rio Paraná. O relato contém informações sobre os índios que participaram da
expedição e alguns indícios sobre os índios das regiões percorridas entre 1769
e 1771. Em anexo, o livro inclui uma série de imagens (óleos e aquarelas)
retratando o Tietê, várias das quais evocando o tempo das monções fluviais.
Langsdorff, Georg Heinrich von. Os Diários de Langsdorff. Org.
Danuzio Gil Bernardino da Silva. 3 vols. Rio de Janeiro: Editora FIOCRUZ,
1996-98, 400, 333, 298p. Esta edição reúne diários e imagens produzidos ao longo da expedição
científica liderada pelo Barão Langsdorff entre 1821 e 1829, organizados
cronologicamente. O primeiro volume cobre Rio de Janeiro e Minas Gerais (1824 e
1825), o segundo São Paulo (1825-1826) e o terceiro Mato Grosso e Amazônia
(1826 a 1828). São muitas as observações sobre populações indígenas, sobretudo
nos volumes 1 e 3. Planeja-se a edição de um quarto volume, com mapas e
reproduções facsimilares dos manuscritos.
Lima, Antonio Carlos de Souza. As Órbitas do Sítio: subsídios para o
estudo da política indigenista no Brasil, 1910-1967. Rio de Janeiro: Contra
Capa/LACED, 2009, 252p. Originalmente produzido como um anexo à tese de doutorado do autor, este
volume reproduz gráficos, tabelas, mapas, legislação, textos e quadros
referentes à atuação do Serviço de Proteção aos Índios. De especial interesse é
o “Quadro resumo das ações das unidades locais do SPI, 1911-1962”, compilado a
partir de uma documentação variada, trazendo informações pontuais sobre
incidentes e processos que marcaram a história do SPI em todas as regiões do
país.
Lopes Sierra, Juan. As Excelências do Governador: o panegírico
fúnebre a D. Afonso Furtado, de Juan Lopes Sierra (Bahia, 1676). Organizado
por Stuart B. Schwartz e Alcir Pécora. Trad. C. Antunes e A. Pécora. São Paulo:
Companhia das Letras, 2002, 440p. Primeira edição em português do manuscrito publicado anteriormente em
inglês, em 1977. Trata-se de uma narrativa em castelhano que glorifica os
feitos de D. Afonso Furtado de Castro do Rio de Mendonça, Governador e Capitão
Geral do Estado do Brasil entre 1671 e 1675. Esta edição, que inclui uma
transcrição paleográfica do manuscrito original e sua tradução para o
português, é enriquecida pela introdução original de Schwartz, traduzida da
edição americana, e acrescida de um comentário de Alcir Pécora sobre a
composição retórica e o estilo narrativo do documento. A narrativa traz
informações muito interessantes sobre as relações dos portugueses com os índios
da Bahia neste período, marcado pela contratação de mercenários paulistas para
lutar contra os "bárbaros" do sertão ao longo do rio Paraguaçu.
Meira, Márcio, org. Livro das Canoas: documentos para a história
indígena da Amazônia. São Paulo: NHII-USP, 1993 (Série Documentos), 239p. Transcrição integral do "Livro
que há de servir para o registro das canoas que se despacharem para o sertão ao
cacao e às peças, e das que voltarem com escravos", abrangendo o período
de 1739 a 1755. Os registros trazem detalhes preciosos sobre os índios
deslocados dos rios da Amazônia para Belém através dos descimentos e tropas de
resgate, indicando o nome da "nação", o local de origem e a condição
livre ou escrava dos índios. A breve introdução do organizador é esclarecedora,
assim como é a lista de etnias mencionadas no livro.
Mello, José Antônio Gonsalves de, org. Fontes para a História do
Brasil Holandês. 2a ed. 2 vols. Recife: CEPE, 2004. Reedição dos documentos compilados
no início da década de 1980 pelo erudito autor de Tempo dos Flamengos, o
livro inclui vários textos traduzidos do holandês com informações sobre os
índios. No primeiro volume, A Economia Açucareira, chama a atenção a
"Memória" de Adriaen Verdonck, de 1630, com informações sobre os
Potiguar e outros "brasilienses", inclusive trabalhadores nos
engenhos; também interessa o "Breve Discurso" de 1638, uma espécie de
relatório geral enviado à Companhia das Índias Ocidentais, com uma discussão
importante do trabalho indígena; e o "Relatório" de Adriaen van der
Dussen, de 1640, com um detalhamento dos engenhos e aldeias de índios nas
terras conquistadas pelos batavos. No volume 2, A Administração da Conquista,
destaca-se a "Descrição Geral da Capitania da Paraíba", de Elias
Herckmans, com muitas informações sobre os Potiguar.
Monteiro, Maria Elizabeth Brêa, org. Levantamento Histórico sobre os
Índios Guarani Kaiwá. Rio de Janeiro: Museu do Índio/FUNAI, 2003 (Coleção
Fragmentos da História do Indigenismo), 180p. Trabalho elaborado em 1981 para subsidiar o
departamento da FUNAI encarregado de demarcar terras indígenas, este Levantamento Histórico inclui um pequeno
estudo preliminar baseado na leitura de fontes e na bibliografia disponível na
época. São de grande relevância e utilidade os anexos, trazendo cópias
facsimilares de documentos dos séculos XIX e XX, destacando-se o relatório de
Genésio Pimentel Barbosa, de 1927, com várias fotografias e informes sobre as
atividades realizadas nesse ano.
Noronha, José Monteiro de. Roteiro
da Viagem da Cidade do Pará até as Últimas Colônias do Sertão da Província
(1768). Introdução e notas de Antonio Porro. São Paulo: Edusp, 2006
(Coleção Documenta Uspiana 1), 111p. Primeira edição
anotada deste importante relato de 1768, o Roteiro
de Noronha traz informações geográficas e etnográficas sobre a Amazônia.
Segundo o organizador Antonio Porro, apesar de Noronha ser o autor setecentista
“que mais informa a respeito dos índios, o seu indianismo é paradoxal”. Isso se
explica pela alternância entre “observações atentas e enriquecedoras” e
“inexplicáveis omissões”, sobretudo no que diz respeito às “relações entre
índios e brancos nas vilas e povoados amazônicos”. Ainda assim, o Roteiro fornece indicações precisas
sobre as origens étnicas dos habitantes das vilas sob o Diretório, além de
detalhes etnográficos que não estão presentes em outros relatos.
Pinto, Renan Freitas, org. O
Diário do Padre Samuel Fritz. Manaus: EDUA/Faculdades Salesianas Dom Bosco,
2006, 272p. Reedição da tradução feita por Rodolfo Garcia e
publicada na Revista do IHGB em 1912,
o relato é acompanhado por diversos estudos antigos e atuais que esclarecem
diferentes aspectos da vida e obra do autor jesuíta. Traz também reproduções
dos mapas do rio Amazonas feitos por Fritz em 1691 e 1707. Trata-se de uma
fonte importante para a história indígena da Amazônia, com destaque para as
informações a respeito do Solimões.
