Sobre o APSA:

[1]A análise da produção simbólica da vida social é indissociável da investigação dos sistemas de sentido que, atualizados na prática, nos permitem vislumbrar as normas e as regras pelas quais as pessoas partilham, contestam e transformam experiências. Entretanto, a própria estrutura que serve como base de entendimento para a performance simbólica pode ser apreendida etnograficamente, atenta ao contexto e à história de sua formação. Desta forma, é crucial atentar para o fato de que os fenômenos culturais são mais do que indicativos da reprodução da estrutura, bem como perseguir a ideia de que o fundamento desta sociologia da trama simbólica implica uma dupla reflexão: tanto acerca da constituição da política, como também da moral; tanto acerca do material, como também do simbólico.

Tal postura teórico metodológica dinâmica implica em um respeito ao discurso e à prática intersubjetivas, não pressupondo o trabalho do cientista social como simples descortinar de aparências em relação a uma realidade substantiva. Com foco, assim, no que é que expresso e como é expresso, performaticamente, no processo de significação da própria história, na exegese dos sujeitos e na reflexividade sócio antropológica, este procedimento conjuga a tarefa etnográfica e interpretativa como índices de um e mesmo contínuo movimento analítico. A ação social, assim, torna-se não apenas expressiva, mas eficaz, transformadora.

Iluminar o estudo da atividade simbólica, seguindo alguns dos caminhos abertos por autores e autoras dedicados à constituição de uma sociologia do conhecimento, implica compreender que não é possível encontrar interpretações unívocas e verdadeiras ao final da investigação. A experiência, como bem critica Joan Scott[2], não pode ser tomada como evidência histórica autorizada, mas matéria prima do que é preciso compreender para explorar a riqueza e a diversidade da multiplicidade de perspectivas subjetivas. Pensar a experiência social desta maneira significa tomar as representações como resultado de processos estruturados, mas também implica que a análise da produção simbólica não deve ser apenas uma escavação de expressões de algo mais profundo, mas um meio de compreender a gênese de sujeitos e suas atividades sociais.

São estas bem vindas reflexões, possibilitadas pelos alertas e pelos trabalhos de inúmeros intelectuais que se propuseram a iluminar aspectos diversos da cultura e da vida social, pelo olhar atento às representações contemporâneas, mas também aos discursos na história das ideias, do conhecimento e sua possibilidade de expressão, que servem como mote para este Ateliê. Sua criação busca suprir uma necessidade de interlocução de pesquisas tão díspares em suas temáticas quanto convergentes nas formas de investigação de uma certa memória da experiência social dos sujeitos (sejam eles os interlocutores de uma pesquisa, os próprios autores do campo intelectual, ou mesmo os rastros de um arquivo), que inclui em seu rol de interesses a reflexão de suas próprias ferramentas. Concebido como um fórum institucional para a realização de um debate, tanto de uma literatura comum aos interesses de seus integrantes, bem como de resultados de pesquisa, o Ateliê de Produção Simbólica e Antropologia visa estimular o intercâmbio de ideias e reflexões, e a constituição de colaborações, entre os pesquisadores da Unicamp e de outras universidades, de maneira a consolidar linhas de investigação sobre História Intelectual e Cultural em Ciências Sociais. O Ateliê tem como objetivo produzir pesquisas e reflexões multi-autorais, promover seminários temáticos e publicações colaborativas. Desta forma, buscará construir bases para a elaboração de projetos temáticos que proporcionarão recursos para pesquisas multidisciplinares, em graduação e pós-graduação, estimulando a interlocução.


[1] Texto de Christiano Tambascia

[2] Scott, Joan. “The Evidence of Experience”. Critical Inquiry, vol. 1, n. 4, 1991.