Marx Tardio: notas introdutórias. *

Pedro Leão da Costa Neto**

 

O presente artigo é uma investigação preliminar sobre o último período da produção teórica de Marx, que aqui identificaremos com os anos 1871-1883. Período este que se caracteriza por um crescente sofrimento pessoal e o  gradativo agravamento de seu estado de saúde que o levou a interromper  freqüentemente seus trabalhos teóricos, a fim de  realizar repetidas viagens para tratamento médico. Este sofrimento é ainda mais agravado pela doença e morte de sua mulher Jenny Marx (2/12/1881), seguida, em um curto período de tempo, pela morte de sua filha mais velha Jenny Longuet (11/01/1883). Segundo Franz Mehring – seu primeiro biógrafo- alguns chegaram a ver, exageradamente, os seus dez últimos anos de vida, como anos de lenta agonia[1].

A produção teórica de Marx, neste período que se inicia em 1871, com a derrota da Comuna de Paris,  e se conclui em 1883, com sua morte, é constituída, em sua maior parte, por escritos que permaneceram inéditos durante a vida do autor e foram publicados apenas postumamente. Após a publicação da segunda edição alemã de O Capital em 1873, e da conclusão da sua tradução para a língua francesa, em 1875, Marx escreverá apenas pequenos artigos, redigirá notas de leitura e trocará uma extensa correspondência. Apesar do seu caráter fragmentário, estes textos nos permitem reconstruir a imagem de um outro Marx.

Historicamente, o problema da formação e desenvolvimento da obra de Marx foi dominado, particularmente após os anos 60, por uma extensa polêmica entre o “Jovem Marx” e o “Marx da Maturidade”. Esta periodização muitas vezes obstruiu uma análise mais detalhada das distinções existentes no interior de cada período e, em particular no período da Maturidade. Nós podemos afirmar que o último período da obra de Marx – que aqui será designado como do Marx Tardio -, foi o menos analisado dentro da totalidade de sua obra.

Louis Althusser foi, por um lado, um dos primeiros a sublinhar a importância deste período. Quando analisava as chamadas sobrevivências do Jovem Marx no Marx da Maturidade, afirmou, referindo-se à Crítica ao Programa de Gotha (1875) e às Notas marginais ao “Tratado de Economia Política” de Wagner (1882): “Vê-se de uma maneira irrecusável, em que sentido tendia o pensamento teórico de Marx. Não encontramos mais sombra alguma da influência humanista feuerbachiana ou hegeliana”[2]. Mas, por outro lado, o mesmo Althusser, nos difíceis momentos de seu final de vida, quando escreveu os materiais para a sua Autobiografia, sublinhou as dificuldades em demarcar de uma forma definitiva, a ruptura no interior da obra de Marx. Influenciado pela leitura do livro de Jacques Bidet, Que faire du Capital?, afirmou: “Eu me convenci cada vez mais, que a filosofia de Hegel e de Feuerbach tinham servido como “ponto de apoio” e de obstáculo epistemológico no desenvolvimento de seus próprios conceitos até mesmo em sua formulação”[3]. E acrescentou em outro lugar do mesmo escrito:

Marx apesar de todos os seus esforços nunca inteiramente, realmente e definitivamente se desembaraçou de certas categorias hegelianas como alienação, o fim da história, a negação da negação, l’Aufhebung enfim todas as categorias de profetismo político que não têm nenhum sentido em uma posição definitivamente materialista.[4]

Ciente das mesmas dificuldades o filósofo italiano Costanzo Preve propôs, no lugar das opções entre  corte epistemológico ou continuidade no interior da obra de Marx, uma leitura alternativa, segundo a qual coexistiriam, ao longo de toda sua obra, de três discursos filosóficos distintos:

Marx foi precocemente consciente da autonomia disciplinar que tinha conseguido elaborar, (...), e prosseguiu durante toda a sua vida o seu programa de investigação. Mas ele acompanhou este programa com discursos filosóficos heterogêneos, dentro dos quais está lingüisticamente constrangido a “dizer” as coisas que estava descobrindo. O autor isolou por comodidade (de forma forçosamente ideal-tipo), três destes discursos filosóficos: o grande narrativo, o determinístico naturalista e o ontológico-social.[5]

Por fim, uma outra proposta de leitura é oferecida por Etienne Balibar que, em seu livro dedicado à filosofia de Marx, afirmou  que além da ruptura de 1845, “houve na vida de Marx pelo menos duas outras rupturas igualmente importantes, determinadas por acontecimentos potencialmente desastrosos para a teoria da qual ele se achava seguro”[6]. E identificou estas duas rupturas com dois momentos decisivos da luta de classes no Século XIX: o primeiro, em 1848 – a Primavera dos povos -  e o segundo, em 1871 – a Comuna de Paris.

            As três diferentes leituras a que acabamos de nos referir, alertam-nos para as dificuldades  em propor uma periodização definitiva da obra de Marx. Mesmo cientes destas dificuldades, estamos convencidos que uma análise da produção teórica do Marx Tardio pode nos fornecer importantes indicações para realizar uma leitura radicalmente anti-fatalista e anti-evolucionista  da obra de Marx, como também prevenir contra toda tentativa de transformar a sua filosofia em uma filosofia da história.