Ribeiro, Darcy e Moreira Neto, Carlos de Araújo, orgs. A Fundação do
Brasil: testemunhos, 1500-1700. Petrópolis: Vozes, 1992, 447p. Preparada originalmente para uma
coleção do quinto centenário (Biblioteca Ayacucho), esta seleção de textos
abrange relatos de viajantes, correspondência de missionários, legislação e
informes administrativos, com uma certa ênfase na temática indígena. Os
extratos documentais são intercalados com comentários explicativos dos
organizadores.
Rosário, Manuel da Penha do. Língua e Inquisição no Brasil de Pombal.
Transcrição, introdução e notas de José Pereira da Silva. Rio de Janeiro: Ed.
UERJ, 1995, 116p. Este
pequeno livro transcreve as "Questões Apologéticas" redigidos por um
obscuro mercedário em 1773, contestando a política linguística pombalina ao
defender o uso da língua geral na catequese dos índios do Pará. Este manuscrito
da Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro foi editado anteriormente pelo mesmo
organizador na Revista do IHGB e nos Anais da Biblioteca Nacional
e parece ser a versão resumida e vulgarizada de um original em latim.
Estruturada em forma de perguntas e respostas fundamentadas nas Escrituras, o
texto arranha temas relevantes para a história dos índios. O organizador
acrescenta um glossário, um índice onomástico e uma pequena bibliografia de
apoio, que ajudam a esclarecer a leitura do texto.
Silva, José Bonifácio de Andrada e. Projetos para o Brasil. Org.
Miriam Dohlnikoff. São Paulo: Companhia das Letras, 1998 (Coleção Retratos do
Brasil), 371p. O
livro reúne vários escritos do Bonifácio, inclusive alguns textos inéditos, muitos
em forma de rascunho. Sobre os índios, além dos conhecidos
"Apontamentos" apresentados à Constituinte em 1823, há vários outros
textos de grande interesse sobre a história dos índios e sobre a questão da
civilização. A introdução da organizadora situa bem o autor e seus escritos.
Schmalkalden, Caspar. Brasil Holandês: A Viagem de Caspar
Schmalkalden de Amsterdã para Pernambuco no Brasil, 2 vols. Org. Dante
Martins Teixeira. Rio de Janeiro: Editora Index, 1998, 175, 192p. Edição facsimilar do manuscrito (em
alemão) pertencente à Forschungs und Landesbibliothek de Gotha, na Alemanha,
trata-se de um documento interessantíssimo para a história dos índios durante a
presença holandesa no Brasil. Pouco se sabe sobre o autor, um alemão a serviço
da Companhia das Índias Ocidentais que permaneceu poucos anos no Brasil e que
participou da expedição de Hendrick Brouwer para o Chile. O texto merece um
estudo mais detalhado no que diz respeito aos índios. Acompanha uma série de
desenhos, mapas e prospectos, alguns aquarelados, inclusive com representações
de indígenas de Pernambuco e do Chile. Há um pequeno vocabulário
alemão-brasiliano (tupi) que o autor levantou junto a um índio mestre-escola.
Contém também um vocabulário dos índios do Chile, mas os editores nos oferecem
esta pérola: “O vocabulário desta viagem ao Chile não foi traduzido por não ter
maiores significados para nós em Português” (!) O segundo volume, fartamente
ilustrado, trata da flora e fauna, trazendo os nomes em tupi, português e, às
vezes, holandês.
Vainfas, Ronaldo, org. Confissões da Bahia: Santo Ofício da
Inquisição de Lisboa. São Paulo: Companhia das Letras, 1997 (Coleção
Retratos do Brasil), 362p. Trata-se de uma nova edição, amplamente revista, corrigida e anotada, do
livro das confissões da Bahia, composto durante a visitação de Heitor Furtado
de Mendonça em 1591-92. Publicado pela primeira vez em 1922 por Capistrano de
Abreu, o livro das confissões traz depoimentos interessantíssimos sobre o
sertanismo na Bahia, sobre os mamelucos e sobre a "Santidade de
Jaguaripe", um movimento sociorreligioso entre os Tupinambá. A introdução
e notas de Ronaldo Vainfas permitem uma leitura atualizada destes documentos.
6. Pesquisa
Etnográfica: Documentos e Estudos (voltar
ao início)
Ambrosetti, Juan Bautista. Os
Índios Kaingang de San Pedro (Missiones), com um vocabulário. Trad. Thiago
Bolivar. Campinas: Curt Nimuendajú, 2006 (série Etnografia e História), 160p. Publicado
originalmente em Buenos Aires em 1894, o livro do eminente folclorista e
diretor do Museu Etnográfico recebe uma tradução anotada. Pouco explorado no
Brasil – não há sequer um exemplar em bibliotecas no país, segundo Wilmar
D’Angelis, em sua apresentação – o livro de Ambrosetti é fruto de uma viagem
para a província de Misiones, na época território disputado com o Brasil na
célebre “Questão de Palmas”. Portanto, o autor não se refere tão somente aos
Kaingang na Argentina como também traz frequentes referências a comunidades
situadas no lado brasileiro, no Paraná. Escrito para contribuir para o
conhecimento das “tribos próximas da extinção”, o livro descreve algumas
práticas observadas pelo autor e relata episódios e opiniões passadas pelo
cacique Maidana, seu principal informante, inclusive para o vocabulário. Esta
edição reproduz fotos e outras ilustrações da publicação original.
Carneiro da Cunha, Manuela, org. Tastevin, Parrisier: fontes sobre
índios e seringueiros do Alto Juruá. Rio de Janeiro: Museu do Índio-FUNAI,
2009 (Série Monografias), 247p. Ao reunir textos traduzidos por Mauro Almeida e Nicolás Niymi Campanário
há mais de uma década no interior de um projeto internacional sobre o Alto
Juruá, este livro traz aportes importantes de missionários espiritanos para
documentar um período crítico na história da região. O primeiro texto é o
interessante relato inédito do padre Jean-Baptiste Parrisier, pertencente ao
Arquivo Espiritano de Chevilly-la-Rue, França, dando conta de seis meses de uma
viagem apostólica no interior do “país da borracha”. Os restantes oito textos
são artigos publicados pelo padre Constant Tastevin em francês em revistas de
acesso nem sempre fácil, incluindo Les
Missions Catholiques, Annales
Apostoliques, La Géographie e Le Lys de St. Joseph. A breve introdução
de Manuela Carneiro da Cunha contextualiza a missão espiritana no Amazonas. Os
mapas publicados em La Géographie
(juntos com um mapa inédito do Arquivo Espiritano) e uma bibliografia completa
das publicações do padre Tastevin sobre a Amazônia figuram em anexo.
