Próximas Defesas do Programa

Esta tese objetiva mostrar, desde a terra até o corpo, como uma roupa sustentável é feita e de que modo a sustentabilidade é entendida nesse processo em uma época repleta de insustentabilidades. Trilhando a jornada de uma (emicamente chamada) “roupa viva”, cocriada no entrelaçamento de relações com plantas, parcerias, pessoas, manualidades e transformações (vitais), refazem-se os caminhos nos quais uma dessas roupas, o “casaco de xinil”, é produzida. Vindo a público na São Paulo Fashion Week (SPFW), importante semana de moda, esse casaco compõe o desfile de estreia da marca Flavia Aranha (SP e RJ), que reuniu, na primeira fila, algumas de suas parceiras de longa data: a associação Central Veredas (MG) e a cooperativa Copabase (MG), junto às quais, fundamental e conjuntamente, tornou-se possível a existência desse casaco. Partindo desses enlaces, a pesquisa trata das alianças que essa “roupa viva” e essa tríade de parcerias estabelecem no Sul Global e, mais especificamente no Brasil, guardando entre si, como base comum, o slow fashion. Neste escopo, além de colocar o ambiental e o social no centro das decisões, a moda encorajada via slowness, contrapõe-se à moda convencional, em especial, ao fast fashion – em suma, apartado de preocupações como essas, pleno em produções aceleradas e destinadas à descartabilidade. Tendo como fio analítico o slow fashion, esta investigação se fundamenta tanto no trabalho de campo multissituado, que começa na SPFW e segue para as referidas marca, associação e cooperativa, quanto em investigações bibliográficas e consultas a diversas fontes. A um só tempo, mostra-se que a moda sustentável, embora não deixe de lidar com a moda convencional, mantém distância desta (e de suas alianças), e a provoca, propondo reativações, resgates, regenerações e transformações, enquanto (re)constrói, no presente e para o futuro, imaginários (in)tangíveis que vem constituindo a sustentabilidade e circulando com ela no Antropoceno.

A tese aborda as relações cotidianas, rituais e políticas entre os Xucuru-Kariri assentados na reserva Fazenda Boa Vista, uma área de 101 hectares nas cabeceiras do Rio Pardo, no sul do estado de Minas Gerais. O objetivo mais geral do trabalho é descrever como esses indígenas deslocados de aldeias nos estados de Alagoas e Bahia se compreendem guerreiros em relação a pessoas reconhecidas como parentes, bem como em relação a sujeitos estrangeiros que frequentemente os visitam e são por eles visitados na condição de amigos, parceiros, mas também guerreiros e até irmãos. Para tanto, dedicamo-nos a estudar uma série de categorias nativas, em especial a de força, que define potências e agências naturalmente herdadas ou socialmente dadas mediante substâncias corporais (sangue e suor) ou saberes culturais (histórias, cantos, memórias etc.). Afora outros importantes termos xucuru-kariri que definem as suas relações e ações sociopolíticas – a exemplo de hierarquia, dono, pai, onça, bruxo, entre outros –, procuramos refletir sobre a noção ninho que dá nome à tese, fazendo referência à aldeia, que, por sua vez, se insere conceitual e geograficamente entre a mata e a rua (a cidade).

Nas eleições municipais de 2016, Brenda Santunioni foi a primeira mulher trans eleita vereadora para a Câmara Municipal de Viçosa - MG, pelo partido Progressistas. Essa pesquisa tem como objetivo compreender as dinâmicas e os processos políticos e sociais envolvidos na sua trajetória a partir da realização de uma etnografia. Buscarei identificar as redes de atuação política que a permeiam, de forma a explorar e analisar o papel das organizações e contextos partidários, assim como dos movimentos sociais, na constituição, percepção e autopercepção da vereadora enquanto sujeito político e sujeito trans. Ao compor esse cenário, espero auxiliar na compreensão das dinâmicas de negociação das narrativas em prática no seio do sistema político-partidário local, em especial quando este é confrontado com a representação e atuação de pessoas trans e travestis. De forma mais ampla, pretendo contribuir para a compreensão mais geral do funcionamento dos sistemas partidários e das formas locais da política, tecendo contribuições que articulem tanto o campo da Antropologia da Política como o dos estudos de gênero e se situem numa confluência de ambos.

Na região sul do Mato Grosso do Sul -MS (Brasil), desde 1980, famílias da etnia Guarani e Kaiowá passaram a reivindicar o direito de viver nos territórios dos quais foram expulsos e a organizar sua luta por meio de retomadas das suas terras, reconhecidas como de ocupação tradicional, os tekoha. As retomadas se contrapõem ao modelo de reserva, criado pelo Serviço de Proteção aos Índios entre 1915 e 1928 e tem como finalidade reivindicar a devolução e novas demarcações de terras ao Estado brasileiro. Se no passado o processo de reservamento no MS levou em consideração os interesses do agronegócio, e os indígenas se viram “confinados” em reservas, na atualidade, os Guarani e Kaiowá também se defrontam com o crescimento das cidades e da especulação imobiliária. Nesse contexto, as disputas por lógicas espaciais e por lugares de vida, e eu ainda acrescentaria por recursos e poder, trazem novos elementos para pensar os conflitos territoriais no estado. O objetivo desta pesquisa é compreender, a partir da etnografia das áreas de retomadas Guarani e Kaiowá, localizadas no município de Dourados/MS, os sentidos de ‘terra’ mobilizados por esses povos e como esta noção se defronta com as noções de terra do Estado, do agronegócio e do setor imobiliário. Nesse sentido, a pesquisa também se debruça na análise do avanço da cidade de Dourados (MS) em terras hoje retomadas pelas famílias Guarani e Kaiowá. Procura-se pensar o papel que a vizinhança com a cidade tem na vida cotidiana dessas comunidades e na sua articulação política, refletindo como a proximidade com a cidade interfere e reconfigura as estratégias de lutas adotadas pelos Guarani e Kaiowá que vivem nesses locais e os efeitos que têm no seu cotidiano.