Essa nossa concepção encontra apoio nas reflexões do filosofo italiano Cesare Luporini, que é enfático neste sentido. No que se refere ao período aqui analisado, Luporini afirma ser esse

(…) o momento de máxima maturação da metodologia de Marx e de máxima flexibilidade de sua concepção histórica, momento no qual ele dissolve definitivamente qualquer equívoco   desta concepção, com uma filosofia da história ou teoria histórico-filosófica.[7]

Como já nos referimos anteriormente, as obras pertencentes ao período do Marx Tardio foram, em sua grande maioria, publicadas apenas postumamente; e mesmo se comparadas, com o restante dos textos inéditos de Marx,  parte delas foi publicadas ainda mais tardiamente. Eric Hobsbawm, em artigo dedicado à análise da publicação e difusão dos escritos de Marx e Engels, ressaltou a importância da publicação de notas, apontamentos e correspondência pertencentes ao momento em questão, para uma  interpretação distinta da obra de Marx:

Deve-se ressaltar sobretudo que, (...), buscou-se com empenho crescente analisar esses materiais com a finalidade de neles descobrir linhas originais do pensamento de Marx, especialmente quanto a assuntos sobre os quais o próprio Marx não publicara nada, como é o caso dos apontamentos etnológicos editados por L. Krader. Esse modo de proceder talvez possa ser considerado o início de uma fase nova e rica de promessas para o conhecimento dos textos marxianos, como fazem pensar também o estudo dos esboços e das variantes, como as minutas preparatórias de A Guerra Civil na França ou da famosa carta a Vera Zasulitch (de 1881). Na realidade, esse desenvolvimento era inevitável, na medida em que muitos dos novos textos mais importantes, como os Grundrisse, eram eles próprios formados por notas e esboços não destinados à publicação na forma em que chegaram às nossas mãos.[8]

Paradoxalmente, as possibilidades teóricas abertas pela publicação dos textos do Marx Tardio, ao contrário do que ocorreu com os textos do Jovem Marx, permaneceram praticamente inexploradas. Derek Sayer e Philip Corrigan, dois autores inglese que se ocuparam deste período, afirmam: “o último Marx é um recurso fundamental e escandalosamente abandonado pelos socialistas de hoje”[9].

Preve nos oferece importantes indicações para compreendermos este paradoxo, entre a importância das observações desenvolvidas por Marx e a sua não-recepção pela tradição marxista,  referindo-se a uma tendência presente na obra de Marx (em particular na Crítica ao Programa de Gotha e nas Notas marginais ao “Tratado de Economia Política” de Wagner). Essa tendência o levou, a cada vez mais, tomar uma distância  de equívocos de tipo produtivista presentes na Ideologia Alemã, no Prefácio de 1859 ou nas Cartas a Kugelmann. Segundo Preve:

A evolução marxiana em questão era, de um lado, uma autodepuração crítica interna ao seu pensamento (que não cessava mais de “corrigir-se” e de reformular-se) e se confrontava, de outro lado, com os equívocos dos primeiros “marxistas” que  moviam o seu pensamento nos marcos internos do pensamento burguês dominante, uma mescla de economicismo e positivismo.[10]

O mesmo Preve reafirma este paradoxo referindo-se à questão do Estado:

Enquanto Marx  na Crítica ao Programa de Gotha de 1875 continuava a repropor sua concepção de um comunismo sem Estado e de um socialismo dotado somente de um provisório semi-estado, o movimento operário social-democrata real que, entretanto, ideologicamente se reclamava de Marx estava se organizando sobre o terreno da conquista do Estado.[11]

 

O filósofo italiano, observou em  inúmeras passagens, que o marxismo e o movimento operário não estiveram, em diferentes momentos de sua história,  em condições teóricas de receber as inúmeras elaborações de Marx, que se chocavam abertamente com o senso-comum dos referidos movimentos.

O período que aqui nomeamos por Marx Tardio está, por outro lado, associado a importantes episódios da História do Movimento Operário; a experiência e a conseqüente derrota da Comuna de Paris, em 1871, a transferência do Conselho Geral da Associação Internacional dos Trabalhadores para Nova Iorque (resolução do Congresso de 1872 em Haia) e de sua posterior dissolução em 1876. Além disso, Marx, como já referimos anteriormente, concluiu as diferentes redações de sua obra maior – O Capital -, e, a partir de então, dedicou-se em escala, cada vez menor, aos seus estudos econômicos. Os principais escritos pertencentes ao período analisado, são em sua grande maioria dedicados a questões políticas e históricas, do qual cabe destacar:

 1871: A Guerra Civil na França (e seus diferentes rascunhos);

 1874-1875: Notas sobre o livro de Bakunin: “ Estatismo e  Anarquia”;

 1875: Crítica ao Programa de Gotha;

 1879-1880: Notas marginais ao“ Tratado de Economia Politica” de Adolph Wagner;

 1877-1881: Escritos sobre a Rússia, em particular: Carta a Redação de “Otietchestviennie Zapiski” e Rascunhos e Carta a Vera Zasulitch;

 1880-1882: Notas etnográficas de Karl Marx (em particular as notas de leitura ao livro de Lewis Henry Morgan, “A Sociedade Antiga”, que foram posteriormente utilizadas  por F. Engels para a redação de  A Origem da Família da Propriedade Privada e do Estado”.

