Este número
de Crítica Marxista intervém mais amplamente nos debates da
presente conjuntura político-ideológica.
Publicamos
um artigo de João Quartim de Moraes que analisa o principal fato
político da atualidade: a agressão imperialista do governo
Bush ao Afeganistão, denominada pela propaganda ideológica
de “guerra contra o terrorismo”. Os marxistas devem combater as visões
apologéticas, explícitas ou (mal) disfarçadas, da nova
onda de guerras coloniais e, ao mesmo tempo, refletir sobre as causas, condições
e objetivos dessas agressões. "Império, guerra e terror" é
uma contribuição nessa direção.
Na seção
Debates, publicamos uma discussão sobre as relações
entre marxismo, ética e política revolucionária, que
traz reflexões teóricas sobre um problema candente da luta
de idéias hoje. A afirmação de uma noção
vaga e abstrata de ética, desvinculada de interesses sociais, tem
servido tanto para denunciar – de modo ineficaz, ressalte-se - as relações
dos políticos e do Estado burguês com o mundo dos negócios
(a questão da corrupção), quanto para substituir a discussão
programática de partidos políticos progressistas. Num ano eleitoral,
como é o de 2002 no Brasil, o discurso genérico sobre a ética
certamente será difundido por todos, inclusive pelos partidos de esquerda.
Os textos de Hector Benoit, Sérgio Lessa e Osvaldo Coggiola podem oferecer
ao leitor algumas ferramentas teóricas para se situar diante do refrão
da “ética na política” que debutou, no Brasil, quando da campanha
pelo impedimento de Fernando Collor de Melo.
Este número
da revista traz duas entrevistas que também versam sobre temas políticos
atuais. Uma delas foi realizada com dirigentes do Movimento dos Trabalhadores
Sem-Teto (MTST), sobre o assentamento Anita Garibaldi e a estratégia
desse movimento popular; a segunda, com o sociólogo francês
René Mouriaux, trata da reanimação das lutas sociais
na Europa. Os socialistas devem estar atentos aos sinais de recuperação
da luta operária e popular em escala internacional.
Crítica
Marxista publica ainda artigos e comentários que versam sobre questões
teóricas – os artigos de Jorge Grespan, sobre a dialética
materialista, e de Marcos Barbosa, sobre o positivismo, e os comentários
de Paulo Silveira, sobre Lacan e Marx, e de Francisco Farias, sobre o conceito
de socialismo. Merece registro à parte o artigo de Louis Althusser
sobre a questão do humanismo teórico, texto inédito
em português e que completa outro publicado no número 9 de Crítica
Marxista.
Publicamos
ainda um artigo de Hermenegildo José Bastos, que faz uma análise
estética e política de um poema de Ferreira Gullar, e resenhas
de quatro livros de interesse para os marxistas.
A partir do
número 17 Crítica marxista
passa a ser publicada pela Editora Revan.
É uma revista de difusão e discussão da produção
intelectual marxista em sua diversidade, bem como de intervenção
no debate e na luta teórica em curso.
Na seção Artigos encontra-se o texto de Armando Boito Jr.,
“A hegemonia neoliberal no governo Lula”, que por sua vez sustenta que o
neoliberalismo logrou implantar uma nova hegemonia burguesa no Brasil, hegemonia
essa de tipo regressiva que vem sendo mantida ativamente pelo governo Lula.
Na mesma seção, Ellen Meiksins Wood contesta em “O que é
(anti) capitalismo?” a afirmação segundo a qual os movimentos
anticapitalistas apenas saberiam contra o que lutam e não a favor
do que lutam. O artigo de Domenico Losurdo, “Para uma crítica da categoria
de totalitarismo”, desmistifica a noção de “totalitarismo”,
mostrando, notadamente através do progressivo alinhamento de Hanna
Arendt com a ideologia anticomunista da guerra fria, sua função
de cavalo de batalha da reação liberal. Fechando a seção
Artigos temos “Marx tardio: notas introdutórias”, onde Pedro Leão
da Costa Netto examina o último período da produção
teórica de Marx; e ainda “Esboço para o estudo do ponto de vista
da mercadoria na literatura brasileira”, de Luiz Roncari.