Coelho, Vera Penteado, org. Karl von den Steinen: um século de
antropologia no Xingu. São Paulo: Edusp, 1993, 632p. Excelente coletânea com 18 estudos
originais sobre diversos aspectos das expedições para o alto Xingu, comandadas
por von den Steinen em 1884 e 1887. Um belo trabalho editorial, o livro é
amplamente ilustrado com imagens atuais e da época das expedições, trazendo
ainda uma reprodução em tamanho original do mapa da expedição de 1887,
publicada em Berlim em 1893.
Faulhaber, Priscila e Monserrat, Ruth, orgs. Tastevin e a Etnografia Indígena. Rio de Janeiro: Museu do
Índio-FUNAI, 2008, 213p. Trata-se de uma coletânea de textos do
missionário-etnógrafo Constant Tastevin (1880-1958), escritos durante a sua
estada no Brasil entre 1905 e 1926 e publicados sobretudo em francês. Os textos
escolhidos pelas organizadoras foram produzidos em Tefé, no Estado do Amazonas,
e incluem informações históricas, arqueológicas, linguísticas e etnográficas a
respeito de populações indígenas e caboclas na região do Solimões e seus
afluentes. Os textos incluem notas de doze especialistas em línguas, cultura
material, zoologia, geografia, história e etnologia, esclarecendo e
enriquecendo a leitura do padre Tastevin, autor conhecido entre os estudiosos
da Amazônia ocidental porém pouco traduzido anteriormente.
Fontana, Riccardo. A Amazônia de
Ermano Stradelli. Brasília: Secretaria de Cultura do Estado de Amazonas,
2006, 92p. +mapas fora do texto. O pequeno estudo fornece algumas informações
sobre a vida e viagens do explorador italiano Ermano Stradelli (1852-1926), que
deixou uma obra interessante de estudos etnográficos e geográficos sobre a
Amazônia. O livro traz reproduções de baixa qualidade de uma excelente série de
fotos feitas na Amazônia entre 1887 e 1889 (com várias fotos de índios de
diferentes localidades), bem como uma reprodução das inscrições rupestres do
alto rio Negro, do livro Iscrizioini
Indigene della regione dell’Uaupès, publicado em Roma em 1900. O livro
inclui um encarte com dois mapas feitos por Stradelli, um do rio Uaupés (1891)
e outro do estado do Amazonas (1901).
Galvão, Eduardo. Diários de Campo entre os Tenetehara, Kaioá e Índios
do Xingú. Edição e organização de Marco Antonio Gonçalves. Rio de Janeiro:
Editora UFRJ/ Museu do Índio, 1996, 397p. Transcrição integral de diários de campo deste
notável etnólogo, marcando uma época importante na pesquisa de sociedades
indígenas no Brasil. As anotações sobre observações etnográficas, questões
práticas e outros personagens (incluindo, com destaque, Charles Wagley),
abrangem três pesquisas: entre os Tenetehara no Maranhão (1941-43), Kaiowá no
Mato Grosso [do Sul] (1946) e vários grupos no Alto Xingu (1947-1967). A
introdução de Marco Antonio Gonçalves é bastante esclarecedora e o livro inclui
um interessante caderno de fotos, retratando o etnólogo em diferentes momentos
e situações de carreira.
Grupioni, Luís Donisete Benzi. Coleções e Expedições Vigiadas: os
etnólogos no Conselho de Fiscalização das Expedições Artísticas e Científicas
no Brasil. São Paulo: Hucitec/Anpocs, 1998, 341p. Ao estudar o Conselho de
Fiscalização, o autor demonstra a intrincada relação entre a ciência e o
nacionalismo no Brasil durante o Estado Novo, mostrando também a importância do
colecionismo de artefatos para museus (sobretudo na Europa) como móvel do
contato com populações indígenas. O autor trabalha com os dossiês sobre C.
Nimuendaju, Claude Lévi-Strauss e outros etnólogos estrangeiros. Vencedor do
Prêmio da Anpocs em 1997, o livro inclui um dossiê de fotos e uma listagem de
fontes arquivados no MAST no Rio de Janeiro.
Koch-Grünberg, Theodor. Die Xingu-Expedition (1898-1900): ein Forschungstagebuch. Organizado por Michael Kraus. Colônia: Böhlau, 2004,
503p.
Transcrição e estabelecimento de texto dos diários de Koch-Grünberg durante a
expedição realizada junto com Herrmann Meyer para o alto Xingu. Os diários dão
conta de toda a viagem, desde a chegada em Buenos Aires nos últimos dias de
1898 até o regresso a Europa, nos primeiros dias de 1900. As anotações do
etnógrafo ganham densidade no Xingu, com destaque para as observações
referentes aos Bakairi. A edição inclui
algumas vinhetas tiradas dos manuscritos, incluindo desenhos feitos pelos
índios a pedido de Koch-Grünberg, além de dois encartes de fotografias,
mostrando imagens interessantíssimas realizadas em Cuiabá. O volume tem um
apêndice com artigos sobre a expedição e o etnógrafo, assinados por Anita
Hermannstädter, Mark Münzel e Michael Kraus.
Koch-Grünberg,
Theodor. A Distribuição dos Povos entre Rio Branco, Orinoco, Rio Negro e
Yapurá. Tradução, introdução e notas de Erwin Frank. Manaus: Editora da
Universidade Federal do Amazonas, 2006, 151p. Tradução de uma
parte do terceiro volume de Vom Roroima
zum Orinoco (volume publicado originalmente em 1923), o texto do etnólogo
alemão apresenta um levantamento de informações de viajantes e cientistas que
percorreram o norte da Amazônia no século XIX. Esta edição inclui a tradução de
um ensaio do botânico alemão Ernst Ule, descrevendo a sua viagem entre os
índios do rio Branco em 1908, num texto publicado originalmente no Zeitschrift für Ethnologie em 1913.
Koch-Grünberg, Theodor. Do Roraima ao Orinoco, volume 1: Observações
de uma Viagem pelo Norte do Brasil e pela Venezuela durante os Anos de 1911 a
1913. Trad. Cristina Alberts-Franco. São Paulo: Editora Unesp, 2006, 374p. Obra antes inédita em português, o
relato de Koch-Grünberg é mais do que uma narrativa de viagem, pois fornece
dados históricos e etnográficos de grande densidade, conforme apontam Nádia
Farage e Paulo Santilli em sua excelente introdução à obra. Ao enfocar
sobretudo os povos de língua Karib na região do rio Branco, o livro traz um
importante exemplo da antropologia alemã do início do século XX, que elegeu as
sociedades sul-americanas como campo privilegiado para explorar hipóteses sobre
as origens e a difusão das línguas e culturas humanas. O livro inclui uma
quantidade expressiva de fotografias de índios, de aldeias e de outros lugares
percorridos pelo autor.