Delineado, em linhas gerais, o período em questão, podemos passar a uma identificação dos principais temas presentes nos escritos de Marx e da eventual inovação que representam em relação às suas concepções anteriores. Esta reconstrução introdutória do pensamento do Marx Tardío, por um lado, se restringirá apenas aos seus aspectos históricos e políticos; não analisa, portanto, questões igualmente importantes, como os aspectos filsóficos, econômicos e etnográficos igualmente presentes.  Por outro lado, esta análise será baseada, antes de tudo, nos escritos inéditos do período em questão.

 

I.                   Questão Histórica.

A preocupação com a história ocupou o lugar central da  reflexão de Marx, ao menos desde a redação, em conjunto com Engels em 1845, de A Ideologia Alemã. A preocupação com as diferentes e possíveis  vias de desenvolvimento histórico e com as sociedades pré-capitalistas sempre estiveram igualmente presente nas obras de K. Marx e F. Engels. Marx, em seu período tardio, retornou a estas questões e nos deixou vários escritos que apresentam uma série de transformações, se comparados às concepções presentes em textos publicados anteriormente. Dentro do conjunto de textos do Marx Tardio, devemos destacar, em particular, os seus escritos sobre a Rússia: Carta a Redação de “Otietchestviennie Zapiski” (1877) e Rascunhos e Carta a Vera Zasulitch (1881) e  suas Notas etnográficas de Karl Marx (1880 – 1882). Nestes textos, Marx concentrou seus esforços para compreender os diferentes Modos de Produção Pré-capitalistas, em geral, e as sociedades primitivas, em particular, como também a pluralidade das vias de desenvolvimento da sociedade humana.

Em suas Notas etnográficas,  Karl Marx resume e comenta diversas obras etnográficas, dentre as quais são particularmente importantes as dedicadas ao livro de Lewis Henry Morgan,  Ancient Society  e que foram posteriormente amplamente utilizadas por F. Engels, para redigir a sua obra clássica, Da Origem da Família, da Propriedade Privada e do Estado.  São igualmente significativas, as referentes ao livro de Henry Sumner Maine, Lectures on the early History of Institutions. Nestes cadernos de leitura estão presentes observações que sublinham a variabilidade histórica das sociedades humanas e a possibilidade da existência de sociedade  sem classes. Igualmente importantes são as notas referentes  ao caráter histórico da existência do Estado, do seu surgimento e desaparecimento em condições históricas determinadas[12].

            Os escritos dedicados à Questão Russa, acima citados, são decisivos para uma interpretação não dogmática e não-teleológica da obra de Marx, uma vez que permitem uma crítica avant la lettre ao marxismo da II Internacional e ao stalinismo. Nos referidos escritos, o autor de O Capital, analisou a possibilidade  da comuna rural russa oferecer uma alternativa de desenvolvimento histórico, sem a necessidade de uma passagem necessária pelo inferno capitalista.

Nestes textos, Marx se distanciou definitivamente das suas concepções esboçadas em uma série de outros textos escritos desde o final dos anos quarenta até o final dos anos sessenta, nos quais ele e Engels sublinhavam, por exemplo, o papel revolucionário desenvolvido pelo imperialismo inglês na Índia, o caráter progressista da colonização francesa na Argélia e da conquista do México pelos Estados Unidos.

 Em particular, nos textos dedicados à colonização britânica na Índia[13], Marx desenvolveu uma análise na qual afirma que a Grã-Bretanha realizou “a única revolução social que jamais foi vista na Ásia (...) e que (...) apesar de todos os seus crimes, a Inglaterra foi o instrumento inconsciente da história ao realizar dita revolução”[14]. Marx afirmou igualmente o caráter inevitável desta conquista, uma vez que “a sociedade hindu carece completamente de história”[15].

Marx, nestes mesmos textos, sintetizou, o papel histórico a ser desempenhado pelo modo de produção capitalista:

O período burguês da história está chamado a lançar as bases materiais de um mundo novo; a desenvolver, por um lado, o intercâmbio universal, baseado na dependência mútua do gênero humano, e os meios para realizar esse intercâmbio; e, por outro lado, desenvolver as forças produtivas dos homens e transformar a produção cientifica em um domínio sobre as forças da natureza. A indústria e o comércio vão criando essas condições de um mundo novo do mesmo modo como as revoluções geológicas criaram a superfície da Terra. E só quando uma grande revolução social se apropriar das conquistas da época burguesa, o mercado mundial e as modernas forças produtivas, submetendo-as ao controle comum dos povos mais avançados, só então o progresso humano deixará de parecer a esse terrível ídolo pagão que só queria beber o néctar no crânio do sacrificado.[16]

 

No prefácio a O Capital, Marx transformou esta concepção em uma espécie esboço de teoria geral da história:

Em si e para si, não se trata do grau mais elevado ou mais baixo de desenvolvimento dos antagonismos sociais que decorrem das leis naturais da produção capitalista. Aqui se trata dessas leis mesmo, dessas tendências que atuam e se impõem com necessidade férrea. O país industrialmente mais desenvolvido mostra ao menos desenvolvido tão-somente a imagem do próprio futuro.[17]

Ao contrário, Marx em seus textos tardios alterou sensivelmente esta sua concepção, passando a assumir cada vez mais uma clara oposição a toda concepção fatalista da história. Nos artigos sobre a comuna rural russa, transformou a sua visão sobre o papel civilizador do capitalismo e desenvolveu uma concepção sobre a possibilidade dessas comunas representarem um ponto de partida para um desenvolvimento não-capitalista, Marx afirmou  que: “A contemporaneidade da produção “capitalista” ocidental permite a Rússia incorporar à comuna rural todas as aquisições positivas logradas pelo sistema capitalista sem passar por suas forcas caudinas”[18].

