Tese do IFCH vence o Prêmio Capes 2019

Data da publicação: ter, 18/02/2020 - 13h50min

A Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) divulgou os vencedores do Prêmio Capes de Teses 2019. Entre as pesquisas escolhidas, quatro teses defendidas na Unicamp, sendo elas uma do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas, de autoria de Bruno Ramos Mendonça sob orientação do professor Walter Carnielli, do Programa de Pós-Graduação em Filosofia do IFCH e ex-coordenador do Centro de Lógica, Epistemologia e História da Ciência (CLE-Unicamp).

O Prêmio Capes premia as melhores teses de doutorado defendidas em 2018 no Brasil e selecionadas em cada uma das 49 áreas de avaliação reconhecidas nos Programas de Pós-Graduação. A cerimônia do Prêmio CAPES de Tese 2019 está prevista para o dia 12 de dezembro, em Brasília. Os vencedores receberão certificados,  medalhas e uma bolsa para realização de estágio pós-doutoral em instituição nacional. Já os orientadores receberão certificado e prêmio ao orientador para participação em evento acadêmico-científico nacional.

Atualmente professor da Universidade Estadual do Paraná (Unespar) no campus de campus União da Vitória, Bruno Ramos Mendonça defendeu em maio de 2018 a tese Traditional theory of semantic information without scandal of deduction: A moderately externalist reassessment of the topic based on urn semantics and a paraconsistent application, que trata do tema da informação semântica. 

O pesquisador explica que se diz normalmente que os enunciados de uma linguagem veiculam informação, e os filósofos e teóricos da informação têm se interessado por desenvolver métodos para medir a quantidade de informação veiculada por uma sentença. "O problema é que a teoria tradicional sobre o assunto, proposta ainda na década de 1950 pelo filósofo Rudolf Carnap entende que as verdades lógico-matemáticas são informacionalmente vazias. No entanto, isso não pode ser verdade: nós por vezes nos surpreendemos ao descobrir que um certo enunciado matemático (pense por exemplo na conjectura de Goldbach) é verdadeiro e nesse sentido seria correto dizer que o conteúdo do enunciado em questão aumentou a nossa informação sobre o assunto", explica Bruno, que buscou desenvolver uma revisão da teoria tradicional da informação semântica de modo a torná-la capaz de reconhecer a informatividade real dos enunciados lógico-matemáticos. 

Bruno Mendonça conta que sua pesquisa não é uma continuação imediata de seus estudos de mestrado e de iniciação científica, mas guardam uma conexão importante e foram fundamentais para a pesquisa que acaba de ser premiada. "Durante meus estudos na Universidade Federal de Santa Maria, sob orientação do professor Frank Sautter, eu estudei certas concepções informacionais da natureza da lógica. Depois, quando eu comecei meus estudos de doutorado na Unicamp sob orientação do professor Walter Carnielli, na busca por um projeto de tese, a primeira ideia que tive foi me aprofundar nos temas sobre informação e esse aprofundamento da pesquisa levou a tese que eu, por fim, defendi". 

Segundo o orientador da tese, Walter Carnielli, Bruno Mendonça é um estudante excepcional que brilharia em qualquer programa de pós-graduação nas melhores universidades do mundo. "O tema da sua tese de doutorado é um tanto complexo, e parece se distanciar do conjunto do trabalho desenvolvido pelo Programa de Pós-Graduação em Filosofia, mas isso é apenas aparência. Na realidade, o trabalho está completamente inserido na interseção entre Filosofia e Lógica, e tem uma importante dimensão internacional".

A vinda de Bruno Mendonça para a pós-graduação da Unicamp fez parte de seu interesse em se especializar como lógico. “Na UFSM, dado o seu desenho institucional, não era possível eu fazer um curso regular de lógica em nível de pós-graduação com as suas diferentes disciplinas básicas, como teoria de conjuntos, teoria de modelos, computabilidade, etc, tal como eu pude fazer na Unicamp, onde se tem um centro de pesquisa especializado no estudo da lógica e de referência internacional. Nesse sentido, o trabalho que realizei é muito devedor da estrutura institucional da Unicamp, em especial do CLE e do IFCH, do seu grupo de professores e pesquisadores. Não seria possível desenvolvê-lo em outro lugar”.

A conquista do Prêmio Capes foi uma surpresa para Bruno, que considera a pesquisa filosófica brasileira muito qualificada e internacionalizada. “A concorrência na área é altíssima, era impossível imaginar que o nosso trabalho seria premiado. Creio que esse prêmio demonstra a qualidade da pesquisa em lógica filosófica desenvolvida pelos pesquisadores da Unicamp e serve de estímulo para que nós continuemos buscando novos resultados nessa que é uma área de pesquisa muito dinâmica no debate filosófico atual”.

O professor Walter Carnielli destaca que existe uma enorme relevância nas discussões propostas na pesquisa de Bruno Mendonça, desde à filosofia da ciência até à Inteligência Artificial, e que é discutida internacionalmente nos mais altos círculos acadêmicos. “A tese de Bruno Mendonça ataca a questão de frente, argumentando por sólidos meios lógicos  que existe um sentido natural e bastante razoável pelo  qual a  dedução clássica pode ser vista como realmente informativa, e que o escândalo da dedução pode ser dissolvido”.