Na seção Comentários são discutidas algumas
obras que tiveram repercussão no debate de idéias nos meios
acadêmicos e políticos. Nesta seção encontram-se
os textos: “Pós-grande indústria: trabalho imaterial e fetichismo
– uma crítica a A. Negri e M. Hardt” de Eleutério F. Prado
e ainda “Para realizar a América, de Richard Rorty, e sua recepção
no Brasil” de Suze de Oliveira Piza.
Retomando o projeto de publicar textos fundamentais do pensamento marxista,
encontramos na seção Documento o texto A marca, de F. Engels
até hoje inédito na língua portuguesa. Esse texto foi
escrito em 1882 para explicar aos operários alemães a história
da propriedade da terra e da desagregação da comunidade camponesa
na Alemanha. Quatro resenhas completam a última seção
deste número de Crítica marxista.
Crítica Marxista Nº 17 - Sociologia & Política
- 184 páginas - 16 x 23 cm - ISSN 0104-9321
Apresentação
Número 18
Nesta edição de CRÍTICA MARXISTA são publicados
artigos que discutem questões do capitalismo contemporâneo (a
economia neoliberal, o imperialismo, a "globalização"), problemas
teóricos, históricos e estratégicos da luta pelo socialismo
e a relação das esferas da cultura e da educação
com o marxismo e o socialismo.
Os artigos de Gérard Duménil e Dominique Lévy e o de
Paul Sweezy tratam da nova ordem capitalista mundial. Em "O imperialismo na
era neoliberal", os economistas franceses, em texto especialmente elaborado
para nossa revista, analisam o período que se estende de meados dos
anos 80 até os primeiros anos do século XXI. Os dois autores
reúnem informações visando esclarecer, essencialmente
no plano econômico, a natureza e as características do neoliberalismo
e do imperialismo na sua fase atual e a relação existente entre
esses dois fenômenos. Décio Saes discute a questão da
educação na sociedade socialista. Preliminarmente, procede a
um exame crítico do lugar, significado, problemas e papel da educação
escolar na sociedade capitalista. A hipótese que orienta o artigo é
a de que o objetivo de longo prazo de toda a educação socialista
é a criação do novo homem que apenas seria possível
com a concretização do velho ideal marxiano do comunismo.
O artigo de Fredric Jameson busca enfrentar a relação entre
marxismo e a prática cultural. No texto, debate, em particular, a questão
da possibilidade e da pertinência da chamada cultura mundial
ou "global" e a especificidade da intervenção cultural na atualidade,
com ênfase no papel e na responsabilidade dos intelectuais críticos
e socialistas.
Maria Turchetto apresenta uma nova contribuição para o debate
sobre a obra de Antonio Gramsci, situando-o no quadro mais amplo do "operarismo"
italiano. Turchetto, com clareza, traça a trajetória histórica
daquela corrente política, de suas teses principais e de seus mais
conhecidos intelectuais, dentre os quais destaca-se o nome de Negri.
Hector Benoit, dando continuidade a dois outros artigos publicados anteriomente
na CM, sustenta que dois obstáculos teóricos fundamentais impedem
a aplicação do Progama da Transição. O
primeiro explicado em texto anterior, refere-se à não apreensão
clara do desenvolvimento dialético contido nesse programa. Neste texto,
Benoit expõe outro grande obstáculo que impediria também
a aplicação do programa da IV Internacional: trata-se da maneira
de aplicação do Programa de Transição,
particularmente, na América Latina, a partir da tradução
das reivindicações transitórias para os países
chamados de "atrasados", "coloniais" e "semicoloniais".
Os textos de Luciano Martorano e Marcos Del Roio completam a seção
de artigos. Martorano apresenta uma contribuição para a complexa
questão da teoria da passagem ao socialismo. Procura mostrar a importância
de se distinguir, no exame desse problema, a teoria da revolução
da teoria da transição. Marcos Del Roio dá uma contribuição
historiográfica para o estudo do marxismo brasileiro examinando a
obra e a ação pioneiras de Octávio Brandão.