Marx passou a identificar uma vitalidade própria no interior da comunidade rural russa, vendo nela uma forma social que poderia representar uma resposta às crises capitalistas, contendo um elemento regenerador:

Se a revolução se efetuar em um momento oportuno, se concentrar todas as suas forças (se a parte inteligente da sociedade russa) (se a inteligência russa concentrar todas as forças vivas do país), em assegurar o livre desenvolvimento da comuna rural, esta se revelará rapidamente um elemento regenerador da sociedade russa e um elemento de superioridade sobre os países dominados pelo capitalismo.[19]

No lugar da dissolução necessária da comuna rural,  Marx agora passou a salientar a possibilidade de diferentes alternativas de desenvolvimento:

Sua forma constitutiva admite esta alternativa: ou o elemento de propriedade privada que implica triunfará sobre o elemento coletivo, ou este triunfará frente àquele. Tudo depende do meio histórico aonde se encontre ... Estas duas soluções são possíveis a priori, mas para uma ou para outra é evidente que se requerem meios históricos completamente diferentes.[20]

            Os escritos históricos de Marx sobre a Rússia, acima citados, além de nos permitirem identificar as mudanças ocorridas na concepção histórica de Marx, abrem igualmente possibilidades metodológicas que podem nos conduzir à elaboração de uma  outra interpretação da obra de Marx. Essa possibilidade manifesta-se claramente na oposição que Marx expressou  a toda tentativa de transformar a sua concepção materialista de história em uma filosofia da história. Referindo-se a um crítico russo afirma:

A todo o custo, quer converter meu esboço histórico sobre as origens do capitalismo na Europa Ocidental em uma teoria  histórico-filosófica sobre a trajetória geral a que se acham fatalmente submetidos todos os povos, quaisquer que sejam as circunstâncias históricas que nelas concorram, para chegar enfim naquela formação econômica que, a par do maior impulso das forças produtivas do trabalho social, assegura o desenvolvimento do homem em todos e cada um dos seus aspectos.(Isso me traz demasiada honra e, ao mesmo tempo, demasiado escárnio.)[21]

            E acrescentou, referindo-se à sorte dos plebeus da antiga Roma:

Estudando cada um desses processos históricos separadamente e comparando-os logo entre si, facilmente encontraríamos a chave para explicar estes fenômenos, resultado que jamais lograríamos ao contrário, com a chave universal de uma teoria geral da filosofia da história, cuja maior vantagem reside precisamente no fato de ser uma teoria supra-histórica.[22]

                        Estreitamente associada à oposição a toda tentativa de transformar a sua concepção materialista da história em uma filosofia da história, Marx se manifestou igualmente contrário em transformar suas concepções em um sistema filosófico: “Segundo o senhor Wagner, a teoria do valor de Marx é “a pedra angular de seu sistema socialista”. Como eu não construi jamais um sistema socialista, trata-se de uma fantasia dos Wagner, Schäffle e tutti quanti”[23].

 

I-                   Questão Política.

Os últimos anos de Marx estão marcados, por inúmeros fatos de grande importância política: a experiência de aproximadamente uma década da Associação Internacional dos Trabalhadores e das profundas lutas internas que a acompanhou e que levaram à sua dissolução, às resistências encontradas pelo marxismo para difundir-se no movimento operário dos principais países europeus, nos quais  se defrontou com diferentes tradições políticas nacionais. A experiência da Comuna de Paris e a recepção do seu pensamento entre os russos são  exemplos de fatos que levaram Marx, por um lado, a uma retomada de idéias já elaboradas anteriormente (por exemplo, o conceito de ditadura do proletariado), como também  a uma contínua reflexão em torno de novas questões[24]. 

Marx se ocupa particularmente da questão do Estado, da possibilidade de diferentes vias de transição ao Comunismo, do problema da ditadura do proletariado e, em menor intensidade, da possibilidade de uma passagem pacífica ao socialismo. Relacionado  ao problema do Estado, é importante destacar os diferentes rascunhos de A Guerra Civíl na França, em particular O Primeiro Ensaio de Redação[25], no qual Marx efetua uma análise da formação e da evolução do Estado moderno na França, da sua origem durante a monarquia absoluta, como instrumento de luta contra a sociedade feudal;  seguida, da sua modernização durante a Revolução Francesa e da intensificação de seu caráter de dominação de classe,   resultante do aguçamento do conflito de classes entre burguesia e proletariado mostrando que uma característica de todas as revoluções, até então, foi que somente aperfeiçoaram o aparelho de Estado, ao invés de destruí-lo[26]. Marx demonstra, igualmente, que o ensinamento fundamental da Comuna de Paris é que ela  representou a antítese do Império, uma vez que ela não se limitou a abolir a forma monárquica de dominação de classe mais a própria dominação de classe[27]. O interesse pela  experiência da destruição do Estado burguês, realizada pela Comuna de Paris, encontraremos igualmente em seus escritos posteriores, nos quais Marx ressalta a Comuna como  forma política de emancipação social e instrumento na luta pela abolição da dominação de classe. Esta questão recobra importância na dupla polêmica que Marx dirigirá, por um lado, contra os bakuninistas e, por outro lado, contra os lassaleanos a respeito da questão do Estado e da sua importância durante o período de transição. Em suas Notas ao livro de Bakunin, “Estatismo e Anarquia”[28], respondeu às críticas de Bakunin - que freqüentemente associavam as concepções de Lassale com as do próprio Marx. Reafirmando a necessidade do proletariado constituir-se como classe dominante, Marx considera essa a única forma  capaz  de acelerar o processo de destruição do antigo regime e dos fundamentos econômicos da existência de classes - processo este que culminaria na abolição das classes sociais. Por fim, Marx, na Crítica ao Programa de Gotha, retoma o conceito da ditadura do proletariado, já desenvolvido nos anos 1850[29], concebido como  período de transformação revolucionária entre a sociedade capitalista e a sociedade comunista:

entre a sociedade capitalista e a sociedade comunista, existe o período de transformação revolucionária da primeira na segunda, a este período corresponde também um período político de transição, aonde o Estado não pode ser outro que a ditadura revolucionária do proletariado.[30]

            Esta reafirmação do conceito de ditadura do proletariado está estreitamente associada à contundente crítica que Marx endereça à formulação de defesa de um Estado Livre presente no Programa de Gotha:

o  Programa do Partido operário alemão  – ao menos, se ele aprovar este programa - demonstra que as idéias socialistas nele não se manifestam, já que, no lugar de tratar a sociedade existente  (e o mesmo podemos dizer para toda sociedade futura) como base do fundamento do Estado existente ( ou do futuro por uma sociedade futura), trata o Estado como um ser independente que possui seus próprios “fundamentos intelectuais, morais e livres”.[31]

Marx expõe igualmente, neste mesmo texto, sua famosa diferenciação entre as duas fases da sociedade comunista, ou seja a distinção entre a “primeira fase da sociedade comunista tal qual ela acaba de surgir da sociedade capitalista após um longo e doloroso parto”, com todas as suas limitações históricas, e a “fase superior quando desaparecerão a subordinação escravizadora dos indivíduos à  divisão do trabalho e com ela a oposição entre o trabalho intelectual e o trabalho manual”[32].

 Uma outra preocupação política, presente neste período da obra de Marx, é associada à necessidade da organização política independente do proletariado e da elaboração de uma política classista que, por um lado, permitiria ao proletariado  constituir-se como classe autônoma frente à burguesia e seus partidos. Estritamente associada a este problema é a crítica desenvolvida por Marx ao indiferentismo político que era proposto por diferentes correntes presentes no interior do Movimento Operário Internacional, como, por exemplo, os bakuninistas e os proudhonianos. Como já afirmamos anteriormente, Marx sublinhou em inúmeras ocasiões o papel indispensável da luta política (em particular nas suas polêmicas contra os bakuninistas), da necessidade de organização do proletariado em partido político, da sua independência em relação aos partidos burgueses e da necessidade de combater o oportunismo crescente dentro do Movimento Operário europeu. Marx manifestou a sua preocupação com a  corrupção crescente da classe operária inglesa e, em particular, des seus dirigentes sindicais desde 1848, e de seu atrelamento ao partido liberal, ou seja, o partido de seus opressores capitalistas[33]. Marx observou, igualmente, que um espírito podre se manifestou no Partido Social-Democrata alemão, em particular entre os seus dirigentes[34],  reafirmando sua preocupação com o surgimento dentro deste Partido e de sua direção, de concepções que combatiam o seu caráter proletário do Partido. Criticando ainda, os  esforços destes referidos dirigentes, em transformá-lo em um partido de todos que possuíssem um verdadeiro amor pela humanidade, e desta maneira substituir o combate político, por uma tentativa de convencer a burguesia através de uma enérgica propaganda[35]. Nestes textos, Marx expressou a sua preocupação com as conseqüências teóricas destas concepções políticas, ou seja a substituição de uma concepção com fundamentos materialistas, “por um ideal superior (...) por uma mitologia moderna com suas deusas Justiça, Igualdade, Liberdade e Fraternidade”[36].

Neste momento histórico, Marx sublinhou o caráter   não  necessário de uma única via de transição, indicando a possibilidade de uma eventual transição pacífica em algums países, referindo-se,  entre outros, por exemplo: “a América, Inglaterra e talvez se conhece-se melhor as suas instituições, poderia nomear talvez, e a Holanda, aonde os trabalhadores podem alcançar os seus fins, com meios pacíficos”[37]. A possibilidade da transição pacífica, segundo Marx, dependeria das diferentes correlações de força existentes no interior de cada país, do grau de consolidação das  instituições e também da resistência oferecida pelas classes dominantes às transformações sociais[38].  Marx sublinhou igualmente, que será a classe operária de cada país que deverá escolher os meios a serem utilizados[39]. Acrescentou, entretanto, que na maioria dos países europeus será necessário o emprego da violência para a realização das transformações revolucionárias[40]. Sobre a referida questão - da eventualidade de diferentes vias de transição - é paradigmática a resposta de Marx a Nieuwenhuis – que possui igualmente uma importância do ponto de vista  metodológico. Quando   interrogado sobre as tarefas políticas  futuras,  responde:

O que é preciso fazer em um momento do futuro e o que deve fazer de imediato são coisas que, por definição, dependem inteiramente das condições históricas nas quais se deverá atuar. Porém esta questão está nas nuvens e por isso é na realidade a colocação de um problema  fantasma, cuja única solução pode ser a crítica da questão mesma. Não se pode resolver nenhuma equação a menos que em seus temas estejam implicados os elementos de sua solução.[41]