Koch-Grünberg, Theodor. Dois Anos entre os Indígenas: viagens no
noroeste do Brasil (1903/1905). Manaus: Editora da Universidade Federal do
Amazonas/Faculdade Salesiana Dom Bosco, 2005, 627p. Tradução do influente relato de
viagem Zwei Jahre unter den Indianern (1909). Dotado de um olhar tão
detalhista quanto sensível, Koch-Grünberg não só se inscreve na tradição das
narrativas de viagem como também introduz uma grande quantidade de informações
etnográficas sobre vários povos do norte da Amazônia. O livro inclui dezenas de
fotos de "tipos" indígenas e de objetos de cultura material, bem como
desenhos e mapas. A tradução foi realizada por uma equipe do Centro Iauaretê de
Documentação Etnográfica e Missionária, a qual incorporou "expressões da
linguagem regional", o que convida ao cotejo com o original.
Lévi-Strauss, Claude. Saudades do Brasil. Trad. Paulo Neves. São
Paulo: Companhia das Letras, 1998, 227p. Publicado em Paris em 1994, o livro traz uma
série de fotografias feitas pelo etnólogo durante as suas viagens pelo Brasil
entre 1935 e 1939. As fotos, muito sugestivas em si, são enriquecidas por
comentários de Lévi-Strauss, alguns remetendo ao texto de Tristes Trópicos.
Os registros indígenas referem-se sobretudo aos Kadiwéu, Bororo, Nambiquara,
Tupi-Mondé e Kawahib.
Lévi-Strauss,
Claude. Tristes Trópicos. Trad. Rosa Freire D’Aguiar. São Paulo:
Companhia das Letras, 1997, 400p. Publicado originalmente em 1955, é um misto de relato de viagem e
reflexão antropológica do destacado etnólogo francês, cuja passagem pelo Brasil
nos anos de 1930 foi fundamental na sua formação. Guardadas as especificidades
contextuais, o livro proporciona uma excelente introdução à temática indígena e
ao lugar dessa discussão no mundo contemporâneo. Com o passar do tempo, também
passa a proporcionar uma espécie de documento histórico.
Machado, Maria Fátima Roberto. Museu Rondon: antropologia e
indigenismo na Universidade da Selva. Cuiabá: Entrelinhas, 2009, 335p. Muito mais do que uma história
institucional, este livro reflete sobre a trajetória do Museu Rondon, criado em
plena ditadura militar numa universidade que, desde o início, tinha um
compromisso com os estudos indígenas. Baseado em documentos e depoimentos, o
livro dedica uma parte muito interessante a “índios, indigenistas e antropólogos”,
colocando em evidência a relação nem sempre tranquila entre antropologia e
indigenismo no Brasil.
Manizer, H. H. Os Kaingang de São
Paulo. Trad. Juracilda Veiga. Campinas: Curt Nimuendajú, 2006 (série
Etnografia e História), 64p. Publicado originalmente nos anais do 23º
Congresso de Americanistas em 1930, o estudo de Manizer registra, de maneira
interessante, as observações feitas no posto do SPI que abrigava um grupo
Kaingang no noroeste do estado de São Paulo em dezembro de 1914 e janeiro de
1915. A despeito de Manizer ter feito este estudo a partir da convicção do
“desaparecimento iminente dessa tribo”, esta edição busca, de acordo com a
apresentação da tradutora, colocar o texto de Manizer finalmente “nas mãos dos
Kaingang de São Paulo e dos demais Kaingang, das áreas indígenas do sul do
Brasil, que certamente nele encontrarão eco de suas experiências culturais”. De
fato, conforme a tradutora coloca acertadamente na apresentação, o texto de
Manizer proporciona um misto de “documento histórico” e “modelo de etnografia”.
Nimuendaju, Curt. Cartas do Sertão de Curt Nimuendajú para Carlos
Estévão de Oliveira. Introdução e notas de Thekla Hartmann. Lisboa: Assírio
& Alvim/Museu Nacional de Etnologia, 2000, 396p. Abrangendo o período de 1923 a 1942,
o livro inclui as cartas de Nimuendajú sobre vários assuntos relacionados aos
índios do nordeste e da Amazônia.
Oliveira, Roberto Cardoso de. Os Diários e Suas Margens: viagem aos
territórios Terêna e Tükúna. Brasília: Editora da UnB, 2002, 346p. Além de reproduzir integralmente os
diários de campo escritos nos anos de 1950, este livro inclui, de maneira
interessante, comentários reflexivos do autor enquanto releitor de seus
próprios diários, assim apresentando um duplo registro da experiência de campo
do etnólogo. Tanto os diários quanto os comentários proporcionam uma leitura
prazerosa, não apenas pelo estilo agradável do autor como pelos detalhes e
incidentes descritos e comentados. Acompanha um pequeno dossiê fotográfico, de
caráter etnográfico e pessoal.
Ribeiro, Darcy. Diários Índios. Os
Urubus-Kaapor. São Paulo: Companhia das Letras, 1996. Escritos
entre 1949 e 1951, os diários relatam duas expedições empreendidas pelo autor
entre os índios Urubu-Kaapor, povo Tupi do Maranhão. Além da leitura
caracteristicamente agradável, os diários representam um material histórico de
grande interesse, retratando o processo de contato, o papel dos sertanistas, a
presença de populações diversas – de ex-quilombolas a índios
"aculturados" – entre muitas outras coisas. Também documentam a busca
deste autor pelas origens do Brasil, marca importante de suas obras
subsequentes.
Silva, Orlando Sampaio. Eduardo
Galvão: índios e caboclos. São Paulo: Annablume, 2007, 417p. Trata-se
de uma apreciação minuciosa de toda a obra do antropólogo Eduardo Galvão,
fornecendo um roteiro interessante de uma fase importante dos estudos
etnológicos no país, pois Galvão teve uma contribuição tanto em termos de
pesquisa etnográfica quanto em ambição teórica, entre as décadas de 1940 e 70.
Silva, Orlando Sampaio. Índios do
Tocantins. Manaus: Editora Valer, 2009 (Coleção Memória da Amazônia), 159p.
Baseado nos cadernos de campo do antropólogo, o
livro reúne uma série de observações etnográficas realizadas em meados dos anos
70, quando Sampaio e Silva estava a serviço da Sudam. “Minha missão”, nas
palavras do autor, “contemplava a constatação de quais eram os grupos indígenas
existentes naquela área do [rio Tocantins], suas situações de contatos com a
sociedade nacional inclusiva, além de proceder observações sobre mudanças
socioculturais”. O resultado é o retrato de uma época crítica na história
recente dos índios, confrontando-se a política integracionista e
desenvolvimentista do Estado e o difícil desafio da sobrevivência étnica e física
das populações indígenas face aos projetos de desenvolvimento.
7.
Catálogos de Exposições e de Coleções (voltar
ao início)
Aguilar, Nelson, org. Artes Indígenas. São Paulo: BrasilConnects,
2002, 215p. Catálogo
da exposição realizada no interior da Mostra do Redescobrimento, o livro
oferece belas reproduções de objetos de cultura material de vários povos,
presente e passado. Edição bilíngue português-inglês.
