A última coisa humana?
a música na fronteira entre humanidade e animalidade
Resumo
O presente texto é tecido nas inquietações sobre o limiar entre humanidade e animalidade. Depois das discussões sobre a linguagem, a modulação das emoções, a consciência da morte e a própria razão, identifica-se um resto que continua a ser defendido por alguns como característica exclusivamente humana: a música. As reflexões aqui apresentadas: têm origem na dissociação entre reprodução/imitação e produção musical, a partir de uma assertiva de D’Arezzo; ganham reforço nas provocações de Chabanon sobre o caráter não-imitativo da música e suas condições nos animais, selvagens e crianças; encaminham-se para as ideias de Derrida, de onde são destacadas as distinções entre bestialidade e soberania e a crítica ao singular genérico animal, e de Merleau-Ponty, com os conceitos de mundo percebido e Unwelt.
Referências
ADENOT, Pauline. Les musiciens d’orchestre. De la vocation au désenchantement. Paris: L’Harmattan, 2008.
AGAMBEN, Giorgio. O aberto: o homem e o animal. Trad. Pedro Mendes. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2013.
CASTRO, Marcos C. Educação: o campo maior de aplicação da pesquisa em música. Anais – Simpósio de Estética e Filosofia da Música. Porto Alegre, v.1, n.1, pp.44-53, 2013.
D’AREZZO, Guido. Regule rithmice. In: INSTITUTE OF MEDIAEVAL MUSIC, Guido D’Arezzo. Regule rithmice, Prologus in antiphonarium, and Epistola ad Michahehem. Otawa, Canada: Instituto de Mediaeval Music, 1999.
DERRIDA, Jacques. A besta e o soberano (Seminário): vol.1. Michel Lisse, Marie-Louise Mallet, Ginete Michaud (orgs). 1 ed. Rio de Janeiro: Via Verita, 2016.
_________. O animal que logo sou. 2.ed. Trad. Fábio Landa. São Paulo: Ed.Unesp, 2011.
_________. Cette nuit dans la nuit de la nuit… . Rue Descartes, n.42, Politiques de la communauté, pp.112-127, 2003. http://www.jstor.org/stable/40978797. [Consulta: 09 de novembro de 2015].
_________. Points de suspension. Entretiens. Elisabeth Weber (org). Paris: Galilée, 1992.
DESCOLA, Philippe. Estrutura ou sentimento: a relação com o animal na Amazônia. Maná, v.4, n.1, pp.23-45, 1998.
GOEHR, Lygia. 2012. Music is marvelous, but not mysterious. Interview. Aeon Media Group. Prod.Kellen Quin, Interv.Nigel Warburton, Ed.Adam D’Arpino. https://aeon.co/videos/music-is-marvellous-but-not-mysterious-an-interview-with-lygia-goehr. [Consulta: 12 de abril de 2019].
_________. The imaginary museum of musical works. Oxford: Claredon Press, 1992.
GRAY, P.M.; KRAUSE, B.; ATEMA, J.; PAYNE, R.; KRUMHANSL, C.; BAPTISTA, L. The Music of Nature and the Nature of Music. Science, v.291, n.5501, p.52-54, 2001.
GRUZINSKI, Serge. La pensée métisse. Paris: Librairie Arthème Fayard/Pluriel, 2012.
HODEIR, André. As formas da música. Lisboa: Edições 70, 2002.
M CHE, François-Bernard. La forme en musique. In: CHANGEUX, Jean-Pierre (org). La vie des formes et les formes de la vie. Paris: Odile Jacob, pp.265-281, 2012.
MERLEAU-PONTY, Maurice. Conversas. Trad. F. Landa; E. Landa. São Paulo: Martins Fontes, 2004.
__________. A Natureza: notas: cursos no Collège de France. Anot. Dominique Séglard. Trad. Álvaro Cabral. São Paulo: Martins Fontes, 2000.
__________. Fenomenologia da percepção. Trad. Carlos A. R. Moura. 2 ed. São Paulo: Martins Fontes, 1999.
__________. O visível e o invisível. Trad. José A. Gianotti e Armando M. Oliveira. São Paulo: Perspectiva. 1984.
PICCHI, Achille G. A música e os inícios do homem. Mimesis, Bauru, v.29, n.2, pp.43-48, 2008.
PINKER, S. How the mind works. 1.ed. London: Penguin Books, 1998.
RODRIGUES, Felipe V. Fisiologia da música: uma abordagem comparativa. Revista de Biologia, v.2, pp.12-17, 2008.
SEEGER, Anthony. Por que os índios Suyá cantam para suas irmãs? In: VELHO, G. (Org.) Arte e Sociedade: ensaios de sociologia da arte. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1977.
SMALL, Christopher. Musicking: the meanings of performing and listening. Middletown, Connecticut: Wesleyan University Press, p.1998.
_______. The social character of music. In: Sociological review monograph 34. Lost in music: culture, style and musical evente. London/New York: Avron Levine White, Routledge & Kegan Paul, 1987.
TOMÁS, Lia. A procura da música sem sombra: Chabanon e a autonomia da música no século XVIII. São Paulo: Cultura Acadêmica, 2011.
UEXKÜLL, Jacob von. Mondes animaux et monde humaines suivi de Théorie de La signification. Illustrations de Georges Kriszat. Traduction et présentation de Philippe Muller. Paris: Éditions Denöel, 1956.
UEXKÜLL, Thure von. A teoria da Umwelt de Jakob von Uexküll. Galáxia, n. 7, pp.19-48, 2004.
VALENTIM, Marco A. Extramundanidade e sobrenatureza: para uma crítica da antropologia filosófica. In: I Encontro de Fenomenologia: Fenômeno/Mundo, Universidade Federal do Maranhão, São Luís/MA, 2013.
VIVEIROS DE CASTRO, Eduardo. Os pronomes cosmológicos e o perspectivismo ameríndio. Maná, v.2, n.2, pp.115-144, 1996.
Licença Crative Commons (CC-BY) https://creativecommons.org/licenses/by/3.0/br/