Finalmente, a já referida preocupação de Marx com a questão do Estado, reapareceu igualmente em outros textos do mesmo período. Por exemplo, nas suas Notas Etnográficas[42] - citadas anteriormente -, comenta uma passagem do livro de Henry Maine, quando sublinha o caráter transitório do Estado, observando que o  seu surgimento estaria determinado por  um certo grau de desenvolvimento da sociedade e que por sua vez este desaparecerá, quando a sociedade chegar a um nível até agora inalcançado. E que, na verdade, a existência do Estado está  baseada em última instância em interesses econômicos. Por sua vez, nos seus Rascunhos a Carta a Vera Zasulitch, sublinha igualmente a importância da ação  política do Estado como um instrumento para promover uma eventual  dissolução da comuna rural russa e da sua substituição pelo modo de produção capitalista: “O que põe em perigo a vida da comuna russa não é nem uma fatalidade histórica, nem uma teoria: é a opressão pelo Estado e a exploração por capitalistas intrusos, tornados poderosos pelo mesmo Estado as custas dos camponeses”[43].

Depreende-se portanto, da análise acima que a preocupação política perpassa os diferentes escritos do período tardio e que está articulada com um conjunto de questões teóricas. Antes de concluirmos esta questão, seria importante lembrar, como já nos referimos anteriormente, que, nestes textos de Marx, estão presentes uma crítica avant la lettre de diferentes práticas que já se encontravam no movimento operário daquele momento, e que se acentuarão ainda mais após a morte de Marx. Detenhamo-nos em duas passagens da Crítica ao Programa de Gotha, onde se encontram, importantes observações críticas. Logo na primeira página do texto, Marx esboça uma critica contundente a todo culto ao trabalho; em comentário à frase do programa que afirma que: “o trabalho é a fonte de toda a riqueza e de toda cultura”, Marx acrescentou:

Os burgueses têm ótimas razões para atribuir ao trabalho uma força criadora sobrenatural; pois, precisamente, o fato de que o trabalho depende da natureza, se deduz que o homem que não dispõe de nenhuma outra propriedade a não ser sua força de trabalho, deve tornar-se escravo dos outros homens que se tornaram proprietários das condições materiais  de trabalho. E eles não podem trabalhar e, por conseguinte, viver senão com sua permissão.[44]

De  maneira igualmente contundente, Marx se opôs igualmente  à concepção, que podemos nomear como distributivista:

O  socialismo vulgar (e por intermédio seu, uma parte da democracia) aprendeu dos economistas burgueses a considerar e tratar a distribuição como algo independente do modo de produção e, portanto, a expor o socialismo como uma doutrina que gira principalmente em torno da distribuição. Uma vez que está elucidado, desde faz muito tempo, a verdadeira relação das coisas, por que voltar atrás?[45]

            Uma vez identificadas  algumas das concepções do Marx Tardio, sobre história e política, podemos passar a uma tentativa de isolar alguns aspectos que determinaram a evolução do seu pensamento no período analisado.

 

III – CONCLUSÃO

Por um lado, um traço característico da evolução de Marx, desde a sua juventude, é a sua crescente dedicação a leituras de obras históricas e etnográficas, que lhe permitiram superar o caráter historiosófico de algumas de suas primeiras interpretações,  marcadas por um forte acento filosófico[46]. Por outro lado, poderíamos enumerar também as lutas operárias a partir da década de 60, a fundação e desenvolvimento da I Internacional, a crescente corrupção do movimento operário alemão e inglês, e particularmente o fracasso da experiência da Comuna de Paris seguida pelos bárbaros massacres efetuados pela burguesia francesa, como fatos que levaram Marx a se distanciar de algumas de suas concepções anteriores. Em  artigo dedicado ao último período da vida de Marx, Teodor Shanin enumera uma série de acontecimentos que desempenharam uma importância decisiva em suas concepções: 1) a derrota da Comuna de Paris e sua sucessiva dissolução; 2) o descobrimento da pré-história, que será objeto de estudos sucessivos por parte de Karl Marx; 3) associada à descoberta anterior, a ampliação dos conhecimentos sobre as sociedades rurais não capitalistas e, por fim, 4) A Rússia e os russos que ofereciam uma combinação de todos as causas anteriores[47]. As  suas concepções sobre as perspectivas revolucionárias  na Europa passaram por uma profunda transformação, o que conduziu  a um abandono das suas posições políticas da década de 1850 que estavam profundamente marcadas por uma “avaliação equivocada sobre a iminência da revolução”[48]. Enfim, a crescente difusão de seu pensamento sobre os russos, levará a que Marx  dedique uma crescente atenção à questão russa. Em sua exaustiva reconstrução dos estudos  econômicos de Marx, Dussel dedicará uma especial atenção aos escritos de Marx sobre a Rússia. O filósofo argentino enumera, ao lado do fracasso da Comuna de Paris, uma sensibilidade ao problema camponês (anteriormente inexistente) e a entusiasta recepção entre os intelectuais russos das suas idéias e obras. Dussel, entretanto, parece privilegiar uma trajetória preferencialmente intelectual para explicar a evolução da obra de Marx no período, sublinhando a importância dos contatos de Marx com os intelectuais russos - intelectuais da periferia[49].