Belluzzo, Ana Maria de Moraes et alii. Do Contato ao Confronto: a
conquista de Guarapuava no século XVIII. São Paulo: BNP Paribas, 2003,
144p. Edição
requintada das estampas da Coleção Beatriz e Mário Pimenta Camargo, uma série
de aquarelas atribuídas a Joaquim José Miranda, retratando cenas de contato
entre uma expedição portuguesa e índios Kaingang no sertão do Tibagi, atual
Paraná, por volta de 1770. Além da reprodução definitiva das aquarelas, o livro
inclui artigos de Marta Rosa Amoroso, Nicolau Sevcenko, Ana Maria Belluzzo e
Valéria Piccoli. Edição bilíngue português-francês.
Belluzzo, Ana Maria de Moraes. O Brasil dos Viajantes. 2a
ed., São Paulo: Fundação Odebrecht/Metalivros, 1999 (3 vols. em 1), 156, 168 e
192p. Catálogo de
uma bem-sucedida exposição, o livro oferece belas reproduções de representações
artísticas de temas brasileiros, com algum destaque para a temática indígena. O
primeiro volume, sobre o "Imaginário do Novo Mundo", enfoca as
imagens dos índios nas gravuras impressas, em mapas e na pintura, do início do
século XVI ao período holandês. O segundo volume, "Um Lugar no
Universo", dá ênfase à construção dos saberes científicos, de Frei
Cristóvão de Lisboa (século XVII) à expedição de Agassiz em 1865-66. Também
estão reproduzidas imagens, algumas menos conhecidas, das viagens de Alexandre Rodrigues
Ferreira, Maximiliano Príncipe de Wied-Neuwied, Debret, Rugendas e Keller. O
terceiro volume, "A Construção da Paisagem", inclui algumas poucas
representações de índios no contexto da natureza luxuriante. Os três volumes
trazem abundantes notas biográficas (sobre viajantes e artistas) e indicações
bibliográficas.
Berlowicz, Barbara; Due, Berete; Pentz, Peter; e Waehle, Espen, orgs. Albert Eckhout Volta ao Brasil, 1644-2002.
Copenhagen: Nationalmuseet, 2002, 228p. Este catálogo
acompanhou a exposição de 24 quadros de Albert Eckhout referentes ao Brasil,
pertencentes ao Museu Nacional da Dinamarca e mostrados em quatro cidades
brasileiras (Recife, Brasília, São Paulo e Rio de Janeiro) em 2002-2003. Além
da reprodução dos quadros, o catálogo traz 14 artigos curtos sobre diversos
aspectos da coleção e do contexto de sua produção e circulação. De especial
interesse são os textos de Rebecca Brienen, que faz uma reconstrução
especulativa sobre a função e disposição dos quadros no Palácio Vrijburg, na
ilha Antônio Vaz; de Bente Gundestrup sobre o lugar desses mesmos quadros no
gabinete de artes e curiosidades do Rei Frederik III da Dinamarca; de Ernst van
den Boogaart, que realiza uma instigante análise dos quadros etnográficos,
propondo uma leitura deles enquanto série ordenada hierarquicamente por “grau
de civilidade”; de Dante Martins Teixeira, que estuda a relação entre os óleos
pintados por Eckhout e os desenhos do Thierbuch
de Zacharias Wagener, apresentando os textos de Wagener que acompanham cada
desenho; de Berete Due sobre os artefatos ameríndios e africanos que fazem
parte da coleção do mesmo gabinete dos quadros; e de Barbara Berlowicz, tecendo
algumas considerações sobre conteúdo e técnica, chegando à conclusão de que o
conteúdo etnográfico dos quadros “é menos realista do que se supõe
normalmente”. A edição é bilíngue português-inglês.
Brienen, Rebecca Parker. Albert
Eckhout – Visões do Paraíso Selvagem: Obra Completa. São Paulo: Capivara,
2010, 432p. Com a reprodução e análise de mais de 800 imagens, este
catálogo raisonné representa uma
apreciação definitiva da obra do artista que deixou registros visuais
preciosos, com algum destaque para a temática indígena. O texto é baseado no
livro desta mesma autora (ver detalhes acima na primeira seção).
Brito, Joaquim Pais de, org. Os Índios, Nós. Lisboa: Museu
Nacional de Etnologia, 2000. Catálogo de uma exposição realizada no Museu Nacional de Etnologia, este
livro inclui artigos de especialistas em história, etnologia, linguística e
arte indígena. Os objetos e ilustrações da exposição abrangem vários séculos,
porém estão dispostos em forma não-linear, colocando a ênfase menos nas
transformações ocorridas e mais na persistente vitalidade da diversidade
indígena. Figuram com destaque os objetos de coleções etnográficas, das viagens
científicas do século XVIII às expedições antropológicas do século XX.
Cardoso, Rafael; Bandeira, Júlio et alii. Castro Maya Colecionador de
Debret. São Paulo: Capivara, 2003, 264p. Trata-se de um catálogo geral da coleção de
aquarelas, esboços e documentos adquirida por Raymundo Ottoni de Castro Maya
junto aos descendentes de Debret em Paris em 1939. Na série "Tipos
Índios", Debret tematiza trajes, práticas sociais e cultura material com
algum destaque para a região leste (Botocudo, Puri, Maxakali, Camacã), porém
com ilustrações interessantes de Guaicuru, Guarani e "caboclos
civilizados", inclusive da cidade do Rio de Janeiro. São muito ricas
(porém mal identificadas) as aquarelas de máscaras indígenas. O livro inclui
estudos sobre Debret e a coleção.
Corrêa do Lago, Pedro, e Corrêa do Lago, Bia. Coleção Princesa Isabel: fotografias do século XIX. São Paulo:
Editora Capivara, 2008, 432p. O livro disponibiliza reproduções de uma
coleção de mais de mil fotografias pertencentes à Princesa Isabel. Embora não
seja um tema prioritário, a presença indígena está espalhada pelo livro, desde
imagens da época da Exposição Antropológica no Rio de Janeiro (1882), aos
retratos de dois sertanistas negros (Tenente Antônio José Duarte e Manoel Urbano
de Encarnação) no final do Império, às fotos tiradas por Barbosa Rodrigues na
Amazônia ocidental (1889), ao retrato de um jovem índio com roupa de marinheiro
(c. 1890), aos retratos de índios feitos no estúdio de Teixeira e Vázquez (c.
1892).
Dias, Jill, org. Brasil nas Vésperas do Mundo Moderno. Lisboa:
Comissão Nacional para as Comemorações dos Descobrimentos Portugueses, [1991],
262p. Catálogo do
segmento sobre o Brasil da exposição Nas Vésperas do Mundo Moderno: África e
Brasil, realizada em 1992 no Museu Nacional de Etnologia em Lisboa. Sobre a
história dos índios, o livro inclui densos capítulos de Anna Roosevelt, João da
Rocha Pinto, Luís Felipe de Alencastro, John Monteiro e Ângela Domingues.