Mesmo com as dificuldades que a ciência brasileira tem no momento, Bruno Mendonça já planeja seus próximos passos acadêmicos. “Logo que eu defendi a tese eu apliquei para diferentes bolsas de pós-doutorado nacionais e internacionais. Infelizmente, dado o contexto econômico e de fomento à pesquisa que nós vivemos, não foi possível até o momento desenvolver um estágio pós-doutoral e, além disso, mais recentemente eu fui contratado como professor de filosofia na Universidade Estadual do Paraná. Assim que os planos de fazer um pós-doutorado estão no momento em suspenso mas é uma vontade que eu tenho de em breve fazê-lo.”

Menção Honrosa

Outro destaque para o IFCH foi a menção honrosa da tese de Ana Paula da Silva e Sousa, Dos conflitos ao pacto: as lutas no campo cinematográfico brasileiro no século XXI, apresentada no Programa de Pós-Graduação em Sociologia sob orientação do professor Marcelo Ridenti.

A pesquisa de Ana Paula faz uma radiografia da política audiovisual brasileira nos últimos 15 anos. "O coração da pesquisa se localiza entre o III Congresso Brasileiro de Cinema (2000), marco da chamada repolitização do setor, e a aprovação da Lei 12.485 (2011), que impôs cotas de conteúdo nacional para a tevê fechada. O que eu descrevo, no fundo, é todo o processo de constituição e solidificação da Agência Nacional de Cinema (2001), órgão estatal que sucedeu a Embrafilme, extinta em 1989. Baseada, sobretudo, em entrevistas realizadas com os atores do campo, a pesquisa procura desvendar a trama social por trás da construção dessa política que tem relação direta com a política mais ampla em curso no país no período estudado", explica Ana Paula. "O tema, este ano, tornou-se especialmente atual, dada a crise que atinge a Ancine e os riscos de desmonte da política. Por essa lamentável razão vi minha tese chegando à sociedade de uma maneira que eu não poderia imaginar". 

Formada em jornalismo na Cásper Líbero e Ciências Sociais pela Universidade de São Paulo, Ana Paula começou a se interessar pela política cinematográfica quando atuava como repórter em 2001. " Nesse ano, trabalhando como repórter da revista CartaCapital, escrevi a primeira de centenas de reportagem que eu faria sobre o assunto. A reportagem trazia à tona informações sobre o trabalho do grupo que gestou a Ancine, dentro do governo FHC. Na apuração da reportagem, complicada pelo pacto de silêncio firmado entre os integrantes do grupo, tomei contato com um cinema brasileiro que até então desconhecia: não o dos filmes em si, mas o dos profissionais que se articulam junto ao poder para engendrar políticas e apoios. Desde então, nunca mais parei de escrever sobre isso para a imprensa - na CartaCapital, na Ilustrada, no Valor Econômico". 

A aproximação de Ana Paula da vida academica começou com o mestrado feito no King’s College, em Londres em 2011 sobre o tema. "Minha dissertação de mestrado analisa o projeto de criação da Agência Nacional do Cinema e do Audiovisual (Ancinav), de 2004, sob a ótica das políticas internacionais de cultura e dos acordos de comércio envolvendo o audiovisual".

Como não queria fazer uma tese que fosse só sobre leis ou sobre cinema, Ana Paula buscou ingressar no Programa de Pós-Graduação em Sociologia do IFCH. Segundo ela, graças ao instrumental sociológico ela busca falar das políticas de cinema, fazendo uma crítica às práticas sociais e compreender os jogos de poder, as motivações e as estratégias dos atores envolvidos na construção da política audiovisual. "Os discursos dos personagens que participaram dos embates legislativos em torno do audiovisual no século XXI explicitam, às vezes de forma direta, às vezes de forma subliminar, as visões de mundo, as razões para tomadas de posição e as motivações dos agentes privados e públicos que ocupam esse campo. Nesse sentido, e de maneira modesta, este trabalho procura inserir o cinema brasileiro nos quadros da compreensão do Brasil. A escolha pelo IFCH se deu, primeiro, pelo prestígio do instituto, e, além disso, pela minha admiração pelo trabalho do Renato Ortiz e do Marcelo Ridenti".

Ana Paula conta que ficou surpresa com a Menção Honrosa no Prêmio Capes 2019. "Apesar de ter passado seis anos no Mestrado e no Doutorado, me sinto - e sou - uma forasteira no meio acadêmico e, não bastasse isso, uma forasteira na própria Sociologia. Na graduação, eu cursei, simultaneamente, jornalismo na Cásper Líbero e ciências sociais na FFLCH USP, mas, como também trabalhava, não consegui concluir o curso de Ciências Sociais. O doutorado e, agora, essa menção, diminuem bastante minha frustração de não ter conseguido concluir o curso que, de longe, era o meu preferido entre os dois".