Tentamos, portanto, através de uma investigação introdutória dos escritos do Marx Tardio, identificar que, ao lado da ruptura de 1845, entre o Jovem Marx e o Marx da Maturidade - e no próprio interior deste ultimo período - existe uma série de importantes mudanças que, apesar de seu significado, não foi dada a devida atenção. O objetivo deste nosso artigo foi, assim, apresentar este momento da produção teórica do autor analisado, ressaltando a sua importância para a elaboração de uma leitura que rompa com as diferentes leituras fatalistas e evolucionistas da obra de Marx. Leitura que permita também uma crítica a diferentes matizes do reformismo que caracterizou a recepção do pensamento marxista no século XX.

 

   

 

 



* Agradeço aos professsores Etelvina Maria de Castro Trindade e Armando Boito Júnior pelas atentas leituras e sugestões que fizeram a este texto.

** Professor de Filosofia na Universidade Tuiuti do Paraná.

[1] Franz Mehring,  Carlos Marx: História de su vida. México, Grijalbo, 1957, p. 527.

[2] Louis Althusser, “Avertissement aux lecteurs de Livre I du Capital”. In: Karl  Marx, Le Capital. Paris, Garnier Flammarion, 1969, p. 29.

[3] Louis Althusser,  L’Avenir dure longtemps. Paris, Le livre de poche: Stock/IMEC, 1994,  p. 236.

[4]Idem, ibidem, p. 523-524. O mesmo Althusser, comentando o mesmo  texto de J. Bidet, afirmou expressamente, nas suas entrevistas com Fernanda Navarro (1984 – 1987), que a ruptura epistemológica foi somente  tendencial e que Marx  não teria jamais se liberado totalmente de Hegel. Cf. Louis Althusser, Sur la Philosophie. Paris, Gallimard, 1994, pp. 36 – 37. Para uma análise da relação Marx – Hegel como uma problemática de apoio – obstáculo epistemológico , cf. Jacques Bidet, Que faire du Capital? Matériaux pour une réfondation. Paris, Klincksieck, 1985, p. 160-168.

[5] Costanzo Preve, La Filosofia Imperfetta. Una proposta di ricostruzione del marxismo contemporaneo. Milano, Franco Angeli, 1984, p. 32. Para o detalhamento dos três discursos filosóficos, cf. p. 32-47.

[6]Etienne  Balibar, A Filosofia de Marx. Rio de Janeiro, Jorge Zahar Editor, 1995, p.13.

[7]Cesare Luporini, “Critica de la politica y critica de la economia politica de Marx”. In: Giacomo Marramao et al. Teoria Marxista de la politica.  México, Siglo Veintiuno editores, 1981, p. 85.

[8]Eric J. Hobsbawm,  “A fortuna das edições de Marx e Engels”. In: Hobsbawm (Org.), A História do Marxismo, Vol. I – O Marxismo no Tempo de Marx. Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1979, p. 435-436.

[9]Derek Sayer e Philip Corrigan, “El ultimo Marx: continuidad, contradicción y aprendizaje”. In: Teodor Shanin (org.), El Marx Tardio y la via Rusa. Marx y la periferia del capitalismo. Madrid, Editorial Revolucion, 1990, p. 121.

[10]Preve, op. cit.,  p. 197.   

[11] Costanzo Preve, Il pianeta  rosso: Saggio su marxismo e universalismo. Milano, Vangelista, 1992, p. 61.   

 

[12] Sobre esta questão consultar: Lawrence Krader (org.), Los Apuntes Etnológicos de Karl Marx. Madrid, Siglo Veintiuno editores/Editorial Pablo Iglésias, 1988, Introduccion pp. 1-70 e Lawrence Krader, “Evolução, Revolução e Estado: Marx e o pensamento etnológico”. In: Hobsbawm,  cit., p. 263-300.

[13]Consultar a este respeito, os artigos de Marx sobre a Índia, em particular: Karl Marx: “La dominación britanica en la India” e “Futuros resultados de la dominación británica en la India”. In: Carlos Marx e Friedrich Engels,  Obras Escogidas I.  Moscou, Editorial Progresso, 1980, p. 499–515. 

[14] Marx,  “La dominación británica ...”. In: Marx e Engels, cit., p.504. 

[15] Marx, “Futuros resultados de la dominación “. Idem, ibidem,  p. 506.

[16] Idem, ibidem,  p. 511-512.

[17] Karl Marx, O Capital. Crítica da Economia Política, Volume I. São Paulo, Abril Cultural, 1983, p. 12.

[18] Karl Marx,  Rascunho I da Carta a Vera Zasulitch. In: Karl Marx e Friedrichh Engels, Escritos sobre Rusia II: El porvenir de la Comuna Rural Rusa. México, Siglo Veintiuno editores, 1980, p. 37.

[19]Idem, ibidem, p. 45.

[20]Idem, ibidem, p. 37.

[21] Marx, “Carta de Karl Marx a la redacción de Otiechestviennie Zapiski”, In:  Marx  e  Engels, Escritos sobre Rusia. op. cit.,  p. 64-65.

[22] Idem, ibidem, p. 65.

[23] Karl Marx, Notas Marginais ao “Tratado de Economia Política” de Adolph Wagner. México, Siglo XXI, 1982, p. 34.