Dentre os itens relacionados no catálogo, muitos dos quais expostos pela
primeira vez porém que se tornaram mais conhecidos em exposições subsequentes,
destacam-se os objetos da Viagem Filosófica de Alexandre Rodrigues Ferreira que
estão depositados na Academia de Ciências de Lisboa. Além das máscaras, armas e
adornos, chama a atenção a belíssima cerâmica produzida pelas índias das vilas
de Monte Alegre e Barcelos, tal qual descrita nas memórias de Ferreira e
reproduzida nas estampas desenhadas pelos riscadores que acompanharam a viagem.
Diener, Pablo e Costa, Maria de Fátima. Rugendas e o Brasil. São
Paulo: Capivara, 2002, 376p. Fruto de um projeto ambicioso, este livro cataloga e reproduz a vasta
produção artística de Johann Moritz Rugendas no que se refere ao Brasil. Os
estudos que acompanham as ilustrações trazem aportes significativos para o
conhecimento do "artista-viajante", situando a sua produção
brasileira no contexto mais amplo de sua obra, que também abrange outras partes
da América Latina, notadamente México, Chile, Argentina e Peru. Complementando
as gravuras que acompanham a Voyage Pittoresque dans le Brésil (1835),
os autores reuniram uma grande quantidade de obras de coleções particulares,
incluindo quadros a óleo, estudos e aquarelas. Para além das imagens mais
conhecidas através da Viagem Pitoresca, a temática indígena aparece em
algumas telas sobre a paisagem e numa curiosa representação da "Primeira
Missa Celebrada em São Vicente", uma tela de traços orientalistas.
Erikson,
Philippe, org. La pirogue ivre: bières
traditionelles en Amazonie. Nanterre: Laboratoire d’Ethnologie et de Sociologie
Comparative/Musée Français de la Brasserie, 2006, 146p. Preparado como catálogo para acompanhar a exposição “Cervejas
Tradicionais da Amazônia”, realizada no Musée Français de la Brasserie em Saint
Nicolas-de-Port, na França, o volume traz um conjunto expressivo de pequenos
artigos etnográficos e etnohistóricos a respeito do lugar das bebidas
alcoólicas fermentadas entre os povos indígenas da América do Sul
contemporânea. Não podiam faltar, é claro, amplas referências e um estudo mais
pontual (de Renato Sztutman) de fontes sobre os Tupinambá dos séculos XVI e
XVII. Além de fotografias e ilustrações etnográficas, o livro inclui um breve
anexo com trechos de materiais históricos, de Staden, Thevet e Léry a Crevaux,
Nordenskiold e Métraux. O livro fecha com um conjunto de receitas – sem a
advertência de não tentar fazer em casa – reunidas por pesquisadores em vários
momentos diferentes
Fernandes Jr., Rubens e Lago, Pedro Corrêa do. O Século XIX na
Fotografia Brasileira: Coleção Pedro Corrêa do Lago. Rio de Janeiro:
Francisco Alves, s/d, 192p. Neste catálogo de uma exposição, são de interesse para a história dos
índios alguns retratos feitos entre 1875 e 1885 por Marc Ferrez (Kaiowá,
Kayapó, Apiacá, Botocudo); duas fotos de um álbum com dez fotografias tiradas
por Emílio Goeldi em Goiás em 1889 (Krahó); e duas fotos de Albert Fritsch no
Amazonas em 1865 (grupo não identificado). O texto fornece algumas informações
sobre os fotógrafos.
Fric, Pavel. Guido Boggiani, Fotógrafo. Lisboa: Museu Nacional de
Etnologia, 2001, 79p.
Belíssimo catálogo da exposição de fotos registradas por Boggiani em sua
segunda viagem para a América do Sul, na qual buscava conservar "a memória
documentada" de povos "em vias de total extinção". Devido às
circunstâncias da morte do aventureiro, muitas fotos (inclusive dos Kadiwéu)
foram destruídas, porém graças aos esforços do viajante e etnógrafo tcheco
Albert Vojtech Fric (1882-1944), uma parte expressiva da coleção de chapas de
vidro voltou para a Europa e permaneceu encaixotada por quase um século. O
livro reproduz sobretudo os registros feitos entre os Chamacoco no Paraguai, em
fotos que misturam estilos de fotografia, seja no modo antropológico, artístico
ou mesmo informal.
Gauditano, Rosa, org. Aldeias Guarani Mbya na Cidade de São Paulo/
Nhandekuery mbya rekoa São Paulo tetã mbyte re. Edição trilingue
português-guarani-inglês. São Paulo: Studio RG e Associação Guarani Tenonde
Porã, 2006, 79p. Este
livro acompanhou a exposição realizada na Caixa Cultural em 2006. Traz
depoimentos de lideranças indígenas que relatam as origens das quatro aldeias
mbyá existentes no município de São Paulo. De especial interesse é o depoimento
do cacique Vera Popygua, de Tenonde Porã (Morro da Saudade), que oferece uma
reinterpretação da presença histórica dos Guarani em terras paulistas. Além das
belíssimas fotos feitas por Rosa Gauditano, o livro também inclui desenhos
realizados por moradores destas aldeias.
Gomes, Denise Maria Cavalcante. Cerâmica Arqueológica da Amazônia:
vasilhas da Coleção Tapajônica MAE-USP. São Paulo: Edusp/Imprensa Oficial,
2002, 360p. Este
belo trabalho, além de oferecer um catálogo ilustrado das peças tapajônicas da
coleção do museu, apresenta um estudo bem documentado do desenvolvimento cultural
numa região da Amazônia. De particular interesse é o capítulo que coteja as
evidências da coleção de cerâmicas com as hipóteses sobre a formação de
cacicados, com base nos dados arqueológicos e etnohistóricos.
Grupioni, Luís Donisete Benzi, org. Índios no Brasil. São Paulo:
Secretaria Municipal da Cultura, 1992 (reeditado duas vezes pelo MEC), 279p. Catálogo da exposição organizada em
torno do Quinto Centenário da viagem de Colombo, este livro inclui excelentes
artigos que buscam introduzir o leitor leigo à temática indígena. Fartamente
ilustrada, o livro torna acessível aspectos da história e da cultura das
sociedades indígenas, mostrando a diversidade e a complexidade do tema.