Neste número publicamos a seção DEBATE. Decorrido mais
de um ano do governo Lula da Silva e José de Alencar, CRÍTICA
MARXISTA julgou relevante propor a quatro analistas e militantes socialistas
três questões que visavam proceder a um balanço dessa
administração durante o ano de 2003, a uma avaliação
da atuação e do significado do Partido dos Trabalhadores nesta
nova conjuntura e a uma discussão das tarefas político-estratégicas
que hoje se apresentam aos socialistas. César Benjamin, Eduardo Almeida
Netto, Altamiro Borges e Milton Temer são autores de pequenos textos
em torno dos temas propostos pelo comitê editorial da revista.
Quatro livros são objeto de resenhas e de um comentário. Por
último, publicamos dois pequenos textos que homenageiam a vida e a
obra dos intelectuais marxistas Clóvis Moura e Paul Sweezy, recentemente
falecidos.
10 anos
de existência
Neste segundo semestre de 2004, Crítica Marxista comemora dez anos
de existência. Acreditamos que não será arrogante de
nossa parte afirmar que Crítica Marxista tornou-se uma referência
teórica e política importante na cultura da esquerda brasileira.
Nas dezenove edições da revista, publicamos cerca de 100 artigos,
110 resenhas e comentários, onze debates e diversos documentos, entrevistas
e notas. Pesquisadores, acadêmicos e ativistas dos movimentos sociais
e partidos políticos, do Brasil e do exterior, colaboraram com trabalhos
diversos. Dezenas de colaboradores da revista mantiveram a venda militante
em diversos estados do Brasil. Vários textos publicados por Crítica
Marxista têm sido discutidos em salas de aula, em seminários
e, em menor medida, nas organizações do movimento popular.
Por tudo isso, esperamos estar cumprindo a nossa proposta editorial de intervir
“no debate e na luta teórica em curso” no meio intelectual brasileiro
e no movimento socialista.
Além do trabalho do Comitê Editorial, a consolidação
da revista tem sido possível em virtude da atuante participação
do seu Conselho Editorial, integrado por dezenas de intelectuais e ativistas
políticos de todo Brasil. Em 2001 e em 2003, por ocasião dos
Colóquios Marx e Engels do Centro de Estudos Marxistas da Unicamp
(Cemarx), foram realizados dois encontros nacionais a fim de avaliar nosso
trabalho editorial. A atuação do Conselho Editorial nesses
encontros, na sugestão de textos para publicação, na
produção de pareceres sobre textos propostos para a revista
e na venda militante de Crítica Marxista tem sido fundamental para
o fortalecimento da nossa publicação.
Dez anos atrás publicamos um Manifesto que teve o papel de afirmar/esclarecer
os objetivos da nova publicação e de angariar apoio intelectual.
O que dele pensar, após uma década de existência? Retomando
o que recentemente dissemos – por ocasião do lançamento da
página da revista na internet (www.unicamp.br/cemarx/criticamarxista)–,
acreditamos que, no fundamental, esse Manifesto “permanece válido,
notadamente ao afirmar o caráter científico-crítico
do marxismo e a permanência, no capitalismo contemporâneo, da
exploração, da luta de classes e do imperialismo, bem como
ao sustentar a atualidade da revolução. Sem dúvida carrega,
como qualquer outro documento político, as marcas do momento
histórico em que foi discutido e redigido. Assim, num momento
em que muitos intelectuais debandavam, o estilo necessariamente enfático
da redação explica certas simplificações de algumas
passagens desse texto que marcou a fundação da revista”.
Crítica Marxista espera continuar colaborando nos anos vindouros para
a necessária renovação do marxismo, para o esclarecimento
e a crítica das características e das transformações
econômicas, políticas e culturais da sociedade capitalista contemporânea
e para a resolução dos complexos problemas enfrentados pelo
movimento socialista e antiimperialista no século XXI.
Acreditamos que dez anos de trabalho editorial ininterrupto é motivo
de satisfação (de ser comemorado).