[24] Sobre os textos políticos do último período da vida de Marx, Cf. Piotr Marciniak, Proletariado e Revolução: Formação das concepções de Karl Marx e Friedrich Engels sobre a Revolução Social. Varsóvia, Ksiazka i Wiedza, 1984, em particular o capítulo IV: Revolução e Estado, p. 293 – 327 (em polonês).

[25] Karl Marx, La Guerre Civile en France. Paris, Editions Sociales, 1972, em particular o parágrafo O Caráter da Comuna pertencente ao Primeiro Ensaio de Redação a Guerra Civíl na França,  p. 209-216.

[26] Idem, ibidem, p. 209-210.

[27] Idem, ibidem, p. 212.

[28] Karol Marx,  Notas ao livro de Bakunin “Estatismo e Anarquia”. In: Karol Marx e Fryderyk Engels, Dziela. Varsóvia, Ksiazka i Wiedza, (tradução polonesa da MEW -  citado a partir de agora como MED XVIII, p. 675 – 730, em particular,  p. 715.

[29] Marx, Carta de Marx a J. Weydemeyer de 5 de março de 1852, In: Marx  e Engels,  Obras Escogidas I.  cit., p. 542.

[30] Karl Marx,  Crítica ao Programa de Gotha, In: Marx  C. e Engels  F.,  Obras Escogidas III.  Moscou, Editorial Progresso, 1980,  p. 23.

[31]Idem, Ibidem,  p. 22. Em uma passagem das Notas ao livro de Bakunin “Estatismo e Anarquia”, Marx refere-se ao Estado Popular é um nonsens liebknechtiano, dirigido contra o Manifesto Comunista,  MED XVIII. p. 722.

[32]Marx,  Crítica ao Programa de Gotha, cit., p. 15.

[33] Karol Marx, “Carta de Marx a Liebknecht de  11 de fevereiro de 1877”.  In: MED  XXXIV. p. 350-354.

[34] Karol Marx, “Carta de Marx a Sorge de 19 de outubro de 1877”.  In: MED  XXXIV. p. 331-333.

[35] Karol Marx, “Carta de Marx e Engels a Bebel, Liebknecht, Bracke e outros de setembro de 1879”, em particular a parte III. Manifesto dos tres de Zurich.  In: MED  XXXIV. p. 433-449. Marx retornará a estas críticas na Carta a Sorge de 19 de setembro de 1879, In: MED  XXXIV. p. 452-457. Para uma análise das relações entre “Marx, Engels e a Social-democracia alemã”, nestes anos: Cf., o parágrafo dedicado a esta questão no Capítulo IV do livro de Michel Löwy: A Teoria da Revolução no Jovem Marx. Petrópolis, Editora Vozes, 2002, p. 239-245.

[36]Karol Marx, “Carta de Marx a Sorge de 19 de outubro de 1877”.  In: MED  XXXIV. pp. 331-333.

[37] Karol Marx,”Discurso de Marx sobre o Congresso de Haia”. In:  MED XVIII. p. 178.

[38] Sobre esta questão consultar: Karol Marx, “Carta de Marx a Hyndman de 8 de dezembro de 1880”.  In: MED XXXIV.  p. 536, e  do já citado, Discurso de Marx sobre o Congresso de Haia. In:  MED XVIII. p. 178.

[39]Karol Marx, “Entrevista de K. Marx ao representante do Jornal The World de 18 de julho de 1881”.  In: MED XVII.  p. 746.

[40] Além da Carta de Marx a Hyndman de 8 de dezembro de 1880, onde ele analisa a questão da possibilidade e da necessidade do uso da violência revolucionária, consultar igualmente: Entrevista de K. Marx ao representante do Jornal “The World”.

[41] Karol Marx, “Carta de Marx a Domela Nieuwenhuis de 22 de fevereiro de 1881”.  In:  MED  XXXIV. p. 183.

[42] Krader (org.), Los Apuntes Etnológicos de Karl Marx, cit.,  p. 289.

[43]Karl Marx, “Rascunhos II da Carta a Vera Zasulitch”. In: Marx e Engels, Escritos sobre Rusia II, cit., p. 51.

[44]Karl Marx, Crítica ao Programa de Gotha, cit., p. 9-10.

[45] Idem, ibidem, p.16.

[46] Sobre esta questão, consultar os textos de Lawrence Krader, já citados anteriormente, como também:  Gianni Sofri, O Modo de Produção Asiático. História de uma controvérsia marxista. Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1977.

[47] Teodor Shanin, “ El último Marx dioses y artesanos”. In: Shanin, El Marx Tardio y la via rusa, cit., p. 18-19.

[48] A respeito da eminência da revolução em Marx, Cf.: Lélio Basso, Socialismo y Revolución. México, Siglo veintiuno editores, 1983, p. 199-215 e Roman Rosdolsky, “Friedrich Engels y el problema de los pueblos “sin historia”: La cuestión de las nacionalidades en la revolución de 1848-1849 a la luz de “Neue Rheische Zeitung””. México, Sigloventiuno editores,  1980, p. 188.

[49] Cf. a este respeito a obra de Enrique Dussel,“El ultimo Marx (1863-1882) y la liberación latinoamericana”. México, Sigloventiuno editores/IZTAPALAPA, 1990. Em particular o Cap. 7 : “Del último Marx e a América Latina”, 7.2: “El ´viraje´ La Cuestión Rusa” (1868-1877) e 7.3: “La respuesta a Vera Zasulich o el apoyo a los ´populistas rusos´  (1877-1881)”; p. 243-261.