Monteiro, Salvador e Kaz, Leonel, orgs. Expedição Langsdorff ao Brasil,
1821-1829: Rugendas, Taunay, Florence. Rio de Janeiro: Edições
Alumbramento, 1998, 412p. Edição luxuosa da iconografia pertencente ao Arquivo da Academia de
Ciências da Rússia, em São Petersburgo, produzida durante a expedição
científica comandada pelo barão Grigory Ivanovitch (Georg Heinrich) Langsdorff
na década de 1820. O livro está dividido por artista, cada qual contribuindo
com desenhos etnográficos. Na parte de Johann Moritz Rugendas, são reproduzidos
esboços de índios Maxakali; de Aimé Adrien Taunay, há retratos aquarelados de
índios e mestiços de origem Paresi e Chiquito, bem como imagens muito
evocativas de índios Bororo, mostrando a pintura corporal e objetos de cultura
material; e de Hércules Florence, há belíssimas imagens de índios Guató, Guaná,
Cabixi, Apiaká e Munduruku. Notas esclarecedoras acompanham os dossiês de
imagens.
Schoepf, Daniel. George Huebner, 1862-1935: um fotógrafo em Manaus.
2a ed., São Paulo: Metalivros, 2005, 216p. Não se trata, na verdade, de uma
segunda edição mas sim da edição em português do catálogo de exposição
publicado originalmente em francês pelo Museu de Etnografia de Genebra em 2000.
O livro é excepcional, com um estudo pormenorizado deste fotógrafo praticamente
esquecido e uma reprodução de fotos marcantes tiradas na Amazônia peruana,
venezuelana e brasileira entre 1888 e 1920. Dentre os grupos retratados,
figuram os Conibo, Piro, Shipibo, Campa, Cashibo, Ahuishiri, Makuxi, Wapixana e
Canela. Além destas fotos inéditas, o livro também reúne um conjunto de cartas
inéditas do fotógrafo a seu amigo o etnógrafo Theodor Koch-Grünberg, com
detalhes interessantes sobre os Yauaperys (Waimiri-Atroari), sobre os trabalhos
etnográficos no Rio Branco, sobre a investigação de Roger Casement nas
propriedades de J. C. Araña e sobre a expedição Roosevelt-Rondon.
Silva, Fabíola Andrea
e Gordon, César, orgs., Xikrin: uma coleção etnográfica, São Paulo:
Edusp, 2012, 324p. Belo volume que retrata, através de textos, fotografias e um rico
depoimento da etnóloga Lux Vidal, a coleção de artefatos da cultura material
xikrin, reunida ao longo de 30 anos por Vidal, a principal estudiosa deste povo
indígena. O depoimento e outros textos fornece importantes subsídios para a
história dos Xikin, bem como perspectivas importantes sobre arte e cultura.
Inclui um catálogo ilustrado da coleção.
Soares, João Paulo Monteiro e
Ferrão, Cristina, orgs., Viagem ao Brasil de Alexandre Rodrigues Ferreira,
2 vols. São Paulo: Kapa Editorial/Fundação Vitae, 2002, 312, 157p. De produção esmerada, estes volumes
reproduzem o exemplar do Museu Bocage (Lisboa) das aquarelas realizadas para
ilustrar a “Viagem Filosófica”. O primeiro volume é composto por “Desenhos de
Gentios, Animais Quadrúpedes, Aves, Anfíbios, Peixes e Insetos” e o segundo por
“Prospectos de Cidades, Vilas, Povoações, Fortalezas e Edifícios, Rios e
Cachoeiras”. As ilustrações representando índios de diferentes grupos são de
especial interesse, pois trazem informações ausentes ou equivocadas na versão
mais conhecida destas imagens, pertencente ao Museu Nacional do Rio de Janeiro.
Já os prospectos incluem vários desenhos que não fazem parte da outra coleção e
que são de interesse para os estudiosos das populações indígenas. As figuras
referentes aos índios são pouco esclarecidas porém a parte zoológica traz notas
detalhadas de Nelson Papavero e Dante Martins Teixeira.
Soares, João Paulo Monteiro e
Ferrão, Cristina, orgs., Viagem ao Brasil de Alexandre Rodrigues Ferreira:
Coleção Etnográfica, 3 vols. São Paulo: Kapa Editorial/Fundação Vitae,
2005, 240, 200, 80p. Publicação
importante e oportuníssima que divulga os acervos de cultura material reunidos
durante a “Viagem Filosófica” e guardados na Academia de Ciências de Lisboa
(vol. 1) e no Museu Antropológico da Universidade de Coimbra (vol. 2). Se os textos
introdutórios apresentam poucas novidades, as imagens são preciosas e
poderosas, com fotografias de excelente qualidade, constituindo um catálogo
completo das duas coleções. Chamam especial atenção as cerâmicas produzidas
pelas índias das vilas pombalinas de Barcelos e Monte Alegre; as máscaras
cerimoniais dos índios Jurupixuna; as coifas Munduruku; os trançados de palha e
de missangas; as clavas, remos e pranchetas, ricamente decorados; enfim, a
lista completa de objetos seria longa. Vários objetos trazem descrições mais
detalhadas, baseadas nas anotações feitas pela etnóloga Thekla Hartmann nos
anos 80. O terceiro volume inclui a transcrição de alguns manuscritos da
Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro, oferecendo algumas informações que
esclarecem a origem e características das peças colecionadas e complementam as
estampas iconográficas, algumas das quais reproduzidas neste volume.
8. Narrativas e
Autores Indígenas (voltar ao
início)
Almeida, Rita Heloísa de, org. Aldeamento do Carretão segundo os seus
Herdeiros Tapuios: conversas gravadas em 1980 e 1983. Brasília:
Funai/CGDOC, 2003, 422p. Este livro reproduz as entrevistas – na verdade, conforme explica a
autora, conversas – realizadas com os habitantes do antigo aldeamento de
Carretão ou Pedro III, em Goiás. Voltados inicialmente para informar a FUNAI
sobre os conflitos na região e, em seguida, para subsidiar a dissertação de
mestrado da autora, os levantamentos aqui apresentados fornecem detalhes
bastante interessantes sobre a identidade étnica, sobre a história fundiária e
sobre a memória. Além de depoimentos de Tapuios, também há entrevistas com
posseiros e fazendeiros que contam outra história. O livro traz, ainda, um
pequeno anexo documental.
Borges, Paulo Humberto Porto. Ymã, Ano Mil e Quinhentos: relatos e
memórias indígenas sobre a conquista. Campinas: Mercado das Letras, 2000,
168p. Interessante
trabalho sobre uma experiência educacional na escola indígena de uma comunidade
Guarani no Rio de Janeiro. Confronta-se a memória oral com os registros
escritos da história dos últimos 500 anos, mostrando as ricas possibilidades de
diálogo entre formas diferentes de pensar a história. O livro traz depoimentos
de alunos e professores indígenas, ilustrando os resultados da experiência, com
destaque para o trabalho realizado com ilustrações.
Ferreira, Mariana Kawall Leal. Histórias do Xingu. São
Paulo: Núcleo de História Indígena e do Indigenismo, 1993. A autora reúne e comenta numa
excelente introdução várias narrativas de índios de diferentes grupos étnicos
residentes no Parque Indígena do Xingu. Além de versões de mitos que se
entrelaçam com memórias históricas, são de particular interesse as
reconstituições das origens do contato e do estabelecimento do Parque.
Flória, Cristina, e Fernandes, Ricardo Muniz, orgs. Tradição
e Resistência: Encontro de Povos Indígenas. São Paulo: Edições SESC-SP,
2008, 328p. +DVD e Mapa. Este volume documenta, com
textos e fotos, o evento realizado em junho e julho de 2004 no SESC-Belenzinho,
na capital paulista, reunindo representantes de 16 povos indígenas. Os textos
reproduzem as falas de 25 expositores, em sua maioria índios, agrupadas nos
grandes temas de meio ambiente, política e territorialidade, e cultura. Embora
raramente tratada de maneira explícita, a dimensão histórica das culturas
representadas está sempre presente, mesmo se codificada nas categorias que dão
o título do livro. Uma seleção dos depoimentos indígenas realizados durante o
encontro aparece no DVD, junto com cenas filmadas em diversas aldeias,
conferindo uma visualidade à noção de tradição através da confecção de
artefatos e da realização de rituais. O livro inclui a versão dos textos para o
inglês.
Garcia, Wilson Galhego, org. Nhande Rembypy. Nossas Origens. São
Paulo: Editora Unesp, 2003, 770p. Fruto subsidiário de uma pesquisa sobre o universo botânico dos Kaiowá,
este livro reúne um grande número de cântigos, narrativas e depoimentos de
índios enfocando sobretudo o tema da origem dos Kaiowá e de suas práticas
culturais. Apesar de um índice temático abrangente, o livro é difícil de
manusear e de apreciar. Há informações e perspectivas interessantes sobre a
história dos Kaiowá, porém o organizador não deixa claro quem são os
narradores, que ficam diluídos numa categoria geral de “informantes”. Ainda
assim, conforme salienta Sílvia Carvalho na orelha do livro, a obra tem uma
escala monumental que reflete a longa experiência do organizador entre os
índios e, ademais, através da colaboração do tradutor Kaiowá Aniceto Ribeiro, a
edição bilíngue contribui para colocar um material ao alcance de estudantes
indígenas.
Gentil, Gabriel dos Santos. Povo
Tukano: cultura, história e valores. Manaus: Editora da Universidade Federal
do Amazonas, 2005 (Série Autores Indígenas), 291p. Escrito pelo kumu (iniciado) tukano Séribhi Tëoñari,
da aldeia Pari-Cachoeira no rio Tiquié (Noroeste da Amazônia), o livro busca
reunir informações sobre a cultura e história dos povos Tukano, com destaque
para os “saberes dos pajés”.
Jecupé, Kaka Werá. A Terra dos Mil Povos: História Indígena do
Brasil Contado por um Índio. 2a ed. São Paulo; Editora Fundação
Peirópolis, 1998 (Série Educação para a Paz), 115p. Iniciativa do Instituto Nova Tribo,
criado pelo autor em 1994, o livro reúne uma sequência de textos curtos sobre
vários aspectos da história dos povos indígenas no Brasil desde 1500. O autor
intercala informações de vários tipos, navegando entre mitos ameríndios,
referências à arqueologia e à historiografia, dados informativos e experiência
pessoal.
Jekupé, Olívio. Xerekó Arandu. A Morte de Kretã. Ilustrado por
Maté. São Paulo e Guarulhos: Peirópolis e Palavra de Índio, 2002, 56p. Neste livro, o autor Tupã, “um
guarani crescido na cidade”, relata conversas que teve com vários
interlocutores no Paraná, no período em que estudava filosofia numa faculdade
em Curitiba, no final dos anos 80. Rememora, de forma interessante, os desafios
que enfrentavam o movimento indígena naquela conjuntura crítica. O livro
culmina com um relato da morte do líder kaingang Ângelo Kretã, vítima de um
acidente automobilístico em janeiro de 1980, em circunstâncias que indicam que
houve um atentado. Mártir, Kretã se tornou um símbolo da luta pela terra e
pelos direitos indígenas e, ao sublinhar o caráter carismático deste líder, o
autor deste livro reivindica a necessidade atual de lideranças como Kretã,
“pois um povo sem líder é como um rebanho perdido nos campos”.
Maná, Joaquim Paula, coord. Shenipabu Miyui: história dos antigos.
2a ed. revisada. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2000, 168p. Iniciativa da Comissão Pró-Índio do
Acre e da Organização dos Professores Indígenas do Acre, o livro reúne a
transcrição de narrativas de memória oral coletadas em várias aldeias Kaxinawá dos
rios Jordão e Purus. De autoria coletiva, o livro surgiu de uma iniciativa do
professor e liderança indígena Osair Sales Siã, que viajou pelas aldeias
Kaxinauá no Peru para gravar as narrativas. O livro, editado em Kaxinawá e
português, inclui desenhos feitos por índios.
Medeiros, Sérgio, org. Makunaíma e Jurupari: Cosmogonias Ameríndias.
São Paulo: Editora Perspectiva, 2002, 413p. (Coleção Textos 13). Este livro reproduz e comenta as
coletâneas de mitos e lendas feitas pelos etnógrafos Theodor Koch-Grünberg e
Ermanno Stradelli há mais de um século. No caso de Stradelli, é a primeira
tradução integral para o português da versão da “Lenda de Jurupari”,
inicialmente redigida em nhengatu por Maximiano José Roberto, filho mestiço de
uma índia Tariana da região do Uaupés, e publicada em italiano em 1890.
Meihy, José Carlos Sebe Bom. Canto de Morte Kaiowá: história oral e
de vida. São Paulo: Edições Loyola, 1991, 303p. Motivado inicialmente pela perplexidade
diante do surto de suicídios de jovens Kaiowá na Reserva Francisco Horta
Barbosa em Dourados MS, o projeto que resultou neste livro se abriu para um
registro bastante interessante de narrativas, conduzidas e transcritas mediante
técnicas de história oral. São 16 textos, em sua maioria de narradores
indígenas, que incluem reflexões não apenas sobre o cotidiano como também sobre
o passado.
Pataxó, Katão. Trioká Hakão Pataxi: Caminhando pela História Pataxó. Salvador:
Gráfica Santa Helena, 2001, 75p. O autor relata a história dos índios desde a chegada dos portugueses
aos dias de hoje, enfocando particularmente o povo Pataxó do sul da Bahia.
Inclui algumas lendas e um vocabulário.
Ribeiro, Eduardo Magalhães, org. Lembranças da Terra: histórias do
Mucuri e Jequitinhonha. Belo Horizonte: Cedefes, s/d. O livro reúne depoimentos de
viajantes e moradores na região. No que diz respeito à temática indígena, há a
notável narrativa de Domingos Ramos Pacó, um professor Botocudo (nascido em
Itambacuri) que, em 1918, colocou no papel uma história do contato entre
missionários e Botocudos a partir de uma perspectiva indígena: "Hámbric
anhamprá ti mattâ nhiñchopón? 1918" (pp. 198-211), com comentário
esclarecedor do organizador.